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4. A INTEGRAÇÃO FRONTEIRIÇA QUE OCORRE ATRAVÉS DAS RELAÇÕES

4.6 O Turismo

O turismo é definido como o ato de viajar para fins de entretenimento. A Política de Turismo do Paraná, Lei 15.973 de 13 de novembro de 2008, define que o turismo é uma atividade econômica,

representada pelo conjunto de transações – compra e venda de serviços turísticos – efetuadas entre os agentes econômicos do turismo. É gerado pelo deslocamento voluntário e temporário de pessoas para fora dos limites da área ou região em que têm residência fixa, por qualquer motivo (PARANA, 2008, Art. 2º).

Uma região turística é definida como:

O território caracterizado por um conjunto de municípios turísticos ou de interesse turístico, que possuem afinidades e complementaridades culturais ou naturais, que possibilitam o planejamento e a organização integrados, como também a oferta de produtos turísticos mais competitivos nos diferentes mercados, agregando força principalmente na gestão e promoção (PARANA, 2008, Art. 2º).

Como já foi citado, Foz do Iguaçu é divulgada internacionalmente como o “Destino do Mundo”. Onde vendem-se os atrativos do “Destino Iguassu”38. Segundo Polon (2015, p.4),

Este é representado por um pacote de viagem que abarca a estadia em Foz do Iguaçu, com passeio nas Cataratas e na Itaipu Binacional, mas também possibilita a visitação às Cataratas do lado argentino, bem como o acesso à gastronomia naquele país, e ainda leva os turistas ao comércio em Ciudad del Este.

É perceptível que a campanha divulga a possibilidade dos passeios na Argentina e as compras no Paraguai como um atrativo ‘a mais’ de Foz do Iguaçu. E também define previamente um circuito mínimo que o turista deve fazer na região.

Anualmente o referido destino recebe mais de um milhão de pessoas que se dirigem à cidade para atividades de lazer, eventos, eco aventura e compras (FOZ DO IGUAÇU DESTINO DO MUNDO, 2016).

Baseando-se nesse grande fluxo, é comum encontrar duas ideias principais sobre o turismo na região. A primeira é que o turismo é a principal atividade econômica presente. E a segunda é que Foz do Iguaçu tem uma vocação turística, ou seja, que esta atividade é nata e se confunde com a identidade da cidade.

Estas ideias podem ser encontradas em Cury (2008, p. 89), o mesmo afirma que “tradicionalmente o turismo tem sido a base econômica regional”. E também em Massukado e Teixeira (2006, p.209), no trecho: “hoje, o turismo representa para a cidade, de acordo com o depoimento de gestores privados locais cerca de 60% do Produto Interno Bruto - PIB sendo uma das principais atividades geradoras de empregos”. E são recorrentemente repetidas pela mídia local (H2FOZ, 2016, CLICKFOZ, 2016).

A atividade turística demanda outros setores da economia como a produção de alimentos, o transporte, os bens de consumo dos hotéis, como roupas de cama e toalhas por exemplo. Representa fonte de renda primária no município. Porém não existem dados concretos sobre a distribuição desta renda e o seu reinvestimento.

Segundo estudo do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social – IPARDES (2009, p,6), “o turismo do ponto de vista econômico não se identifica como uma única atividade. Enquanto componente do setor de serviços, representa produto complexo vinculado a uma oferta de serviços diversificada”.

38 O uso dos dois “s” no Iguassu é uma forma de internacionalizar a palavra “Iguaçu”, visto que o “ç” não é utilizado principalmente na língua Inglesa.

Ora, se o turismo é a principal atividade econômica da região, o setor de serviços deveria ser o setor que tem mais peso no produto interno bruto de Foz do Iguaçu. E não é isto que os dados mostram.

Segundo o IBGE (2013), o valor adicionado bruto da indústria é maior do que o valor adicionado bruto dos serviços. Isso ocorre pela participação da geração de energia elétrica nos dados industriais.

Gráfico 2. Produto Interno Bruto de Foz do Iguaçu – 2013

Fonte: IBGE. Nota:(*)Exclusive administração, saúde e educação públicas e seguridade social.

A atividade turística ganhou importância na cidade de Foz do Iguaçu a partir dos anos 1970. Foi após a construção da ponte que liga o Brasil ao Paraguai; ao início das obras da Itaipu Binacional; a inauguração da BR 277; e a construção da ponte que liga o Brasil e a Argentina, que houve o crescimento da atividade na região. Para Aparecida Darc de Souza (2010), a ideia de vocação turística da cidade foi uma construção dos grupos dominantes locais que a partir desta época tinham interesse em direcionar os investimentos públicos para atender demandas deste novo setor. Para a autora,

Visitas a Foz do Iguaçu não eram propriamente uma novidade, na década de 1970. Ao contrário, já existia e baseava-se, fundamentalmente, na visita as cataratas do Rio Iguaçu. O que havia de novo era a elaboração de uma

preposição que identificava, nessa atividade, o núcleo para onde deveriam convergir todos os investimentos públicos municipais e, principalmente, federais. Desde então, o turismo passou a ser definido como a principal atividade econômica local. Desse modo, a construção de uma memória de Foz do Iguaçu como cidade turística foi uma estratégia importante de legitimação dos interesses dos defensores dessa proposição: o domínio sobre o passado, ou melhor, sobre seu significado no presente (DARC DE SOUZA, 2010, p. 128).

Foi nesse período de crescimento do turismo como atividade econômica na região que a população cresceu enormemente. Mas o motivo deste crescimento foi a construção da Usina Hidrelétrica, que fazia parte de um projeto de nação que se desenvolveria através do desenvolvimento da indústria nacional. E para isso seria necessário energia elétrica. Este projeto estava se dando sob o comando de um governo autoritário e com financiamento de capital externo. Neste contexto, essa proposta de desenvolvimento local baseada no turismo não apresentava nenhum tipo de divergência ao projeto nacional em curso.

Ou seja, não era um projeto de resistência ao governo militar. E serviria de atividade para empregar a força de trabalho que seria progressivamente dispensada conforme a obra iria sendo concluída.

A cidade não tinha estrutura para abrigar e garantir o cumprimento das necessidades básicas de vida da população crescente. A Itaipu Binacional atendeu a esta demanda em um primeiro momento. Porém sem um planejamento do que seria feito com os milhares de trabalhadores após o término da obra. Nas décadas de 1980 e 1990 muitos destes trabalhadores passaram a se sustentar através do trabalho informal no comércio paraguaio. Enquanto tudo isso acontecia, as periferias na região com péssimas condições de moradia ficavam cada vez maiores, e, no entanto, a elite local se esforçava em direcionar os investimentos públicos para criar infraestrutura com objetivo de atender aos empreendimentos turísticos essencialmente privados, como hotéis, restaurantes e agências.

A seguir pode-se observar a distribuição dos postos de trabalho em Foz do Iguaçu nos anos de 2000 e de 2010.

Tabela 4: Ocupação por atividade econômica em Foz do Iguaçu39 2000 2010 Atividade Econômica Número de pessoas

% Atividade Econômica Número de pessoas % Comércio, reparação e veículos automotores, outros 31.107 29,2 Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas 31.083 25,1 Transporte, armazenagem e comunicação 12.110 11,3 Construção 10.150 8,2 Serviços domésticos 9.469 8,9 Alojamento e alimentação 8.967 7,2 Alojamento e alimentação 8.758 8,2 Serviços domésticos 8.655 6,9 Construção 7.693 7,2 Atividades mal

especificadas 8.205 6,6 Intermediação financeira, ativos imobiliários e serviços relacionados* 6.661 6,2 Transporte, armazenagem e correio 7.259 5,8 Indústria de transformação 6.334 5,9 Educação 7.052 5,7 Total da população economicamente ativa 128.150 - Total da população economicamente ativa 133.547 - Total da população ocupada 106.619 100 Total da população ocupada 123.643 100 Elaboração própria. Fonte: IPARDES, 2005, 2016.

Analisando a composição do PIB de Foz do Iguaçu e a tabela de geração de empregos nota-se que embora a indústria seja responsável por uma parcela maior da renda do município, o setor de serviços gera mais empregos. A atividade industrial representada principalmente pela geração e distribuição de energia elétrica tem capacidade multiplicadora de emprego renda a nível municipal menor do que a atividade turística que se encontra difusa em várias atividades econômicas relacionadas.

As atividades diretamente relacionadas ao turismo são a do “transporte” e de “alojamento e alimentação”, que juntas geravam 19% dos empregos nos anos 2000 e apenas 13% em 2010. É claro que os empregos gerados no turismo se desdobram 39 Observação: A atividade “intermediação financeira, ativos imobiliários e serviços relacionados” que aparece nos dados de 2000, foi desmembrado em 2010 se tornando os campos: “atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados”, “atividades imobiliárias” e “atividades administrativas e serviços complementares” que juntas empregam 7.367 pessoas em 2010.

em recebimento de salários que geram demanda por bens salários e sustentam outras atividades econômicas. Mesmo assim, o que se pode observar é que o turismo não é responsável pelo setor que mais emprega força de trabalho na cidade. O mais empregador é o comércio, porém este também está relacionado indiretamente ao turismo.

Como afirma estudo do IPARDES (2008, p.74), é difícil caracterizar o turismo como a atividade mais importante para a região:

A despeito das afirmações quanto à importância do turismo como propulsor de dinâmicas urbanas e da forte presença do setor Serviços, particularmente em Foz do Iguaçu, em que pese a existência de dados, estes são de difícil comparabilidade e não permitem avaliar o efetivo papel desta atividade no desenvolvimento da espacialidade como um todo. Além desta complicada caracterização, outros dados de difícil análise são a composição local do capital turístico e o quanto o lucro gerado por ele promove o desenvolvimento40 da região. Os maiores hotéis da região pertencem a grandes redes nacionais e internacionais, como mostra Conte (2012, p. 170-1):

Hotel Mabu Thermas e Resort, da rede de hotéis Mabu de Curitiba; Hotel das Cataratas, do grupo inglês Orient-Express, que administra o Hotel Copacabana Palace no Rio de Janeiro; Hotel Bourbon Convention Resort Cataratas, pertencente à rede nacional de hotéis Bourbon; Hotel Golden Tulip Internacional Foz, da rede holandesa Golden Tulip; Hotel Viale, da rede nacional Bristol; e o Hotel Tarobá, da rede Best Western (associação de hotéis independentes); além da unidade da cadeia de hotéis Ibis, pertencente à rede francesa Accor.

Os outros geradores de receita vinculados ao turismo seriam os próprios atrativos que cobram um valor de entrada para visitação. Porém, neste caso, tanto a receita dos Parques Nacionais onde estão as cataratas, quanto da Itaipu Binacional, declaram reverter o recurso para o autossustento dos atrativos.

O piso salarial dos empregos gerados pelo turismo é de R$ 1.100,00, segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidades em Foz do Iguaçu (STTHFI, 2016). Este montante está bem abaixo do que o DIEESE41 supõe como um salário digno.

O Mercosul reconhece o turismo como importante atividade econômica e tem buscado criar canais de promoção do mesmo.

40 Entendendo desenvolvimento como a capacidade do município de oferecer à sua população as condições básicas de emprego, moradia, lazer, saúde e educação.

41 Segundo o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), em janeiro de 2016 o salário-mínimo do brasileiro, que atenderia as necessidades do trabalhador, deveria ser R$ 3.795,24.

Em 2009 foi criado o Fundo de Promoção de Turismo do Mercosul, que até o final de 2015 ainda não teria entrado em vigor, mas já foi aprovado por Argentina, Paraguai e Uruguai e aguarda análise final do senado brasileiro. Este fundo tem o objetivo de “aumentar o fluxo de turistas de outros países para o Mercosul, por meio da participação conjunta em eventos turísticos internacionais, instalação de escritórios regionais, entre outras ações” (RÁDIO SENADO, 2016).

A facilitação da circulação de pessoas pelas fronteiras é também uma iniciativa mercosulina que pode impactar o fluxo de turistas do bloco na região.

Segundo a decisão 14/11 do Conselho do Mercado Comum, que estabelece o Acordo sobre Documentos de Viagem, os cidadãos do Mercosul não precisam de visto ou passaporte para circular pelos Estados Partes, bastando um documento de identificação válido. Há vários anos, mesmo antes da facilitação da circulação no Mercosul, a principal origem dos turistas que visitam Foz do Iguaçu é a Argentina e o Paraguai. Em 2010, os argentinos e paraguaios representaram 70% dos turistas estrangeiros no local (DADOS E FATOS, 2015).