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A POSIÇÃO OFICIAL: encaminhamento do Estatuto do Magistério

2.2 Um histórico revelador

Se há uma classe que deve, que precisa, que tem a imperiosa necessidade de associar-se, não só para utilizar- se de seus grêmios como os utilizam todas as demais classes, é justamente a dos professores. A eles cabe não apenas o direito de unir-se, mas o dever de associar-se para exemplo dos demais e para mostrar que não é mera tautologia inexpressiva aquele velho brocardo da sabedoria popular de que a “união faz a força.”

SUD MENUCCI (1930) Primeira entidade do magistério público paulista, congregando, sobretudo os professores das séries iniciais do ensino fundamental — PI —, o Centro do Professorado Paulista — CPP, foi fundado em 19 de março de 1930 e instalado em 30 de abril do mesmo ano, como uma associação paralela à administração pública.

Nada melhor para relatar os primórdios da entidade, expressar o posicionamento dos seus fundadores e a concepção de associação que os docentes possuíam, em 1930, do que as próprias palavras dos responsáveis pela

direção dos rumos da entidade. Assim a Revista do Professor, em maio de 1950, saúda os vinte anos de existência do CPP:

Em 1930, aos 19 de Março, numa sala tomada de empréstimo à Diretoria Geral da Instrução Pública, então sediada em avelhantado prédio à travessa da Beneficência Portuguesa, um grupo de idealistas, contando com o beneplácito da mais alta autoridade do Magistério estadual, fundava o Centro do Professorado Paulista, destinado a congregar os mestre-escolas e a defender-lhes os direitos e aspirações.

Tratava-se de uma instituição há muito reclamada pelos professores bandeirantes que, animados pelo espírito de classe e desejosos de fazerem valer sua voz, junto ao concerto administrativo, apenas aguardavam o líder que os deveria conduzir.

A conferência de Sud Menucci em Bauru, reboando por todo o Estado, foi a clarinada que alertou os pioneiros. [...]34

Em uma fala de Sud Menucci, citada pela Revista do Professor, n. 23, de fevereiro de 1955, revela-se a concepção de educação então dominante e suas vinculações com o mundo do trabalho, que animou as pretensões reformistas que a entidade visualizava para si.

O sistema educativo, em vigor numa época determinada, é fruto e reflexo da organização do trabalho da sociedade a que serve. Quando êste se modifica, a escola, isto é, aquele aparelhamento a que incumbe o preparo adaptativo da massa maior dos membros da comunhão, não pode fugir à fatalidade de transformar-se. (Sud Menucci)

Cinqüenta anos depois, em seu site na Internet, a entidade se apresenta como

uma associação de professores de São Paulo que existe há 7 décadas. Nesse tempo, formou um patrimônio que consiste em clubes, prédios, colônias, piscinas e campos esportivos, colocados a serviço dos associados da entidade. Mas, um dos pontos fortes da

34 VINTE ANOS. Revista do Professor, n. 4, ano VII, não. pag., mai. 1950.

Por ocasião dos vinte e cinco anos da entidade, a Revista do Professor relaciona o momento de crise político- econômica que o país atravessava e o espírito revolucionário da década de 30, como uma necessidade inelutável, “uma imposição determinista”, de reforma em toda a sociedade brasileira, numa perspectiva messiânica, em que o fundador Sud Menucci é retratado como um herói salvador.

“É possível que este estado psicológico, que se tornara geral, tivesse movido o apóstolo (sic) que, pela imprensa e em preleções, entrou de conclamar a necessidade da organização da classe do magistério público, para que diante da força dimanante da união, houvesse respeito pelos seus direitos e atenção às suas aspirações”. (JUBILEU DE PRATA. Revista do Professor, n. 23, ano XIII, não pag., fev. 1955)

instituição continua sendo a prestação de serviços e a assistência que dá ao professor. (CPP, 2000, p.1)35

Oferece aos seus associados (cerca de 115.000), professores e especialistas de ensino, assistência administrativa e jurídica relativa à carreira, com advogados especializados; atua na área de lazer, com oito colônias de férias.

De cunho marcadamente assistencialista, contando, em São Paulo, com alojamento e clube, ao longo desses longos anos teve poucos presidentes: oito, incluindo o atual. Por outro lado, parece ser a trajetória do CPP marcada pelo legalismo no encaminhamento das questões relativas aos professores.36

Já a APESNOESP — Associação dos Professores do Ensino Oficial Secundário e Normal de São Paulo — foi fundada em 12 de março de 1945, em assembléia realizada em São Carlos, com a presença do Diretor de Ensino – Sud Menucci.

Em 1944, os professores da escola normal de São Paulo ficaram sem receber pelas aulas extraordinárias durante vários meses, o que os colocou em uma situação difícil.

No relato de Raul Schwinden:

Tínhamos aulas extraordinárias, variáveis, e aulas fixas que todos recebiam mensalmente. Acontecia que, às vezes, o número de aulas extraordinárias ultrapassava em valor a parte fixa que não era grande. Nessa ocasião o estado descuidou do pagamento dessas aulas extraordinárias e ficamos 11 ou13 meses sem recebê-las. O professor Mesquita, então professor da Escola Normal Oficial de São Carlos, encaminhou um memorial ao Diretor do Ensino, Sud Menucci, com adesão unânime dos seus colegas de escola. Temiam ser punidos, porém o pagamento dos meses atrasados ocorreu após oito dias. (Apud Jóia, 1993, p. 21)

35 Grifos nossos.

36 É particularmente relevante a avaliação, insuspeita, diga-se de passagem, de um grupo de cinco

funcionários de órgãos centrais da Secretaria da Educação, autores de um estudo sobre a estrutura da SE e a adequação de seus recursos humanos, sobre a vinculação sempre presente entre as administrações do CPP e da própria SE. A afirmação é a seguinte: “Exceção feita à gestão do Pe. Baleeiro (1963), as administrações do CPP e a da Secretaria da Educação tendem a se confundir. O CPP tem conseguido a nomeação de inúmeros elementos de seus quadros dirigentes para diversos cargos de decisão da administração estadual do ensino, constituindo-se, de certa forma, numa espécie de administração paralela, mais estável que a das tecnocracias que têm passado pela Secretaria.” (COSTA, Ernestina et alii. Adequação de recursos humanos para o sistema de ensino de 1º e 2º graus do Governo do Estado de São Paulo: uma abordagem político-administrativa. São Paulo: Secretaria da Educação, s.d. (mimeogr.)

Com a presença de professores de oitenta escolas normais e do próprio Sud Menucci, os professores vitoriosos realizaram uma assembléia em São Carlos, que, ao final concretizou a idéia de constituição uma entidade dos professores secundários, uma vez que o CPP “só cuidava dos professores primários e os secundários estavam sem uma entidade que os pudesse liderar. Esse primeiro movimento, de modo geral, foi realizado pelos professores efetivos, que eram poucos na época.” (Schwinden, op. cit., p. 21)

Como a maioria dos professores, no período, era constituída dos interinos, cuja contratação se dava, sobretudo, por indicação política, sua situação funcional era bastante instável; o contrato de trabalho, juntamente com a equivalência das aulas ordinárias e extraordinárias e o reconhecimento do nível universitário, conforme já mencionamos, tornam-se reivindicações contínuas na década de 40 e seguintes.