• Nenhum resultado encontrado

Uma Memória que Perdurou

ESTUDOS ESSAYS

9. Uma Memória que Perdurou

ESTUDOS / ESSAYS

71

que coabitara com Gardiner, que só recuperou a liberdade dois anos mais tarde. O breve relato que culmina no seu suplício em Lisboa difere, pois, em alguns aspectos, das fontes portuguesas.21

72 REAP / JAPS 31

Obras Citadas

Alves, Ana Maria. As Entradas Régias Portuguesas. Uma Visão de Conjunto. Lisboa:

Livros Horizonte, [s/d.]

Andrada, Francisco de. Crónica de D. João III. Introdução e Revisão de Manuel Lopes de Almeida. Porto: Lello & Irmão, 1976.

Bataillon, Marcel. Études sur le Portugal au Temps de l’Humanisme. Paris: Fundação Calouste Gulbenkian, 1974.

Braga, Paulo Drumond. D. João III. Lisboa: Hugin, 2002.

Buescu, Ana Isabel. “Fernando de Meneses Coutinho e Vasconcelos”. Dicionário dos Bispos e Arcebispos de Lisboa. Dir. João Luís Inglês Fontes; coord. António Camões Gouveia, Maria Filomena Andrade, Mário Farelo. Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa. Lisboa: Livros Horizonte, 2018. 575-584.

---. D. João III (1502-1557). Lisboa: Temas & Debates, 2008.

Carneiro, Pero de Alcáçova. Relações de (…) Conde da Idanha, do tempo que ele e seu pai, António Carneiro, serviram de secretários (1515 a 1568). Publicação, revisão e notas por Ernesto de Campos de Andrada. Lisboa: Imprensa Nacional, 1937.

Corpo Diplomatico Portuguez contendo os Actos e Relações Politicas e Diplomaticas de Portugal com as diversas Potencias do Mundo desde o século XVI até os nossos dias.

VII. Lisboa: Typographia da Academia Real das Sciencias, 1874.

Corpus Documental de Carlos V. Edición crítica, prologada y anotada por Manuel Fernández Álvarez. II. Madrid: Espasa Calpe, 2003.

Correspondance (La) des Premiers Nonces Permanents au Portugal (1532-1553). Ed.

Charles-Martial De Witte, 2 vols.. Lisboa: Academia Portuguesa de História, 1980.

Curto, Diogo Ramada. “A Capela Real: um Espaço de Conflitos (Séculos XVI a XVIII)”. Revista da Faculdade de Letras – Línguas e Literaturas, Anexo V – Espiritualidade e Corte em Portugal, Séculos XVI-XVIII. Porto, 1993. 143-154.

Danvila y Burguero. Alfonso. Don Cristobal de Moura, Primer Marqués de Castel Rodrigo (1538-1613). Madrid: Real Academia de la Historia, 1900.

Deswarte-Rosa, Sylvie. “Espoirs et désespoir de l’infant D. Luís”. Mare Liberum, 3, 1991. 243-298.

ESTUDOS / ESSAYS

73

Fernández Álvarez, Manuel e Ana Díaz Medina. Historia de España. Coord.

Montenegro Duque, Ángel. Vol. 8 – Los Austrias mayores y la culminación del Imperio (1516-1598). Madrid: Editorial Gredos, 1987.

Foxe, John. Book of Martyrs. A Complete and Authentic Account of the Lives, Sufferings, and Triumphant Deaths of the Primitive and Protestant Martyrs, in all Parts of the World. Londres: William Tegg, 1863 (1ª ed. : 1563).

Freeman, Thomas S. e Marcelo J. Borges. “A Grave and Heinous Incident Against our Holy Catholic Faith: Two Accounts of William Gardiner’s Desecration of the Portuguese Royal Chapel in 1552”. Historical Research, vol.69, nº169. 1-17.

As Gavetas da Torre do Tombo. V. Lisboa: Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, 1965.

Godinho, André Filipe Claro. A Invenção do Triunfo: Memória, Saberes e Sensibilidades nas Entradas Régias Portuguesas (Séculos XVI-XVII). Dissertação de Mestrado em História Moderna e dos Descobrimentos (policopiada) apresentada à NOVA FCSH, 2020.

Greswell, William. A View of the Early Parisian Greek Press, Including the Lives of the Stephani; Notices of Other Contemporary Greek Printers of Paris; and Various Particulars of the Literary and Ecclesiastical History of their Times.Oxford: Printed by S. Collingwood for D. A. Talboys, 1833.

Holanda, Francisco de. Da Fábrica que Falece à Cidade de Lisboa. Introdução, notas e comentários de José da Felicidade Alves. Lisboa: Livros Horizonte, 1984.

Kamen, Henry. La Inquisición Española. Una Revisión Histórica. 3ª ed. Barcelona:

Editorial Crítica, 2011.

Marques, A. H. de Oliveira. “Depois da Reconquista. A Cidade na Baixa Idade Média”. O Livro de Lisboa. Dir. Irisalva Moita Lisboa: Livros Horizonte, 2004.

89-113.

Meneses, Manuel de. Chronica do muito alto, e muito esclarecido príncipe D.

Sebastião, décimo sexto rey de Portugal (...). I – Que contém os successos deste reyno, e conquistas em sua menoridade. Lisboa: Officina Ferreiriana, 1730.

Montenegro Duque, Ángel. Los Austrias mayores y la culminación del Imperio (1516-1598). Madrid: Editorial Gredos, 1987.

Oliveira, Cristóvão Rodrigues de. Lisboa em 1551. Sumário em que brevemente se contêm algumas coisas assim eclesiásticas como seculares que há na cidade de Lisboa (1551). Apresentação e notas de José da Felicidade Alves. Lisboa:

Livros Horizonte, 1987 (1ª ed.: 1551).

74 REAP / JAPS 31

Paiva, José Pedro. Baluartes da Fé e da Disciplina. O Enlace entre a Inquisição e os Bispos em Portugal (1536-1750). Coimbra: Imprensa da Universidade, 2011.

Palomo, Federico. A Contra-Reforma em Portugal 1540-1700. Lisboa: Livros Horizonte, 2006.

Parker, Geoffrey. Imprudent King. A New Life of Philip II. New Haven/London:

Yale University Press, 2015.

Pereira, Isaías da Rosa. O Desacato na Capela Real em 1552 e o Processo do Calvinista Inglês perante o Ordinário de Lisboa. Separata dos Anais da Academia Portuguesa da História, II série, 29. Lisboa, 1984.

Porto, Hugo Filipe Teles. Os Cantores na Administração nos Reinados de D. Manuel e de D. João III. Dissertação de Mestrado em História Moderna e dos Descobrimentos (policopiada) apresentada à NOVA FCSH, 2014.

Stols, Eddy e Jorge Fonseca (coord.) Lisboa em 1514. O Relato de Jan Taccoen van Zillebeke. Cadernos de Cultura, 8 [2ª série]. Lisboa: Húmus, 2014.

Vasconcelos, Jorge Ferreira de. Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda, ao muito alto e muito poderoso Rei Dom Sebastião, primeiro deste nome em Portugal, nosso Senhor. Ed. conforme a de 1567. Prefácio, actualização, transcrição do texto e notas de João Palma-Ferreira. Porto: Lello Editores, 1988.

Veloso, José-Maria de Queiroz. D. Sebastião. 1554-1578. 2ª ed.. Lisboa: Empresa Nacional de Publicidade, 1945.

Villacorta Baños-García, Antonio. La Jesuita. Juana de Austria. Barcelona: Ariel, 2005.

Web

John Foxe British clergyman written by: The Editors of Encyclopaedia Britannica, actualizado por Kathleen Kuiper (senior editor).

https://www.britannica.com/biography/John-Foxe (consultado em 2020. 03.05).

https://www.britannica.com/biography/John-Foxe (consultado em 2022.07.20).

https://en.wikipedia.org/wiki/John_Foxe (consultado em 2022.07.20).

“Auiendole yo robado la mejor joya de su Corona para adorno de la mia, mas a trueque desta, emplearé la mia toda en defensa de la suya”.

(Carta de Carlos II a D. Afonso VI, 1662)

N 1.

o ano em que se assinalam os 650 anos da Aliança Luso-Britânica, a aliança diplomática mais antiga e ainda em vigor entre dois países, marcada pela assinatura do Tratado de Tagilde, em 10 de Julho de 1372,1 faz igualmente sentido evocar um dos momentos mais marcantes desta aliança de

1. Os primeiros tratados entre Portugal e a Inglaterra remontam ao século XIV, destacando-se o Tratado de Tagilde, aliança entre D. Fernando de Portugal e Eduardo III de Inglaterra, considerado o preâmbulo da aliança que ainda hoje vigora. Este tratado foi consolidado com a assinatura do “Tratado de Paz, Amizade e Aliança”, ou Tratado de Londres, em 16 de Junho de 1373, com o objectivo primeiro de auxílio mútuo em tempo de guerra, não contemplando quaisquer cláusulas comerciais, como sucedera com o tratado de 1353, pelo período de cinquenta anos, entre comerciantes de Lisboa e do Porto (representados por Afonso Martins, comerciante do Porto, mais conhecido por “Alho”) com Eduardo III de Inglaterra.

Poucos anos depois, a aliança foi reforçada com o Tratado de Windsor de 1386, de extraordinária importância na consolidação das relações anglo-portuguesas e com novas cláusulas relativas a aspectos políticos, militares e comerciais. Seguiu-se, em 1387, o casamento do Rei de Portugal com D. Filipa de Lencastre, dama inglesa que se tornou Rainha de Portugal, contribuindo, deste modo, para o estrei-tamento das relações de amizade entre as duas cortes. Posteriormente, foram sendo assinados outros tratados ao longo da história. Não deixa de ser pertinente mencionar que a aliança anglo-portuguesa, já vinha sendo preparada desde os primórdios da nacionalidade portuguesa com os contactos efectuados entre os primeiros reis portugueses e os cruzados ingleses a caminho da Terra Santa. Sobre a génese da aliança anglo-portuguesa pode ver-se Prestage 1936, Almada 1946 e Brazão 1955.

Evocação dos 360 anos do Casamento Real Anglo-Português de D. Catarina de Bragança com Carlos II de Inglaterra

Maria da Conceição Emiliano Castel-Branco (NOVA FCSH/CETAPS)

76 REAP / JAPS 31

longa data: os 360 anos do casamento real anglo-português de D.

Catarina de Bragança com Carlos II de Inglaterra que se cumprem no presente ano.

O casamento de D. Catarina de Bragança, Infanta de Portugal, com Carlos II rei de Inglaterra em 1662 constituiu um acontecimento de grande alcance internacional e de extraordinária importância no século XVII, no âmbito das relações luso-britânicas, após um longo e com-plexo processo de negociações que se estendeu durante largos anos.

Em 19 de Maio de 1661, teve lugar a comunicação pública e oficial do casamento por parte do monarca inglês ao Parlamento de Londres:

Hontem communicou elRey a nossa casa, a intenção, que tinha de se casar com a senhora Princesa de Portugal, (…). O Secretario Mauricio se levantou là de sima, & começou a relatar as razoes, que haviaõ movido, a elRey, a se resolver a concluir esta alliança, dandonos a entender, que S.

Mag. não tinha sómente respeito à sua propria satisfação na escolha, que havia feito de huma senhora de tam rara belleza, & de tam grãde virtude;

mas que tambem havia olhado para conveniencia publica, & bem comum de seu povo: Que este casamento, não era hum simples casamento de elRey de Inglaterra, com a senhora Princesa, mas do Reyno de Inglaterra cõ o Reyno de Portugal.” 2

O casamento real, redigido em Tratado de 1661 e concretizado com a(s) cerimónia(a) religiosa(s) em Portsmouth em Maio de 1662, resul-tou de um conjunto de conversações diplomáticas, atentamente obser-vadas – apoiadas ou rejeitadas consoante os casos –, pelas principais casas reinantes da Europa e pela diplomacia internacional. Tratou-se de uma conjugação de propostas e de uma intriga política em que as principais figuras intervenientes eram meros peões de um xadrez inter-nacional, numa época em que “o sistema de casamentos era a forma mais completa e segura das alianças dos estados”. (Sousa 69)

2. Os acontecimentos deste dia foram observados por Thomas Higgins, ministro favorável aos interesses de Portugal, que os descreveu por carta a D. Francisco de Melo, embaixador de Portugal em Inglaterra, como se pode ver em “As particularidades que succedèrão no Parlamento, quando nelle se tomou este assento, (...)”. (Melo 1661)

ESTUDOS / ESSAYS

77

Ao longo da História verifica-se, em geral, que os casamentos reais não são meras uniões individuais, mas alianças e compromis-sos de cariz diverso entre nações. A importância da aliança no con-texto europeu da época, o casamento real anglo-português de 1662, os desenvolvimentos que levaram à sua concretização, a assinatura dos Tratados foram objecto de atenção, reflexão e comentários no seu tempo e na posteridade por historiadores, memorialistas, poetas e escritores.

Em 1661, por exemplo, um ano antes da chegada de D. Catarina ao seu novo país, já o poeta Henry Bold, num poema de felicitação ao soberano pelo seu aniversário natalício e aniversário da Restauração da Monarquia, referia encomiasticamente a nova rainha que vinha de longe, os seus atributos e a sua singularidade:

(…) Loe! a Queen

Comming from farr! Fam’d Beauties Magazin!

The Wealth oth' World! the Glory of the Earth!

Fair as the Starr that blaz'd at Charles His Birth! (...) We’ll ‘bate the Spice and Camells (Gifts too small) Bringing Her single Self, She gives Us All. (Bold 1661)

Em 1662, James Howell em A Brief Account of the Royal Matches or Matrimonial Alliances, ao tecer algumas considerações sobre anterio-res alianças diplomáticas e sobre o estreitamento das relações entre o Reino de Inglaterra e o Reino de Portugal, afirmou, recordando uma outra união que resultou também em casamento real: “By the former Alliance [1386], it may be said that Portugal married with England, by this England hath married with Portugal.”3 (Howell 6)

3. Comentando os casamentos reais entre Portugal e Inglaterra, o autor conclui da seguinte forma:

King Charles the Second, married the Lady Catherine, sole Daughter to Don John the fourth King of Portugal, and Sister to Don Alonso the sixth now regnant, there was a matrimonial Alliance once before ‘twixt the Bloof Royal of England and Portugal, which was about Ann. 1376. between John the first King of Portugal, and the Lady Phillippa Daughter to John of Gaunt Duke of Lancaster. As that former was the fortunatest Alliance that Portugal ever made, by their own Confession, to this Day; so may this prove to England! May all the Blessings of Heaven be poured down on it, according to the due and daily Devotions of all true-hearted Subjects, and particularly of J.H. (Howell 6)

78 REAP / JAPS 31

Assim, são muitos e variados os aspectos a considerar relativamente ao processo que culminou com o casamento real de 360 anos atrás:

a política portuguesa de alianças; os impulsionadores do projecto de casamento de Carlos II com a Infanta portuguesa; a política inglesa de alianças; o dote; os Tratados de Junho de 1661; o embarque, a via-gem e a chegada de D. Catarina de Bragança a Inglaterra em 1662; o casamento religioso em rito católico e em rito anglicano; a viagem da Rainha de Portsmouth a Londres, passando por Hampton Court; e a recepção da Rainha portuguesa em Londres.

Na impossibilidade de abordar aqui todos estes conteúdos, preten-de-se, com esta evocação, apresentar e perspectivar, especificamente, a política portuguesa de alianças no período pós-Restauração, salientando essencialmente alguns dos antecedentes que conduziram à concretiza-ção desta união real, a relevância do dote da Infanta D. Catarina para a consumação da aliança de duas nações recém-restauradas, cultural e religiosamente muito diferentes, mas necessitadas de auxílio mútuo, considerando, em particular, os Tratados de 1661 e o casamento reli-gioso de 1662 em Portsmouth, à luz de anteriores e recentes estudos.4 A perspectivação destes factores permite encontrar ao longo do percurso da Infanta portuguesa, rainha de Inglaterra, uma visão recorrentemente dicotómica e controversa, desde a sua época até à actualidade, por parte de todos os que o observaram ou sobre ele se debruçaram.5