Um Programa Brasileiro de Acesso à Luz Elétrica

Buscando reduzir o déficit de acesso a luz elétrica, entre os anos de 2003 a 2010 o Governo Brasileiro implementou o Programa “Luz para Todos”, criado por meio de Decreto Presidencial, № 4.873 de 2003, pelo governo Lula, em que instituiu o Programa Nacional de Universalização do Acesso e Uso da Energia Elétrica, conhecido popularmente como "Programa Luz para Todos", um projeto financiado pelo Governo Federal e gerenciado pelo Ministério de Minas e Energia [90].

Art. 5º O Programa "LUZ PARA TODOS" observará as seguintes prioridades:

I - projetos em Municípios com índice de atendimento inferior a oitenta e cinco por cento, segundo dados do Censo 2000;2 II - projetos de eletrificação rural que beneficiem populações 2_{Neste caso, o Projeto Luz para Todos, atenderia cidades (zonas urbanas) que possuía menos de 85% do total da}

atingidas por barragens, cuja responsabilidade não esteja definida para o executor do empreendimento;

III - projetos de eletrificação rural que enfoquem o uso produtivo da energia elétrica e que fomentem o desenvolvimento local integrado;

IV - projetos de eletrificação rural em escolas públicas, postos de saúde e poços de abastecimento d'água;

V - projetos de eletrificação rural que visem atender assentamentos rurais; e

VI - projetos de eletrificação para o desenvolvimento da agricultura familiar. [91]

O Projeto consiste, principalmente em atender a demanda de energia elétrica aos moradores e comunidades da zona rural de baixa renda, levando a eletrificação para os moradores sem custo. Porém, sua tarifação (cobrança do consumo de energia) foi baseada na vulnerabilidade social e econômica de cada família, criando desta forma, a Tarifa Social para as famílias inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais que possuíam renda familiar per capita de até meio salário mínimo, de modo que descontos poderiam chegar a 100% (Figura 8.8).

Figura 8.8 - Tabela de desconto da Tarifa Social do Programa Luz para Todos [92]

Mesmo com a Tarifa Social criada pelo Governo Federal que beneficiava as famílias de baixa renda atendidas pelo programa Luz para Todos, o consumo médio dessas famílias não ultrapassava trinta reais, como é apresentado pelos dados do Ministério de Minas e Energia na Figura 8.9.

Figura 8.9 - Tarifa Social: Tabela de consumo mensal de energia elétrica pelas famílias atendidas pelo programa Luz para Todos localizadas nas áreas rurais brasileiras [93]

Com o acesso a Luz elétrica, as famílias que até então viviam às margens do acesso de diversos bens de consumo duráveis, tais como, geladeira, televisores, batedeiras, ventiladores, etc, puderam vislumbrar a aquisição de tais eletrodomésticos e eletrônicos, equipamentos que para nossa atual sociedade são bens de consumo comuns, que é possível ser encontrados dentro de qualquer residência das famílias que possuem acesso a luz elétrica, trazendo maior comodidade, conforto e até entretenimento para as famílias.

Com o acesso da eletricidade dessas novas famílias, este projeto criou uma nova demanda de consumidores, e para colaborar com esta afirmação o trabalho [94], apresenta relatos com famílias beneficiadas com o projeto de acesso a eletrificação, Luz para Todos.

“É como diz, né: a energia melhora de um tudo. Nas condições de moradia porque a gente tem mais conforto dentro de casa, com a luz, com a televisão... E na cozinha também, pra bater o feijão e fazer a janta mais a noite, sem muita pressa” (Entrevistada 3, 47 anos, dona de casa).

O acesso a eletricidade facilitou o trabalho do dia a dia para essas familiar que viviam isoladas da rede elétrica, como podemos constatar no relato a seguir [94].

“Tendo luz em casa, deu pra comprar uma vaquinha e a máquina de moer capim, aí não tem que gastar mais muito com ração. Dá pra moer a noite, se precisar! Aí a gente já

tem leite pra beber e também fazer uns queijinhos pra vender e guardar pras coisas pro bebê que vai nascer” (Entrevistada 1, 26 anos, dona de casa).

Os relatos apresentam uma visão do quão importante é o programa de eletrificação para moradores de que não possuíam acesso a energia elétrica, além de levar mais dignidade e conforto para as famílias, o acesso à energia elétrica também fez surgir um novo grupo de consumidor de eletrônicos, eletrodomésticos e maquinários para a produção agrícola familiar. Além de proporcionar maior qualidade de vida, o acesso a luz elétrica promove o desenvolvimento e geração de emprego e renda [95] [96]. Em muitas comunidades contempladas com o programa de acesso à energia elétrica é possível observar o desenvolvimento e também uma melhora na geração de renda e na melhoria das condições de trabalho dessas comunidades [91].

Criar peixe era um trabalho de risco, sem energia elétrica, a gente tinha que sair vendendo o pescado no mesmo dia e se não desse para vender tudo, tinha que salgar o resto. Acontecia até de estragar.

Com o acesso à energia elétrica, as comunidades que vivem da pesca, por exemplo, melhoraram suas condições de negociação de seus pescados, como apresentado no relato acima, congelar seus pescados em freezers para realizarem as vendas sem a preocupação em perderem ou estragar seus produtos.

O Programa Luz Para Todos, previa investimentos da ordem de R$ 12,7 bilhões, e até dezembro de 2010 já havia realizado mais de 2,65 milhões de ligações de energia elétrica para agricultores familiares, famílias de trabalhadores rurais e comunidades isoladas[97]. Porém, o mesmo relatório do programa Luz Para Todos, afirma que todos os esforços realizados pelo governo federal não foram suficientes para atender à grande demanda de acesso à energia elétrica, tendo em vista as dificuldades de se levar linhas de transmissão as diversas zonas rurais do país [97].

O Decreto Presidencial que criou o Programa Nacional de Universalização de Acesso e Uso de Energia Elétrica “Luz para Todos”, teve diversas alterações para cumprimento de prazos e para instalações da malha das redes elétricas. Mesmo após sete anos de existência e

de execução do programa, não foi possível cumprir os prazos para o acesso à energia elétrica para todas as comunidades brasileiras isoladas das malhas da rede elétrica, sendo necessária a prorrogação de prazo até dezembro de 2011 [98]. No final de 2011, o Decreto Presidencial sofreu outra alteração no texto, prorrogando a data de atendimento do projeto “Luz para Todos” para até dezembro 2014 [99]. Atualmente, o Programa Nacional de Universalização do Acesso e Uso da Energia Elétrica - "Luz para Todos" está vigente pelo Decreto presidencial nº 7.520, de 8 de julho de 2011, que teve sua última alteração em Abril de 2018, que prorroga o prazo do projeto até dezembro 2022 [100].

Apresentamos na Figura 8.10, a evolução das instalações dos números de ligações à rede de energia elétrica do Programa Luz para Todos entre os anos de 2004 a 2017. Também observamos, que entre os anos de 2004 a 2010 houve um crescente número de ligações residenciais do projeto Luz para Todos e, a partir do ano de 2011, o número de ligações foi sendo reduzido drasticamente. É possível afirmar que após a ano de 2011, houve uma redução significativa de investimento no projeto de eletrificação iniciado em 2004.

Figura 8.10 - Programa Luz Para Todos: Número de ligações (mil) entre os anos de 2004 a 2017. Elaboração própria.

Na Figura 8.11 apresentamos a quantidade de brasileiros e brasileiras atendidos pelo programa Luz para Todos no mesmo período.

Figura 8.11: População atendida (mil) pelo Programa Luz para Todos entre os anos de 2004 a 2017. Elaboração Própria.

Podemos observar na Figura 8.11 as mesmas características da Figura 8.10 em que entre os anos de 2004 a 2010 houve um crescente investimento para atender a população sem acesso a luz elétrica. A partir de 2011, o número de atendidos foi reduzindo até que no ano de 2017 o número de atendidos pelo projeto de eletrificação ficou abaixo do número de atendidos em seu primeiro ano de execução, em 2004.