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Claudia Mendes Campos

7. Uma análise acumulativa

As conclusões às quais foi possível chegar com o desenvolvimento desta pesquisa se fundaram na análise de um corpus variado, tal como foi mencionado mais acima, composto por redações de vestibular,

artigos de opinião e artigos de divulgação científica. Trago nesse

momento uma análise do excerto de um desses textos, representativa do que foi encontrado na pesquisa, a fim de colocar em discussão as hipóteses apresentadas nas seções anteriores. Esta foi uma pesquisa qualitativa, em que os diversos textos do corpus foram analisados nas suas especificidades, tomando-se em consideração as características da textualidade discutidas anteriormente neste artigo15, isto é, entendendo

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impostas na cadeia pelo aparecimento do conectivo16, mas sempre

submetida a interpretação e, portanto, suscetível de heterogeneidade e submetida à imprevisibilidade da linguagem. Nesse sentido, embora cada texto do corpus imponha para o operador em análise um funcionamento específico, em razão do lugar da interpretação nesse funcionamento, foi possível encontrar algumas regularidades nas análises realizadas, que serão apresentadas através da análise a seguir.

O texto a ser analisado é um artigo de divulgação científica, “A língua praticada nas Redes Sociais”, de autoria de Carlos Alberto Faraco, lido na mesa-redonda "A língua praticada nas redes sociais e a construção da identidade", realizada no dia 14 de agosto de 2010 dentro da programação da 21ª Bienal do Livro de São Paulo17. Trago abaixo

um excerto desse texto que permitirá fazer algumas observações e apontar as conclusões a que foi possível chegar na pesquisa.

[O texto vem falando nos parágrafos anteriores a respeito da “linguagem escrita da comunicação mediada por computador”.]

Como se trata de uma fala-escrita, o que aparece não é o texto que, na tradição da cultura letrada, se constituiu tendo como valor o distanciamento da oralidade – o texto com relativa autonomia frente aos modos de ser da língua falada. Na tradição da escrita, marcas de oralidade no texto são avaliados como um defeito. Ao contrário, na escrita que se pratica nas redes sociais, as marcas da oralidade não constituem um problema porque estamos justamente escrevendo a fala. E isso vale tanto para os aspectos estruturais da composição dos enunciados, quanto para a variedade da língua que aí se utiliza. Assim, não é difícil surpreender nos textos dos blogues, das salas de chats e das redes sociais a cadência da fala. É o texto que vai acontecendo on-line, que vai se constituindo no processo. Não há tempo para planejamento, para escolhas meditadas e para reescritas. Daí que a progressão temática é fluida (como o é na fala). Igualmente são comuns as digressões, descontinuidades e repetições tão características da fala. Além disso, a variedade que emerge nesses textos é o português urbano brasileiro falado. Não necessariamente o português culto falado, mas essa variedade em

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que se interseccionam o português urbano standard falado e o português mais coloquial – essa variedade de meio de campo que é usada correntemente, em situações pouco monitoradas, pela população urbana brasileira alfabetizada e medianamente letrada e que é audível também na linguagem radiofônica e televisiva. (FARACO, 2011, p.03; os grifos são meus)

Observemos primeiramente a estrutura do encadeamento: Argumento 1 (A1) – “Não é difícil surpreender nos textos dos blogues,

das salas de chats e das redes sociais a cadência da fala”. Argumento

2 (A2) – “Além disso, a variedade que emerge nesses textos é o

português urbano brasileiro falado.” A conclusão pode ser

depreendida no começo do parágrafo: Conclusão (C) – A linguagem

escrita na internet não tem como valor o distanciamento da oralidade.

Cada um desses argumentos se desdobra nos enunciados que se seguem a ele no texto. Ao primeiro argumento, seguem-se enunciados em que o Locutor especifica os sentidos de “cadência da fala” (processamento simultâneo à produção, progressão temática fluida, digressões, descontinuidades e repetições). Após o segundo argumento, lemos enunciados em que o Locutor explica os sentidos de “português urbano brasileiro falado” (“variedade usada correntemente, em situações pouco monitoradas, pela população urbana brasileira alfabetizada e medianamente letrada”). Desse modo, o texto permite a interpretação de que se trata aqui de dois argumentos articulados pelo operador além

disso, embora vejamos um conjunto de enunciados antecedendo e

sucedendo o operador, e não apenas os enunciados aos quais se atribui aqui a síntese da argumentação. Do mesmo modo, podemos interpretar esses dois conjuntos de enunciados como relacionados, semântica e discursivamente, no texto, aos efeitos de sentidos promovidos no início do parágrafo pelo enunciado “Como se trata de uma fala-escrita, o que

aparece não é o texto que, na tradição da cultura letrada, se constituiu tendo como valor o distanciamento da oralidade – o texto com relativa autonomia frente aos modos de ser da língua falada”. Estes sentidos também se desdobram nos enunciados seguintes, em que o Locutor trata das diferenças de estruturação, na tradição da escrita, entre textos escritos e falados. Deste conjunto de enunciados, é possível depreender a conclusão à qual se ligam os dois argumentos conectados pelo além

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desta ela não precisa de autonomia em relação à oralidade, não valoriza uma estruturação que se distancie da fala.

Ainda que toda análise de texto dependa fundamentalmente da interpretação do analista, ainda que os efeitos de sentido descritos acima sejam promovidos por este texto na leitura desta investigadora, podemos observar uma marca que explicita a relação de argumento a conclusão aqui defendida – uma marca discursiva. Aos enunciados tomados aqui como conclusão/tese defendida no texto, segue-se o enunciado “E isso vale tanto para os aspectos estruturais da

composição dos enunciados, quanto para a variedade da língua que aí se utiliza”. Isto é, o Locutor afirma explicitamente que as diferenças entre a escrita da internet e a escrita da tradição sustentadas por ele no texto valem para dois aspectos da relação fala/escrita, podem ser encontradas nesses dois aspectos: aqueles estruturais e aquele relativo à variedade mais comum nessas formas de escrita, respectivamente a cadência da fala e o português urbano falado. Segue-se o operador

assim, que retoma o enunciado imediatamente anterior e dá

continuidade a ele, especificando a argumentação, desdobrando os argumentos que dão sustentação à afirmação da diferença entre as duas formas de escrita. É esta interpretação que motiva os passos seguintes da análise.

Em primeiro lugar, é preciso averiguar a viabilidade de a relação argumentativa estabelecida neste texto configurar diferença escalar entre os argumentos. Podemos notar que não há nada no segundo argumento que faça dele intrinsecamente mais forte do que o primeiro. Isto é, o argumento de que a cadência da fala está presente na escrita

da internet (A1) parece tão bom quanto o argumento de que o português urbano falado está presente na escrita da internet (A2) para defender a

conclusão de que a escrita da internet não demanda distanciamento da

oralidade (C). O texto aponta duas características da oralidade que

tradicionalmente a distinguem da escrita: sua estruturação e a variedade linguística. Os estudos linguísticos, tal como estabelecidos em diferentes perspectivas teóricas, não parecem permitir uma ordenação entre essas características. São características relativas a aspectos distintos da fala, mas nenhuma mais importante ou relevante que a outra – inclusive porque relacionadas entre si. Assim, somente uma interpretação baseada no conhecimento não especializado, do senso comum, poderia sustentar que algum desses dois argumentos fosse mais

ARGUMENTAÇÃO COM O OPERADOR ALÉM DISSO

forte que o outro em uma escala que leve à conclusão do encadeamento. No entanto, o Locutor coloca em cena um locutor-linguista, ou um locutor-professor universitário, lugar de dizer que não autoriza a interpretação leiga, segundo a qual haveria, talvez, diferença escalar entre os argumentos.

Contudo, cabe lembrar que os sentidos promovidos por um texto não são apenas aqueles “pretendidos” pelo Locutor. Considerando-se, ademais, que os destinatários desse texto eram justamente falantes não especialistas em linguagem, mas interessados em geral, é preciso observar outros efeitos de sentido possíveis para ele. Nesse sentido, não podemos simplesmente descartar a hipótese escalar, sem antes dar continuidade à análise.

Se substituímos o operador por um outro que seja notadamente escalar, como até mesmo, podemos inclusive inverter a ordem dos argumentos que o resultado será sempre um encadeamento que marca o segundo argumento como sendo o mais forte da escala, independentemente de qual seja ele. Portanto, não são os argumentos em si, por sua força retórica, que têm forças distintas na argumentação. É o operador até mesmo que situa os argumentos, quaisquer que sejam eles, no ponto mais alto da escala argumentativa. O operador além disso não tem essa mesma propriedade, como podemos ver ao invertermos a ordem dos argumentos do encadeamento em análise, o que não altera a força da argumentação: A1 – Os textos escritos nas redes sociais usam

o português urbano brasileiro falado. A2 – Além disso, eles têm a cadência da fala. C – Portanto o distanciamento da oralidade não é um valor nos textos das redes sociais. Assim, mesmo uma leitura não

especializada do texto em análise não teria como sustentar uma diferença escalar entre os argumentos articulados pelo além disso.

Em segundo lugar, é preciso discutir a hipótese de haver polifonia nesse encadeamento. Tal como apontado acima, na análise da escalaridade, há apenas um Locutor nesse texto – especificamente no excerto estudado aqui, o Locutor não dá a palavra a outros Locutores, por exemplo através da citação; não há citações, não há menções a outros lugares de dizer. Há apenas um lugar de dizer assumido pelo Locutor, que fala do lugar social da autoridade em questões de

linguagem; isto é, ele coloca em cena o locutor-professor; e não apenas:

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Titular de Português e Linguística” (como mostram suas credenciais ao final do texto). Estes são lugares de autoridade no imaginário popular, que dão sustentação ao dizer do Locutor. Mas não há desdobramento, não há diferentes lugares de dizer, diferentes “vozes” apresentando os argumentos. Não há polifonia nesse encadeamento.

Ainda assim, por hipótese, poderíamos questionar se o primeiro argumento não estaria sendo apresentado como um já-dito, tal como ocorre com o não só... mas também... Desse modo, perguntaríamos se o argumento de que a estruturação própria da fala está presente na

escrita da internet não poderia ser interpretado como um argumento de “domínio público”, ou atribuído a outro Locutor, ou mesmo ao Alocutário. Não parece ser o caso, na medida em que estes sentidos provêm do mesmo lugar de dizer que aqueles promovidos pelo segundo argumento, de que a variedade linguística típica da fala está presente

na escrita da internet, a saber o do locutor-especialista em linguagem –

nem de um suposto segundo Locutor nem do Alocutário. Por um lado, como não há citação nem menção a outros textos, definitivamente não há mais de um Locutor em cena. Por outro lado, considerando-se o público alvo do texto – falantes interessados em linguagem, não- especialistas – não há como surpreender nos discursos desses Alocutários, do senso comum, nos dizeres leigos sobre a língua, afirmações como as que vemos no texto em análise sobre a estruturação da fala e da escrita, nem sobre as diferenças e semelhanças aí encontradas. Tal como foi sustentado no parágrafo anterior, ambos esses argumentos têm sua origem assimilada a um mesmo lugar de dizer, a um mesmo lugar social, o da autoridade em questões de linguagem.

Entretanto, se não há desdobramento polifônico, há um efeito de acumulação na argumentação. Vejamos: o Locutor diz que os textos escritos nas redes sociais têm a cadência da fala, a estruturação da fala. Esse argumento, sustentado com base em evidências linguísticas e na autoridade profissional do Locutor, poderia ser suficiente para concluir que o distanciamento da oralidade não é um valor nos textos das redes

sociais, que a escrita da internet não demanda distanciamento da oralidade. No entanto, o Locutor acrescenta um novo argumento,

introduzido pelo operador em análise, que reforça a argumentação: ele afirma que, além disso, os textos escritos na internet usam o português

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mais força. O segundo argumento, tomado isoladamente, também poderia ser suficiente para sustentar a conclusão. Contudo, ele não é apresentado como único argumento, mas como um argumento a mais na argumentação. Assim, o Locutor enuncia uma argumentação com dois argumentos, não apenas um – e destaca, através do além disso, o acúmulo dos argumentos.

Como mencionado na apresentação dessa hipótese18, essa análise é

compatível com os sentidos dados para o além disso em um dos bons dicionários do português brasileiro, um dicionário que se mantém atualizado em relação aos usos correntes na língua, o Dicionário Houaiss. Ali, o operador além disso figura, entre as locuções, no verbete

além, lado a lado com além do mais19. Na acepção 1, ele significa “ademais, de mais a mais”; na acepção 2, significa “também, ademais, outrossim”. Essas relações parecem, portanto, indicar que há um “algo a mais” na argumentação (ademais, de mais a mais), mas também um acréscimo de algo semelhante na argumentação (também, outrossim

[que equivale a do mesmo modo, igualmente]). A noção de acumulação,

tal como apresentada aqui, parece dar conta desses dois aspectos. Os argumentos se equivalem em força argumentativa, mas sua soma traz um algo a mais, mais força para a argumentação. Assim, a descrição inicial do operador fica mantida: a sua função essencial parece ser aditiva. No entanto, há também esse peso a mais trazido à argumentação como um todo pelo operador, que não configura escalaridade como supunham os estudantes que motivaram esse estudo, mas que não deixa escapar esse peso a mais trazido à tona pela intuição desses mesmos estudantes. Dizer que seu funcionamento é acumulativo apenas se acrescenta à sua descrição como aditivo, não se opondo a ela, mas especificando seu funcionamento, detalhando seu papel textual- discursivo.

Considerações finais

O trabalho sintetizado neste artigo permitiu concluir que, embora o funcionamento do operador além disso pareça ser de fato centralmente aditivo, os encadeamentos articulados em torno dele apresentam a soma dos argumentos como mais forte para a conclusão em jogo do que o primeiro argumento tomado isoladamente. A hipótese escalar, segundo a qual o segundo argumento seria apresentado como mais alto na escala argumentativa do que o primeiro, não se sustentou nas análises, porque

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na maioria dos textos não havia qualquer justificativa para se atribuir diferença de força argumentativa aos segmentos articulados pelo operador. Sempre que foi possível fazer uma interpretação escalar para os textos analisados na pesquisa, a escalaridade mostrou-se dependente da interpretação, variando fundamentalmente de um leitor para outro, sem que fosse possível encontrar alguma regularidade nesse funcionamento. Tampouco se sustentou a hipótese polifônica, segundo a qual o segundo argumento seria apresentado de uma perspectiva diferente do primeiro. Há textos polifônicos no corpus, porém não há indícios de que o operador em questão seja o responsável por marcar a polifonia. Com base na teoria da argumentação na língua, especificamente com o suporte da teoria argumentativa da polifonia e da teoria dos blocos semânticos20, e com base também na semântica da

enunciação, foi possível descrever o operador argumentativo além disso como tendo um funcionamento “acumulativo”.

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Palavras-chave: argumentação; escalaridade; polifonia; acumulação. Keywords: argumentation; scalarity; polyphony; accumulation. Notas

1 Os exemplos de 1 a 5 foram adaptados de Guimarães (2007, p.96-97). 2 O sinal (?) indica o estranhamento do enunciado.

3 Vemos aqui o duplo sentido que o conceito de frase assume em Benveniste, com um

aspecto sintático e outro discursivo: trata-se de uma unidade do último nível de análise linguística, mas trata-se também de uma unidade do discurso, “a manifestação da língua

na comunicação viva” (BENVENISTE, 1988, p.139).

4 ANSCOMBRE, J-C & DUCROT, O. (1976) L’Argumentation dans la Langue,

Language, 42, p.5-27.

5 Segundo Carel & Ducrot, esta definição foi originalmente elaborada em Anscombre

& Ducrot, em trabalho cuja referência eles não indicam.

6 O trabalho de Cláudia Lemos versa sobre a aquisição de linguagem, mas estas suas

considerações dizem respeito ao funcionamento linguístico-discursivo, não exclusivamente ao seu funcionamento na criança.

7 SAUSSURE, F. (1916/1987) Curso de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, p.144.

“... a noção de sintagma se aplica não só às palavras, mas aos grupos de palavras, às

unidades complexas de toda dimensão e de toda espécie (palavras compostas,

derivadas, membros de frases, frases complexas).”

8 Op. cit. p.146.

9 Refiro-me aqui ao sujeito de linguagem, constituído no seu próprio dizer, não ao

indivíduo empírico que fala. O sujeito se faz sujeito pela linguagem.

10 Este conceito de encadeamento argumentativo foi adaptado a partir de uma

formulação de Ducrot. Ver, por exemplo, Ducrot, 1999; ver também Campos, 2007.

11 1984 é a data da primeira publicação do livro que contém este artigo. A edição a ser

referida e citada neste trabalho é a de 1987.

12 Segundo o próprio Ducrot, a figura do autor empírico não interessa a linguística e

não será, portanto, tratada aqui.

13 Ou seja, a teoria não trabalha com valores de verdade, mas apenas identifica em

alguns dizeres a representação desses valores.

14 Cabe destacar que regularidade não é entendida aqui como homogeneidade,

tampouco como funcionamento regrado.

15 Ver seção 2.

16 Essas restrições dizem respeito, por exemplo, aos efeitos de sentido promovidos pelo

conectivo, cujo aparecimento impõe um certo funcionamento aos espaços abertos na cadeia, fazendo com que os segmentos que preenchem esses espaços funcionem seja como argumentos seja como conclusões, conforme os sentidos do conectivo atualizado na cadeia. No caso do operador além disso, essas restrições impõem que os segmentos

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