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Capítulo II. O Coordenador de Núcleo e o Coordenador de Departamento do 1.º Ciclo: Da

2.3. A acção supervisiva do Coordenador de Núcleo e do Coordenador de

2.3.2. O perfil do Coordenador de Núcleo e do Coordenador de Departamento

2.3.2.1. Um líder mobilizador

O termo liderança surge ligado à função de líder, chefia, orientador aplicado a diferentes níveis: desde o familiar, passando pelo socioeconómico e até ao político- organizacional. É uma situação natural a qualquer organização humana e a escola não poderia ficar de fora.

Bolívar (2003, p. 256) afirma que a liderança “estimula a partilha de informação, a obtenção dos recursos necessários, a clarificação de expectativas, faz com que as pessoas se sintam membros de uma equipa, ajuda a identificar e a resolver problemas”.

Segundo Greenfield Jr.. ( 2000, pp. 257-258), a liderança da escola “envolve um complexo conjunto de processos de influência [interpessoal] e de actividades, empreendidas de modo a melhorar a eficácia da escola através de mudanças voluntárias (…) nas crenças, nos comportamentos e/ou atitudes”. Afirma ainda que, a nível da escola, os processos de liderança “podem fluir para cima (dos professores para os administradores), para baixo (dos administradores para os professores), e para os lados (entre colegas e entre profissionais da escola, pais, e outros agentes escolares internos ou externos) “ (ibidem p. 258).

A liderança será, assim, a forma mais eficaz e eficiente para influenciar os docentes e outros intervenientes/membros da comunidade educativa em tornar as escolas mais eficazes tanto a nível pedagógico-curricular como no desenvolvimento das práticas e estratégias supervisivas; um caminho para a mudança deliberada.

Estamos, pois, não perante um ideal de chefia ou motivação exterior à organização, mas de um motor, uma força dinâmica que consiga congregar em si a vontade dos vários elementos que compõem a comunidade.

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Encontramos a ideia do supervisor como líder em Alarcão e Tavares (2003), associada à concepção do supervisor enquanto um facilitador, isto é, assume um conhecimento profundo da organização, que lhe permite vislumbrar as suas potencialidades e debilidades e melhorar as múltiplas interacções no seu seio. Esta dimensão vinha já referida por Fullan (2003, p. 72), para quem o papel do líder é “garantir que a organização é capaz de desenvolver relações que ajudam a produzir os resultados desejáveis”.

Na figura do supervisor como líder conciliam-se, pois, a busca pela qualidade do ensino e a mudança como mecanismo para alcançar tal objectivo, pois para conseguirmos implementar a mudança na escola é primordial que o coordenador assuma um papel de liderança, de forma que permita o envolvimento e a participação activa de todos os membros.

A liderança traduz-se na capacidade de exercer influência sobre outras pessoas com vista ao prosseguimento de determinados objectivos, e para isso é necessário que haja orientação, coordenação, motivação e adesão. Assim, os líderes desempenham um papel crítico, ajudando a alcançar resultados (Alaiz et al., 2003).

Para estes autores, os elementos fundamentais em que se baseia a liderança são: i) a direcção e coordenação das actividades de um grupo com o objectivo de atingir as metas fixadas; ii) a motivação dos membros do grupo; iii) e a representação dos objectivos do grupo. Daí que, para Seco (2002, p. 69), “um bom líder deverá ser, acima de tudo, um excelente condutor de pessoas e de equipas de trabalho”.

Para Sergiovanni (2004), um líder tem por funções transformar as orientações políticas da organização em objectivos concretos e precisos; supervisionar e acompanhar todo o processo; assegurar um clima motivador e de apoio nas relações quer interpessoais quer a nível de grupo; e gerir qualquer imprevisto que surja tanto a nível das tarefas como ao nível da coesão do grupo.

A sua intervenção deverá ser, deste modo, centrada e orientada ao nível dos membros da comunidade educativa, perspectivada de três formas: i) interacção que desenvolve com os pares, ii) influência que exerce sobre aqueles, e a iii) forma como determina o comportamento daqueles.

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Por sua vez, o estilo de liderança adquire um papel importante, na medida em que só através de um espírito empreendedor, de inovação e de criatividade, é que a escola se conseguirá adaptar às mudanças e a uma nova cultura organizacional.

Segundo Hare (1993), referenciado por Glanz (2003), os líderes devem possuir as seguintes virtudes e qualidades: coragem, imparcialidade, capacidade de julgar, entusiasmo, humildade e imaginação.

Estudos mais recentes, realizados por MacBeath e McGlynn (2002), e referidos por Alaiz et al., (2003, p. 133), consideram que os líderes mais eficazes revelam:

Direcção e visão estratégica, tomada de decisão partilhada, audição e resposta aos problemas do pessoal, dos pais e dos alunos, apoio ao desenvolvimento dos profissionais da escola, reconhecimento e celebração das boas práticas, circulação da informação, planeamento e financiamento, desenvolvimento das responsabilidades e encorajamento da liderança de outros, promoção da escola, quer na comunidade local, quer na mais alargada.

A liderança é, pois, inerente à organização escola e a actividade de supervisão deve traduzir-se num exercício de liderança. Não se procura um guia, um dirigente, mas alguém que seja capaz de realizar “a leitura dos percursos de vida institucionais, provocar a discussão, o confronto e a negociação de ideias, fomentar e rentabilizar a reflexão e a aprendizagem colaborativas, ajudar a organizar o pensamento e a acção do colectivo das pessoas individuais” (Alarcão e Tavares, 2003, p. 149).

Como tal, e de acordo com Peixoto e Oliveira (2003), o Coordenador de Núcleo e o Coordenador de Departamento deverão ser interventores, dinamizadores, facilitadores e organizadores de todo o processo educativo. Interventores, porque induzem à mudança de mentalidades, de atitudes, de comportamentos e motivam novas aprendizagens. Dinamizadores, de pessoas e grupos, a fim de ultrapassarem conflitos, problemas e obstáculos, promovendo o desenvolvimento integrado de todos e de cada um. Facilitadores, de aprendizagens, de descobertas e potenciadores dos recursos disponíveis. Organizadores, na medida em que planificam, executam e avaliam todo um processo de aprendizagem, de execução de tarefas próprias e heterólogas.

Também Harris et al. (1995,citado por Cabral, 2009, p. 47), numa investigação sobre departamentos eficazes, concluiu que,

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All of these departments were marked by a clear and shared sense of vision that largely emanated from, and was propagated by, the head of departments. (…) great emphasis on collegiate styles of management adopted by the head of department. (…) marked by a constant interchange of professional information at both formal and informal level.”

Num estudo realizado no âmbito da administração e organização escolar e a nível regional, Moreira (2009) procurou perceber até que ponto os Coordenadores de Núcleo vivenciavam e punham em prática o seu papel de liderança no seio das políticas que regulam as escolas básicas integradas. Esta investigadora veio a concluir pela construção de uma liderança onde coexistem “indicadores de uma liderança transformacional e indicadores de uma liderança transaccional” (ibidem, p. 123), que é, todavia, limitada, pela identificação com o grupo.