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CAPÍTULO II – O PROBLEMA DOS HOMICÍDIOS NO BRASIL

2.2 O CONTROLE DE HOMICÍDIOS E AS POLÍTICAS DE SEGURANÇA

2.2.6 UM BALANÇO DO PERÍODO: CONTROLE DE HOMICÍDIOS NA AGENDA NACIONAL

Como se observa a partir deste panorama os primeiros quinze anos do século XXI foram marcados por várias tentativas de constituir uma política nacional de segurança pública digna desta designação. Através do Plano Nacional de Segurança Pública (2000); do Projeto Segurança Pública para o Brasil (2002), do Plano Nacional de Segurança Pública com Cidadania (2007) buscou-se instituir ciclos de políticas públicas orientados para integrar vários setores na perspectiva da prevenção à violência.

Do mesmo modo, a iniciativa do programa Brasil Mais Seguro e do Plano Juventude Viva apontam para a centralidade do tema dos homicídios, com uma estratégia mais dirigida à questão da investigação – o Brasil Mais Seguro – e outra intentando uma abordagem de caráter mais interdisciplinar com ênfase nos temas do combate ao racismo e da promoção de direitos para a juventude, em especial para a juventude negra – o Plano Juventude Viva. Contudo, todos estes esforços ainda têm se mostrado incapazes de produzir resultados consistentes e sustentáveis na sociedade brasileira.

Mesmo que se reconheça os avanços do período em termos de estudos e investigações sobre o perfil da violência – em particular da violência homicida – persistem práticas autoritárias no bojo das políticas de segurança pública no âmbito federal. As políticas desenvolvidas, no período de 2003 a 2013, avançaram em termos de colocação dos problemas, mas, não foram capazes de apresentar respostas suficientemente ousadas e inovadoras (FREITAS, 2014, p. 67).

A trajetória político-institucional brasileira da segurança pública, diferentemente de outras políticas públicas, não tem conseguido consolidar seus espaços de negociação, nem a construção coletiva de estratégias ou de objetivos a serem perseguidos. A despeito de impedimentos intergovernamentais e desarranjos organizacionais, verificam-se deslocamentos significativos, se não quando em comparação a outras áreas sociais, com certeza no que se refere à trajetória da segurança pública, que, entretanto, ainda carecem de aperfeiçoamento e institucionalidade. (BALLESTEROS, 2014, p. 19)

Falta às iniciativas apresentadas no âmbito federal a adoção de um paradigma de ação efetivamente preventivo e a sistematização de indicadores de resultados com vistas à construção de políticas integradas de prevenção à violência. Os esforços empreendidos nos três planos nacionais (PNSP, 2000; PSP 2002 e PRONASCI 2007) e nas mais recentes iniciativas de incremento da capacidade de investigação criminal (Brasil Mais Seguro 2012) e de prevenção a violência contra juventude negra (Juventude Viva, 2012) ainda não tiveram a força e a profundidade necessárias para produzirem os efeitos esperados em termos de

políticas públicas.

Concomitantemente com as várias tentativas de planos nacionais de segurança pública os estados também apresentaram inciativas com objetivo de articular ações de controle da violência, em particular ações de enfrentamento aos índices de homicídios, com ações de prevenção a violência e/ou de defesa social demonstrando a crescente preocupação dos governos com este insistente problema nacional. Ao analisarmos os nove estados que nos últimos dez anos figuraram com os maiores índices de violência letal no país identificamos que na maioria foram adotados neste período programas ou planos que pretenderam incidir sobre o problema dos homicídios combinando diferentes estratégias e iniciativas governamentais, vejamos24:

Estado Ano Programa / Plano

São Paulo 2001 Programa São Paulo contra o Crime que

combinou ações de segurança voltadas à inteligência investigativa, combate ao crime e georreferenciamento das regiões.

Minas Gerais 2002 Programa Fica Vivo que por meio do Decreto Estadual n. 43334/03 criou o Programa de Controle de Homicídios;

Pernambuco 2007 Programa Pacto pela Vida criado pelo meio do Plano Estadual de Segurança Pública com vistas a prevenir os crimes violentos letais intencionais e crimes violentos contra o patrimônio.

Rio de Janeiro 25 2007 Unidades de Polícia Pacificadora que

24 Esta é a versão resumida deste quadro. A versão completa pode ser encontrada no anexo I

deste trabalho.

25 As UPP’s podem ser consideradas mais como uma política de controle territorial das

comunidades com ênfase na questão do controle do comércio ilegal de drogas do que uma política voltada ao controle de homicídios. Contudo, por reconhecermos a ampla visibilidade desta

são unidades de polícia de proximidade instaladas em comunidades com altos índices de comércio ilegal de drogas.

Bahia 2011 Programa Pacto pela Vida instituído

através da Lei Estadual n. 12.357/2011

Paraíba 2011 Programa Unidos pela Paz que pretende

incidir sobre o CVLI’s por meio de ações de defesa social e repressão qualificada

Espírito Santo 2011 Programa Estado Presente que visa reduzir os indicadores criminais e consolidar uma governança democrática e participativa, orientada para resultados.

Alagoas 2011 Programa Alagoas Pela Paz coordenado

pela área de defesa social do governo do estado com ações de monitoramento da violência em especial para o controle dos CVLI’s

QUADRO 7 – Planos Estaduais de Prevenção à Violência

Tais programas caracterizaram-se pelo esforço em organizarem intersetorialmente os governos para incidirem sobre o problema dos homicídios e anunciaram medidas referentes à forma de policiamento e à adoção de uma estratégia de comunicação bastante ampliada para propagação dos objetivos e dos valores dos respectivos programas através de redesenho dos processos de gestão por meio do apoio técnico de consultorias externas especializadas. Trata- se de um modelo em expansão com forte adesão dos governos estaduais e municipais e significativa relevância no universo das políticas de segurança no

iniciativa no debate nacional sobre segurança decidimos incluí-las no presente mapeamento. Sobre as UPP’s no RJ ver: http://www.upprj.com/ e CANO, 2012

Brasil.26

No presente estudo passaremos à análise do caso da Bahia para, em seguida, retomar alguns aspectos teóricos do debate sobre políticas de prevenção e estabelecer série de comparações entre as iniciativas referidas.

26O Governo do Distrito Federal a partir dezembro de 2014 anunciou a adesão à experiência do Pacto pela Vida. " Pacto pela Vida começa a ser implementado”. Disponível em: http://www.df.gov.br/noticias/item/18021-pacto-pela-vida-come%C3%A7a-a-ser-implementado-no- df.html acesso em 31 de março de 2015.

CAPÍTULO III –PACTO PELA VIDA: FORMAS DE