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4. METODOLOGIA DA PESQUISA

4.3. Um lugar chamado Guamá

Para falar acerca do lugar chamado Guamá, citamos Carlos (1996) que compreende que

“O lugar é a base de reprodução da vida e pode ser analisado pela tríade habitante-identidade-lugar (...) ele permite pensar a articulação do local com o espaço urbano que se manifesta como horizonte. É a partir daí que se descerra a perspectiva da análise do lugar na medida em que o processo de produção do espaço é também um processo de reprodução da vida humana (...) o lugar abre a perspectiva para se pensar o viver e o habitar, o uso e o consumo, os processos de apropriação do espaço. Ao mesmo tempo posto que preenchido por múltiplas coações, expõe as pressões que se exercem em todos os níveis”: (CARLOS, Ana Fani Alessandri. O lugar no/do mundo. São Paulo. Ed. Hucitec. 1996, p.19-20)

A autora, ao compreender o espaço na tríade habitante-identidade-lugar, amplia a visão comum de espaço para além da relação com o meio físico ao referendar que as opções, as singularidades e as condições históricas que marcam a identificação de um determinado grupo com o lugar estão inerentes aos processos de vivência coletiva, no compartilhamento de experiências comuns aos indivíduos que se relacionam em um mesmo espaço, conforme Dias Júnior (2009).

O ser humano, em seu processo de vivência é dotado de diferentes dimensões que guardam em si formas de pensar, de agir, de criar e de se representar na sociedade. Uma dessas dimensões está na “definição do lugar”, lócus privilegiado das relações sociais, das trocas culturais e das posições que cada indivíduo vai merecer na distribuição dos espaços que compõe uma cidade. É no lugar que a vida se materializa através das ações das pessoas que habitam a cidade, o bairro, a rua, a comunidade. (DIAS JR., 2009, p 38)

E se o lugar em questão é o bairro do Guamá em Belém do Pará, as pessoas serão a principal marca, pois no Guamá há “gentes” no sentido pluralizado da palavra, profusão de pessoas que em um vai e vem diário transformam a rua, a feira, a escola na extensão de suas casas e de seu trabalho. O bairro está entre os mais populosos da capital paraense. É um caldeirão de diversidade humana, social, econômica, espacial. Um lugar onde a vida acontece! Destacando-se em cultos profanos e religiosos, o Guamá é singular, a ponto de ser este espaço urbano um espaço de identificação e pertencimento de seu povo, que sai as ruas do bairro para fazer a vida acontecer em um movimento singular e coletivo. Único por seu movimento humano constante das pessoas nas ruas, nas feiras, nas escolas, indo e vindo para o trabalho. Esse movimento constante marca a identidade genuinamente guamaense dos moradores deste espaço urbano.

A ocupação das primeiras áreas do populoso bairro do Guamá se deu em duas direções: a partir da extensão do bairro de São Braz com a vinda de migrantes

nordestinos que chegavam a Belém, atraídos pela economia da borracha. Interessava aos migrantes a permanência próxima ao bairro de São Braz, ponto de entrada e saída da cidade, por esse motivo a ocupação da área do Guamá por grande número de migrantes, responsáveis pela ocupação desordenada da área. Outra fonte de ocupação do bairro do Guamá ocorreu a partir da década de 50, do século passado, momento em que a ocupação do bairro, conforme JUNIOR (2009, p.38), está diretamente relacionada a “presença marcante de pessoas oriundas das regiões do rio Guamá, do rio Acará e do baixo Tocantins”, que chegaram até Belém através do rio Guamá.

O Bairro está localizado às margens do rio Guamá, de onde lhe empresta o nome, e do Igarapé do Tucunduba, sendo estes mananciais d’ água, locais onde se dá o escoamento de produtos. Possui também canais, como do Caraparu e o da Bernardo Sayão (utilizada pela população geralmente como depósito de lixo) que juntamente com as condições topográficas do seu relevo, caracterizado por depressões decorrentes da área de várzea, dificultam o escoamento das águas, principalmente, no período chuvoso, causando o transbordamento das valas, alagamento das ruas (que em sua maioria não são asfaltadas), influenciando decisivamente na frequência e assiduidade dos alunos, pois durante os períodos chuvosos muitos não poderem sair de casa. Por outro lado, a falta de saneamento básico contribui por dar ao bairro um aspecto sujo, motivado pela grande quantidade de lama e poeira.

O bairro do Guamá originou-se de uma demanda bem considerável de moradores ribeirinhos, principalmente, dos habitantes das ilhas que circuncidam a cidade de Belém. Esses ribeirinhos ao chegarem ao Guamá foram logo se instalando, construindo suas casas e abrindo ruas e passagens. O bairro do Guamá foi denominado inicialmente de Santa Izabel por causa da denominação do cemitério, somente anos mais tarde é que foi denominado Guamá em virtude do grande rio Guamá que circunda a grande Belém. Grande como o rio, bairro do Guamá abriga uma das maiores populações de Belém. No entanto, o bairro necessita de mais atenção, pois a maioria da população do bairro é bastante pobre, acentuando as controvérsias sociais da cidade devido ser um bairro populoso.

No bairro do Guamá existem vários tipos de atividades comerciais como: feiras livres, um mercado central, farmácias, casas de material de construção, estâncias, panificadoras, supermercados, bares, existe também um pronto socorro inaugurado

pela Prefeitura de Belém que atende além da população do bairro, também a outros bairros da cidade. O bairro possui uma delegacia de polícia e vários PM-Box. Porém, o sistema de segurança ainda deixa a desejar, bem como de toda a cidade de Belém. O bairro do Guamá possui casas de saúde que além de Pronto Socorro destacam-se Postos de Saúde da SESPA, Hospital Barros Barreto, Instituto de Polícia Científica Renato Chaves, alguns laboratórios, inclusive com atendimento odontológico para a comunidade.

No que se refere a áreas de lazer, o bairro ainda é muito carente, apesar de muitas obras sociais, ainda não se destinou uma área para o lazer esportivo da população jovem e adulta do bairro, existem poucas áreas verdes. Existem no bairro, vários estabelecimentos de ensino tanto da rede pública quanto da rede particular de ensino fundamental e médio. No entanto, devido à população crescente, ainda há carência de vagas nas escolas do bairro, os centros comunitários têm participação significante na absolvição dos alunos com idade pré-escolar e alfabetização. A Universidade Federal do Pará e a Escola de Enfermagem Magalhães Barata ficam localizadas no referido bairro, também estão localizados no bairro vários recintos religiosos de diversas religiões professadas, desde o catolicismo ao espiritismo. Existem ainda no bairro meios de transportes como ônibus que servem a 08 tipos de linhas, bem como, ainda se encontram muitas carroças puxadas por cavalos ou jumentos conduzindo materiais de construção, estes são os tipos mais comuns de transporte do bairro. O bairro na sua maioria não possui saneamento básico, apesar de várias ruas terem recebido asfaltamento, o sistema de esgoto do bairro é extremamente precário.

A escola Sonho Possível está localizada no bairro do Guamá em Belém do Pará. Funciona em 2 turnos e oferta o Ensino Fundamental Regular do 1º ao 5º Ano, obedecendo a um calendário escolar construído anualmente, seguindo as orientações da Secretaria Estadual de Educação e em consonância com a legislação vigente. Nele estão previstos os dias letivos, feriados (municipais, estaduais e federais), divisão dos semestres e períodos de atividades, bem como os dias de formação continuada para todos os segmentos da comunidade escolar. O calendário é constituído coletivamente e aprovado pela comunidade em assembleia, Conselho Escolar e homologado pela mantenedora.

A escola Sonho Possível faz parte desse cenário guamaense e como as demais instituições de ensino tenta cumprir seu papel de mudança neste cenário de grandes adversidades sociais, econômicas e educacionais.