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3. A REFORMA UNIVERSITÁRIA DE 1968: A PROPOSTA DE UM SISTEMA

3.3. Um novo modelo: a Universidade de Brasília

A importância do projeto da UnB, dentre os debates em torno da reforma universitária e dentre aqueles que se estabeleceram durante o I Simpósio, girou em torno da construção de um modelo para o desenho universitário. Pretensão essa que Darcy Ribeiro já tinha em tempos de sua elaboração. Projeto redigido, também, dentro dos limites e liberdades impostos

pela legislação da época. A possibilidade, aberta na legislação para a organização departamental do ensino universitário foi fundamental para a aprovação do projeto da UnB. C L V L “ deveriam ser integrados a nível departamental, não colocava obstácu ” (VEIGA, 1985, p. 91). Não se tratava aqui de reformar um modelo já existente, que exigiria um enorme esforço de mobilização política e acadêmica para combater o peso da tradição e os interesses e garantias nela ancorados, mas de criar algo novo. A experiência paulista já havia mostrado que, a criação de uma nova universidade estruturada a partir da reunião de instituições já organizadas sob a antiga tradição, tinha seus limites e entraves. A oportunidade ímpar que se abria era a da criação de uma nova universidade, pensada e constituída praticamente do zero. Como destacou Darcy Ribeiro:

A UnB nasce sem molde anterior em que inspirar-se, e até mesmo sem precedente vivo e bem sucedido com que emparelhar, tão pobre fora a nossa experiência universitária anterior, e tão infaustas as tentativas de revitalizá- las e lhes dar autenticidade. Só nos consola dessa estreiteza pensar que a própria carência teria, talvez, dado à UnB uma liberdade de se inventar que, provavelmente, seria tolhida em um país melhor servido por universidades que realizassem satisfatoriamente suas próprias ambições (RIBEIRO, 1978, p. 47).

O molde anterior, que inspirava as demais, era o representado pela Universidade do Brasil, implantado no Rio de Janeiro e organizado sob o regime das cátedras, tornado um padrão obrigatório pelo Estado Novo e ampliado para todas as demais do país. Apesar de anunciada como proposta inovadora, a Universidade do Brasil estruturou-se sem nenhuma ambição orgânica e integrativa, reduzindo-se a um conglomerado de faculdades isoladas, de á “[ ] ” ( E O 19 8 5 ) à construção de um novo modelo universitário, coube aos planejadores da Universidade de “[ ] ” ( E O 19 8 5 )

Para Darcy Ribeiro56, a importância desse diagnóstico e dessa “ ”

56 Dado os limites desta pesquisa, não podemos afirmar categoricamente que tenha sido esse o ponto de partida

do debate proposto para a Reforma Universitária. Todavia, não se pode negar que o diagnóstico elaborado por Ribeiro e pelos demais planejadores da Universidade de Brasília, encontram eco junto à sociedade, particularmente junto a acadêmicos, intelectuais, estudantes e políticos. Apenas para citar alguns trabalhos dedicados à questão universitária que corroboram com tal diagnóstico, pode-se destacar os vários estudos de Anísio Teixeira (1989, 1998a, 1998b), os relatórios de Newton Sucupira (1972) e o Relatório da EAPES (1968). Também algumas intervenções de simposistas em Marília sobre a importância do diagnóstico de Ribeiro para repensar a universidade (SIMPÓSIO DE PROFESSÔRES DE HISTÓRIA DO ENSINO SUPERIOR, 1962) sinalizam para a expansão do debate e, sobretudo, para a preocupação dos professores da área de História com a localização da história e da historicidade com as demandas de seu tempo, discutir projetos para o Brasil, dentre

residia exatamente na sua repercussão dentro das universidades, de modo a provocar um “ á ” Resumidamente, o diagnóstico de Darcy Ribeiro (1978, p. 60–63) contempla os seguintes pontos e problemas do ensino universitário brasileiro:

O seu caráter de federação de escolas profissionais desprovidas de qualquer sistema integrativo;

A sua estrutura profissionalista e unitarista da universidade, fazendo corresponder a cada carreira uma escola, o que duplicava onerosa e ineficazmente os meios de ensino e de pesquisa;

A sua ambiguidade essencial de uma universidade colonizada e alienada que, se por um lado, era dependente de matrizes estrangeiras, por outro, inautêntica por sua infidelidade aos padrões internacionais de cultivo e difusão do saber;

A sua incapacidade do ensino universitário dominar o saber científico e humanístico moderno e de cultivá-lo através de pesquisas e estudos;

O seu elitismo presente no estreitamento das ofertas de matrículas em escolas públicas gratuitas em relação à expansão do ensino privado de nível precário;

A sua sujeição às cátedras que entregava o controle das áreas de saber ao professor vitalício todo-poderoso;

A sua carência de programas de pós-graduação para a formação do magistério universitário e para as atividades de pesquisa;

O seu apego a concursos retóricos, como sistema de seleção de professores; O seu temor à prática de co-governo, fundamental para estimular a participação dos estudantes nos problemas de organização interna das universidades;

O seu pendor ao esbanjamento de recursos públicos escassos;

O seu enclausuramento que não ensejava qualquer comunicação extracurricular dentro da própria comunidade acadêmica, o que dirá com a cidade e o país;

O seu burocratismo, que reduzia os atos acadêmicos a rotinas cartoriais; O seu verbalismo que florescia na expansão desproporcional de cursos jurídicos, de estudos sociais e letras, em prejuízo das carreiras de formação científica e de treinamento prático.

Dentre as críticas partilhadas, talvez aquela que mais fielmente traduzia o principal problema diagnosticado por Darcy Ribeiro tenha sido o anacronismo da universidade brasileira, sua incapacidade de responder aos anseios da sociedade, suas demandas por modernização e desenvolvimento. Se nesse contexto desenvolvimentista, a educação encontrava-se estrategicamente associada a esse ideal, qual seriam então os motivos reais do atraso educacional do país? A resposta apresentava-se óbvia e alarmante, conforme explicitado no relatório da EAPES:

Nesta altura temos que enfrentar uma calamidade pública, pois outro nome não pode merecer uma situação como a nossa, bem ilustrada pelas cifras existentes de analfabetismo, de abandono prematuro, tanto da escola eles, o projeto educacional universitário.

primária quanto da secundária, e de estrangulamento do ensino universitário (BRASIL. Ministério da Educação e Cultura, 1968, p. 25).

Para Newton Sucupira, a defasagem entre o tempo da universidade e o tempo presente foi a principal característica de uma crise que, em sua leitura, não se restringia ao Brasil. Tratava-se de crise que expressava a inadequação entre a tradicional concepção de universidade e suas respostas às demandas de seu tempo, vincado pela modernização capitalista que “[ ] à novas e múltiplas tarefas que lhe são impostas pela civilização tecnológica; enfim o problema à ” ( UCU 19 2 . 12). Para Sucupira, assim como defendeu Darcy Ribeiro, mas sob outras concepções e projeções, o desafio de adaptar a universidade aos novos tempos talvez não fosse mais uma questão de reforma, mas de recriação de modo a formá-la uma instrução atuante nos quadros de uma civilização científico-tecnológica:

De qualquer modo, se o postulado da reforma é a recuperação da idéia de universidade, não poderia ter uma significação meramente restaurativa, mas assume o sentido de uma nova criação. O problema da reforma, portanto, é o da recriação da universidade a partir da reelaboração de sua idéia em função das exigências de nosso tempo. Trata-se da pesquisa de uma nova forma de universidade que, fiel a sua inspiração originária, possa torná-la uma instituição atuante nos quadros de uma civilização científico-tecnológica (SUCUPIRA, 1972, p. 6).

Em seu projeto de criação e organização da UnB, Darcy Ribeiro chamou a atenção para as tentativas de reforma universitária que buscaram romper com a tradição das escolas iso U “ ” CL U Enquanto a primeira foi fechada, a segunda não conseguiu resistir à força daquela tradição. Frente às derrotas do passado e às condições do presente, pareceu-lhe restar apenas uma “[ ] á -se em ” (RIBEIRO, 2011, p. 14).

A luta pela UnB não se restringiu, porém, à sua criação e implementação. Além da vontade de se estabelecer uma universidade na nova capital do país, buscava-se também implantar um novo modelo, capaz de orientar a reforma do sistema universitário brasileiro. A partir da visão de Ribeiro, a luta pela Reforma Universitária deveria ser levada a cabo pelos debates dentro e fora das universidades, contando assim com o efetivo envolvimento dos docentes e discentes, em seus encontros, congressos e conferências pelo país afora. Ocorrida entre os anos de 1961 e 1969, teve oposição ativa dos catedráticos mais reacionários, cuja oposição ancorava-se na LDB, que consagrou a vitaliciedade das cátedras nas universidades

existentes. Assim, a lei de criação da UnB, promulgada quase que simultaneamente à LDB, surgiu como uma exceção, como uma proposta aberta à experimentação, criação e inovação. Estabeleciam-se, assim, dois padrões distintos de universidade, sendo que, para Darcy “ á todas as universidades, as liberdades e responsabilidades, bem como as linhas estruturais e os ” ( E O 19 8 6 ) C Teixeira foi exatamente em 1967 que as ideias da UnB deram corpo ao projeto de reestruturação das universidades (TEIXEIRA, 1976, p. 232).

Parece-nos inegável o papel de referência desempenhado pela UnB em termos de linhas estruturais e modos de organização no projeto de reforma universitária realizada em 196857. Principalmente sua perspectiva modernizante, materializada na extinção das cátedras, na integração ensino/pesquisa, nas possibilidades de construção de espaços institucionais destinados à pesquisa científica, na departamentalização, dentre os principais aspectos, como defendida pelo governo em 1968. Segundo Darcy Ribeiro, tratava-se de adoção que, ao ser generalizada, resultou em um arremedo, uma farsa:

Através de inúmeras vicissitudes, esta generalização (do modelo da UnB) acabou por se dar, mas se realizou como uma farsa. De fato, quando se “ á 1968” todos os remendos adispostos a ela, aquelas liberdades já vieram castradas, e aquelas renovações estruturais degradadas. [...] Assim é que pupulam pelo Brasil afora os simulacros dos institutos centrais; as departamentalizações de mentira; o regime-de-crédito funcionando pior que os antigos seriados; os currículos-de-curta-duração deteriorando os títulos profissionais; os falsos programas de pós-graduação falsificando a moeda acadêmica, que são os graus de mestre e doutor (RIBEIRO, 1978, p. 64).

As críticas de Darcy Ribeiro e algumas de suas propostas autonomistas e modernizantes foram apropriadas e compartilhadas pelo movimento estudantil. A Carta da Bahia, fruto do I Congresso Nacional de Reforma Universitária da UNE de 1961, assim como a Carta do Paraná, de 1962, em muitos de seus pontos dialogaram com as ideias presentes no projeto da UnB. Porém esse não foi o único caminho a ser percorrido para a reforma universitária. A partir de 1962, a UNE desencadeou sua luta por uma reforma radical, que foi além de uma mudança regimental ou de uma maior flexibilização e integração de sua estrutura acadêmica. Fazia-se necessária uma reforma que alterasse a composição de classe da universidade brasileira, assim como o caráter de classe de suas atividades (VEIGA, 1982, p. 39). Se em um primeiro momento estudantes e Darcy Ribeiro se aproximavam em seus

57

Sobre a Reforma Universitária de 1968 ver: CUNHA, Luiz Antônio. A universidade reformada: o golpe de 1964 e a modernização do ensino superior. Rio de Janeiro: F. Alves, 1988. FERNANDES, Florestan.

diagnósticos e propostas, muitos outros aspectos os afastaram. Assim, por exemplo, a incapacidade, vista pelos primeiros, do projeto da Universidade de Brasília contribuir para as mudanças sociais pleiteadas era um ponto de distanciamento. A luta de Darcy pela criação de uma universidade nova o levou a percorrer caminhos e a desenvolver estratégias que o aproximou de forças que, ideologicamente, eram distintas e até mesmo opostas. Como relembrou Darcy Ribeiro, quando passou a trabalhar com Anísio Teixeira no Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), em 1957:

Tinha entrado no meio da tempestade, na voragem da maior guerra ideológica que o Brasil viveu. Era o enfrentamento da elite intelectual católica contra um homenzinho só, que metia medo neles. Medo tanto mais apavorado porque viam sua luta pela escola pública e gratuita como a comunicação das crianças brasileiras. A Igreja, dona delas, que as vinham conformando ao longo dos séculos, sentia-se ameaçada de perdê-las para esse homem que vinha com um projeto totalmente diferente. Dizia ele que o projeto era norte-americano, mas a Igreja desconfiava que fosse russo (RIBEIRO, 1997, p. 230).

E “ ” U N empreitada fácil, mas contou com a destreza política de Darcy. Apesar de crítico do projeto desenvolvimentista58 da construção da nova capital, Darcy Ribeiro aceitou o convite de Juscelino Kubitschek para integrar sua equipe, da qual faziam parte Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. No INEP, ao lado de Teixeira, trabalhou no planejamento da rede de ensino primário e secundário da nova capital. Nesse período, sem que lhe tenha sido incumbido oficialmente, Ribeiro passou a se preocupar com a possibilidade de criar uma universidade. Foi no Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE), que funcionava dentro da estrutura do INEP, que se estruturou o projeto de criação da UnB em conjunto com a cúpula da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Na busca por um modelo que não repetisse o já existente, mas, ao contrário, que fosse capaz de inovar e que se estabelecesse como parâmetro para o ensino superior brasileiro, constituiu-se o projeto em duas etapas: primeiro, em forma de crítica ao modelo existente, de elaboração do diagnóstico e seus “ ” ( EIRO, 1997, p. 236).

A intensificação dos debates sobre a necessidade de um novo modelo universitário e

58 Sobre o desenvolvimentismo e o processo de industrialização no governo JK ver: BENEVIDES, Maria

Victória de Mesquita. O governo Kubitschek: : 1956–1961. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979; GOMES, Ângela Maria de Castro (Org.). O Brasil de JK. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2002; IANNI, Octávio. Estado e capitalismo, estrutura social e industrialização no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965; KUBITSCHEK, Juscelino. Diretrizes gerais do plano nacional de

da Reforma Universitária incluiu acirradas resistências, projeto da UnB. Desde Israel Pinheiro “[ ] usto de Brasília duas ameaças terríveis: as manifestações estudantis e as greves operárias que poriam a perder todo o esforço de interiorização da capital (RIBEIRO, 1978, p. 22), até o principal deles, a Igreja Católica. Juscelino Kubitschek foi informado de que os jesuítas aspiravam criar uma Universidade Católica em Brasília, e que estariam angariando fundos próprios para tal. Segundo Ribeiro, chegaram a convencer o presidente de que até mesmo na capital de um país protestante como o era os EUA, a principal universidade era católica. Tal anseio foi comunicado a Ribeiro pelo “E [ ] L Já ” ( E O 19 8 25)

Apesar das resistências, Darcy Ribeiro conseguiu a aprovação do projeto por Juscelino Kubitschek que foi enviado ao Congresso no dia da inauguração de Brasília. Criava-se a Universidade de Brasília na lei. Colocá-la em funcionamento foi, então, outra batalha. A vontade de Darcy Ribeiro era a de que Anísio Teixeira assumisse a reitoria da universidade, convite esse recusado, assumindo Teixeira a vice-reitoria ao seu lado. Talvez, em sua sabedoria, Teixeira soubesse que vincular o seu nome, marcado pela pecha comunista, não fosse saudável à universidade naquele momento. Porém, quando Darcy Ribeiro assumiu a Casa Civil a chamado de João Goulart, Teixeira enfim aceitou o cargo de reitor em junho de 1963, ocupando-o até abril de 1964 quando a universidade foi invadida pelas tropas do exército e por policiais de Minas Gerais, apenas nove dias após o golpe militar, sob a acusação de subversão.

Dado ao curto período de existência democrática, a UnB compreendia uma referência mais formal do que empírica para o projeto pensado para a Reforma Universitária de 1968. Com efeito, o receio e a recusa existiam entre parlamentares de diferentes matizes ideológicas e partidárias. Em 1963, quando falou à Comissão da Câmara dos Deputados, Darcy Ribeiro foi interpelado pelos parlamentares sobre a possibilidade daquela servir de modelo para as demais universidades, apesar da sua curta existência. Assim se posicionava o deputado Aderbal Jurema, advogado formado pela Faculdade de Direito de Recife, da qual foi posteriormente professor, em relação à UnB “[ ] U Brasília dentro dêsse quadro do ensino superior no Brasil, irá nos legar, no futuro e não agora que é muito cedo, sua experiência, porque a universidade é, sobretudo, uma universidade ” ( E O 1963, p. 16). Essas palavras encontraram concordância com as de Ribeiro.

governo entre 1966 e 1968, foi, sem dúvida, inspirado no da UnB, despido, porém, de suas pretensões democráticas e autonomistas, tal como incluídas na proposta inicial de Darcy Ribeiro (VEIGA, 1985, p. 91). Já em seu Plano Orientador, assim se expressou o presidente da república, João Goulart, ao sancionar a Lei 3.998, de 15 de dezembro de 1961, que instituía a Fundação Universidade de Brasília, sobre a missão da UnB:

Não se tratava apenas de acrescentar uma universidade mais às que já temos e nos esforçamos por ampliar e aprimorar. O desafio diante do qual se encontravam os poderes públicos, bem como os intelectuais, os artistas, os professores e estudantes universitários do Brasil, era o de conceber e planejar uma universidade modelada em bases novas que, para todas as demais, constituísse um estímulo e um complemento e que fosse capaz de assegurar à Capital da República a categoria cultural que ela precisa ter para o franco convívio e a interação com os outros centros culturais do País (UnB, 1962).

“ ” osse capaz de alcançar seus propósitos59

. A UnB surgiu com uma estrutura organizacional mais flexível, tripartida, formada pelos Institutos Centrais de Ciências, Letras e Artes, voltados ao ensino dos saberes fundamentais; pelas Faculdades Profissionais, voltadas à pesquisa e ao ensino nas áreas das ciências aplicadas e das técnicas; pelos Órgãos Complementares, de prestação de serviços à comunidade universitária.

Nos Institutos Centrais, voltados para os saberes fundamentais, os alunos frequentariam os cursos introdutórios de duas séries com o objetivo do preparo intelectual e científico básico para frequentar os cursos profissionais nas faculdades. Havia, ainda, a opção de cursar o bacharelado de seis semestres em qualquer disciplina departamental, pré-requisito necessário também para aqueles que desejassem seguir a carreira do magistério. Aqueles que revelassem aptidão para pesquisa poderiam fazer os cursos de graduação científica de dois anos mais, após o bacharelado. Por fim, funcionariam os programas de pós-graduação de dois anos para os candidatos ao doutoramento. As faculdades, portanto, receberiam os alunos já preparados pelos cursos introdutórios nos Institutos Centrais, ministrando treinamento especializado, tendo como objetivo uma determinada profissão.

Nem todas as projeções elaboradas para a UnB eram novas, algumas retomavam desejos antigos que ainda não tinham sido concretizados. Para Darcy Ribeiro, cuja posição era também compartilhada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, igualmente partícipe do projeto da UnB, a principal vocação desta era a científica. Assim, ela foi pensada como instituição capaz de estabelecer efetivamente a vinculação orgânica entre pesquisa,

59 Sobre os objetivos e propósitos idealizados por Ribeiro para a Universidade de Brasília Cf. RIBEIRO, Darcy.

ciência e ensino, articulação que já havia sido pensada por ocasião da criação da USP. Segundo Laura da Veiga:

As idéias que estavam na base do projeto da UnB não eram tão novas, mesmo no Brasil. Desde a criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP (1934), alguns setores de professores universitários e pesquisadores estavam convencidos de que uma verdadeira Universidade teria necessariamente de prover uma vinculação orgânica entre pesquisa, ciência e ensino e que novas unidades deveriam ser criadas para transformar estes elos em realidade (VEIGA, 1985, p. 91).

A preocupação de Darcy Ribeiro era justamente a de se evitar a formação e a atuação “ ” “[ ] [ ] igura e a voz da ” ( E O 19 8 8 ) N U havia o empenho de seus idealizadores em quebrar a antiga tradição ainda em vigor nas “ ” os como sérios pelos seus “[ ] ” ( E O 19 8 8 ) U á “ ionais do saber e da busca de soluções para ” U tradição universitária de importação de ideias, de enfoque apenas aos temas que se cultivavam lá fora, aos métodos e às linguagens que estavam na moda no estrangeiro. Particularmente, no campo das ciências humanas, essa era a orientação até então dominante, desatrelada das questões nacionais, desconectada da realidade social brasileira. Segundo o diagnóstico do antropólogo, em “ acadêmico, que construindo passo a passo o edifício do conhecimento de nossa realidade, ” ( E O 19 8 p. 91).

A substituição do diletantismo/amadorismo pelo espírito científico/profissional marcou os discursos da APUH, desde seu segundo simpósio, em 1962. Para Cecília Maria Westphalen, dentre os objetivos da associação destacou-se o: “[ ] pe ” “ U ” (SIMPÓSIO DOS PROFESSÔRES UNIVERSITÁRIOS DE HISTÓRIA, 1962, p. 22).

Passados dez anos de fundação da associação, Alice Piffer Canabrava fez uma avaliação do estado da arte do campo da História no Brasil, em 1971:

Na ANPUH, por exemplo, seria difícil encontrar lugar para o amadorismo. A figura do amador, que cultivava a História como expressão das belas letras,

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