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Tutela da Biodiversidade e Florestas

No documento Direito Ambiental (páginas 47-49)

Instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente

2.11 Tutela da Biodiversidade e Florestas

Dentre os elementos que compõem a biosfera, fauna e flora são os que se apresentam mais intimamente ligados entre si. Esta constatação preliminar se faz necessária, pois as políticas públicas planejadas para a proteção da fauna somente alcançarão os objetivos para os quais foram concebidas se levarem em consideração os possíveis impactos, positivos e negativos, na flora. Da mesma forma, com a situação inversa. A humanidade está diante de uma acelerada perda da flora e os resultados estão sendo sentidos no crescente número de espécies em extinção ou já extintas, conhecidas ou ainda não conhecidas pelo homem. Os impactos também podem ser sentidos na perda da biodiversidade, expressão máxima da intrínseca relação entre fauna e flora. Muito além do patrimônio paisagístico, a imprescindibilidade da preservação da flora, por exemplo, faz-se sentir nas funções ecológicas auxiliares indispensáveis à sadia qualidade de vida: manutenção da qualidade da água, regulação climática, controle de erosão, etc. No mesmo sentido, o equilíbrio ecológico passa pela proteção da fauna, como indispensável à própria preservação da flora. Por tudo isso, o direito ambiental desempenha importante função no controle de atividades que colocam em risco o equilíbrio da fauna e da flora.

O regime jurídico das áreas protegidas tem fundamento constitucional, mais especificamente no artigo 225, § 1º, inc. III, da CF/88, quando impõe ao Poder Público o dever de:

“[D]efinir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;”

A partir do regime constitucional, inserem-se como instrumentos de tutela das florestas e da biodiversidade, as áreas protegidas do Código Florestal, Lei n. 4.771/1965, artigos, 2º, 3º, e 16 (Áreas de Proteção Permanente e Reserva Legal), as unidades de conservação do Sistema Nacional das Unidades de Conservação, Lei n. 9.985/2000, Lei

das Florestas Públicas, n. 11.284/2006, Bioma Mata Atlântica, Lei n. 11.428/2006 e a Política Nacional de Biodiversidade instituída pelo Decreto n. 4.339/2002.

As áreas protegidas pelo Código Florestal são de aplicação em todo o território nacional e não dependem de declaração do Poder Público, a na ser para os casos das APPs do artigo 3º. A reserva legal de que trata o artigo 16 está restrita à propriedade rural e deverá observar os percentuais estipulados pelo referido dispositivo legal.

Além do Código Florestal, três outros importantes diplomas legais completam o regime  jurídico estrutural de proteção da flora e da biodiversidade. São eles, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, instituído pela Lei n. 9.985/2000, a Lei das Florestas Públicas, n. 11.428/2006 e Lei do Bioma Mata Atlântica, n. 11.428/2006.

Em relação ao SNUC, é importante ressaltar que a Constituição Federal de 1988 dispõe em seu artigo 225, § 1º, incs. I, II, III e VII sobre obrigações gerais de defesa e proteção da fauna e da flora. Porém, pela natureza de normas gerais, os referidos dispositivos constitucionais não prescindem de específica regulamentação. Foi então que, no ano de 2000 e fruto de longos anos de discussões e debates sobre um projeto de lei de 1992, de número 2.892, o SNUC tomou forma pela Lei n. 9.985/2000. A principal característica do SNUC é o agrupamento das diferentes formas de unidades de conservação em dois grupos: unidades de proteção integral e unidades de uso sustentável (artigo 7º, incisos I e II, da Lei 9.985/2000).

O Código Florestal e o SNUC ainda se mostravam insuficientes para lidar com uma questão crucial para o desenvolvimento nacional: as atividades de exploração de florestas públicas, principalmente na Amazônia e quase sempre à margem do sistema legal vigente. Em território de tamanha riqueza florestal e dimensões continentais, torna-se praticamente impossível uma efetiva gestão sem um instrumento disciplinador das atividades exploratórias. Após os debates em torno do Projeto de Lei 4.776/2006, este esperado instituto legal se tornou realidade com a Lei n. 11.284/2006, conhecida como a Lei de Gestão de Florestas Públicas. Diversas foram as inovações deste diploma legal, dentre as quais se destacam: a concepção do Serviço Florestal Brasileiro, a instituição de um Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal e a criação do Cadastro Nacional de Florestas Públicas.

Finalmente, em relação ao bioma Mata Atlântica, com diversidade biológica proporcionalmente superior à da própria Amazônia, as controvérsias em relação a um efetivo instrumento de proteção foram quase que insuperáveis. Por abrigar mais de 60% da população brasileira, por ter um histórico de ocupação extrativista e ser o primeiro bioma a receber os primeiros colonizadores e por abrigar as regiões mais industrializadas do país, os desafios em se alcançar um denominador comum entre os diferentes interesses foram extremos. Desde o dispositivo constitucional declarando a região como sendo parte do patrimônio nacional (art. 225, § 4º, da CF/88), passando pelo Projeto de Lei n. 3.285/1992 e Decreto n.750/93, foram quase duas décadas até a Lei n. 11.428/2006 que disciplinou o bioma Mata Atlântica. Dentre os seus principais dispositivos, encontram-se a confirmação da delimitação geográfica do bioma e

disposições de proteção da vegetação primária e secundária, esta nos diferentes estados de regeneração, dentre outros igualmente importantes e detalhados pelo diploma legal. Em relação à proteção da diversidade biológica, diante da dificuldade inerente à regulação das florestas na esfera supranacional, a comunidade internacional entendeu por acordar sobre um regime jurídico próprio à tutela da diversidade biológica. Diante da exploração predatória das florestas tropicais, locais onde se concentram a maior parte da diversidade biológica do planeta, surgiu a necessidade de um regime jurídico específico que pudesse orientar e incentivar ações domésticas visando tutelar a diversidade biológica do planeta. Foi quando, então, em 1992 diversos países assinaram a Convenção sobre Diversidade Biológica que, junto com a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática e Convenção sobre o Combate a Desertificação, compôs o grupo das chamadas Convenções do Rio.

Como não poderia ser diferente, este movimento internacional por um regime jurídico supranacional para tutelar a diversidade biológica do planeta exigiu ações domésticas que, progressivamente, espalharam-se por diversos países. O fundamento maior, que embasou esta preocupação internacional foi o de que a diversidade biológica, assim como o meio ambiente como um todo, não conhece fronteiras políticas e, portanto, a sua tutela na esfera supranacional estaria justificada.

No Brasil não foi diferente. Pelo contrário, por possuir a mais rica biodiversidade do planeta, o país foi e é constantemente alvo de pressões internacionais visando impor padrões de proteção cada vez mais rigorosos. É assim, portanto, que em 1998, por meio do Decreto n. 2.519, a Convenção sobre Diversidade Biológica é incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro. Alguns anos mais tarde, em 2001, a Medida Provisória n. 2.186-16, de 23 de agosto de 2001, dispôs sobre o acesso à diversidade biológica no Brasil. Diante da dificuldade em se criar uma política nacional por lei ordinária, foi instituída a Política Nacional de Biodiversidade por Decreto, de n. 4.339/2002.

3. Conclusão

Em apertada síntase e tomando emprestado diversos aspectos do material produzido pelos profs. Oscar Graça Couto e Antônio Augusto Reis, o presente trabalho procurou abordar os principais tópicos inerentes ao Direito Ambiental sem a intenção de esgotá- los ante a natureza do curso proposto.

Os conceitos e noções teóricas do direito ambiental nem sempre são facilmente trabalhados na prática. De qualquer sorte, constituem-se como imprescindíveis para a construção das bases jurídicas sólidas sobre as quais a tutela do bem ambiental recai. A própria instrumentalização da proteção ambiental passa constantemente pelos conceitos  jurídicos e noções teóricas dos direitos coletivos em sentido amplo.

No documento Direito Ambiental (páginas 47-49)

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