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2.2 Altitude

2.2.9 Treinamento em Altitude e Desempenho ao Nível do Mar

É fato comprovado que a aclimatação a uma determinada altitude aperfeiçoa a capacidade individual de realizar exercícios aeróbicos nessa altitude, especialmente quando se trata de altitudes elevadas conforme abordado no item anterior (MCARDLE et al., 1998). Segundo os mesmos autores, o fato que ainda causa discussões e que não está totalmente elucidado é o efeito de uma exposição prévia à altitude e do treinamento nessa altitude sobre a capacidade aeróbica e o desempenho nas provas de endurance imediatamente após o retorno da altitude para o nível do mar.

Para competir ao nível do mar, é bastante comum no meio esportivo, às tentativas de atletas e treinadores, principalmente fundistas, de obter um ganho adicional de rendimento através das adaptações fisiológicas resultantes da exposição crônica à altitude (aclimatação), pois, as adaptações e respostas pulmonares durante uma exposição hipóxica prolongada, não são imediatamente

nestas situações é que se a hipoxia constitui um estímulo importante do treinamento, altitude e treinamento, deveriam agir de maneira sinérgica, de forma que o efeito total pudesse superar aquele induzido por um treinamento semelhante em altitudes reduzidas ou ao nível do mar. Via de regra, isto não se verifica necessariamente na prática, de forma que a grande maioria dos estudos que tiveram o objetivo de elucidar esse fenômeno concluíram que o treinamento de altitude convencional não se traduz, necessariamente, em aumento da capacidade de rendimento em provas de endurance após o retorno ao nível do mar (FOX et al., 1991; MCARDLE et al., 1998). Nos poucos estudos em que o treinamento na altitude parece influenciar o desempenho posterior ao nível do mar, os indivíduos não se encontravam bem treinados antes da ascensão. Isso torna difícil determinar se a melhoria de desempenho era decorrente da altitude ou do próprio treinamento, independente dos fatores de fisiológicos que levam a aclimatação (WILMORE & COSTILL, 2000).

Para Wimore & Costill (2001), o estudo do desempenho de atletas em altitude apresenta um sério problema, pois eles freqüentemente são incapazes de treinar com o mesmo volume e intensidade de esforços praticados ao nível do mar. Também, as condições nas altitudes moderadas a elevadas freqüentemente, fazem com que os atletas apresentem desidratação e percam massa muscular. Essas condições, associadas, tendem a produzir um decréscimo no condicionamento físico.

De acordo com Chapman & Levine (2003), os estudos que tiveram o propósito de examinar o efeito do treinamento em altitude sobre a performance ao nível do mar produziram resultados contraditórios. Para o autor um grande número desses estudos sofre, no modelo experimental, de alguns problemas que serão exemplificados a seguir:

1. Níveis indeterminados de treinamento antes de se iniciar os treinamentos na altitude. É necessário que o nível de treinamento seja verificado antes da ida para a altitude, o que muitas vezes não acontece. Desta maneira se tem condições de saber, ou de se diferenciar se o aumento ou declínio na performance é decorrente somente dos efeitos da altitude.

2. Falta de grupo de controle independente ao nível do mar.

3. Controle dos estoques de ferro. O ferro é um elemento fundamental e necessário na produção de hemoglobina e de eritrócitos, bem como outros citocromos contendo heme. Uma quantidade bastante elevada de corredores de elite, principalmente

corredores de longa distância tem baixos níveis de ferro estocado como ferritina. Com quatro semanas de aclimatação a 2.500 metros, fundistas com baixos níveis de ferritina não obtiveram aumento do volume total de hemácias. Entretanto, atletas com níveis normais de ferritina tiveram aumento significativo de células vermelhas, o que é típico de uma boa aclimatação, figura 5. Quando atletas com deficiência de ferro receberam uma suplementação do mineral, por ocasião do treinamento em altitude (em torno de 400 mg de ferro elementar por dia), o volume de eritrócitos aumentou significativamente.

Fonte: Chapman & Levine (2003, p.483)

Figura 3 – Alterações no volume eritrocitário após 4 semanas de exposição a 2.500m em atletas com níveis séricos de ferretina normal e baixo

De acordo com Chapman & Levine (2003) a grande maioria das investigações, até hoje realizadas, não conseguiram demonstrar que permanecer e treinar em altitude sejam mais eficazes em termos de rendimento, para performance ao nível do mar, do que o treinamento equivalente ao nível do mar.

Um estudo bem controlado e amplamente divulgado na literatura sobre treinamento em altitude e desempenho ao nível do mar foi executado por Adams e cols. em 1975 (CHAPMAN & LEVINE, 2003). Doze corredores de longa distância altamente treinados completaram 20 dias treinando ao nível do mar e 20 dias vivendo e treinando numa altitude de 2.300 metros. Usando um estudo cruzado, seis atletas treinaram os primeiros 20 dias ao nível do mar enquanto outros seis treinaram em altitude. Depois de 20 dias, os grupos trocaram os locais de treinamentos e seguiram treinando por mais 20 dias. Depois do período de

treinamento em altitude, o VO2 máximo ao nível do mar era 2,8% menor em cada

grupo, enquanto que o tempo de corrida de 2 milhas era sete segundos mais rápido no grupo altitude/nível do mar e sete segundos mais lento no grupo nível do mar/altitude. Os autores puderam concluir que o treinamento em altitude (2.300 metros) não aumentou significativamente a performance em corrida de endurance ao nível do mar mais do que o treinamento de forma equivalente ao nível do mar.

Em outro estudo, corredores bem treinados foram levados de avião até Nunoa no Peru (4.000 metros), onde continuaram treinando e se aclimatando durante um período de 47 dias. Após o retorno ao nível do mar, em nenhuma ocasião os corredores conseguiram melhorar os seus tempos de corrida pré-altitude. Os tempos de corrida nas provas mais longas foram 5%, em média, piores dos tempos pré- altitude (MCARDLE et al., 1998).

Para McArdle et al. (1998), algumas das alterações fisiológicas que ocorrem durante uma exposição prolongada à altitude podem anular as adaptações que, hipoteticamente, talvez pudessem otimizar a capacidade de performance após o retorno ao nível do mar. O autor se refere nesse caso a perda de massa muscular e de uma redução na freqüência cardíaca máxima e no volume de ejeção observados repetidas vezes durante a permanência em altitude. Qualquer redução no débito cardíaco máximo e na massa muscular na altitude anula os benefícios resultantes da maior capacidade sangüínea de transportar oxigênio.

A exposição a altitudes de 2.300 ou maiores torna impossível aos atletas treinarem com a mesma intensidade adotada ao nível do mar. Aos 4.000 metros segundo McArdle (1998), os corredores só conseguem, em média, treinar com 39% do VO2 máx., em comparação com uma intensidade de 78% quando treinam ao

nível do mar. É possível que essa redução no nível de treinamento seja de tal magnitude que, numa grande altitude (acima de 4.000 metros), o atleta não seja capaz de manter uma condição física razoável para competir ao nível do mar.

De acordo com Chapman & Levine (2003), em termos de aplicação prática do treinamento em altitude para desempenho ao nível do mar, as questões mais freqüentemente formuladas por atletas, técnicos e fisiologistas do esporte são: 1) em que altitude permanecer? 2) em que altitude treinar? 3) quanto tempo ficar na altitude e quando retornar ao nível do mar antes de uma competição?

A seguir serão apresentados alguns relatos de estudos que buscam direcionamento para responder as 3 questões anteriores

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