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Uma proposta de roteiro para elaboração e implementação de planos de adequação

6. CONCLUSÕES

6.2. R ECOMENDAÇÕES

6.2.1. Uma proposta de roteiro para elaboração e implementação de planos de adequação

Sem a menor pretensão de encerrar a discussão, mas do contrário, apenas para provocá-la ainda mais, sempre com a intenção de contribuir com o debate sobre a efetividade das políticas ambientais, nos arriscamos a propor um roteiro de procedimentos práticos para a implementação de planos de adequação ambiental, a partir das conclusões do presente estudo, o qual procura indicar as condicionalidades para tal fim.

As sugestões apresentadas visam a obtenção de eficácia e efetividade da gestão pública para atingir tal objetivo. Contudo, é necessário ressaltar os riscos dessa tentativa, em face da complexidade que envolve o tema, as especificações de cada tipo de atividade e a realidade de cada território.

Sugestão de procedimentos para a elaboração e implementação de planos de adequação ambiental de atividades produtivas

Etapa 1: Planejamento

1.a- Articular reunião entre os diversos órgãos de gestão e controle ambiental para definir atribuições e elaborar um calendário de atividades;

1.b- Elaborar diagnóstico ou avaliação dos impactos ambientais da atividade, considerando a atuação de todo o conjunto das empresas que atuam no determinado território;

1.c- Realizar reuniões preparatórias com os atores locais: representantes das empresas, dos trabalhadores, e da sociedade civil organizada, para provocar a mobilização desses atores; 1.d- Realizar reuniões preparatórias com representantes do mercado consumidor do(s) produto(s) que são objeto da atividade e integrá-los no processo de adequação ambiental;

1.e- Elaborar o mapa com os impactos ambientais negativos, as irregularidades ambientais que lhe dão causa e as medidas saneadoras correspondentes;

1.f- Articular os diversos órgãos públicos de desenvolvimento, infraestrutura, fomento e apoio técnico, para mapear a existência de ações governamentais de apoio à atividade irregular; 1.g- Elaborar o Plano de Adequação Ambiental da atividade produtiva irregular, com o envolvimento de todos os órgãos que irão atuar na etapa de sua implementação, o qual deverá conter a definição de metas, prazos, responsáveis, e resultados esperados;

1.h - Elaborar um plano de sensibilização ambiental destinado a todos os segmentos envolvidos nos processos ambientais que relacionem ao arranjo produtivo da atividade.

Etapa 2: Implementação

2.a- Realizar audiências públicas com todos os atores envolvidos nos processos ambientais que envolvam o arranjo produtivo da atividade, com a participação dos trabalhadores do setor e da sociedade civil organizada;

2.b- Propor a celebração de termos de ajuste de conduta, preferencialmente com interveniência do Ministério público, definindo prazos negociados para a adequação voluntária das empresas; 2.c- Iniciar imediatamente a fiscalização sobre as empresas que não aderiram ao termo de ajuste de conduta, autuando e interditando aquelas que não possuam licença ambiental ou estejam descumprindo suas condicionantes até que tais irregularidades sejam corrigidas; 2.d- Elaborar programa de monitoramento ambiental da atividade.

Etapa 3: Monitoramento e Avaliação

3.a- Manter a realização de ações sistemáticas de fiscalização e auditorias ambientais sobre todas as empresas que atuam na atividade, em caráter permanente e frequência regular;

3.b- Manter a realização sistemática de reunião de avaliação entre as diversas instituições governamentais envolvidas no Plano de Adequação Ambiental, com o objetivo de avaliar os resultados do plano, a partir do uso de cada instrumento de gestão;

3.c- Após o primeiro ano do início do plano de adequação, realizar uma nova audiência pública com todos os atores envolvidos nos processos ambientais que se relacionem ao arranjo produtivo da atividade, com participação dos trabalhadores do setor e da sociedade civil organizada, para avaliar os resultados obtidos no processo de adequação e possíveis ajustes a serem incorporados à licença ambiental da atividade;

3.d- A cada três anos, manter a realização de novas audiências públicas com todos os atores envolvidos nos processos ambientais que envolvam o arranjo produtivo da atividade, com participação dos trabalhadores do setor e da sociedade civil organizada, para avaliar os resultados obtidos no processo de adequação e possíveis ajustes a serem incorporados à licença ambiental da atividade.

O Plano de Adequação Ambiental de Atividades Irregulares deve utilizar as ferramentas de planejamento estratégico para definição de metas, ações, prazos, resultados esperados e respectivos responsáveis. Além de ações que devem ser definidas a partir da realidade de cada atividade, o plano deve conter:

a) Ações de sensibilização voltadas a todos os segmentos relacionados com os processos ambientais dos arranjos produtivos da atividade, com estratégias tanto para os empreendimentos que são diretamente responsáveis pela irregularidade, como para os grupos que consomem os produtos daquela atividade irregular.

b) Ações de mobilização e interlocução junto aos grupos sociais atingidos pelos danos ambientais da atividade a ser adequada.

c) Propostas de instrumentos econômicos para incentivo à adequação ambiental;

d) Avaliação das condicionantes ambientais previstas nas Licenças de Operação específica para a atividade irregular, considerando os danos ambientais a esta relacionados, para que as Licenças contenham todas as condicionantes necessárias para ajustar as irregularidades existentes.

f) Estratégia para adesão ao instrumento de adequação voluntária, que pode ser um Termo de Compromisso (TC), ou um Termo de Ajuste de Conduta (TAC), a serem propostos às empresas produtoras e às empresas consumidoras, com definição prévia dos limites dos termos e dos prazos a serem acordados, além das sanções pelo descumprimento;

g) Estratégia de ampla divulgação junto à sociedade em geral, para conhecimento sobre as iniciativas do Plano de Adequação, seus objetivos, etapas, TACs celebrados e os resultados esperados.

h) Sistemática de fiscalização junto às empresas que não aderirem ao TAC, com início imediato após o encerramento do prazo para adesão voluntária;

i) Sistemática de monitoramento sobre o cumprimento dos TACs firmados;

j) Sempre que for tecnicamente viável, deve ser realizada uma mobilização dos principais grupos ou mercados consumidores e fornecedores dos bens e serviços consumidos e produzidos pela atividade objeto do plano de adequação, para mediar ou regulamentar a adoção de critérios ou condições mínimas para aquisição desses produtos, de forma que as empresas que estejam irregulares sofram

restrições de comercialização pelo próprio mercado. Recomenda-se a celebração de TACs junto às empresas que compram produtos daquele setor sob adequação, de forma que estas se comprometam a não adquirir produtos dos empreendimentos que não possuem licença ambiental. Depois de notificadas sobre a relação dos fornecedores que operam de forma ilegal, as empresas consumidoras que insistirem em adquirir produtos dos fornecedores ilegais devem responder pelas mesmas consequências administrativas e criminais que o seu fornecedor ilegal, como prevê o art. 2º da Lei de Crimes Ambientais. O mesmo deve ser realizado com as empresas fornecedoras de insumos para o setor sob adequação. Em muitos casos, alguns insumos são fornecidos por um pequeno grupo de empresas. Quando isso ocorre, a celebração de um TAC com essas empresas para que se restrinjam a não fornecer insumos aos empreendimentos que não possuam licença ambiental pode garantir importantes resultados.

A estratégia de divulgação sobre a execução do Plano de Adequação Ambiental visa não apenas a sua legitimação junto à opinião pública, bem como à prevenção para que as empresas que pretendam não aderir aos TACs, ou a descumprir os seus termos, não busquem subterfúgios políticos e/ou judiciais para favorecer a permanência das irregularidades, permitindo ainda que a sociedade possa acompanhar todas as etapas do processo de adequação ambiental e resultados alcançados.

Após o prazo limite para adequação, deve-se iniciar imediatamente a sistemática de fiscalização em todo o conjunto de empresas da atividade e das empresas consumidoras, em caráter permanente.

Com relação às ações de fiscalização, em caso de ausência de licença ambiental, além da infração administrativa, a empresa deve ser imediatamente interditada, de forma que tal instrumento de gestão ambiental seja consolidado como o principal mecanismo de controle ambiental, que é a base do processo de adequação das irregularidades causadoras dos impactos ambientais que se pretende sanar. Em caso de descumprimento das condicionantes ambientais previstas na licença respectiva de cada empreendimento, além da multa correspondente, a empresa deve ser interditada até ulterior correção da irregularidade, quando a manutenção desta acarretar em danos diretos ao meio ambiente. Apenas quando se tratar de descumprimento de condicionantes que versem sobre procedimentos formais, não causadores de danos diretos ao meio ambiente, não se justifica a aplicação da medida restritiva do embargo numa primeira abordagem, devendo a empresa ser multada administrativamente e instada a promover a regularização em um prazo determinado.

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