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Por que determinados bens materiais ou imateriais merecem ser preservados e outros não? Muito se discute sobre o motivo de um determinado bem ou objeto e sua relação com espaço sociocultural tornar-se patrimônio cultural (CASTRO; TAVARES, 2016). O processo de patrimonialização supõe a institucionalização de mecanismos de proteção do patrimônio cultural. Esse processo acontece após o estudo do bem com intuito de valorizá-lo e colocar em prática a preservação, salvaguarda e divulgação do patrimônio (CRUZ, 2012).

O patrimônio cultural no Brasil tem sido assunto dos mais variados setores, principalmente no setor turístico que tem utilizado esse patrimônio como atrativo. Da mesma forma que a atividade turística pensa em como oferecer os bens culturais ao turista, pensa-se também na relação entre turismo, meio ambiente e patrimônio (CAMPOS et al, 2017).

A 19ª sessão da Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO em 197615, na Recomendação de Nairóbi reconhecia a interface entre o patrimônio e o meio ambiente asseverando que:

Os conjuntos históricos ou tradicionais fazem parte do ambiente cotidiano dos seres humanos em todos os países, constituem a presença viva do passado que lhes deu forma, asseguram ao quadro da vida a variedade necessária para responder à

15Ver o documento sobre a 19ª sessão da Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a

Educação, a Ciência e a Cultura- UNESCO em 1976- Recomendação de Nairóbi no portal do IPHAN. Disponível em:

http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Recomendacao%20de%20Nairobi%201976.pdf.Ac.Acesso em 20/06/2018.

diversidade da sociedade e, por isso, adquirem um valor e uma dimensão humana suplementares (UNESCO, 1976, p.217).

A carta de Lausanne de 1990 para a proteção e a gestão do patrimônio arqueológico ICOMOS/ ICAHM16, também defende a importância da preservação dos sítios arqueológicos que são testemunho das atividades humanas, assim como todo o ambiente natural que faz parte do contexto histórico e cultural dos povos que habitavam a região.

A relação entre patrimônio cultural, meio ambiente e turismo é um tema atual, principalmente quando um bem cultural assume um valor perante a sociedade e quando essa valorização do bem cultural tem implicações econômicas para o turismo. O trade turístico vende a imagem que não deixa de ser real apesar dos apelos econômicos e de consumo de que o turista ao visitar um prédio antigo ou um sítio arqueológico terá uma experiência do passado, revivendo uma realidade distante que se torna presente, oportunizando conhecer histórias e emoções daqueles que viveram ou supõem-se ter vivido nos locais visitados (PARDI, 2007; CHUVA, 2012).

A questão de o patrimônio cultural adquirir um valor e ser colocado como um produto pelo turismo tem dois lados, o negativo quando degrada o meio ambiente natural e cultural como acontece com os frequentes vandalismos por parte da população e de visitantes ouo lado positivo quando determinado bem passa a ser reconhecido, valorizado, protegido e onde a população identifica-se com o Patrimônio cultural (CAMPOS et al, 2017).

A destruição de sítios arqueológicos no Brasil é fruto do descaso não somente do poder público, mas principalmente da formação da sociedade brasileira, que não educa a população a compreender, valorizar e proteger o patrimônio cultural. Esse descaso pode ser observado no trágico incêndio do Museu Nacional, um ato criminoso cometido contra nossa história e cultura (SOARES, 2018).

Se o Museu Nacional símbolo da cultural brasileira sucumbiu à omissão do poder público, quanto mais os sítios arqueológicos existentes em pequenas cidades do Brasil. Atualmente são constantes os debates sobre a conservação e ou preservação do sítio arqueológico Itacoatiaras do Ingá. O monumento arqueológico é oferecido como um produto

16Ver Carta de Laussane em

turístico, no entanto, ações visando a conservação do local ainda são insuficientes (MENESES, 2017; CATOIRA; AZEVEDO NETTO, 2018).

A experiência no Parque Nacional da Serra da Capivara considerado Patrimônio da Humanidade pelos seus importantes achados arqueológicos e pinturas rupestres mostra-nos que o parque a priori não era reconhecido pela comunidade acadêmica e nem valorizado pela população quando a arqueóloga Niéde Guidon iniciou as pesquisas no local. Os achados que mudariam a história do homem nas Américas vêm sendo preservados devido às ações empreendidas por Niéde Guidon incluindo o turismo cultural, o ecoturismo e turismo arqueológico como uma atividade que ajuda na manutenção e conservação do Parque além de gerar emprego e renda para a população local (RAMOS; LOPES, 2012).

Outros exemplos de turismo em sítios arqueológicos são os abrigos Rochosos de Serranópolis (GO), o Parque Nacional do Catimbau (PE), a Serra das Paridas (BA) e o sítio arqueológico de Alcinópolis (MS) (ORTEGA; SOUSA, 2018). A atividade turística em seus vários segmentos é desenvolvida nestes locais como uma alternativa para as demandas referentes a conservação do ambiente natural e do Patrimônio cultural.

Da mesma forma o ecoturismo também é uma proposta importante dentro dos segmentos do turismo sustentável e que pode ser desenvolvida no sítio arqueológico Pedra do Ingá. O sítio arqueológico tornou-se Parque Estadual e está passando por um processo de implantação precisando cumprir todos os requisitos indicados pelos órgãos responsáveis pela conservação do monumento arqueológico (CÉZAR, 2013; IPHAN, 2018).

A Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Natural e Culturalinstituída pelo UNESCO em 1972 estabelece medidas importantes referentes a conservação do patrimônio natural e cultural.São elas:

a) Adotar uma política geral que vise determinar uma função ao patrimônio cultural e natural na vida coletiva e integrar a proteção do referido patrimônio nos programas de planificação geral;

b) Instituir no seu território, caso não existam, um ou mais serviços de proteção, conservação e valorização do património cultural e natural, com pessoal apropriado, e dispondo dos meios que lhe permitam cumprir as tarefas que lhe sejam atribuídas; c) Desenvolver os estudos e as pesquisas científicas e técnica e aperfeiçoar os métodos de intervenção que permitem a um Estado enfrentar os perigos que ameaçam o seu património cultural e natural;

d) Tomar as medidas jurídicas, científicas, técnicas, administrativas e financeiras adequadas para a identificação, proteção, conservação, valorização e restauro do referido património; e

e) Favorecer a criação ou o desenvolvimento de centros nacionais ou regionais de formação nos domínios da proteção, conservação e valorização do património cultural e natural e encorajar a pesquisa científica neste domínio (UNESCO, 1972, p 3-4).

O patrimônio natural, assim como, o patrimônio cultural na forma do monumento arqueológico são ambientes de extrema fragilidade, locais onde na maioria das vezes não existem ações que possam deter a degradação das inscrições rupestres, mas apenas retardá-la. Se atualmente as pessoas têm a oportunidade de conhecer pessoalmente a Pedra do Ingá talvez mais alguns anos apenas será possível conhece-la através de imagens (MARTIN, 2005; AZEVEDO NETTO et al, 2015; BRITO, 2017; CAMPOS et al, 2017, LAGE; FARIAS FILHO, 2018).

Portanto mesmo que a atividade turística seja uma proposta ou uma realidade nestes locais, a pesquisa tem um papel relevante na busca de soluções para a conservação do patrimônio cultural, da melhoria da relação com os turistas e com as populações envolvidas (CHUVA, 2012; LAGE; FARIAS FILHO, 2018).