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2 CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

2.6 Teorias da relação universidade-empresas-governo

2.6.3 Tripla Hélice

Essa teoria aborda a relação entre universidade, indústria e governo na geração de conhecimento e inovação. De acordo com essa teoria, a relação faria com que o conhecimento produzido chegasse ao ambiente produtivo com maior rapidez e eficácia.

Desenvolvida a partir de meados da década de 1990, a tripla hélice nas relações universidade-indústria-governo é discutida por Leydesdorff e Etzkowitz (1996, p. 279-280) com foco no futuro da pesquisa universitária, no regime emergente de produção e divulgação de conhecimento. Os autores propõem modelar o sistema como uma tripla hélice das relações universidade-indústria-governo em que “três dinâmicas podem ser distinguidas: a dinâmica econômica do mercado, a dinâmica interna de produção de conhecimento, e de governança da interface em diferentes níveis.”

Tornou-se necessária uma análise dinâmica da infraestrutura, desde a década de 1970, à luz das propostas de reindustrialização, normalmente envolvendo o desenvolvimento de ligações mais estreitas entre o Estado e a indústria e entre a universidade e a indústria. Com o aumento das interações entre as instituições, tem-se tido o efeito de gerar novas estruturas dentro de cada um deles, tais como centros em universidades ou alianças estratégicas entre empresas. “Essas interações também levaram à criação de mecanismos de integração entre as esferas na forma de redes, por exemplo, acadêmicos, industriais e governamentais, pesquisadores e organizações híbridas.” (LEYDESDORFF; ETZKOWITZ, 1996, p. 280).

O final do século XIX testemunhou uma revolução acadêmica em que a pesquisa foi introduzida na missão da universidade e se fez mais ou menos compatível com o ensino, pelo menos no nível de pós-graduação. “Muitas universidades nos EUA e em todo o mundo ainda estão passando por essa transformação de propósito. O aumento da importância do conhecimento e da pesquisa para o desenvolvimento econômico abriu uma terceira missão: o papel da universidade no desenvolvimento econômico.” (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000, p. 110).

Etzkowitz e Leydesdorff (2000, p. 111) distinguem uma situação histórica específica para rotular a tripla hélice I ou modelo estático da relação universidade-indústria-governo (Figura 6).

Figura 6 – Tripla Hélice I ou modelo estático da relação universidade-indústria-governo

Governo

Indústria Universidade

Fonte: Etzkowitz e Leydesdorff (2000, p. 111).

Nessa configuração, o Estado-nação abrange a academia e a indústria e dirige as relações entre eles. Neste modelo, o governo se envolve e dirige as relações entre as indústrias e a universidade.

A tripla hélice II ou modelo laissez-faire da relação universidade-indústria-governo (Figura 7) consiste em esferas institucionais separadas, com bordas fortes dividindo-as, e relações altamente circunscritas entre as esferas (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000, p. 111).

Figura 7 – Tripla hélice II ou modelo laissez-faire da relação universidade-indústria-governo

Governo

Universidade Indústria

Nesse modelo, as esferas institucionais existem claramente diferenciadas e separadas entre os atores, que estabelecem relações tendo por base a independência entre as partes.

O modelo da tripla hélice III, para Etzkowitz e Leydesdorff (2000, p. 111), gera uma estrutura de conhecimentos em termos de sobreposição das esferas institucionais, cada uma tendo relação no papel do outro e com as organizações híbridas emergentes nas interfaces (Figura 8).

Figura 8 – Tripla hélice III ou modelo da tripla hélice da relação universidade-indústria-governo

Universidade

Indústria

Governo Rede trilateral e organizações híbridas

Fonte: Etzkowitz e Leydesdorff (2000, p. 111).

Esse modelo compreende uma nova visão dos atores envolvidos. A universidade transforma-se de uma instituição centrada, basicamente, no ensino para uma instituição que combina seus recursos na área de pesquisa, com uma missão voltada ao desenvolvimento econômico e social da sociedade onde atua, estimulando o surgimento de ambientes de inovação e disseminando uma cultura inovadora. Neste sentido, as universidades passam a vivenciar uma tensão acerca do seu papel na sociedade enquanto uma instituição que apresenta uma tripla missão: ensino, pesquisa e desenvolvimento social.

O modelo da Figura 8, de acordo com Etzkowitz e Leydesdorff (2000, p. 112), gera uma infraestrutura de conhecimento em termos de “sobrepor à ação dos atores e, nesta intersecção estabelecer as condições de desenvolvimento de uma relação verdadeiramente produtiva.” O objetivo é desenvolver um ambiente propício à inovação envolvendo empresas surgidas de “spin-off acadêmico, iniciativas trilaterais de desenvolvimento econômico e social, alianças estratégicas entre empresas, laboratórios de pesquisas acadêmicas e governamentais e grupos de pesquisa acadêmica atuando em conjunto.” O papel do governo passa a ser o de articular e estimular estas parcerias e não de controlar as relações. No espaço

de inter-relações entre os três atores, surge um ambiente de rede trilateral e de organizações híbridas.

Etzkowitz e Leydesdorff (1996, p. 284; 2000, p. 109) comparam a tripla hélice das relações universidade-indústria-governo com alguns modelos alternativos para explicar o atual sistema de pesquisa em seus contextos sociais. A tese da tripla hélice afirma que a universidade pode desempenhar um papel mais importante na inovação em sociedades, cada vez mais, baseadas no conhecimento. O modelo é diferente dos sistemas nacionais de inovação, abordagem de Lundvall e Nelson e Rosenberg, que consideram a empresa como tendo o papel de liderança na inovação, e do Triângulo de Sábato, abordagem de Sábato e Botana, em que o Estado é privilegiado. O modelo da tripla hélice mostra os atores institucionais em um mesmo nível na rede, no entanto, cada um está posicionado de forma diferente em relação à infraestrutura, que se reproduz em bloco.

As teorias das relações entre universidade-empresa-governo privilegiam a ação de cada um dos três atores (universidade-empresa-governo) no desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação em praticamente todos os países. O governo tem o papel de estimular a estrutura produtiva com a formulação de políticas e com a mobilização de recursos; a indústria aplica produzindo bens e serviços, e a universidade cria através do desenvolvimento de pesquisas aquilo que deverá ser produzido. No Brasil, o governo articula e estimula as relações entre universidade-empresa-governo, o que sugere que em nosso país parece prevalecer o Triângulo de Sábato cujo governo é o maior incentivador da produção de ciência, tecnologia e inovação.

Existem na literatura outros modelos e teorias que não serão aqui mencionados por extrapolarem os objetivos desta pesquisa, são alguns deles: inovação aberta (open innovation), modelo descrito por Henry Chesbrough (DALMARCO; ZAWISLAK; KARAWEJCZYK, 2012); sistemas de pesquisa pós-moderna (post-modern research system), sistema abordado por Ariel Rip e Barend Van Der Meulen e sistemas de pesquisa em transição (research system in transition), modelo explanado por Susan Cozzens, Patsy Healey, Ariel Rip e John Ziman (CONDE; ARAUJO-JORGE, 2003).