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CAPÍTULO 1 – Princípios teóricos

2.5 Tratamento dos dados e desenho da pesquisa

Além do respeito ético para com as crianças, também nos preocupamos com o tratamento aos dados produzidos durante a pesquisa.

Ao trabalhar com pesquisa, estamos sempre em contato com seus dados. Nossa análise só consegue ser desenvolvida após um trabalho minucioso com o material empírico produzido durante a pesquisa. Assim como Tomaz (2008), temos o pressuposto de que

o dado não é estático, não é apenas um suporte para análise, ele é parte da análise, ele produz a teoria que o modifica ao mesmo tempo em que também modifica a teoria, produzindo novas perspectivas teóricas. Por isso, o tratamento dado aos dados é que vai fazer dele um dado, propriamente dito (TOMAZ, 2008, p. 9).

Rosseti-Ferreira, Amorim e Silva (2004), ainda nos orientam:

o objetivo da coleta e da análise de dados, portanto, deve ser o de apreender vários dos elementos presentes em determinadas situações interativas, buscando analisar os vários significados e sentidos que se destacam na situação, para as várias pessoas participantes do processo, acompanhando ainda seus movimentos de transformação e procurando interpretar os processos pelos quais as significações emergem (ROSSETI-FERREIRA, AMORIM e SILVA, 2004, p. 31).

Nessa tentativa em apreender diferentes elementos presentes nas situações interativas e também na prática do registro da rotina, organizamos, primeiramente, nossos dados por meio de catálogos dessa prática. Catalogamos todos os registros de rotinas observados durante a pesquisa empírica a partir do mês de setembro (quando definimos ser essa a prática a que daríamos prioridade em nossas análises). Os registros das rotinas foram catalogados da seguinte forma:

QUADRO 4

Modelo de Registro de Rotinas para Catálogo Data: dia, mês e ano

Turma: período da turma

Contextualização: Dia da semana e quantidade de crianças presentes Fatos excepcionais deste dia

Prática: Rotina Local: Sala de aula Duração: tempo despendido para sua construção Início: quando começou Término: quando terminou Caracterização Comentários

Como foi construída: Registro:

– Se foi feita na horizontal (deitada) ou na vertical (em pé)

– Como foi o registro escrito (atividade ou lugar) Atuação do professor:

Atuação da criança:

(A forma de participação de cada um na rotina)

Comentários objetivos e subjetivos feitos pela pesquisadora a partir das observações, registros e filmagens.

Visualização da Rotina: Foto ou desenho da rotina

Fonte: Dados produzidos pela autora.

Assim, temos em nosso arquivo um total de 47 dias catalogados/registrados (entre os meses de setembro a dezembro). Mesmo se não houvesse a construção escrita da rotina, deixávamos registrado no espaço destinado à “contextualização” que não houve o registro da rotina naquele dia.

Desses 47 dias catalogados, em 40 dias houve o registro da rotina e em sete dias não houve a sistematização escrita da rotina. Dentre os 40 dias em que houve rotina escrita, em três desses dias o registro da rotina ficou incompleto. Foi a partir desses 40 dias que recorremos para efetuar nossas análises e descrições.

Ao perfazer todo este caminho para construir uma pesquisa de cunho qualitativo, que respeite tanto seu objeto de pesquisa quanto o tratamento de dados, elaboramos o seguinte quadro, o qual revela uma noção geral do caminho pelo qual percorremos, bem como dos instrumentos escolhidos:

QUADRO 5 Desenho da pesquisa Caminho Instrumentos de pesquisa: Duração da pesquisa de campo

Participantes22 Objetivo da pesquisa

* Mapeamento da rotina escolar da turma pesquisada;

* Identificação e análise das práticas realizadas na rotina escolar, dentro do contexto da sala de aula;

* Identificação e análise das estratégias que as crianças utilizaram no processo de participação das práticas escolares. * Observação participante; * Anotações; * Conversas e entrevistas; * Filmagens e fotos. Cinco meses; 56 dias; 209h30min 18 crianças – todas com autorização (de seus pais) para participarem da pesquisa; A professora; A auxiliar; A coordenadora. A pesquisadora, a orientadora e a co-orientadora. Compreender a maneira pela qual crianças, entre quatro e cinco anos de idade, inseridas em uma instituição particular de ensino, constroem sentidos e significados para as práticas escolares e as estratégias que essas crianças utilizam para recriarem tais práticas e delas se

apropriarem.

Ao analisar o QUADRO 5, percebemos a amplitude da pesquisa, que contou com basicamente cinco instrumentos, envolvendo diretamente 24 pessoas, dentre essas, 18 crianças. A duração da pesquisa foi de cinco meses, abrangendo quase 210 horas de pesquisa de campo. O caminho traçado e desenvolvido a partir desta pesquisa teve como meta alcançar o nosso objetivo que pode ser entendido pela questão apontada ao longo deste trabalho: como crianças entre quatro e cinco anos de idade, que frequentam uma instituição particular de Educação Infantil, constroem sentidos e significados para as atuais práticas escolares?

Para tanto, só foi possível traçarmos tais estratégias, alinhavando nossos conhecimentos e material empírico com o que nos ensina a Psicologia Histórico-Cultural e a Sociologia da Infância.

A Sociologia da Infância vem nos resguardar ao considerar a criança como um ator social, sujeito capaz e de direitos, sujeito esse que compõe uma categoria social do tipo geracional específica e que se relaciona constantemente com outras categorias, o que torna o universo cultural infantil bastante heterogêneo. Assim, pudemos desenvolver nosso olhar para e com os pequenos numa atitude de respeito e valorização, fazendo desta uma pesquisa com crianças e não sobre crianças.

22 Ressaltamos que a colaboração da direção e de todos os funcionários da escola se fez essencial para o bom desenvolvimento da pesquisa.

Em referência à Psicologia Histórico-Cultural, encontramos uma forma de ver e de entender o sujeito e suas relações com uma perspectiva que se alinha com a nossa, a qual compreende os sujeitos em interação constante com o meio, constituindo-se por meio da prática, sendo as práticas escolares consideradas mediadoras entre a criança e o conhecimento, ou seja, um artefato cultural.

Tanto a Sociologia da Infância quanto a Psicologia Histórico-Cultural concebem o ser humano como produto e produtor de cultura. É nessa direção que exploramos o conceito de sentidos e significados, os quais nos ajudam a compreender melhor as crianças em movimento, participando de práticas escolares por meio das quais se desenvolvem e aprendem.

E, assim, amparamo-nos na Sociologia da Infância e na Psicologia Histórico- Cultural para desenvolver este trabalho e nos envolver com o material empírico produzido a partir da pesquisa em campo.