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Tratamentos silviculturais e execução dos cortes

CAPÍTULO III – TAXA DE CORTE SUSTENTADA EM FLORESTA OMBRÓFILA DENSA

3.2 Revisão bibliográfica

3.2.3 Tratamentos silviculturais e execução dos cortes

Um sistema silvicultural abrange todas as operações culturais que são aplicadas a uma floresta com objetivos de regeneração das espécies desejadas. Assim, um sistema silvicultural está correlacionado com as espécies, com o meio físico e com os objetivos do manejo florestal (TAYLOR, 1969).

Hosokawa (1998) considera que, para a aplicação de um sistema silvicultural conveniente e elaboração de plano de manejo, devem ser feitos estudos ecológicos observando primordialmente aspectos autoecológicos e sinecológicos, bem como o estudo das características estruturais de uma floresta, para garantia de seu aproveitamento racional.

Em nível ecológico e de sucessão, as clareiras têm um papel importante quando se planeja o manejo florestal. Alguns estudiosos classificam a sucessão em primária e secundária. A primária seria a colonização, a secundária seria o povoamento onde antes houve população natural (CARVALHO, 1997). A sucessão está relacionada ao tamanho da clareira, à entrada de luz até o solo, ao banco de sementes e ao potencial vegetativo das espécies. Diferentes tamanhos de clareiras abertas pela queda das árvores resultam em diferenças na composição das espécies no próximo ciclo (WHITMORE, 1989). Esse pesquisador continua: “a fase de clareira é a parte mais importante do ciclo de crescimento para a determinação da composição florística. Onde o corte seletivo é de baixa intensidade o sistema policíclico cria pequenas clareiras e assim favorece mais as espécies tolerantes entre as espécies clímax”.

Silva (1989) também afirma, pelos mesmos motivos, que o tamanho da clareira é de fundamental importância para a sucessão florestal e trata-se ainda de um fator importante para o planejamento da exploração florestal.

Quando as espécies desejadas são, em sua maioria, tolerantes à sombra, elas não se regeneram em grandes clareiras, devendo a extração ser cuidadosamente planejada, com uma intensidade e distribuição que minimizem a formação de grandes aberturas.

Barros (1986) enfatiza a necessidade das técnicas utilizadas em manejo florestal serem embasadas na análise das relações entre a vegetação e as variáveis ambientais, e de essas análises expressarem informações sobre a estrutura dos povoamentos florestais considerando não só suas produções volumétricas, mas principalmente sua composição florística, fatores que constituem os reflexos das diferentes interações ambientais.

Com relação à importância dos tratamentos silviculturais, Reininger (1976) definiu a Lei da Diminuição da Área de Copa. Segundo o autor, para cada metro cúbico explorado, a área da copa diminui com o aumento do DAP. Assim, demonstrou que, para um mesmo volume que se pretende explorar, a maior luminosidade será tão maior quanto menor forem as árvores que se pretende explorar.

Assmann (1970) menciona que em povoamentos mistos, os diferentes ritmos de crescimento das espécies podem gerar um complicador no que se refere à produção. Assim, determina o cientista, métodos direcionados de desbastes devem ser utilizados visando maximizar a produção.

Crescimentos ideais somente são alcançados com adequada exposição das copas à luz solar, podendo-se obter ganhos de até 50% com relação ao incremento periódico anual em diâmetro (OLIVEIRA; BRAZ, 2006). Embora esses fatores tenham grande influência na recuperação do volume extraído, apenas cortes de cipós e Exploração de Impacto Reduzido (EIR) têm sido considerados.

Como enfatiza Azevedo (2006), a EIR não tem efeito de tratamento silvicultural. A explicação é lógica, pois a EIR tem função principal de reduzir o dano ao povoamento, garantindo, assim, maior número de árvores das espécies de interesse em condições saudáveis, além de menor dano ao produto extraído e maior segurança no trabalho. Os tratamentos silviculturais devem ser implementados quando se notarem declínios no incremento, devendo se valer dos critérios da exploração de impacto reduzido, mas não serem substituídos por eles. Tratamentos silviculturais, no caso de florestas

tropicais, buscam que as espécies de interesse, de forma localizada, sejam liberadas para os efeitos que a luminosidade pode proporcionar. Não deve haver desbastes arbitrários sobre a área basal total, mas sim, árvores, subcompartimentos específicos que sofrerão tratamentos de liberação apoiados por refinamentos.

Além dos tratamentos silviculturais, o cuidado no planejamento e técnicas de abate e extração das toras da floresta são considerados extremamente importantes para a garantia da “sustentabilidade” produtiva da floresta tropical.

O planejamento de extração é importante, e para alguns, é considerado o primeiro tratamento da floresta manejada, como exemplifica o Sistema Silvicultural Celos, desenvolvido por Graaf (1986).

Para Schneider e Finger (2000), a execução do manejo propriamente dito consiste na realização de cortes de limpeza, condução e colheita de árvores, visando alcançar os objetivos da produção estabelecidos no plano de manejo.

Segundo os pesquisadores, essas ações devem ser precedidas de um adequado planejamento executado por pessoal treinado, pois delas resultará a quantidade e a qualidade da produção futura.

A divisão da área em unidades manejáveis, bem como planejamento da rede de estradas e caminhos de arraste, reduz custos e impactos sobre a floresta, influindo assim na possibilidade de regeneração visando cortes futuros. A existência de plântulas até árvores maduras reforça os cuidados necessários ao planejamento da extração.

Schneider e Finger (2000) enfatizam ainda que os cortes a serem executados nas árvores previamente selecionadas no inventário e que constituem a taxa de corte devem ser considerados de acordo com o objetivo e fase de sua aplicação, como:

- Corte de limpeza: compreende os cortes de eliminação de cipós para facilitar o abate das árvores, reduzindo danos às remanescentes e riscos ao abatedor;

- Colheita propriamente dita: abate e extração das árvores selecionadas, que compõem a taxa de corte sustentada;

- Refinamento: abrange a liberação de árvores com um bom potencial futuro e a retirada de árvores com más perspectivas de crescimento, formação e

sobrevivência. Para isso, um bom indicativo é o tamanho e a arquitetura da copa, além do comprimento relativo da copa e do tipo de ramificação.

Daniel et al. (1979) sugerem, para povoamentos dissetâneos, que o engenheiro florestal deve avaliar o vigor atual, o crescimento potencial das espécies, as classes de diâmetro e definir o peso em que o compartimento pode ser aberto. Assim, sugere que, de acordo com os mosaicos de vegetação, as análises devem considerar cada agregação de vegetação separadamente. Sugere que as análises levem em conta o impacto que as extrações promoverão devido à abertura do dossel pelos ventos, insetos, susceptibilidade a doenças, impactos na vida selvagem, problemas de sub-bosque e, particularmente, criação de microssítios apropriados para a regeneração de plantas desejáveis, tolerantes e/ou intolerantes. Também afirma que o crescimento de várias classes de diâmetro pode ser fortemente influenciado pelo engenheiro mediante tratamentos silviculturais.

Lopes et al.(2001) afirmam que um aspecto a considerar por ocasião dos tratamentos silviculturais em áreas manejadas é o conhecimento dos grupos ecológicos das espécies envolvidas e que, para tal, Swaine e Whitmore (1988) propuseram uma classificação baseada, principalmente, na germinação e estabelecimento das espécies, posicionando-as nos grupos ecológicos de espécies clímax ou pioneiras. No primeiro grupo, Whitmore (1988) subdivide as espécies em “demandantes de luz”, que seria uma fase intermediária entre os dois grupos maiores. Por isso, os tratamentos devem respeitar principalmente essas características.

Uma das limitações atuais relacionadas ao manejo das florestas naturais tropicais é que as prescrições, quando ocorrem, mesmo em pesquisa, consideram a floresta de forma homogênea, indicando rebaixamentos em área basal de forma uniforme. Essas prescrições deveriam ser precisas, buscando árvore a árvore garantir suas melhores condições de desenvolvimento.