17. Placas de aglomerado de fibras de madeira
3.3. PROTEÇÃO E MANUTENÇÃO DA MADEIRA
3.3.4. TRATAMENTO EM AUTOCLAVE
O tratamento industrial mais comum, seguro e eficaz na aplicação dos protetores e preservantes da madeira é o tratamento em autoclave.
A autoclave é um cilindro que suporta pressões superiores à pressão atmosférica onde a madeira é introduzida após cortada. O preservante a utilizar neste processo depende do efeito desejado e do destino da madeira, influenciando na variabilidade de custos e na eficácia deste mesmo tratamento.
37 HOYET, Jean-Michel, Guide Bordages Bois, Editions Réginex – France, Co-Edito-
Fig.22
Figura 22. Etapas do processo de tratamento da madeira em autoclave
Este é o tratamento mais eficaz, e com melhores resultados na impregnação profunda das soluções preservantes na madeira.
O processo industrial de autoclavagem está dividido em diferentes fases descritas por ordem:
-Introdução da madeira, depois de seca, no cilindro de alta pressão; - Após fechado o cilindro, inicia-se o processo de vácuo, extraíndo assim o ar da autoclave e das cavidades celulares da madeira; -Inicia-se a inserção da solução preservante na autoclave, ainda em vácuo;
-Sob alta pressão a solução é injetada na madeira até à saturação; -Após a pressão, a solução excedente é transferida de novo para o reservatório.
-Execução do vácuo final para retirar o excesso da solução preser- vante da superfície da madeira.
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3.4 .SUSTENTABILIDADE NO USO DA MADEIRA
Este tema surge como consequência da atual preocupação enraizada na sociedade com os problemas ambientais. O impacto no ambiente causado pelos diversos fatores é cada vez mais alvo de estudo e crítica. A preocupação com a sustentabilidade ambiental procura minimizar os grandes impactos das mais diversas indústrias. A construção não é uma exceção, é aliás, um dos setores mais preocupantes, tendo em conta a dimensão do impacto que esta tem no ambiente e na sociedade. A indústria da construção é uma das principais consumidoras de uma parte significativa dos recursos
naturais e de energia produzida.38
Assim, o conceito de sustentabilidade surge com o objetivo de prolongar a utilização do mesmo recurso para diferentes fins garantindo assim a satisfação de necessidades de gerações futuras.
Em Portugal, este ainda não é um argumento influente na construção. O principal material para construir continua a ser o convencional betão, tanto para estrutura como para enchimentos e acabamentos. A produção deste material requer quantidades muito elevadas de energia, proveniente de fontes altamentes poluentes, normalmente combustíveis fósseis. Para além deste fator de grande exigência energética de produção, a reutilização deste material não é fácil, tanto pela sua constituição como pela dificuldade de separação dos outros materiais. O mesmo não acontece no caso do aço, em que é possível reutilizar uma percentagem considerável da construção, mas que, tal como a madeira, não tem ainda grande aceitação da
construção portuguesa.39
No que refere à sustentabilidade, a madeira constitui uma melhor solução, quando comparada com o betão.É um material reutilizável, as peças podem ser tratadas e restauradas podendo ser reutilizadas para diferentes fins.A transformação da matéria- prima 38 HERZOG, Thomas, Timber Construction Manual, Birkhauser, Edition Detail,
Munich, 2004
39 MATEUS, R., & Bragança, L. Tecnologias construtivas para a sustentabilidade
para o produto final adequado à construção requer apenas energia no processo de abate das árvores e corte e secagem das peças, já que o processo de secagem poderá ser totalmente efectuado do
aproveitamento da exposição solar.40
A propriedade de resistência térmica da madeira representa mais uma vantagem no campo da sustentabilidade, uma vez que diminui significativamente o uso energético para o aquecimento dos espaços interiores.
A extração da madeira deverá fazer parte de um ciclo sustentável. Na mesma área de onde este foi extraído, imediatamente a seguir, podem ser criadas as condições necessárias para que este espaço volte a ser a fonte deste mesmo recurso. As áreas florestais são periodicamente reabastecidas de novas plantas para assim manter o ciclo de fornecimento do recurso. Um outro argumento a favor da reflorestação é o processo de fotossíntese: a absorção do dióxido de carbono em troca da libertação de oxigénio, enquanto árvore, e o armazenamento de dióxido de carbono já na fase de tronco, que apenas será libertado no caso de combustão ou deteoriação.
Entre os vários fatores necessários para a definição de uma
construção sustentável, entram em destaque os seguintes: 41
- Economizar energia: Este parâmetro relaciona-se com as- pectos como a minimização dos consumos energéticos durante a fase de construção até à fase de utilização. Como já referido anterior- mente, a madeira requer pouca energia desde a fase inicial de con- ceção até à fase final de montagem (corte e controlo de humidade);
- Maximizar a durabilidade dos edifícios: A resistência e durabili- dade dos edífícios é hoje em dia um fator prioritário. Com os tratamentos adequados a madeira tem a capacidade de maximizar a durabilidade dos edifícios por centenas de anos. As ligações das peças de madeira apresentam também um fator a favor neste parâmetro, pois são ligadas por peças metálicas e parafusos que facilitam a substituição de elemen- 40 MATEUS, R., & Bragança, L. Tecnologias construtivas para a sustentabilidade
da construção, 2006
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tos isolados, o que prolonga o período de vida do edifício;
- Planear a conservação e a manutenção dos edifícios: Inde- pendentemente da durabilidade dos edifícios, estes têm um tempo limitado de vida e de estado de preservação das condições mínimas de segurança. Os edifícios acabam por se deterioar através de ações físicas, químicas e mecânicas. Para além de ser um material de fácil conservação e manutenção, a madeira é, em Portugal, um material muito utilizado na reabilitação de edifícios. É de rápida aplicação, fácil de dimensionar e de substiuir peças degradadas sem recorrer à uti- lização de maquinaria de grandes dimensões;
- Apresentar baixa massa de construção: “Quanto maior for a massa total do edifício, menor será a quantidade de recursos naturais
incorporada”.42 Uma construção com estrutura em madeira, será mais
leve do que a maioria dos prinicpias materiais estruturais concorrentes; - Minimizar a produção de resíduos: O corte e a manutenção da madeira produzem resíduos que são aproveitados de várias formas, dependendo da sua dimensão. Estes resíduos podem ser aproveita- dos para a constituição de derivados da madeira, como já demonstrado anteriormente, e para a combustão e aquecimento a nível doméstico.
Em modo de conclusão, a madeira é um material que pode ser considerado ecoeficiente. Possui um baixo impacto ambiental desde a fase de extração, até à fase de devolução ao meio ambiente. Não requer nem possuí grandes quantidades de produtos químicos nocivos à camada de Ozono; tem capacidade para oferecer boa durabilidade; incorpora baixa energia primária; está disponível como recurso a cur- tas distâncias de qualquer local de construção em Portugal e possui capacidade para poder ser reciclada e reutilizada.
42 MATEUS, R., & Bragança, L. Tecnologias construtivas para a sustentabilidade
3.5 .RESISTÊNCIA A SISMOS
Os sismos são uma das catástrofes naturais com consequên- cias mais devastadoras para as populações. É um fator que obriga- toriamente implica regras de construção civil, que variam de país para país, consoante a intensidade de acontecimentos por ano.
Portugal não está localizado numa zona de elevado risco de sismos. Como referido no primeiro capítulo da dissertação, o caso mais grave registado em Portugal foi o sismo de 1755 em Lisboa. Após os danos causados às habitações na Baixa Pombalina, levan- do, na maioria dos casos, à ruína, foi desenvolvido um sistema de construção onde o material estrutural era a madeira visando atenuar o impacto dos sismos nas construções.
A este método construtivo foi, então, dado o nome de “gai- olas pombalinas”. A principal inovação nesta fase foi a introdução de treliças tridimensionais em madeira, que ofereciam resistência a forças horizontais.43
Apesar dos satisfatórios níveis de resistência, a madeira também é bastante fléxivel e leve, que faz com que seja uma das melhores soluções de construções estruturais no que diz respeito à resistência a sismos.
Este comportamento é comprovado, por exemplo, num dos mais recentes exemplos de grandes sismos: desastre na Nova Zelân- dia entre 2010-2011. Dos danos causados pela ação sísmica 85% das construções em alvenaria ficaram gravemente danificadas en-
quanto nas construções de madeira apenas 5% foram danificadas. 44
A capacidade de resistência aos sismos da madeira pode ser influenciada por deficiências nos projetos de execução, pela inadequada manutenção e conservação dos edifícios ou até pelo valor elevado na escala do evento, não estimado previamente.
43 MASCARENHAS J., Sistemas de Construção – O Edifício de Rendimento da
Baixa Pombalina de Lisboa. Lisboa: Livros Horizonte, 2009.
44 KAWAI, N., Isoda, H., Tsuchimoto, T., Koshihara, M., Damage to wood build-
ings during the great Tohoku earthquake. Parte 2 – Damage due to ground motion. World conference on Timber Engineering, Nova Zelândia, 2012
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Foi efetuado em Portugal um estudo no laboratório nacional de engenharia civil sobre a resistência das construções de madeira a sismos. O resultado de um projeto levado a cabo na Universidade do Minho, em parceria com outras instituições e empresas no Labo- ratório Nacional de Engenharia Civil, comprova a eficácia destas es- truturas em resposta a este fenómeno natural.
A experiência foi realizada com quatro exemplos à escala real construídos com painéis de pinho lamelado utilizados nas paredes exteriores e interiores, lajes e coberturas.
Após efetuado o estudo foi possível observar que as casas protótipo não sofreram qualquer tipo de dano tanto no exterior como no interior. Assim, como afirma, no âmbito de uma entrevista, o En- genheiro Jorge Branco, professor na Universidade do Minho e direct- amente envolvido neste projecto:
“ Ao compararmos, ao fazermos o rácio de resistência e peso, a madeira supera o aço e o betão. É um material que, para além de ser leve, consegue acompanhar os movimentos induzidos pelo sismo e voltar à sua posição inicial.” 45
45 FONSECA, José António, RTP Notícias, Casas de Madeira mais resistentes
aos Sismos, www.rtp.pt, 17 Nov 2013
Para dar qualidade a este trabalho, é necessário a abordagem de um exemplo localizado em Portugal. O estudo de obras e arquite- tos de referência, ajuda a perceber as possibilidades de construção, em termos de detalhes construtivos a soluções arquitetónicas a optar utilizando a madeira, neste caso.
O objetivo é procurar e estudar exemplos que o demonstrem de forma clara e que enaltecem a utilização da madeira. Em Portu- gal, o número de construções em madeira, na íntegra, é reduzido em relação a outros países como já referido anteriormente.
O autor selecionado foi o arquiteto Carlos Castanheira pela evidente influência na arquitetura em madeira. Conquistou em 2011 o 1º prémio nacional de arquitetura em madeira com a obra Casa Adpropeixe, a obra selecionada para este caso de estudo.
Ao observar esta obra entre outras, como a Adega Casa da Torre, percebe-se que não se limita a revestir os projetos em madei- ra, mas sim, este material compõe a estrutura quase na íntegra, so- brando apenas ligações metálicas e sapatas de betão. Na arquitetura de Castanheira, incluindo a obra escolhida, é notável a utilização da madeira no seu tom natural apesar de ter o tratamento adequa- do e em peças únicas. Os derivados, principalmente lamelados não são opção do arquiteto. Estes foram os principais fatores de escolha. Uma obra premiada a nível nacional, habitação unifamiliar de raíz, com a estrutura na íntegra em madeira: caxilharias, pavimentos, mo- biliário, revestimentos interiores guarnições e portas em madeira no seu estado natural. Assim como a complexidade das ligações e do desenho da estrutura inserida de forma harmoniosa na envolvente, que motivaram também a escolha.
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