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1. RETRATOS INTRODUTÓRIOS DE OSCAR WILDE E

1.2 Um retrato do movimento estético

Levando em consideração que a obra em destaque nesta pesquisa foi encomendada a Wilde por J. M. Stoddart para retratar o pensamento estético da época e o esteticismo foi um dos movimentos que bastante inspirou o autor de O retrato de Dorian Gray, é de extrema relevância que aqui seja comentado sobre o movimento estético. Assim sendo, conforme Abrams (1999, p. 3), o esteticismo foi um movimento originado na França, no final do século XIX, em resposta não somente ao pensamento científico existente naquela época, mas também à indiferença oriunda da classe média para com as artes que não estavam voltadas a valores morais. Para os escritores franceses que faziam parte deste “fenômeno”, entre todas as criações humanas a obra de arte é aquela cujo valor não se compara, pois além de ser independente, não possui cunhos morais ou formais fora de si, apenas existe com suas perfeições e imperfeições para ser apreciada, ou, muitas vezes, criticada. Talvez por isso é que a frase “arte pela arte” tenha se tornado o lema deste movimento.

Ainda pode-se destacar que:

O Esteticismo Francês é frequentemente datado a partir da defesa do dizer de Théophile Gautier o qual ele afirma que arte é inútil [...]. O Esteticismo foi desenvolvido por Baudelaire, que foi grandemente influenciado pela alegação de Edgar Allan Poe (no “The Poetic Principle”, 1850) que o trabalho supremo é um “poema por si”, “um poema escrito exclusivamente para o propósito do poema”; isso foi mais tarde mencionado por Flaubert, Mallarmé, e muitos outros escritores. (ABRAMS, 1999, p. 3)6

Abrams (1999, p. 3) expõe ainda que apesar do esteticismo ser desenvolvido por Baudelaire, o movimento chegou à Inglaterra Vitoriana graças a Walter Pater e que artistas e escritores daquela geração também compartilhavam suas mesmas ideias e conceitos. E, certamente, um deles foi Wilde.

Oscar Wilde utilizou os preceitos do decadentismo e do esteticismo em suas obras, pois, sua formação como escritor ocorreu inserida nos contextos literários dessas estéticas. No caso do esteticismo, Wilde almejou propor esse movimento literário com os preceitos de John Ruskin e Walter Pater. (RUFFINI, 2015, p. 60) O retrato de Dorian Gray, por exemplo, tem tantas características estéticas e decadentes, pois foi escrito justamente em meio a todos esses conflitos de comportamentos e pensamentos de ambos os movimentos citados e depois de Wilde estar bastante envolvido com eles.

De acordo com Mendelssohn (2007, p. 3-5) o esteticismo, além de ter “invadido” a Inglaterra também chegou à América. Foi um movimento com cunho bastante comercial, que apesar disto, inclinava-

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“French Aestheticism is often said to date from Théophile Gautier’s witty defense of his assertion that art is useless […]. Aestheticism was developed by Baudelaire, who was greatly influenced by Edgar Allan Poe’s claim (in “The Poetic Principle”, 1850) that the supreme work is a “poem per se,” a “poem written solely for the poem’s sake”; it was later taken up by Flaubert, Mallarmé, and many other writers.”

se mais a tudo o que era relacionado à arte e cultura. Pode-se dizer que o lugar onde mais se fazia possível ver este tipo de arte e pessoas que com ela simpatizavam, em Londres, era na Grosvenor Gallery, fundada no ano de 1877. Inclusive, nomes como o de Oscar Wilde e John Ruskin estiveram presentes na inauguração desse espaço. O movimento estético surgiu na Inglaterra e na América, como sugere Mendelssohn (2007, p. 13) “em um momento excepcionalmente imprevisto na história britânica e americana, quando fato e ficção, mimese e artifício se tornaram parte de um contínuo que afetou todo aspecto da literatura e cultura”.7

Uma outra definição, bem mais abrangente, e vinda da origem da palavra, pode ser vista e entendida, por meio do dicionário de termos literários de Massaud (1974, p. 166):

Gr. aisthetikós, suscetível de perceber-se pelos sentidos; de aísthesis, sensação, percepção. Neologismo criado pelo filósofo alemão Alexander Baumgarten (1714-1762) e que lhe serviu de título à obra com a qual principiou os estudos modernos na matéria. (Aesthetica, 2 vols., 1750-1758). O vocabulário designa, lato sensu, o conhecimento da beleza na Arte e na Natureza, a teoria ou filosofia do Belo, entendendo-se por belo o conjunto de sensações experimentadas no contato com a obra de arte ou manifestação da Natureza. Stricto sensu, equivale a teoria ou filosofia da Arte. Conquanto haja inventado o termo “estética”, Baumgarten não inaugurou a atividade correspondente: desde o século IV a.C., com Platão e Aristóteles, vêm sendo debatidos os problemas fundamentais da Estética, como, por exemplo, que é Arte?, que é Belo?, que é valor estético?, que é belo estético e belo natural?, etc. Até a primeira metade do século XIX, investigava-se a Estética da perspectiva filosófica. A partir de Gustav Fechner e a sua Estética Experimental (1871), passou a ser analisada também do prisma psicológico. Posteriormente, com o progresso da Sociologia, os estudos nessa

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“At a uniquely fortuitous moment in British and America history, when fact and fiction, mimesis and artifice became part of a continuum that affected every aspect of literature and culture.”

área ganharam nova dimensão. (J.-M. Guyau, L’art au point de vue sociologique, 1887; Roger Bastide, Les problèmes de la sociologie de l’art, 1948; Pierre Francastel, Art et société, 1948). Não obstante, a Estética permaneceu terreno dileto dos filósofos (John Dewey, Art as Experience, 1934). Atualmente, a Estética “oscila entre um método sociológico de extremo relativismo, uma análise psicológica geralmente muito subjetivista, e uma tendência metafísica fortemente atraída pelo dogmatismo (Huysman 1954: 119)”. (MASSAUD, 1974, p. 166)

Com base na definição exposta, há de se notar que o esteticismo é fundamentado a partir do resultado do experimento, sem interesse, de tudo que advém do belo; o conjunto de reações e sensações que, o que é caracterizado como atraente, principalmente aos olhos, provoca ao indivíduo, sendo este esplendor vindo de algo da natureza ou de algum tipo de arte plástica, por exemplo. Em geral, o esteticismo busca, basicamente, o prazer por meio das sensações e percepções oriundas do estético.