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5. Cancro: Estado da arte

5.2 Tratamentos e descobertas recentes

5.2.1. Primeiros avanços significativos no diagnóstico

O diagnóstico do cancro mudou radicalmente a partir dos anos 60, graças à descoberta de novos métodos e do início da era informática. Em 1923, Giorgios Papanicolaou desenvolveu um teste de deteção do cancro do colo do útero, chamado teste de Papanicolaou ou Pap. Infelizmente, a comunidade científica não ficou convencida e o teste não foi utilizado até aos anos 60, quando a American Cancer Society (ACS) o adotou e obteve diagnósticos precisos. Desde então, vem sendo realizado como um teste de rotina, resultando na diminuição de 70% da incidência de cancro do útero nos EUA, graças à deteção precoce de tumores (do Nascimento and Monteiro, 2012; American Cancer S., 2012; Brenna and Zeferino 2001).

No final dos anos 60, o desenvolvimento da mamografia (aliada a criação do mamógrafo em 1965) também permitiu um diágnostico melhor e mais precoce de tumores da mama. Um estudo pioneiro conduzido por uma equipe de pesquisadores americanos em Nova York (EUA) foi o primeiro relato do sucesso do uso da mamografia na redução da mortalitidade provocada pelo cancro da mama. A partir de então, com os avanços na medicina, principalmente da imageologia, a mamografia digital tornou-se no exame mais eficiente na deteção do cancro da mama (Picard 1998, Gold, Bassett, and Widoff, 1990, Van Steen and Van Tiggelen, 2007).

Os anos 70 foram marcados pela descoberta das novas tecnologias, especialmente aplicadas à medicina, que ajudaram no diagnóstico do cancro. De

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entre as principais descobertas, quatro revelaram-se decisivas e vêm sendo utilizadas desde então (WHO, 2013).

 O aperfeiçoamento dos ultrassons permitiram a adaptação dos aparelhos de ultrassom à área da medicina no início dos anos 70. Isto permitiu uma melhor visualização dos tecidos e dos órgãos do corpo humano, e, consequentemente, uma melhoria no diagnóstico de tumores;

 O desenvolvimento da tomografia computadorizada (do grego tomos) entre 1970 e 1975, técnica que consiste na elaboração de imagens a partir de Raio X, gama ou de ultrassom, e de um computador para tratar dados. Esta técnica permite a obtenção de imagens do corpo, em vários cortes/planos horizontais e verticais. Isto ajudou tanto no estabelecimento de diagnósticos como no controlo da eficiência do tratamento de um tumor.  O primeiro trabalho ligando a ressonância magnética à medicina é um

estudo de Raymond Damadian publicado em 1971 e enfatiza a diferença de resposta à ressonância magnética entre tecidos sãos e cancerosos. No entanto, foi preciso esperar até 1977 para ter a primeira ressonância magnética de um ser vivo. Esta técnica permite obter imagens em 2D ou 3D do interior de um organismo.

 A tomografia por emissão de pósitrons (PET) cujo objetivo é também a obtenção de imagens do organismo. No entanto, o seu funcionamento é um pouco diferente e teve um papel importante na deteção de tumores. A PET consiste na injeção no organismo de uma solução de baixa radioatividade, que tende a fixar-se em tecidos que consomem altas quantidades de açúcares, tais como os tumores. É possível, em seguida, localizar a solução no organismo com a ajuda de raios-x.

Estas técnicas desenvolvidas nos anos 70 têm todas a particularidade de serem não-invasivas, levando a uma diminuição significativa do número de cirurgia exploratórias. E nos casos em que a cirurgia exploratória se revela indispensável, estas técnicas ainda ajudam grandemente no sucesso do diagnóstico.

43 5.2.2. Tratamentos

Além da cirurgia para a remoção do tumor maligno, existem outras técnicas, que podem ser usadas em conjunto ou separadamente no tratamento de cancros.

Nesta parte, abordar-se-á, resumidamente, diferentes tipos de tratamentos do cancro. Existem quatro tipos de tratamentos além ou em complemento da cirurgia. Estes tratamentos são: a terapia de hormônios, a radioterapia, a quimioterapia e a imunoterapia.

A terapia de hormônios tem origem no século XIX (1878), quando Thomas Beaton relacionou a esterilização de um coelho fémea e a interrupção de produção de leite da mesma. Em seguida, efectuou testes de esterilização em animais acometidos pelo cancro da mama, e constatou uma melhoria para o animal, e um desenvolvimento mais lento do tumor. Foi então estabelecida a relação entre a produção de hormônios pelo organismo e o risco de densenvolvimento de tumores (no seio para mulheres, e na próstata para homens, por Charles Huggins nos anos 20). Mas foi apenas recentemente que medicamentos reguladores de hormonas foram criados e utilizados no tratamento de cancros da mama e da próstata (Whitmore, 1956).

A radioterapia foi desenvolvida cedo, no início do século 20, pouco tempo após a descoberta dos raios-x. Roentgen utilizou-os em primeiro lugar com fins de diagnóstico, mas foi em França que descobriram que doses diárias de raios-x diretamente na zona do tecido tumoral aumentavam significativamente as chances de cura dos pacientes. Os aparelhos e as técnicas foram melhorados com o tempo e ainda hoje é um técnica muito utilizada, tanto no tratamento do tumor, como para prevenir recidivas após a remoção deste (Thariat et al., 2013).

A quimioterapia é o tratamento do cancro mais conhecido. Ela consiste na administração de substâncias químicas, geralmente por meio de um catéter implantável (que tem a vantagem de não danificar as veias) ou por uma veia. A composição deste tratamento é feita de acordo com cada paciente. A quimioterapia age em todo o organismo, o que quer dizer que trata o tumor já encontrado, mas também nos possíveis outros tumores presentes, no caso de um

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cancro que já está em fase de metástase. O tratamento age no ADN e no ARN, destruindo os tumores ou reduzindo o ritmo de crescimento destes (DeVita and Chu, 2008; Santéweb, 2000).

Por fim, a imunoterapia, que consiste em estimular as defesas imunitárias do organismo, pode ser dividido em duas técnicas diferentes: imunoterapia ativa e imunoterapia passiva. Estas duas técnicas, embora tenham as suas particularidades, consistem, de modo resumido, na administração de anticorpos artificiais que vão estimular o organismo no combate aos tumores. O tratamento pode agir em todo o organismo ou ser direcionado apenas para o tumor identificado. Este tratamento começou a ser utilizado há apenas alguns anos e vem sendo combinado cada vez mais com a quimioterapia.

5.2.3. Descobertas do Século XXI e desafios futuros

O início do século XXI não foi diferente do século anterior, e muitos avanços na medicina trouxeram novas descobertas, que vieram principalmente mudar os diagnósticos e os tratamentos do cancro. As técnicas e tecnologias já conhecidas continuam a evoluir, bem como o surgimento de novas tecnologias, permitindo um avanço considerável nesta área. Espera-se que, em pouco tempo, se obtenha formas mais rápidas e eficazes de diagnóstico e tratamento, o que poderá salvar a vida de milhares de pessoas.

Por exemplo, o desenvolvimento da cirurgia robótica certamente permitirá a remoção de tumores de maneira mais eficaz e menos invasiva do que as técnicas de hoje (American Cancer S., 2012). Da mesma maneira, a utilização do perfil de expressão génica no diagnóstico do cancro da mama já foi comprovada, com a identificação dos genes BRCA1 e BRCA2 (Kaba, 2005), cuja presença aumenta significamente a probabilidade da paciente vir a ter o cancro da mama. O objetivo no futuro é conseguir identificar outros genes a fim de obter um diagnóstico precoce, aumentando consideravelmente as chances de cura dos pacientes.

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