4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
4.2 ANÁLISE DOS DADOS
4.2.2 Uma tecnologia relacionada ao tema é analisada
Depois da exibição dos vídeos sobre Chernobyl e Fukushima começamos a investigar o funcionamento de uma bomba atômica e de uma usina nuclear a fim de discutir a relação entre a ciência e a tecnologia no contexto social em questão nessa atividade. Para isso, os alunos reuniram-se em grupos novamente para discutir como eles acreditam que seja o funcionamento de uma bomba atômica e de uma usina nuclear.
Quadro 14 - Orientação para a atividade de levantamento de hipóteses sobre o funcionamento da
b bomba atômica e da energia nuclear
Professor: “Agora vocês irão se reunir em grupos de 3 a 5 pessoas e vão discutir como funciona uma bomba atômica e uma usina nuclear? Como fazemos para que aquela energia que discutimos na última aula seja liberada?
Fonte: do autor.
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Quadro 15 – Transcrição da fala dos alunos: Sistematização dos conhecimentos
Turno Enunciado
48 Professor: “Gostaria agora que vocês falassem o que discutiram sobre o funcionamento de uma bomba atômica e a usina nuclear. Vocês podem falar à vontade, mas todos os grupos devem falar. Vamos começar pela bomba”
49 Aluna Fabiola: “É por causa do impacto, professor.”
50 Professor: “Então a energia é liberada por causa do impacto. Mas impacto de quem com quem?”
51 Aluno Caio: “Da bomba com o solo.” 52 Aluna Fabiola: “Não só com o solo....” 53 Aluno Renato: “Com o ar também.” 54 Aluno Caio: “A pressão do ar.”
55 Aluno Vitor: “Professor, assim, essas coisas de química aí que reagem um com outro e deve fazer alguma coisa. Eles devem colocar duas coisas que reagem uma com outra, só que separado, e quando colide no chão elas encostam e aí explode.”
56 Professor: “Gente, é preciso ter colisão no chão para haver essa explosão?”
57 Aluno Junior: “Não necessariamente.” 58 Aluna Fabiola: “Pela pressão no ar mesmo.”
59 Professor: “E sobre a usina nuclear, o que vocês fizeram?
Fonte: do autor.
Observamos que, apesar de termos falado nas últimas aulas em energia nuclear e discutido com os alunos sobre essa forma de energia e sua relação com a bomba atômica, em nenhum momento dessa discussão inicial observamos os alunos falando dessa energia. Os alunos relacionaram a energia liberada com produtos químicos, mas não com o núcleo atômico, explicado no ano letivo anterior, e
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relacionaram com algo familiar. Isso sugere que eles não compreenderam ainda o funcionamento de uma bomba atômica e relacionam com algo familiar que é um artefato explosivo a base de pólvora. Isso pode ser visto na fala do aluno Vitor (Turno 55). Isso não quer dizer que o conceito de energia nuclear seja estranho para eles. Contudo ainda não se evidenciou até este momento uma relação clara entre esse conceito e a sua aplicação no mecanismo de ação da bomba nuclear. Como os estudantes estão associando a explosão com alguma reação química, suas explicações estão relacionadas com o impacto da bomba com o solo ou com os efeitos da pressão do ar. Vemos isso na fala do aluno Caio (Turno 51) ou da aluna Fabíola (Turno 58). Quando questionados sobre o funcionamento da usina nuclear os estudantes ficaram em silêncio no início e depois responderam que não sabiam. Podemos destacar que seria muito surpreendente que os alunos soubessem como funciona uma bomba atômica, tendo em vista que o que é abordado nos meios de comunicação são os estragos que esses artefatos podem causar e não seu funcionamento. Esta atividade teve, portanto, o objetivo de mobilizar a curiosidade e o interesse dos alunos, a fim de que pudessem confrontar suas hipóteses com as explicações do vídeo informativo que seria exibido na atividade seguinte.
A partir desse momento é apresentado ao aluno um vídeo em forma de animação5
sobre o funcionamento de uma bomba atômica. Nessa animação o professor dialoga com os alunos procurando estabelecer uma relação com o que eles falaram anteriormente. A seguir é apresentado outro vídeo6 sobre o funcionamento de uma
usina nuclear. Dando prosseguimento ao diálogo com os alunos, o professor enfatiza a tecnologia empregada em uma usina nuclear e como a energia nuclear se transforma em energia elétrica. Para efeito de análise temos o trecho do diário de campo do professor abaixo:
Depois das discussões das aulas anteriores eu acreditei que os alunos poderiam indicar alguma relação entre a bomba atômica e a energia nuclear, porém, o que prevaleceu foi o senso comum. No caso da usina nuclear eles não conseguiram relacionar com nada. Como eles foram meus alunos ano passado e eu sei que tivemos uma aula em que discutimos o funcionamento de uma usina hidrelétrica, achei que eles poderiam buscar uma relação como esse tipo de usina, porém, isso também não aconteceu. (Diário de campo, 24/11/2016).
5 A animação está disponível no link https://www.youtube.com/watch?v=jWUuKQGei2k. 6 O vídeo está disponível no link https://www.youtube.com/watch?v=nCmxLRUaR4w&t=28s
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O diário do professor mais uma vez retrata as tensões e os conflitos entre as expectativas do professor e os resultados efetivamente obtidos numa intervenção pedagógica. A ideia recorrente entre os professores de que “matéria dada é matéria aprendida” começa a ser desconstruída para dar lugar à constatação de que o processo de aprendizagem não é mecânico. Ele requer reflexão e a reflexão requer tempo. O professor constata que os estudantes não sabiam, até essa aula, como funciona uma bomba atômica e muito menos uma usina nuclear, tanto que ao serem questionados, buscaram explicações nas suas experiências concretas, mais familiares para eles, explicações essas impregnadas das imagens e ideias veiculadas pelos meios de comunicação.