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Tribunal de Justiça do Estado de Goiás

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2 O PODER JUDICIÁRIO E A LEI MARIA DA PENHA

2.3 Tribunal de Justiça do Estado de Goiás

Na seara criminal, compete à Justiça Estadual comum apreciar e julgar matérias que não sejam da competência das justiças especiais17 e da Justiça Federal (MIRABETE, 2000, p. 171).

A CF de 1988 preconiza que fica a cargo de cada Estado organizar a sua Justiça. Assim, a competência dos tribunais será definida pela Constituição de cada Estado, sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça (artigo 125, § 1º). O PJ do Estado de Goiás é organizado de acordo com os princípios e normas estabelecidos na Constituição Estadual18, bem como pelo seu Regimento Interno19.

O funcionamento da Justiça Goiana obedece a uma ordem hierárquica de duas instâncias, ou seja, de dois graus de julgamento, sendo que a decisão proferida por uma jurisdição inferior pode ser modificada por outra de nível superior.

17 Justiças especiais: eleitoral, trabalhista, militar.

18 www.gabinetecivil.goias.gov.br/constituicoes/constituicao_1988.htm 19www.docs.tjgo.jus.br/publicacoes/regimentos/regimento.pdf

A primeira instância de julgamento é representada pelo juízo monocrático ou singular, onde as ações são decididas por apenas um Juiz de Direito. Cada magistrado será titular de uma vara específica (Vara Cível, Vara Criminal, Juizado Especial Criminal e etc). Entretanto, na comarca onde exista apenas um juízo, este deterá competências destinadas ao julgamento de todas as espécies de demandas judiciais.

A parte que se sentir inconformada com a decisão proferida pelo Juiz de Direito poderá recorrer ao órgão de segunda instância. Neste, a apreciação de uma causa é realizada não somente por um único magistrado, mas sim por um órgão colegiado formado por desembargadores do Tribunal de Justiça que podem modificar ou manter a decisão do juiz de primeira instância grau por meio de uma decisão intitulada acórdão.

O TJ, órgão máximo do PJ Goiano, com sede na capital e competência sobre todo o território estadual, é composto de trinta e dois desembargadores. A estes competem, principalmente, julgar recursos interpostos contra as decisões proferidas pelos juízos inferiores (Juízes de Direito). Neste sentido, Silva (2002, p. 85) aduz que “os Tribunais de Justiça são órgãos de segundo grau de jurisdição, com competência para o reexame, em grau de recurso, das decisões e sentenças proferidas pelos magistrados de grau inferior”.

Por sua vez, o TJGO é composto por órgãos especializados de julgamento, tais como o Tribunal Pleno, Órgão Especial, Seção Criminal e Câmaras Criminais. A composição e a competência destes órgãos encontram-se estabelecidas em seu Regimento Interno.

A competência demarca a atuação do juízo para apreciar e julgar certas ações penais, ante a impossibilidade de julgar todas as causas existentes no universo jurídico. Deste modo, há uma distribuição de processos entre os diversos juízos integrantes do Poder Judiciário, e um juízo não pode invadir a competência do outro (MIRABETE, 2000, p. 167). A legislação processual penal vigente estabelece os critérios de fixação da competência do juízo (art. 69), objetivando o melhor provimento da prestação jurisdicional e o exercício da atribuição do juiz.

Apesar de a LMP ser uma lei específica de proteção à mulher, a norma em questão não se aplica indiscriminadamente ao público feminino. Isto significa que nem toda agressão praticada contra a mulher, em ambiente doméstico e familiar, configura infração penal a ser julgada sob a égide desta Lei, pois para que uma violência praticada contra a mulher se enquadre no molde definido pelo artigo 5º, é necessário que tenha ocorrido sob o viés de gênero. Para definir o que seja esta violência, a LMP leva em conta apenas a definição legal trazida pelo caput do artigo 5º, que assim dispõe:

Art. 5o. - Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial.

Para a correta aplicação da LMP aos casos de violência contra a mulher, ficou a cargo da jurisprudência racionalizar a incidência deste dispositivo legal ao caso concreto, para que reste configurada uma ação ou omissão baseada no gênero.

Isto significa que, em casos concretos submetidos ao crivo do Poder Judiciário, o Tribunal de cada estado brasileiro possui a discricionariedade de analisar a existência ou não de elementos indicativos de vulnerabilidade, inferioridade física ou econômica, hipossuficiência ou outra desigualdade baseada no gênero existente entre o agressor e a vítima.

Na prática forense, a existência destes pontos são relevantes, pois determinam a aplicação de qual lei ao caso concreto: se a violência contra a mulher for praticada em uma perspectiva de gênero e estiver associada com algum dos elementos acima descritos, aplicar- se-á a LMP; em sentido contrário, ou seja, inexistente qualquer elemento supra especificado, a norma disposta na Lei dos Jecrims (Lei nº 9.099/95).

Entretanto, em que pese as competências de cada órgão julgador estarem firmadas sob a ótica da lei, na prática pode ocorrer dúvida, entre dois juízos, sobre qual deles é o competente para apreciar um processo que tenha por objeto a violência contra a mulher, e por consequência, qual a Lei aplicar, se a de nº 11.340/06 ou a de nº 9.099/95.

O artigo 113, do CPP, aduz que as questões referentes à competência de um órgão jurisdicional serão resolvidas por meio de um instrumento jurídico-processual denominado conflito de competência.

Segundo o Regimento Interno do TJGO, o órgão competente para dirimir, apreciar e decidir o conflito de competência é a Seção Criminal:

Art. 11. A Seção Criminal (...) competindo-lhe processar e julgar: (...);

II - os conflitos de competência em matéria criminal, entre juízes de direito (....);

A importância em pesquisar sobre qual o órgão julgador é o competente para apreciar e julgar uma causa que verse sobre a violência doméstica e familiar contra a mulher decorre do fato de não encontrar pacificado, nos juízos de primeira instância do Estado de Goiás, o âmbito de incidência da LMP em processo criminal, bem como qual o perfil da mulher que deverá figurar como vítima da violência de gênero.

Esta elasticidade de interpretação dada por alguns juízos pode comprometer a correta aplicação da Lei específica de proteção, acarretando insegurança nas mulheres ao denunciarem seus agressores, haja vista encontrarem-se, aquelas, em situação de vulnerabilidade social.

A relação entre violência e sistema de justiça criminal foi tema de discussão de vários estudos teóricos sob diferentes enfoques, marcados pelo movimento feminista. No próximo item, serão abordadas as ideias dos principais pesquisadores.

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