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2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.10. Tratamento dos dados

Na primeira parte do trabalho, foram tratados 2.229 dados em uma análise binária

na qual se verificou presença vs. ausência de alteamento. Porém essa análise não foi

suficiente, vez que se precisava verificar a proporção entre vogais altas, vogais médias

fechadas e vogais médias abertas. Sendo assim, partiu-se para uma análise ternária a fim de

verificar qual das variantes tinha maior ocorrência. Além disso, também foi preciso identificar

qual das variantes era mais recorrente, se as anteriores ou as posteriores. Para isso, foi

incluído no arquivo de especificação as variantes vogal alta, vogal média fechada e vogal

média aberta como elementos da variável dependente; e como primeiro grupo de fatores

lingüísticos, a natureza da vogal alvo, se anterior ou posterior. Finalizando as alterações no

arquivo de especificação, retiraram-se os grupos de fatores “Vogal pré-pretônica”, pelo fato

da recorrente coincidência com o grupo “Vogal contígua”; e o fator “alta não imediata” do

grupo “Vogal contígua” por ser de interesse verificar a vogal imediatamente seguinte a

pretônica-alvo; bem como porque aquele fator coincidia recorrentemente com a vogal tônica.

Redefinido o arquivo de especificação, foi preciso recodificar todos os 2.229

dados. Durante a recodificação foram excluídas as ocorrências de vogais com travamento em

/N/ e /S/ em sílabas iniciais, como em [e]scola, [e]mpregado, [e]ntão, [e]nxerguei; as

ocorrências com monotongação, como em d[e]xei, al[e]jado; e assim como Nina (1991), não

foram selecionadas as ocorrências de ditongos, como em ac[ei]tô, c[oi]tado, nem as com

prefixos, “porque essas vogais apresentam peculiaridades que sugerem suas análise separadas

da análise das demais pretônicas internas” (Nina, 1991: 70). Após a recodificação, o corpus

contou com 2.023 ocorrências de vogais médias pretônicas. Assim, passou-se ao novo

tratamento destes dados no pacote Varbrul. Este pacote é um dos instrumentos mais utilizados

na sociolingüística quantitativa por permitir que se obtenha uma visão mais científica a

respeito dos dados estudados, “é um programa que leva em consideração a variabilidade,

tendências, relações de mais e menos, por essa razão não aceita termos tidos como categóricos

no dialeto” (CAMPOS, 2008). Quando se tem elementos categóricos, resulta em knockout e

este precisa ser retirado.

Primeiramente, foi criado o arquivo de dados (Predatbl - cf. anexo 02) no Edit.

Este foi tratado do Checktok para detectar os problemas de codificação que pudesse ocorrer.

Houve apenas 23 erros, o que equivale a apenas 1,03%. Os problemas detectados foram

corrigidos para posterior tratamento no Readtok. Este nos forneceu o arquivo de ocorrências

(Preocobl – cf. anexo 03) que seria usado, juntamente com o arquivo de condições (Preconbl

– cf. anexo 04), para gerar o arquivo de células no Make3000. Na rodada experimental do

Make3000, houve 10 (dez) knockouts (Precelbl1 - cf. anexo 05), e estes foram solucionados

pela inserção de 08 (oito) dados fictícios

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e 03 (três) amalgamações (cf. anexo 02 e 04,

respectivamente). A inserção de dados fictícios foi feita para solucionar os knockouts

referente ao terceiro grupo de fatores (Fonema vocálico da sílaba tônica quando a pretônica é

nasal ou nasalizada), pois o português brasileiro não apresenta vogais médias abertas diante

de nasais, tanto na posição tônica quanto nas átonas (Câmara Jr. ,1970apud Battisti e Vieira

2005:172). Sendo assim, não houve ocorrência de vogais abertas nasais ou nasalizadas em

nosso corpus. As amalgamações (cf. anexo 04) foram feitas nos seguintes grupos de fatores:

no quarto (Fonema vocálico da sílaba tônica quando a pretônica é nasal ou nasalizada) por

haver apenas 01 ocorrência de vogal média fechada com a presença de vogal tônica [u]

quando a pretônica é nasal (c[u~]forme); no sexto (Distância da vogal pretônica para a

sílaba tônica) por haver apenas 02 ocorrências de palavras com distância 4 (im[e]diatamente e

imp[o]ssibilitado); e no décimo (Consoante do onset da sílaba seguinte) porque não houve

ocorrência de vogal média aberta com onset vazio na sílaba seguinte à pretônica.

Com os knockouts solucionados (Precelbl2 - cf. anexo 06), foi possível realizar a

rodada no Varb 2000. Na primeira rodada houve erro porque havia 1.141 células, número

superior à capacidade do programa, o que nos levou a fazer um corte de 30% dos dados. Este

corte se deu no início das falas dos entrevistados por se acreditar que nesse momento o falante

ainda não está à vontade, preocupando-se com o estar sendo observado, e consequentemente,

não usando sua fala espontânea. Após os devidos cortes, o corpus definitivo contou com

1.434 dados obtendo-se 884 células, e assim prosseguiu-se a análise. Com o Varb2000 foi

possível realizar a rodada ternária da qual foram gerados os percentuais e pesos relativos da

variável dependente (Prevarbl1 – cf. anexo 07). A seguir foram feitas duas rodadas binárias:

uma (Prevarbl2 – cf. anexo 08) na qual evidenciou-se a variante de maior peso (vogais

médias fechadas) e amalgamaram-se as duas de menores pesos (vogais altas e vogais médias

abertas); e a outra (Prevarbl3 – cf. anexo 09) na qual evidenciou-se a de segundo maior peso

(vogais altas) e amalgamaram-se a de maior e a de menor peso. A primeira rodada mostrou

que as vogais médias fechadas eram mais significantes que as vogais altas no dialeto

estudado, uma vez que o número de grupos de fatores selecionados como favorecedores para

a ocorrências daquelas (vide Stepup – cf. anexo 08, pág. 180) foi menor que o destas (vide

Stepup – cf. anexo 09, pág. 202). Além disso, os trabalhos realizados pelo PROBRAVO

(Norte) quanto ao fenômeno do alteamento nos dialetos da Amazônia paraense tem mostrado

que a ausência deste é maior que a presença, evidenciando a maior tendência à preservação

das vogais médias pretônicas, conforme será exposto no item 3.2.9 adiante. Dessa forma,

optou-se por apresentar os resultados referentes à manutenção das vogais médias pretônicas e

assim demonstrar o comportamento destas no português falado na área urbana do município

de Belém/PA, o que será objeto do capítulo seguinte.

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