• Nenhum resultado encontrado

Um item que reflete o respeito que os orientais

No documento Casa de parto: mudando a forma de nascer (páginas 39-52)

1 Grupo de grávidas

10. Um item que reflete o respeito que os orientais

têm pelo corpo humano: os cobaias não são vivos, e

10.3) Estados Unidos Birth Center of Orange Fonte:www.birthcenteroforange.us

As casas de parto americanas, geralmente, são casas comuns adaptadas posteriormente para atender aos partos.

10.4) México

Fonte:Acervo Marcos Leite

10.5) Argentina Casa de parto Acuático

e Fonte:Acervo Marcos Leit

10.6) Espanha

Maternidad Acuario – Valência

“A maternidade Acuario foi fundada em 1976 pelo Dr. Pedro Enguix. Ginecologista- obstetra, abandonou a medicina pública e inaugurou em Valência um dos primeiros centros de Planejamento Familiar do estado espanhol, ao redor da saúde da mulher, de suas necessidades em torno da reprodução, da gravidez e do parto. Formou uma ampla equipe de profissionais que trabalharam, ainda hoje, com critérios alternativos em torno da cobertura destas necessidades de saúde das mulheres. Em meados da década dos noventa, incorporou-se ao Grupo Aquário o Dr. Henk Egbert Landa, com uma ampla experiência profissional em medicina de família e em coordenação de equipes de especialistas médicos. Os critérios que tinham guiado ao grupo em relação à saúde da mulher, estendem-se a uma colocação da saúde mais ampla, dirigido a todos os grupos de idades e sexos. O Grupo Aquário vai ampliando suas prestações médicas em diversas especialidades, coordenando grupos interdisciplinares para tratar a saúde de um ponto de vista global.

Hoje em dia o Grupo conta com três centros próprios, duas oliclínicas e um Hospital e Maternidade. Oferecem-se os serviços em

com uma equipe humana de aproximadamente cem pessoas,

entre profissionais da saúde e pessoal de apoio.

O esforço e a provocação comum dos profissionais de Aquário vai dirigido a oferecer um serviço de

alta qualidade apoiado em uma concepção humanista da medicina.”

P

25 especialidades médicas e conta

10.7) Sala Selvagem - França

A sala selvagem surgiu como uma experiência de um notório cirurgião francês, Michel Odent, e sua equipe, em uma maternidade convival a partir de 1974. A alusão ao nascimento em casa é uma transição útil antes da apresentação da sala de nascimento “selvagem”. Esta sala foi indiscutivelmente a proposta mais próxima do que acredito refletir a filosofia do parto fisiológico, tornando-se a referência de ambiente propício ao processo de regressão e entrega.

“O adjetivo “selvagem” indica um lugar que favorece os comportamentos regressivos, que permite aceitar que se ultrapasse tudo o que foi adquirido por nossa memória cultural, que permite a expressão de uma memória inscrita nas estruturas cerebrais mais profundas, quer dizer, a expressão de uma memória pré-cultural, ou mesmo animal.

Deve ser compreendido em seu sentido etimológico; ele qualifica um cômodo onde se teve a preocupação de não colocar nada, principalmente nenhum aparelho médico, nem retirar nada do que geralmente se encontra em um “cômodo onde se vive”. A comparação com uma sala de estar é, aliás, freqüente. As paredes onde domina o marrom são pintadas de maneira inesperada no meio hospitalar. As cortinas são laranjas. A luz é indireta. Não há cama, mas um estrado baixo e espaçoso coberto por almofadas coloridas que ocupa a metade do cômodo e uma cadeira obstétrica que constituem o mobiliário. Um aparelho de som, discos disponíveis. Esta sala foi totalmente arrumada por antigas parturientes após discussão e criação do projeto durante os encontros dos grupos.”

Michel Odent Gênese do Homem Ecológico(1981)

1

111..OONNAASSCCIIMMEENNTTOODDEEUUMMAANNOOVVAAAARRQQUUIITTEETTUURRAA::AA

C

COONNCCEEIITTUUAAÇÇÃÃOOEESSPPAACCIIAALL

Após um longo percurso de amadurecimento passei a entender que o definidor se a lembrança do parto será mágica ou monstruosa é o percurso, sempre em mutação, trilhado desde a concepção até o aleitamento do bebê. Ou seja, não é apenas um instante, um momento, ele envolve um processo, um trajeto, um caminho, que vai do racional, do neocortical, ao sensitivo, intuitivo, hormonal, animal. Desta forma, o ambiente propício a este processo tem que respeitar essa condição refletindo-a em termos visuais e táteis, dando todas as condições favoráveis para a boa

fluidez dos hormônios.

Como colocado acima, o alicerce da filosofia conceitual deste projeto consiste na observação do necessário processo de regressão da mulher ao seu estado animal, o qual inicia em uma condição de plena consciência, lucidez, racionalidade e luz e que vai progressivamente regredindo às suas emoções e lembranças mais arcaicas, de natureza animal. Contudo este trajeto só será viável (e prazeroso) se o ambiente em que se transcorre o trabalho de parto é criado alme

consequentemente, uma redução da atividade neocortical. Para tanto é indispensável a concepção de um espaço que coloque a mulher em contato com sua raiz animal, o orgânico.

jando uma ativação do hipotálamo e,

Desta maneira, acredito ter alcançado a elaboração parcial de um conceito de espaço:

“O ESPAÇO COMO CAMINHO QUE VAI DO RACIONAL AO EMOTIVO

SENSITIVO INTUITIVO

NATURAL ARCAICO”.

1

122..EESSTTRRAATTÉÉGGIIAASSDDEEPPRROOJJEETTOO

O ambiente deve favorecer o empoderamento 8 da mulher, ajudando as mulheres grávidas a se porem à escuta de seus corpos. Para tanto se vê necessário oferecer a ela toda e qualquer liberdade de tempo, movimento e ambiente. Assim como a nova obstetrícia, que exclui tudo que é método, a arquitetura de uma casa de parto deve ser apta a aceitar a improvisação e a escolha. A presença de mobiliário e espaços que auxiliem na manutenção de diversas e inusitadas posições e que permitam variadas movimentações; a liberdade de escolha dos horários de banho, refeição; total controle das condições ambientais; livre acesso a diferentes ambientes... Aceitar que cada uma possui sua particularidade, suas preferências.

O menos parecido possível com o ambiente hospitalar: “o edifício de concreto se inscreve dentro do processo de desumanização que isola, que separa da terra.” (Odent, 1981). O ideal é que aparelhos que remetam à instituição hospitalar, ou seja, à doença, à passividade e ao medo, permaneçam fora dos olhares do público. Quando não for possível localizá-los em depósitos próprios, deverão ser camuflados no mobiliário do quarto, como por exemplo: tubulação de oxigênio atrás de quadros, aparelhagem de emergência embutidas em armários, foco embutido no teto... “O que os olhos não vêm o coração não sente”...

É notório que a familiaridade/intimidade com o lugar auxilia na apropriação do espaço e no bem-estar de uma pessoa seja onde for. Para que isso ocorra, a estratégia de vencer os obstáculos é dispor de espaços de convivência prévia ao parto entre grávidas (grupos de grávidas) e de casais. Uma inovação pretendida é a criação de quartos onde o casal pudesse vivenciar o espaço antes do trabalho de parto, quem sabe até por lá pernoitar. É importante lembrar que a condição de instituição pública pode ser uma determinante negativa neste aspecto.

Além de proporcionar uma maior familiaridade com o espaço, a implementação de um piano na sala de convivência visa atuar positivamente sobre o estado emocional das gestantes e alimentar um vínculo afetivo entre as grávidas e os funcionários da casa. “Num hospital francês, nas décadas de 70 e 80, compramos um piano para que, nas terças-feiras, as grávidas pudessem vir e cantar juntas. Convidavam-se todos a participar nestas noites populares: os pais, as parteiras, as faxineiras, a secretária, etc. ao final dessas sessões de canto, era evidente que todos estavam felizes. Podemos afirmar – sem medir os níveis de cortisona e catecolamina – que o equilíbrio emocional das gestantes favorecia o crescimento e desenvolvimento do seu bebe no útero.” (Odent, 2003).

A expressão livre das emoções é acompanhada pela liberdade do corpo. Para que o grito seja permitido, o isolamento acústico da sala de nascimento torna-se necessidade. Sob a influência da psicoprofilaxia tradicional, com sua imagem de parto “bem sucedido”, atestado por um bom “controle” do tono muscular e da respiração, a sala de parto tradicional não é geralmente um local onde se tolera a livre expressão das emoções. Ao mesmo tempo, qualquer som diferente, destoante, principalmente se este, provém de trás ou do lado, nos torna tensos e inseguros.

Na mulher adulta a temperatura crítica, isto é, a temperatura que lhe permite ficar nua e imóvel, com uma impressão de conforto é de cerca de 29° na ausência de ventilação. O perfeito conforto térmico da mãe é a melhor prevenção contra os calafrios geralmente considerados “fisiológicos”; Naturalmente, a primeira mamada só pode acontecer em perfeito conforto térmico: a temperatura crítica para um recém- nascido é por volta dos 35°; há certa harmonia entre as necessidades de calor da mãe e do filho.

Do ponto de vista antroposófico9, o sentido térmico faz o organismo ser

envolvido pelo calor, dá-lhe forma “esculpindo”, ou seja, fazendo sentir-se expandido quando quente e encolhido quando frio.

Uma primeira mamada precoce é também o momento privilegiado para evocar-se o olfato, o mais rudimentar dos sentidos. O recém-nascido não buscará nem encontrará o seio da mãe, minutos após o nascimento, se não tiverem sido eliminados toda a agressão olfativa e, em particular, todos os odores que se misturam para constituírem o “cheiro de hospital”.

Como foi apresentado, a luz é um elemento altamente ativador do neocórtex. Nas aulas de biodança pude comprovar na prática como, na medida em que vamos nos desligando do meio racional, o corpo pede a penumbra. Havia momentos em que o vento nas cortinas permitia que a luz incidisse diretamente em meu rosto e me fazia despertar imediatamente, retornando ao mundo real. Desta forma ficou muito claro que a mulher em trabalho de parto deve ter o domínio total da condição lumínica da sala, o que requer aberturas com boa vedação, luz regulável, iluminação direta e indireta e, ainda, luzes coloridas para cromoterapia.

A presença de piscinas nos quartos de nascimento merecem especial atenção: Todo ser humano nasce em estado de perfeita adaptação à água: desde o nascimento, uma criança imersa pode fazer, como qualquer mamífero, movimentos de quadrúpede, verdadeiros movimentos de natação. Quando um bebê cai na água, deixa os olhos abertos, bloqueia as vias respiratórias superiores, põe-se em posição horizontal e bóia com muita facilidade, já que seu centro de gravidade é mais alto que o do adulto e

9 relativoa antropossofia: doutrina mística formulada pelo pensador espiritualista austríaco Rudolf Steiner (1861-1925) que, com base na teosofia de Blavatski (1831-1891) e em questionamentos filosóficos, políticos e religiosos, procura refletir a respeito da condição humana

que sua densidade é menor (cerca de 0.980); acrescentemos também que um bebê pode ficar muito tempo em estado de apnéia. Em nossa sociedade, esta adaptação à água não é conservada e o medo da água é um comportamento cultural adquirido. O ritual segundo o qual não se deve banhar o recém nascido até a cicatrização do umbigo tem uma grande parte da responsabilidade. Além disto, sabe-se que o banho facilita o período de dilatação do colo uterino na medida em que favorece a liberação de endorfinas.

Como abordado anteriormente, a mulher que dá à luz tem necessidade do contato com suas raízes mais profundas. A água, em todas as suas formas, tem efeito as vezes espetacular durante o parto. Mais uma vez a instalação de piscinas se mostra inevitável: é introduzir em um local de nascimento o meio de onde saíram todas as formas de vida. O contato com o solo, o contato com a terra, parecem positivos durante o parto. A caminhada, a posição agachada e sustentada em seguida, satisfatórias nos planos mecânicos e fisiológicos, implicam também este contato. Em contato com o solo, em contato com as suas raízes!

A linha reta não existe na natureza; sua utilização evoca ainda mais a constante tentativa do homem em controlar e separar-se da natureza. Desta maneira, as formas e cantos arredondados são importantes ferramentas na busca de um espaço primitivo. O conceito de forma orgânica traduz-se em um espaço fluido, sem ruptura.

Do ponto de vista psicológico, a escala é considerada como um fator importante de estabilidade emocional das pessoas. Contrariamente aos espaços religiosos e institucionais que desejam transmitir uma imagem de superioridade, magnitude e poder, a escala de uma casa de parto de restringir-se à humana, para criar uma identificação de espaço familiar, dominado por cada um.

No primeiro momento do trabalho de parto, não raro, a mulher sente a necessidade de caminhar. A possibilidade de passear por belos e tranqüilos jardins torna, sem dúvida, este momento muito mais relaxante do que nos longos e frios corredores dos hospitais, quando a elas é dada esta oportunidade. A interligação entre os quartos de parto e os jardins parece muito bem vinda. Estes jardins devem responder a todos os desejos e necessidades de cada mulher e em diferentes etapas do processo. Jardins abertos ou fechados, com luz direta ou indireta, plantas com aromas calmantes, caminhos que permitam a caminhada, nichos que proporcionem certa privacidade, uso de diferentes texturas, o contato direto com o solo e, mais uma vez, a possibilidade de usufruir da água e seus sons.

Infra-estrutura ao recém nascido, que nunca deverá ser separado da mãe! Prever o berço, a bancada de apoio e a banheira para o primeiro banho no próprio quarto de nascimento encerra uma estratégia de não promover em nenhum momento a separação entre a mãe e sua cria.

Não é coerente falar em contato com a natureza se esta não for respeitada no projeto. Se estamos aqui falando de respeito para com o próximo, de melhoria na qualidade de vida, não é concebível usufruir dos benefícios que elementos

orgânicos oferecem sem dar uma resposta a sua conservação. Assim sendo, sistemas de tratamento de esgoto, de captação da energia solar, reaproveitamento das águas fluviais e de ventilação e iluminação naturais passam a ser elementos vitais na manutenção da coerência conceitual.

1

133..PPRROOGGRRAAMMAADDEENNEECCEESSSSIIDDAADDEESSEEPPRRÉÉ--DDIIMMEENNSSIIOONNAAMMEENNTTOO

M

MÍÍNNIIMMOOIINNIICCIIAALL

Baseada no programa de necessidades básico das casas de parto existentes e nas entrevistas feitas com médicos e enfermeiras do hospital universitário, lanço inicialmente os itens abaixo mencionados com uma estimativa média das áreas a serem propostas.

Apoio técnico = 73m²

Depósito de materiais / Rouparia: 2m x 3m = 6m² Sala expurgo: 3m x 3m = 9m² Material de limpeza: 1,5m x 2m = 3m² Quarto da enfermagem: 3m x 4m = 12m² Banheiro enfermagem: 6m² Copa: 16m² Administração: 3m x 4m = 12m² Sala do bebê: 9m² Apoio às gestantes = 78m² Quarto acompanhantes: 9m² Triagem: 9m² Salas de Pré-natal (6 x 9m²) = 54m² Banheiro público (x2) = 6m²

Sala do grupo de grávidas: 25m²

Convivência = 170m² Sala piano: 6m x 6m = 36m² Recepção: 15m² Mini-auditório: 8,5m x 14m =119m² Processo do parto = 250m² Salas de Nascimento (10 x 25m²): 250m² Jardins: sem dimensionamento prévio

1

144..FFLLUUXXOOGGRRAAMMAAPPRRIIMMÁÁRRIIOO

Tendo por base o conceito de espaço que vai do racional ao orgânico, o fluxograma a ser apresentado foi organizado de maneira a sub-dividir os ambientes entre:

Duro

Os recintos racionais, onde o necórtex ainda se encontra extremamente ativo. Representam o início do processo, localizando-se próximos à entrada.

Formas lineares.

Muita luz (transparência).

Materiais mais contemporâneos. Fluxo de pessoas mais intenso.

Encerra os seguintes ambientes: Depósito de materiais / Rouparia Sala expurgo Material de limpeza Quarto da enfermagem Banheiro enfermagem Copa Administração Banheiro público Gelatinoso

Espaços representativos da transição, quando o sistema nervoso central está se adaptando à nova forma de consciência. São ambientes onde é de interesse que a gestante e seus acompanhantes iniciem o desligamento da realidade.

Formas levemente sinuosas e retas não ortogonais. É a passagem do claro ao escuro.

Materiais de diferentes aspectos e texturas. Fluxo de pessoas selecionado

Corresponde aos seguintes recintos: Sala do bebê

Quarto acompanhantes Triagem

Salas de Pré-natal

Sala do grupo de grávidas Sala piano

Recepção Mini-auditório

Mole

Tipo de ambiente totalmente propício à regressão, que coloque a mulher em contato com sua memória arcaica e raiz animal.

Todos os itens apresentados no item “estratégias de projeto” devem ser atendidos.

Formas extremamente orgânicas, em todas as 3 dimensões.

A luz deve ser totalmente controlada, de modo a chegar à escuridão absoluta. Materiais orgânicos e diversas texturas.

Acesso permitido apenas às pessoas permitidas pela grávida. Abrange os seguintes espaços:

Salas de Nascimento Jardins

Sendo assim, a articulação dos espaços deverá seguir a seguinte estratégia:

Fluxograma de Atividades

Auditório

Recepção

Espera

Sala Piano Grupo Grávidas Grupo Grávidas

Sala de Nascimento Pré-natal Triagem Sala Bebê LEGENDA Ambiente Duro Ambiente Gelatinoso Ambiente Mole

1

155..LLAANNÇÇAAMMEENNTTOOIINNIICCIIAALL

O primeiro lançamento de projeto foi concebido de forma a sugerir um zoneamento inicial. Para isso foi considerado :

A insolação (fachada leste-oeste) determinou a localização dos ambientes com maior ou menor necessidade de aberturas para o exterior.

A distância dos quartos de nascimento da Av. Beiramar Norte, devido à necessidade de silêncio nestes espaços.

A relação volumétrica entre os ambientes “duros”, “gelatinosos”e “moles”. A vegetação pré-existente.

A proximidade dos quartos com o hospital, a fim de facilitar o acesso das mulheres que necessitarem de remoção.

Maquete de estudo... Um primeiro lançamento

MAQUETE DE ESTUDO: FACHADA OESTE

No documento Casa de parto: mudando a forma de nascer (páginas 39-52)

Documentos relacionados