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UMA CRÍTICA AO PROCESSO INTUITIVO: OS PENSAMENTOS DE HERBERT

2 INTUIÇÃO: INVESTIGANDO SEU SIGNIFICADO

2.4 UMA CRÍTICA AO PROCESSO INTUITIVO: OS PENSAMENTOS DE HERBERT

ALEXANDER SIMON E DE MAX BAZERMAN

Herbert Simon, o mais importante e influente representante do racionalismo

comportamentos administrativos por variáveis não-lógicas. Para Simon (1979) o comportamento

do indivíduo no ambiente organizacional é dotado de uma racionalidade própria e as variáveis

não-lógicas são obstáculos ao alcance dos objetivos de uma organização. Para o autor, tais

variáveis representam ruídos que devem ser neutralizados em benefício do atendimento dos

objetivos organizacionais .

Simon (1979, p. 78) pontua que “a racionalidade ocupa-se da seleção de alternativas de

comportamento preferidas de acordo com algum sistema de valores que permite avaliar as

conseqüências desse comportamento.” Especificando mais a racionalidade, ele diz que “a decisão

é objetivamente racional se representa de fato o comportamento correto para maximizar certos

valores numa dada situação” (SIMON, 1979, p. 79).

Para evitar interpretações dúbias, e adequar o conceito de racionalidade às diversas

situações que possam existir, o autor acrescenta cinco advérbios à palavra “racional”. Ele afirma

que uma decisão é subjetivamente racional, se ela maximiza a realização com referência ao

conhecimento real do assunto; é conscientemente racional na medida em que o ajustamento dos

meios aos fins visados constitui um processo consciente; é deliberadamente racional na medida

em que a adequação dos meios aos fins tenha sido deliberadamente provocada (pelo indivíduo ou

pela organização); é organizativamente racional se for orientada no sentido dos objetivos da

organização; e, é pessoalmente racional se visar aos objetivos dos indivíduos (SIMON, 1979)

Simon (1979) diferencia o homem econômico do homem administrativo: aquele, ao

decidir, maximiza seus esforços, selecionando a melhor opção entre as apresentadas, enquanto

que esse contemporiza, buscando um curso de ação satisfatório. Enquanto o homem econômico

acredita lidar com o mundo real, o homem administrativo percebe um modelo simplificado do

Embora o autor classifique as decisões como programadas e não-programadas, estas

imprevisíveis e variáveis, enquanto que aquelas rotineiras e repetitivas, afirma que no futuro, os

computadores irão programar a maioria das decisões consideradas não-programáveis.

Motta (1988, p. 81-82) ao descrever sobre a linha de pensamento de Simon, sintetiza:

O ganhador do prêmio Nobel, Herbert Simon, que desenvolveu a visão de que o indivíduo racional é organizado e institucionalizado, dedicou a maior parte de sua obra á procura da explicação e conciliação de princípios de racionalidade econômica que influenciaram as teorias clássicas de organização e os limites da racionalidade nas escolhas humanas. Construiu, assim, uma teoria administrativa baseada na racionalidade limitada do ‘homem administrativo’ que se opõe à racionalidade do ‘homem econômico’, retratado pela eficiência máxima no alcance dos objetivos organizacionais. Em seus trabalhos, Simon é insistente no fato de serem as organizações influenciadas pelos limites humanos no ato de processar informações. Segundo ele, os indivíduos não maximizam ou otimizam as informações mas satisfazem-se em função do número de informações que suas mentes podem alcançar e processar. Assim, ninguém decide por um processo racional de considerar todas as alternativas possíveis, mas através de simplificações da realidade ajustáveis à mente humana.

Simon (1979) observa que as Ciências Sociais padecem de uma esquizofrenia aguda no

tratamento da racionalidade. Em um extremo, os economistas atribuem uma absurda

racionalidade onisciente ao homem econômico. No outro extremo, os psicólogos sociais tentam

reduzir toda a cognição, a afeto.

Ao realizar novos comentários sobre seu livro, Simon (1997) apregoa que embora se

difunda a noção de que o julgamento intuitivo tem diferentes propriedades do julgamento lógico,

ele ressalta que as evidências indicam que as habilidades intuitivas dos administradores carreiam

uma quantidade considerável de conhecimento absorvida pela experiência e pela participação em

treinamentos. Esse conhecimento é organizado na memória em termos de padrões reconhecíveis e

informações associadas, cuja recuperação ocorre quando o indivíduo reconhece possíveis opções

para um determinado problema. Esse mesmo conhecimento aliado com algumas capacidades

dedutivas do indivíduo, como é o caso da análise meio-fim, permite soluções rápidas e

Simon (1997) afirma que ao invés de existirem dois tipos de gerentes – o intuitivo e o

racional – o mais plausível é a existência de uma série de estilos de resolução de problemas e de

tomada de decisão como resultado da combinação dos dois tipos de habilidades. O que vai

determinar qual estilo usar na resolução de problemas e tomadas de decisão é a natureza do

problema. O autor frisa ainda que não se pode desconsiderar os modelos analíticos, por se

acreditar que a intuição seja um processo separado deles.

Já Bazerman (2004) aborda a questão do processo decisório sob o ponto de vista dos

vieses cognitivos e como eles influenciam o julgamento dos tomadores de decisão, alertando que

as decisões irracionais refletem a confiança em vieses intuitivos que desprezam as possíveis

conseqüências das ações tomadas deliberadamente. O autor é um crítico contundente da

heurística, pois para ele, esse mecanismo conduz as pessoas a se desviarem de um processo de

decisão racional, levando os administradores a cometerem erros sistematicamente induzidos por

vieses. Bazerman identifica treze vieses cognitivos que influenciam as decisões: facilidade de

lembrança (eventos mais facilmente recuperados da memória são considerados mais numerosos

com base na sua recentidade e vividez); recuperabilidade (a avaliação que os indivíduos fazem da

freqüência de eventos sofre um viés no processo de busca da informação na memória);

associações pressupostas (os indivíduos tendem a superestimar a probabilidade de dois eventos

ocorrerem concomitantemente); insensibilidade aos índices básicos (qualquer informação, mesmo

que irrelevante, influencia os indivíduos na sua avaliação da probabilidade de eventos);

insensibilidade ao tamanho da amostra (ao avaliar a confiabilidade de informações amostrais, os

indivíduos freqüentemente falham na avaliação do papel do tamanho da amostra); interpretações

erradas da chance (uma seqüência de dados gerada por um processo aleatório parecerá “aleatória”

mesmo não sendo estatisticamente válida); regressão à média (indivíduos são propensos a ignorar

conjunção (dois eventos ocorrendo concomitantemente – a conjunção – são mais prováveis de

ocorrer do que um conjunto mais global de ocorrências); ajuste insuficiente da âncora (tendência

da mente de ancorar os pensamentos irracionalmente, contra dados e informações que possam ser

relevantes); vieses de eventos conjuntivos e disjuntivos (indivíduos exibem um viés em relação à

superestimação da probabilidade de eventos conjuntivos e à subestimação da probabilidade de

eventos disjuntivos); excesso de confiança (indivíduos tendem a demonstrar excesso de confiança

quanto à infalibilidade de seus julgamentos ao responder a perguntas moderadas ou

extremamente difíceis); armadilha da confirmação (indivíduos tendem a buscar informações

confirmatórias para o que eles acham que é verdadeiro e deixam de procurar evidências

desconfirmatórias); previsão retrospectiva e maldição do conhecimento (superestimar o grau de

previsão de um resultado após o seu prévio conhecimento e não ignorar as informações que

possuem, mas que os outros não possuem, ao prever o comportamento dos outros).

Para o autor as decisões de alto risco não podem ser confiadas na intuição, havendo

necessidade de se reduzir o efeito das distorções provocadas pelos vieses cognitivos, por meio de

decisões baseadas na racionalidade.