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CAPÍTULO I HABILIDADES SOCIAIS E SUA APLICAÇÃO NO CONTEXTO

1.3 Treinamento de Habilidades Sociais (THS)

O campo das habilidades sociais não se caracteriza somente pela investigação e construção teórica, mas também pela aplicabilidade a diversos contextos de atuação como organizacional, educacional, clínica, dentre outras (Soares, 2011). Na abordagem prática, como forma de promover as habilidades sociais, surgiu o movimento do treinamento dessas habilidades. Denominado como Treinamento de Habilidades Sociais (THS), o termo foi assinalado pela primeira vez por Argyle (1976) para descrever a aplicação dos conhecimentos sobre o modelo das habilidades sociais que eram entendidas como um mecanismo de interação entre as pessoas situadas no campo da comunicação.

Segundo Z. Del Prette e A. Del Prette (1998), o Treinamento de Habilidades Sociais tem como objeto de estudo e de aplicação do conhecimento psicológico o desenvolvimento interpessoal que, por sua vez é compreendido como a capacidade de estabelecer e manter interações sociais produtivas e satisfatórias diante de diferentes situações. Esse campo de atuação e estudo busca identificar, definir e avaliar as habilidades sociais e outros fatores

relacionados à competência social, verificar sua relação com diversos quadros nosológicos e de saúde mental e entender seu desenvolvimento natural e as potencialidades através de programas estruturados.

O treinamento de habilidades sociais é definido como um conjunto de ações planejadas que estruturam processos de aprendizagem e que almeja aumentar a frequência ou potencializar a proficiência de habilidades sociais já aprendidas, porém deficitárias; promover o ensino de novas habilidades; diminuir ou extinguir comportamentos que concorrem com habilidades eficazes para o sucesso da interação interpessoal (A. Del Prette, & Z. Del Prette, 2011; Z. Del Prette, & A. Del Prette, 2010; Murta, 2005).

O THS envolve duas etapas, que não são obrigatoriamente bem delimitadas, que é a avaliação e a intervenção. A avaliação tem como objetivo identificar quais fatores estão impedindo o acontecimento de comportamentos socialmente competentes. Já as intervenções podem se apresentar de duas formas: multicomponentes, que possuem diversos temas de discussão, e unicomponentes que são aquelas focadas unicamente nas habilidades sociais. Já em termos de estrutura, são colocadas ainda mais duas outras etapas que são definir os objetivos de intervenção em termos de habilidades específicas e seus componentes cognitivo-afetivos e comportamentais verbais e não verbais e a avaliação da efetividade do programa (Z. Del Prette, & A. Del Prette, 1998; 1999; Murta, 2005).

Atualmente, os programas de THS abordam principalmente três enfoques teóricos práticos: o operante – com ênfase na análise do comportamento -, o da aprendizagem social – com ênfase na modelação e teoria social cognitiva – e o eclético – que agrega elementos dos dois enfoques e é o mais utilizado. Outro aspecto é que os programas também abarcam interesses individuais e coletivos das interações sociais. Para tanto, precisam considerar a funcionalidade da competência social que têm duas dimensões: a dimensão instrumental que se refere às consequências imediatas e individuais, que colaboram para a manutenção e

aprendizados de novas habilidades e a dimensão ético moral que é aquela que abarca o coletivo e que gera consequências de médio e longo prazo tendo como principal característica o respeito aos direitos humanos interpessoais (A. Del Prette, & Z. Del Prette, 2011; Z. Del Prette, & A. Del Prette, 2001b).

O THS geralmente possui o enfoque concentrado no aprendizado de um novo repertório de respostas. Nessa perspectiva, seu desenvolvimento se dá a partir de quatro elementos estruturados. O primeiro é o treinamento em habilidades onde são ensinados e praticados comportamentos específicos e integrados ao repertório do sujeito. O segundo elemento é a redução da ansiedade em situações sociais problemáticas que é feita de forma indireta, com a ocorrência de um novo comportamento, ou direta com técnicas de relaxamento e dessensibilização sistemática, a depender do nível da ansiedade. O terceiro é a reestruturação cognitiva, onde se pretende modificar valores, crenças, cognições e atitudes do sujeito, e ocorre também de forma indireta, ou seja, com a aquisição de novos comportamentos. Por fim, o quarto elemento é o treinamento em solução de problemas, onde é ensinado ao sujeito a perceber corretamente os valores dos parâmetros situacionais, a processar esses valores criando respostas potenciais e a selecionar e emitir uma dessas respostas de forma a aumentar a probabilidade de atingir o objetivo que estimulou a comunicação interpessoal. Esse último elemento geralmente aparece de forma implícita nos programas de THS (Caballo, 2011).

Esses são elementos de um THS completo, porém esses também variam em função do objetivo e das necessidades do programa a ser implantado. Para alcançar os objetivos desse estudo, acredita-se que o elemento mais importante do THS proposto é a reestruturação cognitiva de modo que a modificação de atitudes, crenças e cognições podem ter como consequências a redução do preconceito, neste caso específico, do preconceito contra a diversidade sexual e de gênero.

Nesse sentido, Murta et al (2012) afirmam mais especificamente que existe uma necessidade de testagens dos programas de habilidades sociais como estratégias de promoção de direitos sexuais e reprodutivos visto que o ensino dessas habilidades poderia contribuir para o desenvolvimento de atitudes mais flexíveis para com a diversidade de orientação sexual, identidade e papéis de gênero. Esse tipo de programa poderá servir para proporcionar modos de relações mais respeitosas e tais habilidades podem ter impacto direto na tomada de decisão, solução de problemas e comunicação na adolescência. Ainda sobre intervenções com adolescentes, Z. Del Prette e A. Del Prette (1998) sugerem que esses programas podem focar nas dificuldades de relação interpessoal com o sexo oposto, pressões de grupo, questões relativas à sexualidade, modificações no corpo que afetam as relações sociais, decisões sobre o futuro profissional, dentre outros.

Um campo de estudo que vêm sendo bastante explorado é a aplicação do THS no contexto escolar. Esse cenário vem sendo cada vez mais valorizado pela propagação de práticas pedagógicas que alicerçam a construção do conhecimento nas interações sociais onde um conjunto de habilidades é necessário para que haja uma interação satisfatória (Z. Del Prette, & A. Del Prette, 2005; Rosin-Pinola, 2009).

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