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VIVÊNCIAS POLÍTICAS

No documento UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS (páginas 153-160)

Associação Comunitária do Sítio Arruda foi criada no dia 12 de abril de 2006, conforme relato da Senhora Fátima Lourenço,128 secretária que fez todos os registros

históricos da referida associação, com o objetivo de “promover reuniões, estudos, encontros, debates e palestras com o fim de promover o desenvolvimento sociocultural e político da comunidade”, até então ela foi criada como associação comum, igual às demais do município de Araripe. No ano seguinte houve uma ação do Centro de Referência em Assistência Social (CRAS), por meio dos serviços de assistência sociais incentivou a comunidade a mudar a natureza organizacional, passando para uma associação quilombola. Para Severino Caetano as Assistentes Sociais fizeram um grande trabalho de conscientização, pois até aquele momento não sabíamos nada de quilombola, apesar de ser uma comunidade de negros e negras.

A Associação Quilombola do Sítio Arruda foi reconhecida de utilidade pública no dia 09 de julho de 2008, pelo Prefeito Municipal de Araripe, Sr. Francisco Humberto de Menezes Bezerra, por meio da Lei Municipal nº 853/2008. No ano de 2009 a comunidade encaminhou para a Fundação Cultural Palmares um abaixo-assinado solicitando a Certidão de Auto Reconhecimento como comunidade quilombola, vindo a ser certificada em 02 de março de 2009. E em 7 de abril de 2009 a comunidade encaminhou ao INCRA uma solicitação de reconhecimento e demarcação de seu território. Sendo que no dia 20 de julho de 2009 o Superintendente do INCRA no Ceará assinou a Ordem de Serviço nº 71/2009, através da qual designou uma Equipe Técnica, composta por um antropólogo, dois agrônomos, um geógrafo, dois procuradores federais, um economista e um assistente administrativo, com o objetivo de desenvolver pesquisas de campo e elaborar o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) do território pleiteado pela Comunidade. Os trabalhos de campo se iniciaram em fevereiro de 2010 e foram concluídos em setembro do mesmo ano. No período de 23 de fevereiro de 2010, a equipe técnica do INCRA iniciou os estudos preliminares para identificação e delimitação das terras ocupadas pelos remanescentes do Quilombo Sítio Arruda, tendo sido iniciado também o cadastro das famílias quilombolas e não-quilombolas e o levantamento da cadeia dominial, além da delimitação da área pleiteada. No dia 25/04/2016 a comunidade recebeu a escritura

128 Entrevista realizada com Fátima Lourenço, em 21 de outubro de 2016, por José Willame Felipe

provisória da área reivindicada, elevando-se para 334,34 hectares.

Atualmente moram no Sítio Arruda cerca de 180 quilombolas, destes, 97 são eleitores. Não existe uma determinação para que sigam um só candidato, são livres para escolherem seus representantes, no entanto, a organização da comunidade desperta interesses dos agentes políticos da região, são muitos os postulantes aos mandatos que visitam o quilombo. No processo eleitoral de 2016, para prefeito e vereadores, ouve uma orientação da liderança para votarem no candidato Giovane Guedes Silvestre, conforme afirma Severino Caetano, que representa o grupo político que vem trabalhando com a comunidade nos últimos anos; quanto aos vereadores, não houve orientação, cada eleitor escolheu o seu.

A liderança da comunidade quilombola do Sítio Arruda, representada pelo presidente Antonio Cruz, reconhece que a união dos moradores é a certeza de vitória, não seria fácil conquistar o que conquistamos sem união, percebemos um sentimento identitário, de valorização da negritude no meio dos moradores, somos respeitados pelo que representamos pra região e servimos de modelo pra outras comunidades.

A maior conquista política para quilombolas foi a regularização do território, para que houvesse reconhecimento das instâncias públicas, e segurança deles na produção agrícola, conforme afirma, o ex-prefeito de Araripe,129 Sr. José Humberto

Germano Correia, um colaborador no processo de negociação dos proprietários dos terrenos, com o INCRA, em 2010, para ele a posse da terra, representa muito:

A questão da posse da terra é importante, não só pra os quilombolas, mas para todos os que fazem a agricultura, principalmente no Nordeste, a agricultura de subsistência. O problema do agricultor é que ele está sempre trabalhando nas terras dos outros. E essa demarcação ela é importante, primeiro, porque garante a eles uma terra, onde eles não terão que pagar renda pra ninguém e nem ninguém vai poder tomar o que eles têm. Exatamente, para garantir que no futuro essas propriedades não sejam vendidas ou até propriedades que eles ocupem, no futuro sejam pelos seus descendentes, sejam também vendidas, e isso no futuro venha a desaparecer (...). Começa pela questão da propriedade da terra, que é muito importante para os quilombolas, pela questão da manutenção – digamos assim – do clã, para que eles continuem evoluindo e mantendo a sua tradição, o seu passado. E que eles tenham uma segurança, uma propriedade. Assim como para nós, que somos da cidade, é importante ter uma casa pra morar, pra eles, é ter uma terra pra viver. É uma questão onde a gente começa a ganhar um respaldo legal para essas atividades, para tentar dar um diferencial a essa comunidade, já que ela é uma comunidade diferente. Dentro dos preceitos da equidade, a gente pode a partir de agora ter mais respaldo e apoio para que

129 Esse depoimento do ex-prefeito de Araripe, Sr. José Humberto Germano Correia, encontra-se no

Laudo Antropológico da Comunidade Quilombola Sítio Arruda, elaborado pelo Antropólogo José da Guia Marques.

a gente possa atendê-los um pouco melhor, com recursos específicos, como eu disse anteriormente, recursos que vêm especificamente para eles (MARQUES, 2010, p. 40).

Percebe-se que o ex-prefeito de Araripe esboça uma reação de satisfação com o quilombo, para ele é uma comunidade diferenciada e os moradores reconhecem que as conquistas são fruto da unidade, por isso vivem de forma exemplar.

A professora Fátima Lourenço130 diz que os moradores da comunidade têm um

comportamento muito respeitoso. Os mais idosos e as lideranças são vistos pelos mais novos com admiração e respeito, não temos casos de agressões, de brigas tudo é resolvido no diálogo. Talvez seja esse comportamento que facilite todo o processo de organização, a democracia é exercida com plenitude e todos respeitam as decisões coletivas. O que se percebe é a comunidade crescendo em vários aspectos e alcançando importantes vitórias, porque se mantem coesa e focada na luta coletiva. Desde 2006 as lideranças vêm participando de fóruns, seminários, encontros e outros eventos em diversos locais do país, na busca de formação política.

Essas lideranças são renovadas. Como afirma Severino Caetano, não podemos ficar a vida toda à frente do movimento, é necessário envolver a juventude e é isso que estamos fazendo. A política é tratada com muito zelo na comunidade, os jovens são preparados ocupando cargos na diretoria da associação e participando dos eventos, fazendo assim a comunidade permanecerá por muitas gerações.

Fotos das lideranças da Comunidade quilombola Sítio Arruda que foram entrevistadas:

Foto 16: Raimunda Verônica do Nascimento Fonte: José Willame Felipe Alves

Foto 17: Maria Caetano de Souza Fonte: José da Guia Marques

Foto 18 - Antonio José do Nascimento Fonte: José Willame Felipe Alves

Foto 19: Severino Caetano de Souza Fonte: José Willame Felipe Alves

Foto 20: Antonia Pereira de Alencar Fonte: José Willame Felipe Alves

Foto 21: Antonio Silva Cruz Fonte: José Willame Felipe Alves

Foto 22: Maria de Fátima Lourenço Bispo Fonte: José Willame Felipe Alves

No documento UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS (páginas 153-160)