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A unidade produtora do desenvolvimento

Maurício Carvalho de Oliveira Kleber Souza dos Santos

Recursos humanos, naturais, financeiros e materiais quase sempre são insu- ficientes ou apresentam alguma limitação em relação às expectativas do homem. Entretanto, informações mais precisas sobre os recursos da terra e o mercado, novas tecnologias e capacitação de pessoal são, entre outros, aspectos a serem enfocados em uma política de desenvolvimento sustentável da base produtiva municipal. No aspecto da capacitação pessoal, por exemplo, pode-se citar a pro- fissionalização de agricultores como mola mestra para a competitividade da eco- nomia do município, para a geração de renda e emprego em bases sustentáveis.

Portanto, as interferências das organizações no processo de planejamento e de implementação de políticas de desenvolvimento municipal devem estar cal- cadas em um diagnóstico seguro das diversas variáveis que compõem o ambien- te físico e socioeconômico para que os resultados desejados sejam alcançados de forma satisfatória e duradoura. As intervenções tanto em áreas urbanas como rurais são, inerentemente, de natureza complexa; portanto, é necessário que haja uma estreita articulação entre as organizações públicas e privadas que estejam direta ou indiretamente envolvidas ou afetadas por essas intervenções.

Consolidar informações sobre o meio ambiente, o solo e sua capacidade de uso, assim como sobre práticas de manejo conservacionista, desenvolver pesqui- sas agrícolas ou validar novas tecnologias, contribuir para a organização do tecido social, planejar e construir as infraestruturas necessárias para apoiar o processo de desenvolvimento são tarefas que exigem a concorrência de equipe de profis- sionais de diversas áreas, em uma ação integrada e multidisciplinar.

A terra é o resultado da interação entre os fatores físicos (material de ori- gem, clima, topografia) e biológicos (os organismos vivos), que, por longos perí- odos de evolução, estabeleceram na paisagem os diversos biomas, a exemplo do Cerrado, da Amazônia, da Caatinga, da Mata Atlântica, do Pantanal, etc. Inseridos nesses biomas estão os diversos ecossistemas, que são áreas de várzeas, campos de vegetação herbácea, matas de galeria, restingas, manguezais, lagos, entre ou- tros, os quais possuem maior ou menor capacidade de suportar determinado tipo de uso.

Em razão da complexidade das questões ambientais e da crescente deman- da por água limpa, alimentos, fibras e outras matérias-primas, para satisfazer as necessidades das gerações atuais e assegurar para as gerações futuras a manu- tenção dos processos ecológicos essenciais e a biodiversidade, é fundamental a gestão dos recursos naturais de acordo com um enfoque de desenvolvimento sustentável, o qual implica mudanças nas relações e nas responsabilidades que envolvem o Estado, a sociedade e o cidadão.

A decisão de aproveitar uma área de terra para um fim específico deve ser tomada com base em conhecimentos científicos a respeito de suas características, tais como a dinâmica dos ecossistemas envolvidos e o grau de interdependên- cia existente entre eles. Derrubar a vegetação natural, praticar cultivos, provocar queimadas, introduzir novas espécies de plantas ou animais, construir represas, promover o desenvolvimento urbano ou implantar sistemas de comunicação, como rodovias, são alterações significativas para o meio ambiente que deman- dam ações preventivas, necessárias para a minimização dos impactos negativos.

No contexto do desenvolvimento rural e do processo produtivo agrícola, a adoção da microbacia hidrográfica como unidade territorial de planejamento e de trabalho constitui uma estratégia apropriada com vistas no uso e manejo, monitoramento e avaliação dessas interferências. Essa estratégia possibilita o efe- tivo gerenciamento integrado do solo e da água e dos demais recursos naturais, de forma que as atividades produtivas sejam compatibilizadas com a preservação ambiental, dentro do escopo do desenvolvimento sustentável.

A abordagem do desenvolvimento, tendo como base a microbacia hi- drográfica, provou ser altamente bem-sucedida no que se refere à recuperação e ao manejo desses recursos, principalmente no que tange à condução segura dos inevitáveis escoamentos superficiais até os pontos de cota mais baixos no terreno, uma vez que esses escoamentos são os que mais contribuem para os da- nos ambientais decorrentes das enchentes. Entretanto, é necessário ter em men- te que essas catástrofes ambientais são consequência direta da intervenção do homem no meio ambiente, que altera de forma drástica o “ciclo hidrológico” no âmbito das bacias hidrográficas.

É fundamental compreender a importância e o dinamismo dessas inte- rações e interdependências, dentro de um conceito ecológico abrangente, que tenha o homem como parte da natureza. A compreensão da dinâmica dos pro- cessos ecológicos e a aplicação dos conhecimentos e habilidades para utilizar a terra com toda sabedoria e precaução necessárias são passos seguros para ga- nhos efetivos e sustentáveis de produtividade, além de contribuírem para a mini- mização de problemas, como perda de solos, assoreamento de rios e barragens, inundações, destruição deestradas rurais, poluição dos corpos d’água e, por fim, fadiga dos recursos naturais com todas as suas consequências negativas para o próprio homem.

Pela abrangência e relevância que a questão ambiental assume no proces- so de desenvolvimento, é imperativo que as administrações públicas municipais busquem configurar uma estrutura organizacional queviabilize a gestão integra- da e participativa dos recursos da terra. Esse processo deve ser calcado na educa- ção para a construção de uma cidadania ambiental e permitir a implementação de ações de interesse geral da população, dotadas de legitimidade, eficiência e eficácia para reverter o passivo socioambiental decorrente da ausência de pla- nejamento aplicado ao desenvolvimento e prevenir que atitudes imediatistas in- duzam a continuidade do processo de degradação da terra, tão comum no País.

Para tanto, é necessária mais do que nunca uma tomada de decisão por parte dos indivíduos e de suas organizações no que diz respeito a forjar um ca- minho de atitudes proativas que alcancem a “sustentabilidade” no que concerne ao manejo da terra. Do contrário, continuarão os ciclos negativos de poluição e miséria. A agropecuária brasileira pode mostrar ambos os exemplos – qual dos dois queremos seguir?

Orientação geral

A estrutura metodológica da proposta está definida no primeiro artigo e compõe-se de aspectos ao mesmo tempo construtivos do projeto e formativos de hábitos sociais, para a organização de uma sociedade mais “ecocêntrica” e também mais humana: dialógico, participativo, cooperativo, partindo do enten- dimento e da tomada de posição valorativa, para a ação construtiva e mitigadora. Considera o contexto local e a comunidade como referências prioritárias naturais para seu desenvolvimento, mas também o planeta como referência da práxis am- biental global. A cidadania consciente e participativa é o objetivo a ser alcançado, de modo que a defesa ambiental torne-se um hábito social e um valor estrutura- do de forma efetiva e sustentado através das gerações.

Levando-se em consideração a estrutura pedagógica e administrativa da escola contemporânea, identificam-se estratégias organizacionais, práticas peda- gógicas e sugestões operacionais apropriadas para integrar a proposta pedagógi- ca na realidade da escola brasileira e, presumivelmente, de outros países de nível de desenvolvimento semelhante. Assim, privilegiam-se soluções de baixo custo, com forte apelo comunitário, de implantação simples e de sofisticação apenas moderada no uso de tecnologias e de materiais.

O projeto, ou programa escolar, é a unidade fundamental de planejamento, organização e avaliação. O tema gerador é o mecanismo principal de focalização e sintonização das ações comunitárias e de cada ator social. Materiais, procedi-

texto são os instrumentos sugeridos para alcançá-los.

Os exemplos são recolhidos da prática das escolas durante a construção do projeto liderado pela Embrapa Meio Ambiente. Os temas geradores, por exemplo, foram identificados a partir das circunstâncias e necessidades locais. Certamente se repetirão em outras paragens, por constituírem uma lista de alguns dos prin- cipais pontos vulneráveis da civilização globalizada atual: água, agricultura, lixo e conservação dos recursos naturais.

A complexidade das situações encontradas pelos diagnósticos ambientais logo mostra como é indispensável a participação de especialistas que possam não somente mobilizar o conhecimento existente, como também ajudar a iden- tificar problemas e soluções além de produzir novos conhecimentos apropriados para as necessidades locais. Esse engajamento sinaliza a crescente demanda para uma ciência mais democrática, mais engajada, mais construtiva. Muito do que se oferece nos volumes desta coleção é uma contribuição de cientistas profissionais nessa direção.

A estrutura metodológica de educação ambiental proposta pela Embrapa Meio Ambiente é um processo educacional voltado ao ser humano e não ao meio ambiente, visando a instrumentalizar o educador ambiental e o público dos pro- jetos de educação ambiental a desenvolver a percepção ambiental.

Dessa forma, contribui para o fortalecimento da cidadania, para a formação de uma comunidade/sociedade sustentável e para a sustentabilidade das inter- venções, orientando a busca pela autonomia e pela continuidade dos processos de melhoria ambiental.

É um processo pedagógico dialógico, socioconstrutivista, que se baseia em sete pontos: contextualização local, planejamento participativo, tema gera- dor, inserção das questões agrícolas para defesa da segurança alimentar, a prá- xis1 socioambiental2 Ver-Julgar-Agir, associada respectivamente a técnicas de

diagnóstico, avaliação de impacto e gestão ambiental, avaliação e celebração. Além disso, o processo é aplicável concomitantemente a públicos diver- sificados, atendendo assim a todas as formações de sociedade. Isso é possível, porque cada um desses sete componentes atribui uma característica ao processo

1 Conjunto de práticas que visam à transformação ou à ação humana concebida como ativi-

dade racional; prática a partir da reflexão.

2 Se ambiental envolve todos os aspectos, o termo “socioambiental” refere-se aos aspec-

tos econômicos, sociais, ecológicos, culturais e políticos do ponto de vista de algum(ns) grupo(s) ou segmento(s) da sociedade, muito comumente chamado(s) de comunidade.

Valéria Sucena Hammes

Estrutura