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1. RETRATOS INTRODUTÓRIOS DE OSCAR WILDE E

1.4 Um retrato do movimento gótico

Reconhecendo o papel relevante dos movimentos estético e decadente, não poderia deixar de comentar de outro que, devido às suas características tão marcantes no livro de Wilde, pode ser considerado uma peça-chave na obra O retrato de Dorian Gray. Explicito aqui a origem e continuidade do movimento gótico a partir de conhecimentos oriundos de estudiosos como Goldstein (1989) e Hogle (2002), deixando para entrar em detalhes em relação à obra aqui analisada no capítulo 3.

Conforme Goldstein (1989, p. 16) o termo “gótico” não se resume a uma exclusiva definição: ele está voltado a tudo que poderia ser descrito como medieval. Baseados nisso, estudiosos alemães alegam que sua definição inicial faz referência ao tempo de 250 a 600 d.C. quando o rei Ostrogotha foi reconhecido através de poesias heroicas antigas. O gótico não estava ligado ao que era clássico, mas sim ao Cristianismo e à arquitetura, principalmente ao que era tido como criativo e diferente do habitual. Atualmente, a definição de gótico é mais voltada ao horripilante, ao cruel, ao sobrenatural, etc.

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“In the search for strange sensations, a number of English Decadents of the 1890s experimented with drugs and espoused illicit, or what were conventionally held to be extra-natural, modes of sexual experience; several of them died young.”

A partir do primeiro conto de ficção gótica medieval, intitulado The Castle of Otranto e lançado por Horace Walpole em 1974 e mais especificamente na década que o autor faleceu, em 1790, foi que explodiu o gótico “em todas as ilhas britânicas, no continente europeu, e rapidamente no novo Estados Unidos, particularmente para um público leitor feminino” (HOGLE, 2002, p. 1)11

, daí a ocorrência da popularidade do gótico, já que a maioria do público leitor era principalmente do sexo feminino. Goldstein (1989, p. 22) afirma que este trabalho de Walpole foi escrito em 2 meses e inspirado no seu amor pela arquitetura gótica clássica. A autora também comenta que por meio deste trabalho Horace:

Estabelece certos modelos os quais se tornaram padrões de tarifas góticas – o castelo gótico, a vila monomaníaca gótica, a passiva e suprimida heroína gótica cuja virgindade está sob ataque, acontecimentos supernaturais, e mesmo o nome ‘Gótico”. (GOLDSTEIN, 1989, p. 22)12

Walpole não foi somente bastante audacioso para aquele momento, como também teve muita sorte, pois rapidamente conseguiu popularidade e a partir de uma criação que se direcionava para caminhos divergentes dos do realismo e de restrições diversas. Clara Reeve, também escritora, tenta seguir os caminhos de Horace Walpole, mas acaba sendo menos conhecida e reverenciada do que ele.

Existiu também o assim chamado período do Gótico Vulgar, tempo este em que os romances góticos eram produzidos em grande quantidade, tanto que também ficaram conhecidos por “penny dreadful” e “shilling shockers” (GOLDSTEIN, 1989, p. 23), nomes estes que remetem a uma ficção sensacionalista barata. O gótico neste período não era apenas uma tendência literária, mas havia se transformado em uma “febre internacional”, já que textos eram traduzidos (principalmente) do alemão para o inglês e vice-versa. É importante sublinhar a seguinte passagem:

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“Throughout the British Isles, on the continent of Europe, and briefly in the new United States, particularly for a female readership.”

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“Establishes certain patterns which have become standard Gothic fare - the Gothic castle, the monomaniac Gothic villain, the passive and suppressed Gothic heroine whose virginity is under attack, events of the supernatural, and even the name ‘Gothic’.”

Olhando para a ficção gótica dos anos 1790, é importante ter em mente que não era um afloramento estranho de um gênero literário particular, mas uma forma que uma enorme variedade de influências culturais, de Shakespeare a ‘Ossian’, do medievalismo ao nacionalismo Celta, fluíram. (PUNTER, 1765 apud GAMER, 2000, p. 27)13

Ainda seguindo o raciocínio de Goldstein (1989), o gótico tem um momento de foco em obras históricas, quando obras principalmente sobre personagens marcantes foram publicadas, como Recess (1783), da autora Sophia Lee, sobre Elizabeth I.

Existiu ainda a Escola do Terror, período de influência na Era Vitoriana que teve como propulsora Ann Radcliffe, seguidora de Walpole, “publicando cinco romances góticos entres os anos de 1789 a 1797, combina as tradições do terror e o sentimento encontrado nesses jovens romancistas góticos” (GOLDSTEIN, 1989, p. 24)14, sendo que uma de suas principais características é explorar, em suas obras, lugares bastante exóticos. O retrato de Dorian Gray é um exemplo de romance onde podemos encontrar características oriundas do terror e do sentimento, mas também pode ser considerada uma prosa narrativa como aponta abaixo Hogle (2002).

Assim como os anos de 1790, os de 1890, ainda conhecidos hoje como fin de siècle, então viram um ressurgimento concentrado da ficção gótica, especialmente na narrativa em prosa, destacada por tais “Góticos” clássicos como a produção de Oscar Wilde, O retrato de Dorian Gray (1890-91), a de Charlotte Perkins Gilman, O papel de parede amarelo” (1892), a produção original de Drácula (1897), de Bram Stoker e a novela transformada

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“In looking at the Gothic Fiction of the 1790s, it is important to keep in mind that this was not a strange outcropping of one particular literary genre, but a form into which a huge variety of cultural influences, from Shakespeare to ‘Ossian’, from medievalism to Celtic nationalism, flowed.”

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“By publishing five Gothic romances between the years 1789-1797, combines the traditions of horror and sentiment found in these early Gothic novelists.”

em série, A volta do parafuso (1898). (HOGLE, 2002, p. 2)15

Outro momento do gótico foi caracterizado como o Terror Gótico, também conhecido como Período Romântico Gótico, quando inocência, pureza e demais sentimentos singelos não são encontrados. Aqui todo ser sobrenatural não é apenas coadjuvante, mas sim uma das peças principais existentes. Próximo ao final do movimento gótico clássico ocorre o surgimento de duas obras que lhe darão caráter bastante específico, sendo estas escrituras bastante relembradas até a atualidade: Frankestein (1818) de Mary Shelley e Northanger Abbey (1820) de Jane Austen, sendo o primeiro mais voltado à promoção do científico e o segundo como última obra do gótico classificado como clássico na Inglaterra.

É importante ressaltar também que foi no período de 1900 que o gótico teve grande expansão (HOGLE, 2002, p. 2). Era possível encontrá-lo em filmes, estórias fantasmagóricas, romances, seres de televisão, musicais, peças teatrais, enfim, em toda forma de expressão artística e de comunicação.

Quanto ao declarado “fim” do gótico no século XIX pode-se afirmar que “a terceira das quatro partes do século dezenove ostentou de forma barata, mas acessível a ficção sensação que apelou aos nervos ao invés da imaginação” (GOLDSTEIN, 1989, p. 28).16

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“Like the 1790s, the 1890s, still known today as fin de siècle, then saw a concentrated resurgence of Gothic fiction, particularly in prose narrative, highlighted by such now classic “Gothics” as Oscar Wilde’s The Picture of Dorian Gray (1890-91), Charlotte Perkins Gilman’s “The Yellow Wallpaper” (1892), Bram Stoker’s original Dracula (1897), and Henry James’s serialized novella The Turn of the Screw (1898).”

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“The third quarter of the nineteenth century flaunted inexpensive but affordable sensation fiction that appealed to the nerves instead of to the imagination.”