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uma reflexão do processo de requalificação do bairro do Catolé.

No documento Campina Grande hoje e amanhã (páginas 107-111)

Maria Jackeline Feitosa Carvalho Rayanne Rachel Gomes Farias

Introdução

O

presente artigo tem por objetivo analisar o processo da requa-

lificação urbana ocorrida no bairro do Catolé e o conjunto de transformações socioespaciais que inauguraram, acentuada- mente a partir dos anos 1990, um contexto de intensas modificações deste espaço. Modificações essas dadas em um desenho formulado, por intervenções públicas e privadas, que estabeleceu a inserção de uma imagem estratégica deste bairro na cidade de Campina Grande: espaço característico de crescentes empreendimentos imobiliários.

O Bairro do Catolé, situado na zona Sul da cidade de Campina Grande - PB na sua origem era dividido “em quatro setores distintos: a baixa do pau,

a terra do santíssimo, catolé e o prado”. 1 A área mais conhecida era a do

Prado, devido na referida área ocorrer corridas de cavalos. No advento da reforma urbana de Campina Grande na década de 1940, essa localização (atual Catolé) torna-se bairro, sendo chamado bairro do Prado. Esta loca- lidade abrigou a população operária das antigas indústrias de Campina Grande como a SANBRA e a ANDERSON CLAYTON.

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O bairro do Prado evoluiu muito principalmente na década de 1980, sendo substituído pelo nome Catolé, que correspondia a uma demanda de terras pertencentes a uma família que tinha esta nomenclatura como sobrenome. (FARIAS, 2011, p.133). A origem do Bairro pode ser representada pelos relatos dos antigos moradores abaixo:

(...) o Catolé se destacou muito na época porque tinha uma família, ainda tem em Campina muito grande, que o ramo deles era o ramo de gado e cavalgada e esse tempo tinha uma tal de derrubada de boi aqui, que era o Prado,(...) foi Prado, então o finado Jiló Guedes de Andrade, que era de uma família tradicio- nal aqui, inventou essa corrida de cavalo (...) a corrida de cavalo do Prado, essa daí me marcou pelo resto da vida, eles correndo a cavalo e a gente correndo com os cavalos de pau atrás e com uma vara (...) sim esse bairro aqui é da cor de sangue rapaz, bem “vermelhinho” aí, depois, foi que calçaram. (I.M, 80 a, morador

do Bairro).

O bairro apresenta na sua gênese aspectos primordialmente rurais, com parca infraestrutura caracterizado pelas vastas áreas de plantação de aveloz, de criação de cavalos e gados e pela realização de corridas envol- vendo os mesmos.

Por aqui não tinha nada de casa, só na Santa Margarida que hoje é a Rua Elpídio de Almeida. Essa área pertencia a Aluízio Campos e existia aqui perto uma Cerâmica e o Curtume dos Motta que era o ponto mais conhecido do setor. Lá na frente é que tinha umas casas como a de William Tejo. (...) Ninguém queria morar no Catolé, no Prado (...). Aqui próximo tinha uma lagoa, perto de onde hoje é o Parque da Criança, a gente ia lavar roupa lá. Daqui de onde eu moro até o Amigão era só uma fila de avelozes, tinha muito roçado, uma casa aqui outra acolá. As ruas não tinham nem calçamento, quando eu vim morar aqui não tinha comércio nenhum (...). Não tinha também rede de esgoto nem saneamento, na Elpídio de Almeida tinha um cha- fariz onde o pessoal ia pegar água. Com relação a comércio só existia mercearia, bodega. Por aqui as casas eram de alvenaria, nessa rua só tinha umas quatro ou cinco casas. Até o final dessa

rua era só terreno vazio, mato, tinha muito roçado no bairro do Catolé (...) (M.Z, 83 a, moradora do bairro).

Podemos assim afirmar que o bairro possuía um número mínimo de empreendimentos residenciais e comercias.

Isso aqui não tinha nada de casa não, isso aqui era só capoeira e (...) essa Elpídio de Almeida era uma estrada que ia lá pra doutor Argemiro (...), num tinha nada de movimento ou envolvimento aqui, num tinha casa num tinha nada, nem tinha luz nem tinha água (...). A Vigário Calixto, tinha a Vigário Calixto que hoje é essa pista que vai pro amigão ali não existia (...) pra cá não tinha nada (se referindo ao entorno da sua casa) ai o povo criava gado (...). (G.S, 85 a, morador do Bairro).

O Bairro fora se desenvolvendo sendo implantado no mesmo alguns empreendimentos comerciais que vieram a modificar suas caracterís- ticas socioespaciais. A partir dos anos 1970, passam a requalificar o Bairro e suas dimensões através de um processo de abertura de ruas, avenidas, calçamentos, iluminação de vias. Observa-se que o processo de requalificação urbana do bairro do Catolé se inicia nos anos 1970 em parceria entre governo federal e prefeitura (PMCG) pelo Programa CURA (Complementação Urbana de Recuperação Acelerada), o qual se objetivou consolidar áreas ociosas pela urbanização e valorização dos investimen- tos realizados.

O CURA almejava consolidar uma imagem moderna de Campina Grande e do Catolé, norteado por um planejamento centralizador e auto- ritário. O Catolé constitui-se então como zona de expansão da cidade no sentido Sul, tendo como principal mudança no traçado viário algumas ruas, que se tornariam as suas principais vias de acesso e de comércio, e recebeu intervenções públicas importantíssimas como: a construção do Estádio Ernani Sátyro (1974); do Terminal Rodoviário Argemiro de Figueiredo (1985); do Shopping Luiza Motta (1991); do Parque da Criança (1993); e do Shopping Center Iguatemi (1998), atualmente deno- minado de Boulevard. O processo de requalificação urbana do Catolé, no que tange aos investimentos públicos, incentivou a construção da infra- estrutura de suas novas centralidades e consequentemente, modificações da utilização do espaço.

Reconstruído através do CURA o bairro se reestruturou onde, para tanto, tornou-se necessário a remoção dos cortiços ali presentes,

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resultantes da aproximação das fábricas e indústrias anteriormente localizadas no bairro. É notória a intenção de higienização do mesmo, pois, baseado na justificativa oficial de assegurar a conservação do cen- tro da cidade de Campina Grande, parte da população pobre do Catolé foi removida para as franjas e/ou periferias precárias de serviços públi- cos aumentando ainda mais a desigualdade sociourbanísticas em termos locais. O processo de requalificação urbana do Catolé, no que tange aos investimentos públicos, incentivou a construção da infraestrutura de suas novas centralidades e consequentemente, modificações da utiliza- ção do espaço.

De modo geral, podemos situar que a partir dos anos 1970 Campina Grande passa por relevantes transformações em seu traçado urbano, por intervenções urbanísticas as quais consigo colocarão crescentes contras- tes e heterogeneidade que se impõem na estruturação da cidade e que irão interferir decisivamente em seu espaço público. É interessante assim percebermos, partir da apreensão destas transformações, de que modo o Catolé emerge por uma mudança em sua origem -- proletária -- a um tipo de intervenção, inicialmente estatal, que o redefine através de uma visão integrada, espacial e social imposta por um outro sentido ao seu espaço público, que passa a ser delimitado por práticas sociais e características físicas que, acentuadamente a partir dos anos 1990, alteram o seu traçado urbano estimulando um tipo de ocupação que coloca por uma complexa e diversa dinâmica em seu espaço público atual.

Pois o traçado urbano do bairros outrora precário, desorganizado e desalinhados, passa a ter a necessidade de se moldar aos padrões esta- belecidos pelo desenvolvimento urbano. Ou seja, o Catolé, tal como os bairros proletários na sua origem, era vinculado a aproximação com os locais de trabalho de seus primeiros moradores, como forma de facilitar o acesso dos operários ao mesmo.

De tal forma que caracterizado pela ausência de infraestrutura, de con- dições mínimas de moradia, fatores que são de responsabilidade do poder público e, muitas vezes, transferidos à iniciativa privada no intuito de racionalizar o erário e ao mesmo tempo embelezar os bairros e, conse- quentemente, a cidade que passa a ser mais uma mercadoria com atrativos à sua comercialização. (MALEQUE, 2007).

No documento Campina Grande hoje e amanhã (páginas 107-111)