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Treinamento Físico Resistido

No documento UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU (páginas 30-34)

O TF resistido consiste em uma atividade física com a aplicação de sobrecargas, voltada para o desenvolvimento das funções musculares e pode ser definido como uma forma graduável de resistência à contração muscular, estimulando a massa muscular e óssea, força, resistência e potência muscular (FRONTERA et al., 1988). O TF resistido caracteriza-se por contrações voluntárias da musculatura esquelética de um determinado segmento corporal contra uma resistência externa, podendo ser realizada com pesos (halteres, anilhas, barras), máquinas, elásticos ou a própria massa corporal (BERMUDES et al., 2004). Para prescrever o TF resistido, a intensidade e o volume devem estar apropriados ao objetivo pretendido. A intensidade é representada por um percentual da maior carga possível de ser vencida em uma única repetição máxima (1-RM), já o volume muitas vezes é apresentado em números de séries e repetições.

Existem numerosas evidências de que o TF resistido impede a diminuição da massa muscular esquelética, aumenta a força e facilita as tarefas de vida diária durante o processo de envelhecimento, no qual é sabido ocorrer a perda da função muscular, consequentemente pode contribuir ainda para a prevenção da osteoporose e sarcopenia, reduzindo o número de quedas,

fraturas e deficiências no idoso (HURLEY & ROTH, 2000). As adaptações em longo prazo do TF resistido ainda incluem a diminuição da resposta do cortisol ao estresse agudo (FABBRI et al., 1999), aumento do gasto total de energia em jovens e idosos (VICENT et al., 2002), bem como o alívio da ansiedade, depressão e insônia (SINGH et al., 1997). O TF resistido ainda tem efeitos benéficos sobre os sintomas da osteoartrite, hipertensão (ETTINGER et al., 1997; KELLY et al., 2000; CORNELISSEN et al., 2005), perfil lipídico (HONKOLA et al., 1997) e aumenta a tolerância ao esforço em pacientes com DAC (WILLIAMS et al., 2007a).

Em alguns estudos, o TF resistido de moderada e baixa intensidade pode melhorar a função endotelial. Essa melhora desencadeia, após determinado período de treinamento, outros efeitos benéficos como diminuição do LDL-colesterol, da agregação plaquetária, do processo aterosclerótico, da resistência vascular periférica e tendência à queda da PA (OKAMOTO et al., 2009, TANIMOTO et al., 2009).

Durante o exercício isométrico, o aumento da FC e da PA são quase proporcionais à força exercida, relativa à maior força possível que um indivíduo possa evocar (1-RM) (MITCHELL et al., 1980). O volume sistólico absoluto permanece praticamente inalterado, exceto em níveis elevados de tensão (> 50% de 1-RM), em que ele pode reduzir em razão de um aumento na pressão intratorácica (Manobra de Valsalva), levando à diminuição do retorno venoso e redução do DC. O resultado é um aumento moderado do DC, com pouco aumento no consumo de oxigênio. Apesar desse aumento, o fluxo de sangue para os músculos não trabalhados não aumenta, provavelmente devido à vasoconstrição reflexa (WILLIAMS et al., 2007b).

O TF resistido varia em função da intensidade e do tipo de exercício (BRUM et al., 2004). Quando realizado exercício de alta intensidade, um aumento considerável da resistência vascular periférica (FORJAZ et al., 2003) acontece, promovendo o acúmulo de metabólitos. Esses metabólitos, por sua vez, acionam os quimiorreceptores musculares, estimulando a

liberação de catecolaminas pelo sistema nervoso simpático, aumentando a FC e PA sistólica (PAS) durante o esforço (BRUM et al., 2004). Alguns fatores como massa muscular envolvida, padrão respiratório e número de execução do movimento podem influenciar no aumento da FC e PAS durante a realização do exercício (FORJAZ et al., 2003).

Estudos relacionados à morfologia e função cardíacas têm consistentemente demonstrado que as alterações associadas com TF resistido são fisiológicas, apesar de alguns efeitos cardíacos existirem em um continuum, entre o normal e o patológico. O TF resistido de alta intensidade caracteristicamente aumenta a espessura da parede e a massa do VE, com pouca ou nenhuma alteração no diâmetro ventricular (SPIRITO et al., 1994; FAGARD, 1996; MARON, 1997; PLUIM et al., 2000). Embora significante, o aumento da espessura da parede é modesta, e os valores estão, em geral, dentro dos parâmetros de normalidade.

Tanto a função sistólica quanto a função diastólica do VE apresentam-se normais após o TF resistido crônico, consistente com a hipertrofia fisiológica (SPIRITO et al., 1994; FAGARD, 1996; MARON, 1997; PLUIM et al., 2000; SUMAN et al., 2000). Além disso, a presença de hipertrofia fisiológica em indivíduos submetidos ao TF resistido foi confirmada por uma maior resposta inotrópica à dobutamina quando comparados aos indivíduos controle (PEARSON et al., 1986; WILLIAMS et al., 2007a,b).

Em pacientes com IC, apesar das anormalidades no músculo esquelético estarem bem descritas (HARRINGTON et al., 1997), o TF resistido vinha sendo tradicionalmente desencorajado em virtude das preocupações em promover comprometimento da função do VE e potencial efeito adverso no remodelamento cardíaco, principalmente decorrente do aumento da pós-carga. Pu et al. (2001) afirmaram que as respostas hemodinâmicas, bem como o remodelamento cardíaco não têm sido demonstrado por pacientes com IC que realizam o TF resistido. Nesse cenário, nos últimos anos o TF resistido vem sendo discutido e por vezes

recomendado para pacientes com IC, baseado em parte na lógica de que esta forma de treinamento pode ser mais eficaz em reverter à atrofia muscular esquelética do que o exercício aeróbico e que o aumento da força/resistência podem melhorar a qualidade de vida dessa população (WILLIAMS et al., 2007a,b).

De fato, diretrizes recentes enfatizam a importância de se incorporar o TF resistido para a prescrição ideal de exercícios nos pacientes com IC (SELIG et al., 2004). O TF resistido tem mostrado atenuar o declínio da massa muscular (PU et al., 2001), melhorar a força (LEVINGER et al., 2004), a resistência (MANDIAC et al., 2012), bem como o VO2 máx (SELIG et al., 2004) em pacientes com IC. No entanto, ainda são escassos os estudos que tratam dos efeitos do TF resistido no remodelamento cardíaco, na disfunção ventricular, bem como no perfil hemodinâmico da IC promovida pelo IM.

Melhora do fluxo sanguíneo basal e da função endotelial de pacientes com IC e após 11 semanas de TF resistido e circuitado, foi previamente observado por Hare et al. (1999). Em um ensaio clínico, pacientes com IC submetidos a um protocolo de 3 meses de TF resistido em intensidade moderada apresentaram aumento do fluxo sanguíneo em repouso e em resposta a estímulos de exercício (SELIG et al., 2004). Assim, como efeito do exercício resistido há um aumento do fluxo sanguíneo periférico, o que contribui para minimizar diferentes condições patológicas.

Alguns autores sugerem que o TF resistido para a reabilitação cardiovascular deve ser realizado de forma dinâmica (isotônica), com uma carga de 50-60% de carga máxima (NEGRÃO & BARRETO, 2005; GARDENGHI & DIAS, 2007). Nesse cenário, Selig et al. (2004) submeteram 39 pacientes com IC a 3 meses de TF resistido de moderada intensidade e observaram uma melhora do balanço simpato-vagal sugerido pela redução da razão baixa/alta frequência da VFC.

Recentemente, Grans et al. (2014) testou a hipótese de que o TF resistido dinâmico de baixa/moderada intensidade poderia promover benefícios na função cardíaca e melhorar o controle autonômico da circulação de ratos infartados. Os principais achados deste trabalho apontam para o fato de que o TF resistido promoveu alterações morfométricas ventriculares nos animais infartados, modificações estas não associadas a alterações da função cardíaca. No entanto, embora a sensibilidade barorreflexa e o índice α não tenham sido melhorados, o TF resistido foi eficaz em prevenir um prejuízo adicional da modulação autonômica cardiovascular nos animais submetidos ao IM. No entanto, apesar dos dados sugerirem que o TF resistido pode auxiliar de maneira importante a recuperação de pacientes pós-IM, a sua prática ainda é limitada nos programas de reabilitação cardiovascular, sendo restrida a um pequeno percentual do total da sessão de TF.

No documento UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU (páginas 30-34)

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