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Uma proposta de audiodesrição do documentário “A Marcha dos Pinguins” para o público brasileiro

O processo de audiodescrição de um filme é bastante complexo e tem várias etapas. A primeira delas é a elaboração do script do áudio original; então, vem a produção do roteiro audiodescrito, o qual trará as informações necessárias para a locução, que, depois de gravada, será mixada ao som original do filme. JIMÉNEZ (2007) resume o processo e explica sua complexidade:

A função sociocultural de tornar acessível um produto audiovisual passa, portanto, pelo processo cognitivo de traduzir imagens para palavras. O tradutor de imagens ou audiodescritor precisa do tempo necessário para introduzir tudo o que se projeta na tela, uma vez que não se pode interromper a trama nem sobrepor os elementos acústicos da peça audiovisual; é por isso que o segundo processo cognitivo importante que se realiza é o da seleção consciente de elementos de caráter visual que se deseja transmitir por serem mais relevantes para a compreensão da peça audiovisual como um todo. (JIMÉNEZ, 2007, p. 58)6

Ao longo de todo o processo, então, o audiodescritor deve atentar-se para diversos detalhes. A escolha lexical que faz, por exemplo, merece atenção especial porque, como dito anteriormente, ele não deve dar detalhes que possam revelar partes do enredo que o espectador poderá descobrir adiante.

3.1. Procedimentos Metodológicos

Durante o processo de audiodescrição, diversos aspectos devem ser considerados e observados. No caso deste trabalho, um aspecto de grande relevância é o tempo, pois, uma vez que se propõe a tradução de uma audiodescrição, é fundamental que na AD traduzida os tempos sejam semelhantes de forma que, ainda que haja variações, a narração não se sobreponha aos sons do filme.

6 La función sociocultural de hacer accesible un producto audiovisual pasa, por lo tanto, por el proceso cognitivo de traducir imágenes a palabras. El traductor de imágenes o audiodescriptor carece del espacio o tempo necesario para introducir todo lo que se proyecta em patalla, puesto que no puede interrompir la trama ni entorpecer los elementos acústicos del texto audiovisual; de ahí que el segundo proceso cognitivo importante que se realiza sea el de la selección consciente de elementos de caráter visual que desea transmitir por ser éstos de mayor relevância para La comprensión del texto audiovisual em su totalidad. (Tradução minha)

Para a realização deste trabalho, o primeiro passo foi a transcrição, realizada pela empresa VoiceBase, do roteiro audiodescrito. Com o roteiro audiodescrito em mãos, foi utilizada a ferramenta de transcrição automática do Youtube, que sincroniza as palavras digitadas com as ditas ao longo do vídeo. Para isso, basta colocar no site o texto digitado e a sincronização entre áudio e texto é automática. Embora essa ferramenta seja tecnicamente muito bem desenvolvida, não é muito precisa para a marcação dos tempos. Entretanto, no próprio site é possível editá-los de forma que fiquem sincronizados como se espera e foi o que fiz para a AD em inglês. A seguir, está uma tela que mostra como é possível editar e sincronizar as falas e a parte escrita.

Figura 9. Ferramenta do Youtube utilizada para sincronizar o roteiro audiodescrito com o áudio do filme.

Finalizado o processo de marcação dos tempos em inglês, teve início o processo de tradução. Primeiro, o roteiro foi traduzido para o português, sem observarem-se questões técnicas, como o tempo que levaria para ser narrado e como seria encaixado na versão em português.

Após a primeira versão da tradução, deu-se início à fase de encaixar o roteiro audiodescrito na versão brasileira do filme. Principalmente devido às diferenças na narração, muitas adaptações foram necessárias, fossem elas técnicas ou linguísticas. Para esse processo, também foi utilizada a ferramenta do Youtube, que permite, inclusive, editar o texto e o tempo no próprio site.

Feita a tradução e a marcação dos tempos, seguiu-se o próximo passo do processo: a gravação da narração. Uma etapa fundamental, porque ela é a responsável pelo ritmo da AD e pode interferir na compreensão da obra:

[...] devemos considerar a dimensão vocal da locução de modo a contribuir para a recepção das imagens mentais a serem construídas pelas pessoas de baixa visão, pois, determinados estados afetivos, como o medo, a ira, a alegria etc, são mais rapidamente inferidos a partir da expressões vocais. (CARVALHO, MAGALHÃES & ARAÚJO, 2013, p.151 )

Finalmente, a AD foi editada no filme e, então, obtive o resultado final que me permitiu analisar a viabilidade de se traduzir um roteiro do inglês para o português e saber se os tempos serão parecidos. Uma vez que as línguas apresentam estruturas diferentes e isso pode interferir no processo tradutório e na AD, o uso de softwares como o Subtitle Workshop e a ferramenta do Youtube, que fazem a marcação dos tempos, foi fundamental, porque foi a partir da análise desses dados que pude chegar às conclusões finais.

3.2. Um modelo proposto para o público brasileiro

Neste trabalho, foi tomado como base o modelo proposto pelo grupo de pesquisa da Universidade de Brasília, Acesso Livre, que estudou os modelos inglês e espanhol. A proposta do grupo parte do princípio de que o audiodescritor deve ter um olhar mais detalhista e é capaz de selecionar aquilo que é mais importante para a compreensão de um evento (ALVES, TELES& PEREIRA, 2011).

A partir dos aspectos observados, aparecem na proposta de modelo os seguintes itens:

1- Linguagem: A linguagem deve ser objetiva e devem ser evitadas interpretações;

2. Adjetivos: Os adjetivos descritivos são sempre muito presentes e colaboram para a compreensão da cena. Entretanto, é sempre importante lembrar que eles não devem refletir a interpretação do audiodescritor.

3. Advérbios: Os advérbios também podem servir como recurso para tornar a descrição mais clara, mas é necessário evitar que sugiram interpretações.

4. Ações: Buscar usar palavras que descrevam a ação com precisão.

5. Tempo verbal: indica-se usar o presente do indicativo.

6. Sintaxe: recomenda-se usar orações coordenadas, não muito complexas.

7. Personagens: A descrição dos atributos físicos, por exemplo, deve ser feita à medida que interfira na composição da cena. Não é necessária uma descrição detalhada, pois isso pode tornar a AD cansativa.

8. Estados Emocionais: descrever os elementos de forma que o espectador possa inferir o estado emocional dos personagens.

9. Nomes dos personagens: A eficiência ou não de se nomear os personagens pode variar de acordo com o contexto no qual estão inseridos e na obra como um todo.

10. Ambientação: É importante descrever os ambientes de acordo com sua relevância para a compreensão da obra, mas não é recomendável dar informações em excesso, pois isso pode desconcentrar o espectador.

11. Tempo: É importante localizar o espectador com relação ao tempo, por exemplo, quanto ao tempo que se passou entre as ações.

12. Elementos visuais verbais: Créditos, textos, títulos, legendas e intertítulos devem ser lidos, desde que não se sobreponham a imagens que estejam aparecendo concomitantemente e que serão importantes para a compreensão do enredo.

13. Narração: A narração deve ser fluida e não monótona, além de ter o cuidado para não se sobrepor a sons e diálogos importantes para a compreensão do enredo.

14. Antecipação da descrição da ação: A antecipação de ações ficará a critério do audiodescritor, que será o responsável por julgar a necessidade e os benefícios de se operar esse tipo de deslocamento.

Capítulo 4 – Análise da tradução da audiodescrição do documentário “A

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