• Nenhum resultado encontrado

Justificativa e problema de pesquisa

Fase 2 Treinamento de Habilidades Sociais Cotidianas

Essa fase teve por objetivo promover as habilidades sociais, avaliadas por meio do IHS-Del-Prette, consideradas essenciais para a interação social das mães tanto no âmbito familiar como extra-familiar.

As classes de habilidades sociais, como descrito anteriormente, são formas agrupadas em classes mais amplas (Comunicação, Civilidade, Assertivas) de modo a privilegiar todas as mães na ampliação ou desenvolvimento dos comportamentos de Autoexposição a desconhecidos e a situações novas (F4) e de Autocontrole da agressividade (F5). O comportamento de Conversação e Desenvoltura Social (F3) também foi alvo de treinamento no grupo para aquelas mães que relataram apresentar dificuldades para a emissão desse comportamento.

Reconhecendo a variabilidade e a complexidade das relações interpessoais que levam à sobreposição de comportamentos nas classes avaliadas e que as estratégias adotadas no Treinamento de Habilidades Sociais (THS) podem contemplar comportamentos de diferentes classes e/ou fatores, a seleção das estratégias de intervenção permitiu, em alguns casos, treinar comportamentos dos fatores F1 (Habilidades de Enfrentamento com Risco) e F2 (Habilidades de Autoafirmação e Expressão de Afeto Positivo) que também foram direcionadas àquelas mães que apresentaram maiores dificuldades nesses fatores.

A Tabela 10 apresenta, de forma resumida, as classes e subclasses de habilidades sociais cotidianas estabelecidas como objetivos do programa, as vivências utilizadas e as tarefas de casa a elas associadas.

Tabela 10

Classes de Habilidades Sociais Cotidianas Alvos do Programa, Vivências e Tarefas de Casa a elas Associadas.

Classes treinadas

Subclasses Vivências Tarefas de casa

Elogiar;

Agradecer elogios.

“História coletiva oral” (Del Prette & Del Prette, 2001b); “Apresentando a qualidade do outro” (Serrão & Baleeiro, 1999). Elogiar o desempenho de alguém (não do grupo). Habilidades de Comunicação Fazer e responder perguntas.

“Você está escutando” (Serrão & Baleeiro, 1999).

“Pergunta sem resposta” (Del Prette & Del Prette, 2001b). Habilidades de Civilidade Apresentar-se; Cumprimentar desconhecidos. “Apresentando-se ao grupo” (Serrão & Baleeiro, 1999); “Complemento

indispensável” (Del Prette & Del Prette, 2001b). Cumprimentar um desconhecido, se possível iniciar e manter conversação. Fazer, recusar e aceitar pedidos.

“Peça o que quiser” (Del Prette & Del Prette, 2001b).

Pedir um favor a alguém

Interagir com autoridades.

“Fazendo pedido ao prefeito” (Del Prette & Del Prette, 2005a).

Fazer pedido dos medicamentos para TDAH ao promotor da cidade onde a pesquisa foi realizada. Habilidades Assertivas

Lidar com críticas e chacotas.

“Misto quente” (Del Prette & Del Prette, 2001b)

Fazer uma crítica modelo misto

quente.

Em todas as sessões, a aplicação da(s) vivência(s) era precedida por uma exposição oral sobre o assunto a ser discutido. A vivência, enquanto contexto estruturado, estabelece condições para o uso de técnicas específicas da Terapia Comportamental, como sugerido

por Del Prette e Del Prette (1999), tais como: ensaio comportamental; modelação; modelagem; exercícios de análise funcional (relações entre as demandas do ambiente, os desempenhos sociais e suas consequências), instrução verbal para o desempenho. Os objetivos do programa incluíram ainda o aperfeiçoamento de desempenhos não-verbais (contato visual, postura, proximidade, gesticulação) e paralinguísticos (volume, entonação, velocidade e pausas na fala) pertencentes às diferentes classes de habilidades sociais que estavam sendo focalizadas. Além das sessões apresentadas na Tabela 10, foram realizadas duas sessões excedentes para a classe de assertividade, que ficaram restritas à discussão da habilidade, sem treinamento da mesma.

Ao término dessa fase, por solicitação das mães, foram incluídas duas sessões referentes à tarefa escolar que não haviam sido programadas previamente e a antecipação de uma sessão que abordou reações adequadas à provocação de colegas. Essas três sessões foram realizadas concomitantemente às sessões de Treinamento de Habilidades Sociais Educativas, porém em horários alternativos. Nas duas sessões referentes à tarefa escolar (descritas abaixo), foram focalizadas estratégias que as mães poderiam utilizar para aumentar a frequência dos comportamentos dos filhos de copiar a tarefa de casa determinada pelo professor em sala de aula e, posteriormente, fazer a tarefa em casa.

(a) Sessão adicional de tarefa de casa I - Nessa primeira sessão, foi discutida a

diferença entre reforçadores arbitrários e naturais e as consequências, a curto e longo prazo, da sua utilização. Ainda foi realizada, na sessão, a confecção de um cartaz intitulado: “Copiar tarefa de casa vale pontos. Pontos valem prêmio”, para anotar a frequência (pontos) apresentada pela criança em copiar, na escola, as tarefas de casa. Esses pontos eram depois trocados por prêmios (carrinhos, jogos para computador, playstation ou vídeo games, bolinhas de gude, etc.), que eram escolhidos pela mãe e pela criança.

(b) Sessão adicional de tarefa de casa II - Na segunda sessão, a partir de um texto

elaborado com base em Barreto (2006), Goldstein e Goldstein (1994) e Hübner e Marinotti (2002), foram apresentadas algumas estratégias para a mãe auxiliar os filhos na organização do material escolar e na realização das tarefas escolares. Essas estratégias envolviam a estruturação do ambiente físico da casa, confecção de um calendário com horário das disciplinas e materiais necessários para cada uma delas e orientações às mães sobre como se comportar no acompanhamento e correção da tarefa.

A sessão que abordou reações adequadas à provocação de colegas antecipou, parcialmente, um dos tópicos relacionados à classe de civilidade e autocontrole (reação à

provocação) que seria alvo de intervenção durante o programa. A antecipação ocorreu devido às constantes queixas das mães sobre a falta de autocontrole das crianças frente a situações de provocações e, principalmente, devido ao relato de duas mães que descreveram situações nas quais os filhos utilizaram objetos cortantes (bisturi e faca) em reação à provocação de colegas. Assim, essa terceira sessão adicional foi programada para orientar as mães sobre estratégias que os filhos poderiam utilizar em reação a situações (bastante comuns) de provocações por colegas, o que era quase inevitável na vida social dessas crianças.

Os tópicos abordados nessa terceira sessão foram baseados na obra de Freedman (2004), que apresenta inúmeras estratégias e os passos necessários para os pais ensinarem os filhos a usar cada uma das estratégias de enfrentamento às provocações. Dentre as estratégias, destacam-se as de: Ignorar; A mensagem na primeira pessoa, Virando a provocação ao contrário: reformando e aceitando a provocação como positiva; Concordando com o autor da provocação; “E daí”; Elogiando o autor da provocação e Humor. Todas essas estratégias podem contribuir na mudança das reações e dos sentimentos de impotência da criança provocada diante do provocador. Para a autora, essas estratégias não têm objetivo de mudar o comportamento do provocador, mas são estratégias que, no mínimo, obrigam o provocador a procurar outra vítima, visto que não sendo reforçado pela resposta emocional da vítima, a tendência é abandoná-la e buscar outra vítima com menos autocontrole.