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UMA BREVE HISTÓRIA DA PARAÍBA

2 LUTAS E ESPERANÇAS

2.1 UMA BREVE HISTÓRIA DA PARAÍBA

(1930-1935)

A Paraíba dos anos 1930 era muito diferente da dos dias atuais, os valores da sociedade eram outros e as pessoas ainda temiam almas do outro mundo. A ca- pital era pequena, não chegando a ultrapassar quaren- ta mil habitantes, conforme as informações oferecidas por Aguiar (1999). Contudo, “o Estado se achava em

dificuldades financeiras. O funcionalismo não recebia seus vencimentos há meses; dívidas flutuantes e con- solidadas. Obras paralisadas, luta interna, luta políti- ca, revolução, combate de imprensa” (PINTO, 1973, p. 117). Essa situação refletia os próprios acontecimen- tos nacionais, como afirmou Mello (1978, p. 256):

A História política da Paraíba tem sido mais reflexo de acontecimentos nacio- nais do que expressão endógena dos seus próprios anseios, até bem porque sobre ela se refletem o despreparo das elites e a fragilidade dos partidos, ambos nitidamente sobrepujados pelo messia- nismo carismático dos chamados ho- mens fortes.

Embora o ano de 1928 não estivesse compreendido no recorte histórico que estava enfatizando, julguei ne- cessário referenciá-lo, haja vista ter sido o ano “em que João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque tomou posse na Presidência do Estado” (AGUIAR, 1999, p. 419), mudando o quadro que estava desenhado antes da sua administração. Representando esse “homem for- te”, sua prática administrativa fez a diferença em me- nos de dois anos de governo, conforme afirmações de Aguiar (1999). Para Silveira (1999, p. 70), “João Pessoa empreendeu uma política de reformulação do corone- lismo-oligárquico”, promovendo mudanças profundas a ponto de diminuir a dependência do estado com re-

lação a Recife. Quando João Pessoa assumiu o gover- no, havia uma crise instalada em todos os setores e ele teve que enfrentar a oligarquia dominante montada por seu próprio tio, Epitácio Pessoa, conforme ressal- tou Aguiar (1999, p. 425): “registram os jornais da épo- ca que, […] João Pessoa encontrou o Estado mergulha- do em crise profunda. Praticamente estávamos numa situação próxima à bancarrota…”. Posteriormente ao processo revolucionário, a Paraíba foi governada por Interventores Federais, sobre os quais Silveira (1999, p. 77) destacou:

O papel dos interventores foi, portanto, fundamental na tarefa de centralização. Sua condição de elemento de confian- ça do governo federal, por ele nomeado, conferia-lhe certa independência em re- lação às oligarquias locais, uma vez que não lhes devia sua permanência no car- go, centralizando o poder.

Com a morte de João Pessoa, em 1930, seu cargo foi assumido pelo interventor Antenor de França Na- varro, o qual, de acordo com Pinto (1973, p. 123), ad- ministrava de modo muito parecido com o de seu an- tecessor, inclusive afirmando que “nunca um discípulo assimilou tanto um mestre”. No entanto, Mello (1996, p. 39) alertou que, “com a evolução dos acontecimen- tos de Princesa, a administração estadual viu-se força- da a suspender as obras públicas da capital crescendo

o número de desempregados em mais de dois mil”. Pin- to (1973, p. 123) ainda referenciou que “o Estado tinha obras começadas por toda parte. Era desanimador o quadro administrativo. Seria possível […] reorganizar a terra-mãe, acabar com o caos e traçar novas diretrizes à vida do Estado?”. Não havia nada a se fazer, a não ser começar o trabalho.

Antenor Navarro governou até sua morte, em 1932, quando assumiu o exercício o senhor Gratuliano Brito, o qual, conforme Pinto (1973, p. 125), teve seu gover- no marcado por “dois acontecimentos que abalaram o País, com grande repercussão no meio estadual: a seca de 1932 e a revolução Paulista”. Essa região sentia as consequências da grande seca que começava em 1932 e era necessário empreender esforços para diminuir o sofrimento dos nordestinos. Pinto (1973, p. 125) enfa- tizou que Gratuliano iniciou seu governo

Com as maiores restrições de gastos em face da crise que grassava por toda par- te. Vencendo essas primeiras etapas de dificuldades, voltou-se para o ensino, dedicando toda atenção à instrução, in- clusive na campanha de alfabetização. Pensou em incrementar novas fontes de riquezas à Paraíba com o intuito de melhorar o nível de vida do povo, como ainda afastar a administração do regime de déficits, que as lutas, os contratem- pos, morte de João Pessoa, Revolução de

1930 e morte de Antenor Navarro tinham trazido à Paraíba. Para isso o desenvolvi- mento da administração, o planejamen- to, a fomentação de meios fiscalizativos seriam as premissas à obtenção do re- sultado almejado.

Gurjão (1994, p. 110) lembrou que “os conflitos que marcaram esta fase imediatamente pós-1930 resulta- vam da contradição entre as tentativas de institucio- nalizar um poder pós-revolucionário sobre a estrutu- ra política tradicional”, sendo o período compreendido entre os anos de 1930 e 1945 de grande importância no aceleramento do processo das mudanças em curso, o qual teve início com a

ruptura do pacto oligárquico que sus- tentava o bloco dominante durante a Primeira República, [que] caracterizava- -se pela diversificação na composição de forças políticas, viabilizando a emergên- cia de um novo Estado e a redefinição do poder das oligarquias regionais, em consonância com a transição para a pre- dominância da economia urbano-indus- trial. (GURJÃO, 1994, p. 14)

Essas mudanças políticas, econômicas e novas for- mas de organização social deram um novo rumo aos destinos do estado paraibano, promovendo maiores

mobilizações em partidos políticos e sindicatos, como também fazendo surgir outras instituições religiosas desvinculadas das Igrejas Católica e Protestante, as quais exerciam controle sobre a consciência dos ope- rários e sobre o trabalho assistencial que era desen- volvido nesse momento de crise, desempenhando uma importante função na história. Apesar de a Igreja Ca- tólica ter começado a perder espaço desde o final do século XVIII, foi importante destacar seu papel nesse período de crise.