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Dado o fato que o envelhecimento é caracterizado por diminuição de vários aspectos da função imunitária e força/resistência muscular, o TR, potencialmente, pode ser uma

intervenção eficaz para reverter o quadro de senescência imunitária e muscular (ACSM, 2009; BAUTMANS et. al., 2005).

Segundo o ACSM (2009), o TR tem se mostrado uma modalidade de atividade eficaz nos programas que têm como objetivo a manutenção ou redução da massa corporal, devido a sua prática regular elevar o gasto energético, aumentar a massa muscular e incrementar a taxa metabólica de repouso. Além disso, o TR também demonstrou influenciar a função vascular e a sensibilidade insulínica (BROOKS et. al., 2007; WILLIAMS et. al., 2007). Esse último efeito foi, principalmente, atribuído à remodelação vascular (expansão da rede capilar e aumento do diâmetro vascular) (LEUNG et. al., 2008) e ao aumento da expressão e/ou atividade das proteínas-chave de sinalização, envolvidas na regulação da ingestão calórica e no metabolismo muscular (BAUTMANS et. al., 2005).

O TR é associado com redução de ocorrência de doenças crônicas, que têm o fenômeno da inflamação em sua fisiopatologia (MATHUR; PEDERSEN, 2008), como aterosclerose, obesidade e resistência insulínica (BASTARD et. al., 2006). Entretanto, no âmbito de investigações com populações geriátricas, pequeno é o conhecimento sobre os efeitos específicos do TR nos biomarcadores pró-inflamatórios, e os resultados existentes são contraditórios (CALLE & FERNANDEZ, 2010; DE SALLES et. al., 2010; BEAVERS et. al., 2010; FISCHER, 2006). Além disso, há falta de consenso sobre os efeitos crônicos do TR nas citocinas plasmáticas, e não há clareza se o TR na ausência de exercício aeróbio, com intervenção dietética para perda de massa corporal, pode modificar os níveis de citocinas circulantes (DE SALLES et. al., 2010).

A resposta inflamatória aguda ao TR tem sido extensivamente descrita e pode produzir, a longo prazo, um efeito anti-inflamatório relacionado à regulação das citocinas (LEUNG et. al., 2008; SMITH et. al., 2008; PETERSEN & PEDERSEN, 2005; MOLDOVEANU et. al., 2001). Autores sugerem que intervenções longitudinais com TR são necessárias para observar os seus efeitos nos marcadores pró-inflamatórios (CALLE & FERNANDE, 2010; LEVINGER et. al., 2009). Calle e Fernandez (2010) afirmam que uma única sessão de TR aumenta as concentrações de citocinas plasmáticas inflamatórias, paradoxalmente, a longo prazo, devido às adaptações locais e sistêmicas, observa-se redução dos níveis de citocinas pró-inflamatórias plasmáticas, tanto em repouso como em resposta ao exercício. Os mesmos autores observaram que essa resposta fisiológica é evidente quando se comparam níveis de citocinas plasmáticas de indivíduos treinados e destreinados, ou pré e pós-treinamento.

Nesse contexto, os efeitos do TR na resposta inflamatória dependem de um equilíbrio apropriado entre a produção e a expressão das citocinas pró e anti-inflamatórias (FEHRENBACH; SCHNEIDER, 2006). Nesse âmbito, a resposta das citocinas ao TR pode ser atribuída, em parte, à influência de sua atividade na sensibilidade insulínica, no aumento da expressão e/ou atividade das proteínas-chave de sinalização envolvida na ingestão de glicose e no metabolismo muscular (HAWLEY; LESSARD, 2008).

Bruunsgaard et. al. (2004) observaram que o TR incrementou a força muscular, sem alterar significativamente os níveis plasmáticos de TNF-α e IL-6 em idosos com diagnóstico de síndrome de fragilidade. Já estudos de Kohut et. al. (2006), comparando os efeitos do treinamento aeróbio com o resistido, evidenciaram que enquanto aquele ocasionou redução dos níveis de TNF-α e IL-6, o TR ocasionou declínio, exclusivamente, sobre o TNF-α.

Os autores afirmam que, mesmo observando alterações nos níveis circulantes de mediadores pró-inflamatórios com a prática de exercício aeróbio, os receptores - adrenérgicos podem não estar envolvidos nesse resultado (KOHUT et. al., 2006). Outro estudo, combinando sessões de exercício aeróbio e resistido, não revelou redução nos níveis de IL-6 em idosos obesos e mulheres com osteoartrite (NICKLAS et. al., 2004). Nesse contexto, devido as controvérsias sobre a eficácia do TR em alterar as concentrações de mediadores pró-inflamatórios, investigações adicionais sobre esse assunto ainda são necessárias.

Kapasi et. al. (2003) não observaram alterações significativas nos níveis circulantes de IL-1 , TNF-α, IL-2 e IL-6 após 12 (doze) semanas de TR progressivo. No mesmo sentido, pesquisas observaram que 12 (doze) semanas de TR progressivo de alta intensidade não ocasionaram alteração na produção de IL-1 , TNF-α, IL-6 e IL-2 (MCFARLIN et. al., 2004; RALL et. al., 1996). Em outro estudo, com duração de 10 (dez) semanas de intervenção com TR, 56 (cinquenta e seis) homens e mulheres de meia-idade não obtiveram alteração significativa na expressão de IL-6 e PCR (LEVINGER et. al., 2009).

Já Bautmans et. al. (2005) encontraram uma tendência à diminuição nas concentrações circulantes de IL-6 e um aumento nos níveis de IL-10 e TGF- após 6 (seis) meses de um programa de treinamento de força de alta intensidade (70-80% de 1RM). Todavia, essas alterações não foram significativas. No mesmo estudo, foi evidenciada uma correlação negativa entre a expressão de HSP70 (proteína de choque térmico) 37ºC e a circulação de IL- 10, TNF-α e TGF- (BAUTMANS et. al., β005).

Há pesquisas demonstrando que intervenção somente com TR em idosos não está associada a alterações dos níveis plasmáticos de TNF-α (PRESTES et. al., β009;

BAUTMANS et. al., 2005; BRUUNSGAARD et. al., 2004; REYNOLDS et. al., 2004; RALL et. al., 1996). Prestes et. al. (2009) observaram que mulheres pós-menopausáticas não obtiveram alteração significativa nas concentrações de TNF-α após 4 (quatro) meses de intervenção. Entretanto, Greiwe et. al. (2001) demonstrou que TR, com duração de 12 (doze) semanas, em idosos fragilizados, reduziu os níveis de TNF-α, bem como a expressão do RNA mensageiro, sugerindo que essa modalidade de exercício pode suprimir a expressão do TNF-α musculoesquelético e sustentando a hipótese de que o TR possui efeito anti-inflamatório local.

Consoante com esses resultados, Brooks et. al. (2007) depreenderam que 16 (dezesseis) semanas com TR reduziram a concentração da PCR e os níveis de adipocinas em adultos idosos hispânicos com diabetes tipo 2. Similarmente, reduções significativas de RNA mensageiro do TNF-α e de expressão protéica foram relatadas em idosos fragilizados após a participação em programa de TR (GREIWE et. al., 2001). Essa citocina inflamatória foi inversamente correlacionada à força muscular após TR de 12 (doze) semanas (BRUUNSGAARD et. al., 2004).

Entretanto, o ganho de força muscular não é relacionado às concentrações iniciais das citocinas (BAUTMANS et. al., 2005). Seguindo essa evidência, Ogawa et. al. (2010) examinaram os efeitos do TR de baixa intensidade na aptidão física, na densidade muscular, nos níveis circulantes de marcadores de inflamação e nos fatores de crescimento por 12 (doze) semanas em 21 idosas sedentárias. Os autores observaram que as concentrações plasmáticas de PCR, de amilóide A sérica (SAA), de HSP70 e de IGF-1 reduziram significativamente após o período de intervenção, mas não houve modificação significativa nos níveis de IL-6, TNF-α, MCP-1 e fator de crescimento endotélio vascular (FCEV). Ogawa et. al. (2010), ainda, demonstraram associação negativa entre alterações de TNF-α e PCR com modificações na densidade muscular.

Ademais, visto que a adiposidade exerce função na expressão dos biomarcadores inflamatórios, Brochu et. al. (2009) observaram que somente o TR não contribui para a melhoria do estado inflamatório. Entretanto, quando combinado com restrição na ingesta calórica, há diminuição significativa em variáveis metabólicas e de inflamação (BROCHU et. al., 2009). É provável que alterações na composição corporal decorrente de adaptações ao TR (diminuição de massa gorda e aumento de massa muscular) estejam relacionadas a modificações nos níveis circulantes dos biomarcadores pró-inflamatórios (SIMPSON; SINGH, 2008).

Kasapis e Thompson (2005) evidenciaram que os efeitos multifocais do TR no músculo esquelético e no perfil inflamatório podem aumentar os níveis séricos de citocinas,

gerando, cronicamente, um estado anti-inflamatório. Ressalta-se que os efeitos do TR sobre o perfil inflamatório é intensidade-dependente, uma vez que TR reduziu as concentrações de biomarcadores pró-inflamatórios somente com a prescrição de moderada a alta intensidade (60-65% de 1 repetição máxima [RM] e 85% de 1RM, respectivamente) (FATOUROS et. al., 2005).

Acrescenta-se a isso que as diferenças nas características das amostras (idade, gênero, estado de saúde), o protocolo do exercício (duração, frequência semanal, intensidade, recuperação entres os exercícios e sessões de exercícios) podem influenciar os resultados (CALLE & FERNANDEZ, 2010; DE SALLES et. al., 2010; PETERSEN & PEDERSEN, 2005).

Visto isso, programas de intervenção com TR superiores a 16 (dezesseis) semanas, frequência maior ou igual a 2 (duas) vezes por semana e intensidade próximo de 80% de 1RM, podem ser necessários para que ocorra redução significativa da PCR (DE SALLES et. al., 2010).

É provável que a falha em observar redução nos níveis circulantes de biomarcadores pró-inflamatórios pode estar relacionada ao pequeno tamanho da amostra utilizada nos estudos, e baixo poder estatístico.

Vale ressaltar que idosos podem apresentar maiores alterações na citocina adiponectina do que jovens. Por outro lado, mulheres apresentam maiores alterações nos níveis séricos de citocinas em relação a homens (BROOKS et. al., 2007; OLSON et. al., 2007; FATOUROS et. al., 2005). Outro aspecto a ser ressaltado é que maior alteração positiva pode ser observada em indivíduos obesos ou obesos-diabéticos (KLIMCAKOVA et. al., 2006). O mesmo efeito é observado em indivíduos com concentrações iniciais elevadas dos biomarcadores pró-inflamatórios analisados (PRAET et. al., 2008; AHMADIZAD et. al., 2007; KLIMCAKOVA et. al., 2006).

Os efeitos crônicos do TR nos níveis circulantes de citocinas pró-inflamatórias e o mecanismo fisiológico por meio do qual essa modalidade de atividade pode alterar positivamente suas concentrações necessitam de maiores explicações.

Ademais, estudos com longo período de intervenção e com maior número de participantes são necessários para evidenciar os efeitos do TR nos níveis circulantes das citocinas pró-inflamatórias, pôr o exercício crônico possuir respostas de citocinas sistêmicas anti-inflamatórias (miocinas), devido adaptações decorrentes do TR (CALLE & FERNANDEZ, 2010; DE SALLES et. al., 2010).

Dessa forma, garantir a adesão ao programa com TR é essencial para obter os benefícios decorrentes do efeito anti-inflamatório do exercício físico regular, depois de superar a resposta aguda a essa modalidade de exercício. Portanto, o TR pode ser uma terapia não medicamentosa eficaz para prevenir e retardar a instalação de um estado inflamatório crônico sistêmico, consequentemente, a ocorrência de doenças inflamatórias (CALLE; FERNANDEZ, 2010).

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