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UMA PROPOSTA DE ANÁLISE PARA A ESTRUTURA DO DP

3. UMA PROPOSTA DE ANÁLISE PARA O DP POSSESSIVO NO PB

3.2. DPS POSSESSIVOS NO PB

3.2.1 UMA PROPOSTA DE ANÁLISE PARA A ESTRUTURA DO DP

Retomemos as duas hipóteses assumidas por Cyrino & Espinal (2013/2014) para o estudo dos BNs no PB:

H1: Na posição de argumentos, BNs são DPs com um determinante nulo e projeção de Número (Num P).

89 Cf. os estudos resenhados no capítulo 2. 90 Cf. capítulo 2 onde esse padrão foi discutido.

H2: Número é morfossintaticamente valorado e interpretado em D, mesmo quando o determinante é nulo.

A partir das duas hipóteses, Torres Morais propõe uma estrutura básica para o DP possessivo no PB. Como ela esclarece, porém, para tal tarefa é necessário considerar questões básicas, entre elas:

(i) A questão da natureza categorial do possessivo;

(ii) A questão da natureza semântica do artigo definido: como elemento portador da definitude ou vazio semanticamente nos contextos possessivos;

(iii) A questão do locus das mudanças que se observam na evolução do PB: o sistema dos definidos ou o sistema dos possessivos.

3.2.1.1 A natureza categorial dos possessivos pré-nominais e dos artigos

Com relação à distribuição dos possessivos a autora critica a rigidez das tipologias propostas em Schoorlemmer (1998) entre línguas do Tipo 1 (possessivo determinante) e línguas do Tipo 2 (possessivo adjetivo) e a divisão tripartite de Cardinalletti (1998) entre formas fortes e deficientes (possessivos fracos e clíticos), apoiando-se em autores como Ihsane (2000), Alexiadou (2004) e von Peterghem (2012), para propor que os paradigma dos possesivos são heterogêneos, entre as línguas e dentro de uma mesma língua. Com base em diferentes línguas românicas, pode-se distinguir os possessivos em três tipos: pronomes, adjetivos e determinantes. Para tanto, é importante reconhecer a natureza dual dos possessivos: sintaticamente ocorrem em posição adnominal (como modificadores ou especificadores); do ponto de vista semântico e referencial comportam-se como pronomes, uma vez que podem se referir a uma entidade, o possuidor, o qual pode ser identificado deiticamente ou anaforicamente.

Como Torres Morais ressalta, com base em van Peteghem (2012), o padrão de concordância no interior do DP possessivo mostra a sua natureza dupla. Assim, enquanto pronomes, os possessivos herdam seus traços de pessoa e número, do antecedente ou referente. Enquanto adjetivos, concordam em gênero e número com o núcleo (possuído).

No entanto todas as formas possessivas exibem concordância de pessoa e número com o possuidor. E número e gênero com o possuído. O padrão duplo se expressa de forma distinta na morfologia: com o possuidor a concordância é expressa pela raiz das formas possessivas,

portanto lexicalmente, o que configura um acordo referencial, não concordância gramatical. Ao contrario a concordância com o nome é marcada por morfemas flexionais, ativada por relações gramaticais.

A autora assume ainda o padrão de gramaticalização proposto em von Peteghem (2012), no qual, através do desenvolvimento diacrônico, os possessivos passam por duas fases: formas fortes se tornam fracas em posição pré-nominal, usadas com outros determinantes, e as formas fracas tendem a ocupar a posição de determinante, sofrendo cliticização. O processo de gramaticalização está mais avançado no francês, uma vez que as formas possessivas não mais apresentam propriedades adjetivais. O menos avançado é o italiano onde os possessivos são ainda adjetivais. Torres Morais assume que este é o caso do PB, segundo ela evidenciado pelo fato de que o possessivo pré-nominal ocupa uma posição funcional distinta do determinante em D, e apresenta a concordância adjetival com o núcleo do NP possuído.

O estatuto categorial dos possessivos como adjetivos em posição pré-verbal, leva a autora a propor que estrutura do DP possessivo implica a projeção de uma categoria funcional dentro do conjunto de projeções funcionais no domínio DP. A categoria, denominada FP pela autora, é semelhante à categoria PossP, proposta por Rinke (2010), projetada entre o DP e NumP. Assim, tanto no contexto dos nomes relacionais ou não relacionais, o possessivo é gerado no Spec, FP e recebe caso genitivo inerente do núcleo funcional que o introduz (cf. ZRIBI-HERTZ (2007); GUERÓN (2007)).

Portanto, podemos concluir que a proposta de Torres Morais, no que concerne ao estatuto categorial do possessivo pré-nominal no PB, vai contra a proposta de Castro (2006), a qual afirma que não há distinção categorial no sistema dos possessivos no PB e PE. Como vimos, a autora trata os possessivos nas duas variedades do português como núcleos, comportando-se diferentemente dos possessivos XPs, do tipo italiano.

Quanto à variação na presença vs. ausência do determinante no interior dos DPs possessivos, fica claro que Torres Morais não atribui a eles o estatuto de elementos expletivos, uma vez que a sua análise se baseia na sintaxe e semântica dos BNs, desenvolvida por Cyrino & Espinal (2013/2014). Assim, a variação presença vs. ausência dos determinantes é apenas no nível pós-sintático, o mesmo ocorrendo com a variação na concordância dos traços de Número. Com isso, a estrutura do DP possessivo não se altera. No entanto, segundo a autora, a presença do possessivo altera a dinâmica na qual os traços de Número são morfossintaticamente interpretados, como ilustrado em (19a-b):

(19) a. [DP a/∅ [FP minhas [ F [ iNUM] [NumP Num [iNUM] [nP n [uNUM] [N bicicleta]]]]] b.[DP a/∅ [FP minhas [ F [ iNUM] [NumP Num [iNUM] [nP bicicleta [iNUM] [N bicicleta]]]]

Nessas estruturas temos as seguintes operações:

(20) a. O traço inerente [iNUM] é compartilhado entre Num e F, o núcleo do FP, que introduz o possessivo na posição de Spec, FP.

b) O traço [uNUM] de n é valorado e o nome bicicleta é movido para n. A relação é sintática e determinada por c-comando;

c) O traço [iNUM] em F é realizado morfofonologicamente pelo possessivo pré-nominal, gerado em SpecFP;

d) A concordância morfofonológica de número no nome e no determinante é pós- sintática, não estando representada na estrutura.

Como acima comentamos, Torres Morais afirma que, embora os traços de Número [iNUM] em D, típicos dos DPs definidos tenham sido valorados em F, isso não significa considerar que o artigo (nulo ou realizado), gerado em D, seja um expletivo, vazio semanticamente, de modo ficando o possessivo como o marcador de definitude e possessividade, como proposto por Castro (2006).

Com base nessas reflexões, a autora reformula a H2 para o PB nos seguintes termos:

(i) D é o local da definitude;

(ii) O determinante, nulo ou realizado, é obrigatório para expressar a definitude; (iii) Na estrutura interna do DP possessivo, o traço [iNUM] é morfossintaticamente

interpretado em F;

(iv) A categoria que porta a marca de Num é a primeira categoria funcional que merge após NumP.

Nas palavras da autora, reproduzidas abaixo, temos as suas conclusões:

I assumed the analysis of BNs in BP put forward by Cyrino & Espinal (2014). I showed that it must be adapted to account for differences observed between EP and BP in the realm of the Possessive DP. I left implicit the idea that BP definite article is not a lexical or null expletive. In particular, its optionality is only apparent because BNs and possessive DPs, with null articles, are definite DPs.

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