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2 DANTAS, Beatriz Góis. A taieira de Sergipe: pesquisa exaustiva sobre uma dança tradicional do Nordeste do Brasil. Petrópolis: Vozes, 1972, p. 109-110.

3 O termo taieiras é polissêmico, e um dos significados é o de uma dança que ocorre desde o século XIX e ainda persiste em algumas cidades sergipanas, dentre elas Lagarto e Laranjeiras. Vê em: DANTAS, Beatriz Góis. A taieira de Sergipe…

nações vão desaparecendo da documentação, sobretudo dos inventários, aparecendo apenas a nomenclatura genérica de africanos.

No período citado houve um crescimento no número de engenhos nas terras sergipanas. Em 1756, havia 46 engenhos, no ano de 1798, 140 unidades e em 1852, 680.4 Lembrando que nesse período ocorreu um aumento da produção açucareira, sobretudo baiana, e, ressalto que Sergipe pertenceu a Bahia até o ano de 18205, portanto, provavelmente o aumento da produção açucareira baiana tinha a participação do açúcar produzido nas terras sergipanas. E com o aumento da produção de açúcar, cresceu a população o que demandou uma maior quantidade de alimentos, a exemplo da farinha de mandioca, e boa parte desses alimentos também era produzida com mão de obra escrava. Além dos alimentos também tinha uma necessidade maior de fumo que era utilizado na comercialização dos escravizados. Assim, possivelmente, por conta desse crescimento houve uma maior importação de escravizados africanos. O ano de 1780 é marcado por uma recuperação no tráfico, principalmente entre o Brasil, mais especificamente Salvador e Recife, e a Costa da Mina.6 Sem a concorrência das Antilhas, o preço do escravo caiu e possibilitou que os senhores de engenho baianos e possivelmente sergipanos comprassem um número maior de escravizados. A produção de açúcar aumentou e a quantidade e viagens anuais para a África em busca de escravizados também aumentou.

Para Sergipe, há alguns indícios desse aumento no número de africanos, pois passaram a existir revoltas de escravizados africanos. O inicio do século XIX pode ter sido um momento de (re)organização das comunidades escravizadas, como também de re-definição da relação senhor e escravo. E talvez por esses motivos ocorreram inúmeras revoltas no período. Uma delas foi com escravizados jejes em São Cristóvão em 1808. Ressalto que Estância, Santo Amaro e São Cristóvão foram palcos de diversas revoltas de escravizados que continham apenas africanos, ou africanos com aliados; índios e crioulos.7 Outro aspecto é o surgimento de algumas irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos homens Pretos, em Santo Amaro (1813), Divina Pastora e Socorro (1817), Rosário do Catete (1818) e Brejo Grande em (1849).8 A existência de revoltas de grupos específicos e de irmandades mostra que nesse período havia um grande número de escravizados, muitos deles africanos e que se identificavam como nações.

4 MOTT, Luis. Sergipe Del Rey: população, economia e sociedade. Aracaju: Fundesc, 1986, p. 145-146.

5 NUNES, Maria Thétis. Sergipe Colonial I. São Cristóvão: Editora UFS, 2006.

6 Sem a concorrência das Antilhas, o preço do escravo caiu e possibilitou que os senhores de engenho baianos e possivelmente sergipanos comprassem um número maior de escravizados. A produção de açúcar aumentou e a quantidade e viagens anuais para a África em busca de escravizados também aumentou.

7 NUNES, Maria Thétis. Sergipe Colonial I…, p. 57. 8 MOTT, Luis. Sergipe Del Rey…, p. 57.

Para termos um melhor panorama da vivência dos africanos na capitania de Sergipe Del Rey, e posteriormente da Província, se faz necessário pesquisar algumas vilas e por isso escolhi seis vilas, a de São Cristóvão, Santo Amaro, Santa Luzia, Itabaiana, Vila Nova e Lagarto. Essa escolha se ampara no trabalho de Marcos Souza que cita as duas primeiras com grandes populações de negros e Santo Amaro como a vila mais rica da capitania e São Cristóvão foi a primeira capital da Província. Já a terceira, tinha a povoação Estância que era o local que mais recebia escravizados africanos9 e as três últimas tinham suas economias caracterizadas por criação de animais e produção de artigos voltados para o mercado interno.10

As três primeiras Vilas localizam-se na zona da Mata, e as demais em região de Agreste e/ou sertão. Os dados das seis Vilas permitirão ter um quadro mais complexo sobre os africanos nas terras sergipanas, já que as características econômicas eram diferentes e possivelmente esse elemento refletiria no número de escravizados por pessoa, na relação senhor e escravo e por fim, no número de africanos. Assim, poderei analisar as vivências de africanos em diversas situações em grandes, médias e pequenas posses; no eito e nas cidades.11

Um conceito que será de grande relevância para a pesquisa será o de construção identidade étnica e pensaremos a partir de um princípio que chamarei de teoria relacional por distinção. Trata-se da teoria relacional de Fredrik Barth que percebe os grupos étnicos como “categorias de atribuição e identificação realizadas pelos próprios atores e, assim, têm a característica de organizar a interação entre as pessoas”.12 Contudo, a organização se dá a partir da diferenciação entre contrastes que se ativam ou não conforme as necessidades apresentadas pelo contexto.

A existência e a permanência de fronteiras na etnicidade ocorrem não pelas semelhanças inerentes a cada grupo étnico, mas pela interação social entre diferentes grupos. Para Barth, quanto maior a interação, mais intensa e marcada se tornaria o limite étnico. Tal limite seria a fronteira dos grupos étnicos, fronteira que seria social, apesar das possíveis contrapartidas territoriais. Segundo o teórico, “se um grupo conserva sua identidade quando os membros interagem com outros, isso implica critérios para determinar a pertença e meios para tornar manifestas a pertença e a

9 NUNES, Maria Thétis. Sergipe Colonial I…, p. 227.

10 MACIEL, Carlos Roberto Santos; SANTOS, Carlos José Andrade e SANTOS, Ronaldo Pinheiro dos. Arraia-Miúda: uma analise sobre a propriedade escrava e da população cativa em Lagarto-SE (1880-1850). Estância: Monografia de conclusão de curso - UNIT, 2007. 11 Nicolau Parés analisando Santo Amaro, Salvador e Cachoeira percebeu que as redes de tráfico eram diferenciadas. E que havia regionalidades na classificação étnico-racial, e que as proporções de africanos variavam de acordo com o período e a região. Vê em: PARÉS, Nicolau. A formação do Candomblé: História e ritual da nação jeje na Bahia. São Paulo: UNICAMP, 2006.

12 BARTH, Fredrik. Grupos étnicos e suas fronteiras. In: Teorias da etnicidade. São Paulo: UNESP, 1998, p. 189.

exclusão”.13 Desse modo, o sentimento de pertencimento a um grupo se daria pela diferenciação e pelo contraste entre os seus respectivos sinais diacríticos. Esses sinais serão buscados nessa pesquisa.

Há diversos autores que abordam a cultura dos africanos e o seu legado no Brasil, e essa preocupação remete ao final do século XIX e início do XX. Dentre os autores principais que escreveram sobre a temática temos Nina Rodrigues e Arthur Ramos para Sergipe temos Silvio Romero e João Ribeiro.

O sergipano Silvio Romero já em 1888 chamava atenção para a necessidade e a urgência de se estudar os africanos no Brasil, já que eles estavam morrendo e também por serem um importante objeto das ciências humanas em potencial.14 Nina Rodrigues pouco depois escreveu “Os africanos no Brasil” no inicio do século XX15, com o intuito de entender algumas virtudes e os diversos “vícios” que os brasileiros possuíam provenientes dos africanos e atendendo ao apelo citado de Silvio Romero. Segundo Nina Rodrigues os africanos contribuíram poderosamente para a construção da nossa nacionalidade, com a sua língua e porque não dizer na religiosidade, elemento que tanto intrigou e fascinou o médico. Ele aponta que os africanos eram distintos e possuíam capacidades diferenciadas e por isso se faz necessário conhecê-los em separado.

Nina Rodrigues vê a Bahia como um lócus privilegiado para estudar os africanos, pois ainda existiam africanos vivos na Bahia no inicio do século XX, ou seja, contemporâneos ao autor. Segundo ele os “sudaneses” (africanos ocidentais) foram majoritários dentre os africanos traficados ao país. Ele critica Silvio Romero e João Ribeiro por dizerem que os bantus eram maioria entre os africanos no Brasil. Ele afirma que ambos observaram apenas Pernambuco e Rio de Janeiro por isso chegaram a essas conclusões. E João Ribeiro teria reproduzido as idéias de Spix e Martius de defesa da supremacia numérica dos chamados bantos. Nina Rodrigues acreditava que havia uma hegemonia dos bantus apenas em Pernambuco e no Rio de Janeiro, e um indicativo disso eram as coroações do reino do Congo, mas essa informação não refletiria a totalidade da realidade brasileira. Para ele havia uma superioridade intelectual e social dos “sudaneses” em relação aos demais africanos..16

13 Ibidem, p. 195.

14 ROMERO, Silvio. História da Literatura brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, Tomo primeiro, 3ªed., 1943.

15 RODRIGUES, Nina. Os africanos no Brasil. Brasília: Editora de Brasília, 8ª ed., 2004. A obra começou a ser impressa em 1906, no entanto, foi interrompida por conta do falecimento do autor, só foi publicada em 1936, através dos seus discípulos.

16 Ibidem. Lucilene Reginaldo aponta os motivos que fez com que Nina Rodrigues visualizasse os yorubas na Bahia. Primeiramente por conta de uma atenção dada aos terreiros de candomblé desse grupo, segundo, por acreditar na superioridade desses africanos; Terceiro motivo é o fato do tráfico de escravizados no final do XVIII e século XIX ter importado um grande número de escravizados da região do Golfo do Benim e esses eram os africanos que

Um aspecto de grande relevância para a nossa pesquisa é a discordância entre Silvio Romero, João Ribeiro e Nina Rodrigues. Podemos questionar se Silvio Romero e João Ribeiro analisaram somente Pernambuco e Rio de Janeiro. Silvio Romero nasceu em 1851 em Lagarto (Sergipe) onde viveu até os 14 anos. Trabalhou em Estância, também localizada em Sergipe, como promotor entre janeiro de 1873 e fevereiro de 1874.17 Também fez várias visitas a cidades do interior sergipano e menciona a grande influência que recebeu na sua infância dos escravizados.18 Conviveu possivelmente com africanos de nação angola, já que a senzala do seu pai era chamada de Angola do Velho André. E, João Ribeiro nasceu em Laranjeiras e viveu em Sergipe até os vinte anos, de 1860 a 1880. Então migrou para o Rio de Janeiro.19

Um dos pontos de distinção entre as correntes mais antigas e as novas da historiografia diz respeito à utilização das fontes históricas. Os primeiros utilizaram, principalmente, relatórios oficiais, relatos e crônicas de viajantes. Já os adeptos das novas correntes ampliaram o leque de fontes. Isto surgiu Brasil, sobretudo a partir da década de 1960, quando houve uma maior profissionalização dos historiadores com a criação e consolidação dos cursos de pós-graduação. Registra-se uma proliferação de pesquisas, inclusive na área da escravidão. Os documentos cartorários, documentos eclesiásticos dentre outros que passaram a ser considerados fontes históricas e foram incorporados nas pesquisas, além dos já citados anteriormente.20 Rodrigues conheceu e por fim por ter se concentrado sua pesquisa em Salvador. Vê em: REGINALDO, Lucilene. Os Rosários dos Angolas: irmandades negras, experiências escravizadas e identidades africanas na Bahia setecentista. Campinas: [s.n.], 2005.

17 GUARANÁ, Armindo. Dicionário bio-bibliográfico sergipano. Rio de Janeiro: Governo do Estado de Sergipe, 1925, p. 492-493.

18 Sílvio Romero coletou vários contos em Sergipe e esses são provenientes de Lagarto e Estância. Nas memórias do livro do seu sobrinho, Abelardo Romero, ele menciona que o seu tio gostava de ouvir as histórias de Zefa Nó. Esta era uma mulher livre, negra e moradora de Lagarto. Um ponto interessante de um dos contos é que o negro é enganado por um macaco que acumulava trapaças para conseguir dinheiro e queria ir para Angola. Uma menção direta a uma das nações criadas no tráfico e que pelos indícios encontrados até o momento de boa parte da dos africanos que viveram em Lagarto. ROMERO, Silvio. O macaco e o rabo. In: Folclore Brasileiro 2: Contos Populares do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1959, p. 389-390. E na entrevista concedida a João do Rio, menciona a vivência que teve com os escravizados em Lagarto. Vê em: ROMERO, Silvio. Resposta ao inquérito de João do Rio, realizado entre intelectuais do Rio. O Momento Literário, Rio de Janeiro, 1906.

19 GUARANÁ, Armindo. Dicionário bio-bibliográfico sergipano…, p. 271-272.

20 Ressalto que acerca desse tema houve, durante algum tempo, a idéia de não existirem documentos para pesquisar sobre a escravidão, por conta das ordens de Rui Barbosa que mandou queimar boa parte do acervo. Vide: SLENES, Robert. “O que Rui Barbosa não queimou: novas fontes para o estudo da escravidão no século XIX”. Estudos Econômicos, v. 13, n° 1, p. 117-150, 1983.

Essas inovações foram mais sentidas na década de 1980, quando emergiram novos autores.21 Entre estes destacam-se João José Reis, Maria Odila Leite Dias, Silvia Lara, Robert W. Slenes, Flávio Gomes e Sidney Chalhoub. Alguns dessa corrente tiveram como influência teórica, entre outros, Eugene Genovese e Edward P. Thompson. Esses intelectuais buscaram ver o escravo como agente histórico e possibilitaram a emergência de estudos sobre, mulher, família escrava, os significados da liberdade e as estratégias para consegui-la, os africanos e suas identidades, e sinalizaram a importância das irmandades para compreendê-las, além de outras temáticas.

João José Reis, em um artigo mostrará que em torno de uma irmandade, como a de Nossa Senhora do Rosário se erguia uma identidade social, a mesma irmandade também era um espaço de solidariedade coletiva. As irmandades também gozavam de uma autonomia e eram um espaço para entender a alteridade no interior da comunidade africana.22 Um grande diferenciador das irmandades de pretos era a nação, as últimas se dividiam em crioulos e africanos, e esses em etnias de origem, ou em nações termo usado na época como os nagôs, angolas, benguelas dentre outras. Ressaltando que os termos nagôs, jeje, angola são referentes ao tráfico e aglutinam diversos grupos étnicos provenientes da África, por conta disso, esses termos são reveladores quando se trata de identidades assumidas e construídas pelos africanos. E as irmandades foram um espaço onde essas construções ocorreram. As identificações citadas eram feitas pelos senhores, no entanto, não satisfaziam aos escravizados. Essas identificações eram importantes na construção de alianças e de definição de opositores.

Segundo Slenes, as possibilidades de construções de identidade variaram, pois nas fazendas por conta das distâncias entre as propriedades, e por conta da pouca mobilidade espacial dos africanos dificultava a permanência de identidades oriundas da África. Por isso, as fronteiras étnicas tinham que ser (re)elaboradas. Nas cidades era mais fácil de encontrar pessoas do mesmo grupo étnico e com isso manter as

21 Ver em: CHALHOUB, Sidney. Visões da Liberdade: Uma história das últimas décadas da escravidão na corte. São Paulo: Companhia das Letras, 1986; DIAS, Maria Odila Leite. Quotidiano e Poder em São Paulo no século XIX. São Paulo: Brasiliense, 1992; SLENES, Robert W. Na Senzala, uma Flor: esperanças e recordações na formação da família escrava, Brasil sudeste, século XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. LARA, Silvia H. Campos da Violência: Escravizados e senhores na capitania do Rio de Janeiro, 1750-1808. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. REIS, João J. Rebelião Escrava no Brasil: A história do levante dos malês (1835). São Paulo: Brasiliense, 2. ed., 1987.

22 REIS, João José. Identidade e diversidade étnicas nas irmandades negras no tempo da escravidão. In: Tempo. Rio de Janeiro: Relume Dumará; Universidade Federal Fluminense; Departamento de História, v. 2, n. 3, jun., 1997.

antigas identidades. No mundo rural elas foram reconstruídas no cotidiano, na luta com o senhor e na busca de pessoas para se relacionar.23

Utilizando os inventários post-mortem e testamentos, cataloguei 1797 homens e mulheres escravizados na Capitania de Sergipe no período citado, desses 276 não tinha dados sobre a nacionalidade, outros 444 eram africanos e dentre esses 238 eram angolas. Os africanos eram 29,19% da população escrava. No entanto, essa porcentagem variou de Vila para Vila, a de Lagarto possuía a menor proporção de africanos 17,91%, as maiores proporções foram Itabaiana e Santo Amaro. A Vila de Lagarto conforme foi mencionado anteriormente tinha como principal característica a produção de artigos voltados para o consumo e mercado interno, e por isso os senhores possivelmente não acumularam capital suficiente para adquirir africanos. Itabaiana era uma Vila que tinha características próximas as de Lagarto, no entanto, alguns dos grandes senhores da Povoação de Laranjeiras, que produziam açúcar, tinham casas em Itabaiana e por isso optaram em fazer seus inventários na citada Vila, como também pela proximidade da povoação da Vila de Itabaiana. E a Vila de Santo Amaro era caracterizada por uma produção açucareira e por isso os senhores possuíam capital para a aquisição de escravizados africanos. Mott afirmou utilizando como referência uma lista de plantadores de mandioca de uma povoação de São Cristóvão que o número de africanos não era 1/3 da população escrava.24 Decerto em algumas localidades possivelmente chegou perto dessa cifra e em outras a porcentagem era menor. Ressalto que para algumas Vilas existe uma documentação parca, e por isso, essas porcentagens são apenas uma amostra.

Dentre os africanos que consegui identificar a nação, os angolas são majoritários. Os angolas eram 15,64% da população escrava e correspondiam a 53,60% dos africanos. Os demais africanos eram jejes, congos, minas, benguelas dentre outros.

Utilizando outra documentação a lista de plantadores de mandioca, produzida em 1785, também identifiquei que os angolas foram majoritários. Eles correspondiam a 72,65% dos escravizados que se envolviam com o cultivo da mandioca na Ribeira do Vaza Barris na Cidade de São Cristóvão.25Ou seja, eram a maioria dentre os africanos nas terras sergipanas.

O sentido do termo Angola variou no tempo e de acordo de quem estava chamando. Para os europeus do norte, os africanos da região ao sul do Cabo Lopes na África central eram denominados de angolas, para os portugueses em 1570 se referia a região que estava sob os domínios do Ngola a Kiluanje, que se localizava ao longo do rio Cuanza. Ainda no XVIII, os portugueses denominavam de angolas, os escravizados traficados pelo porto de Luanda que se referia a região conquistada

23 SLENES, Robert. “Malungu, ngoma vem!” África coberta e descoberta do Brasil. Revista USP, 12, p. 48-67, 1991/92.

24 MOTT, Luis. Sergipe Del Rey…

como reino e conquista d´Angola. Nesse período no Brasil o termo angola se referia a Luanda, ou seja, africanos escravizados através de protocolos governamentais pelo porto de Luanda. Já o termo angola para os ingleses e franceses no XVIII se refere aos africanos que foram traficados nas baías ao norte do Zaire-Mayumba, próximo a Cabo Lopez, depois Loango, Malimbo, Cabinda e da foz do rio Congo, maneira como era conhecida o rio Zaire. No final do XVIII, os franceses adquiriram angolas da região de Benguela.26 Assim, os angolas que vieram para Sergipe possivelmente foram exportados pelo Porto de Luanda.

A maioria dos centro-africanos tinham suas identidades sociais baseadas em laços familiares e de comunidades locais por isso lutavam para reconstruir esses laços e por uma identidade nos novos lugares que chegavam. As comunidades começaram a existir quando existia um número elevado de africanos de origens semelhantes e se confrontaram com outros escravizados de origens diversas. Características específicas de um grupo pouco contava na reelaboração dessa identidade, pois elas tendiam a ser gerais. Identificavam-se como escravizados para se contrapor aos seus senhores e velhas insígnias africanas serviam para se contrapor frente a outros africanos

Dessa forma, os angolas passaram a se identificar como angolas possivelmente no século XVIII, momento que entraram um número maior de angolas. E de outras nações como os jejes, assim esses angolas podem ter formado uma comunidade em algumas Vilas. Um indício disso, era a irmandade do Rosário dos Homens Pretos da Cidade de São Cristóvão. No estatuto dessa irmandade do século XVIII, os angolas dividiam a mesa diretiva com os crioulos, isso demonstra que eles tinham poder e eram numerosos. O número que conseguimos é apenas uma amostragem, pois inventários post-mortem era feito por uma parcela da população e possivelmente alguns desses documentos não chegaram ao século XXI.

Tem notícias dos angolas em Sergipe no inicio do século XVIII, na Vila de Santa Luzia, João, um escravizado angola, era caracterizado como um moleque em 1720. E Domingos era velho em 1759.27 Ou seja, o alvorecer dos Setecentos já havia angolas em Sergipe e eles continuaram entrando no decorrer de todo os Setecentos, pois Damião tinha aproximadamente 20 anos em 1798.28

Poucos desses angolas viviam nas senzalas sozinhos, boa parte deles tinham

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