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Projeto 2: Infeções urinárias

2.4. Tratamento e resistência aos antibióticos

A escolha do tratamento mais adequado tem de ter em conta a sensibilidade dos agentes mais implicados nas ITU relativamente aos antibióticos, à eficácia, custo e duração do tratamento e a comodidade posológica uma vez que é fundamental a adesão à terapêutica.

O surgimento de bactérias resistentes a antibióticos é uma realidade cada vez mais preocupante, hospitais e outras estruturas de saúde, particularmente as unidades de cuidados intensivos (UCI) são grandes fontes de diversidade microbiana incluindo bactérias multirresistentes. As infeções causadas por estes organismos constituem um desafio quer a nível do diagnóstico quer a nível de tratamento apresentando comorbilidades e mortalidades aumentadas. As UCI são das principais fontes de criação, disseminação e amplificação destes organismos multirresistentes decorrentes de um uso abundante de antibióticos levando a uma pressão de seleção maior, emergindo assim, resistências. Adicionalmente, tratam-se de pacientes com risco aumentado de infeção devido às menores defesas do hospedeiro, resposta imune tardia e o uso de múltiplos procedimentos e dispositivos invasivos como a ventilação mecânica e o cateterismo. [32] [36]

Relatório de estágio profissionalizante Diana Laranjeira Na tabela 4 estão apresentados os dados relativos à sensibilidade da E.coli em relação aos diversos antibióticos usados na prática clínica procedentes de um estudo Português (2008) e de um Europeu que incluiu portugueses. [32]

Tabela 4: Percentagem de isolados de E.coli sensíveis a cada um dos antibióticos.

Antibiótico Estudo português

(2008) Estudo Europeu (2003) n=340 Global (n=2478) Portugal (n=86) Ampicilina/amoxicilina 62,1 70,2 54,7 Amoxicilina+ác. Clavulâmico 94,7 96,6 90,7 Cefuroxima 95,0 - - Ciprofloxacina/ Norfloxacina 91,2 97,7 94,2 Cotrimoxazol 73,5 85,9 73,3 Fosfomicina trometamol 99,1 99,3 100 Nitrofurantoína 96,8 98,8 94,2

Por análise dos dados anteriores podemos constatar que praticamente todos os isolados de

E.coli apresentaram sensibilidade elevada à fosfomicina trometamol (99,1%) seguindo-se a

sensibilidade à nitrofurantoína ( 96,8%), à cefuroxima (95,0%) e à amoxicilina + ác. clavulânico de 94,7%. A sensibilidade da E. coli às quinolonas manteve-se entre os 90 e 92%. Os níveis de sensibilidade mais baixos foram relativos ao cotrimoxazol (73,5%) e principalmente à amoxicilina (62,1%). [32]

Os antibióticos beta-lactâmicos como são exemplo a associação amoxicilina+ácido clavulânico e as cefalosporinas orais (cefixima, cefuroxima) exigem uma maior duração de tratamento de modo a assegurar a mesma eficácia que as outras alternativas, apresentando o risco de resultarem em mais efeitos secundários e risco de recidiva. Adicionalmente, a cefuroxima e a cefixima são muito utilizadas no tratamento de outras infeções pelo que não são as primeiras escolhas no tratamento de ITUs. [32]

A ciprofloxacina e outras quinolonas apresentam uma taxa de resistências muito elevada (8- 10%) pelo que não são consideradas para o tratamento de primeira linha. [32]

Apesar da E.coli apesentar uma elevada sensibilidade à nitrofurantoína podendo ser considerada como um tratamento de primeira escolha para a ITU não complicada, os médicos apresentam ponderância na sua prescrição devido à sua toxicidade e menor adesão à terapêutica (4 vezes por dia durante 7 dias). [32]

O cotrimoxazol pelo seu perfil de segurança e baixo custo poderia ser um fármaco a ter em conta no entanto, a elevada taxa de resistência à E.coli (>20%) em Portugal, torna-o menos adequado a um tratamento de primeira linha. [32]

A fosfomicina trometamol é considerada o antibiótico de primeira escolha para o tratamento de cistites não complicadas visto que estas são causadas predominantemente pela E.coli e esta apresenta elevada sensibilidade. Também, o seu simples regime posológico (dose única) promove a adesão à terapêutica e consequentemente evita o surgimento de recidivas e seleção de estirpes resistentes. [32]

Relatório de estágio profissionalizante Diana Laranjeira

2.5.

Projeto

2.5.1. Folheto e material de apoio na dispensação

Elaboração de um folheto informativo (Anexo 11) contendo a definição de infeção urinária, os seus sintomas mais característicos, medidas de prevenção e as causas mais comuns. Este panfleto teve como objetivo auxiliar o utente a percecionar se realmente tem uma infeção urinária uma vez que a automedicação dos utentes com antibióticos é uma realidade preocupante. Muitos utentes mesmo sem falar com o médico me abordavam de forma a lhes dispensar antibióticos sem qualquer parecer do médico, por acharem que se trata de uma infeção ou mesmo como uma medida de profilaxia. Assim, achei importante referir medidas preventivas não medicamentosas. No atendimento, quando me pediam antibióticos por “acharem” que tinham uma infeção urinária, tentava direcionar para produtos naturais que atuam nos desconfortos urinários até que o utente fosse ao médico, de forma a evitar que se deslocassem a outra farmácia com o propósito de lhes serem dispensados antibióticos.

Também, elaborei uma tabela (Anexo 12) com os suplementos mais vendidos em lojas como o Celeiro e os mais procurados nas Farmácias Portuguesas bem como os existentes na FCM com o propósito de auxiliar na dispensa destes produtos conhecendo as propriedades e os mecanismos pelos quais os diferentes constituintes naturais apresentam benefícios no alívio do desconforto urinário.

2.5.2. Vídeo

O surgimento de bactérias resistentes aos antibióticos é uma preocupação cada vez maior sendo que enquanto profissionais de saúde, os farmacêuticos são a última linha de sensibilização dos utentes para o correto uso dos antibióticos e do cumprimento do seu regime posológico. Assim, com a grande prevalência de infeções urinárias nestes meses de estágio tive a oportunidade de dispensar uma grande quantidade de antibióticos e alertar os utentes para a importância da toma do antibiótico durante todo o período de tratamento. No entanto, deparei-me com uma certa despreocupação dos utentes, que me diziam que tomavam até se sentirem melhor, alguns inclusive tomavam antibióticos que tinham em casa que tinham erradamente “sobrado” do último tratamento e me pediam mais uma caixa porque tinham poucos comprimidos. Face a esta

realidade elaborei um vídeo (cujo link é

https://www.youtube.com/watch?v=QVlkHwJvU8U&rel=0) com o objetivo de chegar a mais pessoas para além das com que me deparei durante estes meses de estágio. O vídeo foi divulgado nas redes sociais da farmácia uma vez que atualmente se tem tornado um dos meios mais eficazes de propagação de uma mensagem.

2.5.3. Conclusão

Apesar de toda a informação já disponível e do acesso a esta estar facilitada pela internet, mudar mentalidades é um desafio constante por parte dos profissionais de saúde havendo ainda uma atitude de facilitismo por parte de alguns utentes. No entanto, penso que se trata de um tema que preocupa cada vez mais a população o que pude observar pelo feedback ao vídeo e no

Relatório de estágio profissionalizante Diana Laranjeira próprio atendimento quando justificava o não dispensar antibióticos sem receita médica. Assim, acredito que haja uma maior consciencialização por parte dos utentes.

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