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O TABU DA GESTÃO Rentabilidade

4. ENTRADA NO CAMPO: A CIDADE ESTRUTURAL, A REDE SOCIAL DA ESTRUTURAL E POTENCIALIDADES POLÍTICAS DO MOVIMENTO

4.1. Uma análise histórica da formação da cidade Estrutural

O Distrito Federal enquanto unidade da federação de caráter diferenciada das demais possui em seu histórico de construção e expansão a mossa segregatória do espaço urbano. Entre as explicações mágicas, esotéricas e de fé, a transferência da capital do país, anteriormente no Rio de Janeiro, para o interior do Centro-Oeste foi antes de tudo um imperativo do modelo de desenvolvimento adotado nacionalmente. Brasília representou a busca pelo incremento da industrialização no país ordenada sob o manto do modo de produção capitalista de pensar a cidade enquanto “forma de agregação humana no espaço da urbanidade que, em última instância, é a condição social mais compatível com as exigências do capital avançado” (SOUZA, 2005:81).

Ammann (1991) destaca ainda que o processo de definição do Centro-Oeste enquanto espaço prioritário para dar vazão ao intento pela industrialização nacional característico do governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) está associado também a outro fator importante: Brasília enquanto ponto de conexão das diversas regiões agrícolas do país. E isto porque foi a vocação para agricultura que em muito subsidiou a industrialização nacional, seja através da destinação de produtos para exportação, garantindo assim a necessidade de bens primários e secundários, seja suprindo as necessidades das massas urbanas, permitindo o processo de acumulação urbano-industrial. O Sudeste – região que abrigava a então capital do país – carecia de expansão das fronteiras agrícolas sem contar que a própria transferência para Brasília dirimiria outras questões de ordem social e econômica que já vinham afetando a região, quais sejam:

“absorção de correntes migratórias que demandavam o Sudeste; articulação entre o polo industrial e as fronteiras agrícolas, representadas pelo Norte e pelo Centro-Oeste; base de expansão do capital financeiro; criação de mercado de trabalho na área de construção civil; ampliação do mercado

consumidor consubstanciada pela presença da alta burocracia e do pessoal de embaixadas; ponto de irradiação para ocupação da própria região” (FERREIRA APUD. AMMANN, 1991:38).

A instalação da capital, portanto, no Centro-Oeste deve ser compreendida a partir desta perspectiva de subsidiária ao processo de industrialização e corolário das transformações necessárias para constituição de um espaço citadino que correspondesse a este intento. A construção de Brasília iniciou-se em 1956 e o objetivo era que já no ano de 1961 ela fosse inaugurada.

Com a construção da nova cidade, um problema surge: como lidar com os resíduos sólidos gerados, os entulhos das obras? A cerca de quinze quilômetros do centro de Brasília se firma a solução: o Lixão da Estrutural. Inventariado em meado dos anos 60, o Lixão veio a se consolidar como alternativa, em princípio temporária, de descarte dos resíduos produzidos pela nova capital. Apesar de controvérsias em relação ao ano exato em que se constituiu este espaço, há análises que visualizam já na década de 70 que as primeiras famílias começam a ocupar os arredores do aterro construindo suas casas a partir de materiais oriundos da catação do lixo, ofício este que também servirá como meio de subsistência desses núcleos.

No final deste mesmo decênio outro importante fato para constituição da cidade foi a abertura da rodovia DF-095, Estrada Parque Ceilândia – EPCL, para interligar a Estrada Indústria e Abastecimento – EPIA, na altura da Cidade do Cruzeiro, à Taguatinga na altura da DF-001, também conhecida como Pistão Norte. Seguindo em frente chega-se à Ceilândia já na BR-070, que integra o Sistema Viário Nacional, rodovia radial, com sentido de Brasília a Cuiabá: uma Via Estrutural (DISTRITO FEDERAL, 2014).

Em 1989, foi criado o Setor Complementar de Indústria e Abastecimento – SCIA ao lado da Via Estrutural, como mecanismo que previa a remoção da invasão, para outro local. Várias tentativas foram realizadas neste sentido. Entre os episódios mais emblemáticos desta luta consta que em julho de 1997, quando quase 3 mil famílias já moravam em uma região no interior da Estrutural, o então governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque do PT ordenou que a Polícia Militar removesse 700 novos barracos. Mais de 1.700 policiais entraram na Estrutural e foram combatidos a pau e pedra. A PM usou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Cristovam, então, instalou uma administração militar comandada por um major (FORTES, 2010).

Muneto Orrego (2014), p. 75, retomando Costa (2011) também corrobora para esta análise

Entre 1997 e 1998, a população da Estrutural cresceu ainda mais, estimulada pelos confrontos políticos, sobretudo os grupos políticos de oposição ao governo de Cristovam Buarque. Os interesses eleitorais elevaram gradativamente o número de pessoas que diariamente chegavam à Vila, incentivando a ocupação irregular com promessas de que no local seria instalada a cidade. O deputado José Edmar liderou o movimento de moradia e de inquilinos no DF e começou a enviar moradores para a Vila Estrutural, dita ação também teve a Joaquim Roriz [ex-governador do Distrito Federal] como principal promotor.

Neste período também um novo assentamento dentro da própria Estrutural surge, denominado Setor de Chácaras Santa Luzia, formada por aqueles antigos moradores de outras zonas dentro da cidade que foram expropriados e também por aqueles que com a promessa de fixação buscavam um lote para residirem.

A cidade Estrutural vai se fomentando em termos de crescimento e assentamento de famílias que em busca de uma moradia invadiam novos locais dentro da região e construíam suas habitações. A década seguinte é marcada pela criação já em janeiro de 2004, da Região Administrativa XXV – SCIA, Lei nº 3.315, tendo a Estrutural como sua sede urbana além de abranger a Cidade do Automóvel, onde está localizada a sede da Administração Regional (DISTRITO FEDERAL, 2014).

De acordo com a Pesquisa Domiciliar por Amostra de Domicílios – PDAD elaborada pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal – CODEPLAN entre 2013 e 2014, a Região Administrativa conta com mais de 35.000 habitantes, sendo sua maioria homens (50,51%), na idade entre 15 e 39 anos (63,23%), não-brancos (cerca 76,85%), com uma escolaridade de Ensino Fundamental Incompleto (47,29%), empregados (48,12%), sem acesso a equipamentos culturais (uma média de 96% não frequentam museus, cinemas, teatros ou bibliotecas) ou esportivos (94,20% não frequentam espaços esportivos) e com uma renda per capita de R$428,00.

Outro dado importante referente a cidade vem da Pesquisa Socioeconômica em Territórios de Vulnerabilidade Social no Distrito Federal promovida pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos – DIEESE em 2011. Nela consta que a Estrutural é o 6º território com maior índice de vulnerabilidade social dentre 62 elencados. A pesquisa serviu de base para a implementação da política de Assistência Social de forma a atender as populações mais vulneráveis do Distrito Federal.