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2.2 HISTÓRICO DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO BRASIL

2.2.1 As Unidades de Conservação Costeiras

Nenhum prazer me pode tocar Exceto o de me deitar Sobre a relva de uma falésia, E abandonando ali meu pesar Deixar-me sonhar à vontade Sobre a majestade do mar (...)5.

Segundo Morais (1999) o litoral particulariza-se, moderadamente, por uma apropriação cultural que o identifica como um espaço de lazer, por excelência, e os espaços preservados são, hoje, ainda mais valorizados nesse sentido. Alain Corbin (1989) descreve a descoberta do mar pelos europeus como uma fonte de emoções, propício a banhos, viagens de lazer e tratamentos medicinais, segundo este autor:

o modo de apreciar o mar, o olhar dirigido às populações que freqüentam suas margens, não resultam apenas do tipo, do nível de cultura, da sensibilidade própria do individuo. A maneira de estar junto, a conivência entre turistas, os signos de reconhecimento e os procedimentos de distinção condicionam igualmente as modalidades de fruição do lugar (CORBIN, 1989, p.266).

A Zona Costeira brasileira tem como aspectos distintivos sua extensão e a grande variedade de espécies e de ecossistemas. Em termos de área de abrangência, a linha de costa se estende por aproximadamente 7.300 Km, número que se eleva para mais de 8.500 Km, quando se consideram os recortes litorâneos (MAURY, 2002, p.270). Ocupa, aproximadamente, três milhões de Km², incluindo a Zona Econômica Exclusiva, sob jurisdição brasileira; composta por águas frias na costa sul e sudeste, e águas quentes nas costas nordeste e norte, dando suporte a uma grande variedade de ecossistemas que incluem manguezais, recifes de corais, dunas, restingas, praias arenosas, costões rochosos, lagoas e estuários, que abrigam inúmeras espécies de flora e fauna, muitas das quais endêmicas, e algumas ameaçadas de extinção (MAURY, 2002).

Cerca de quarenta por cento da população mundial vive num raio de 100Km das linhas da costa. (MARCELINO, 1999). A ocupação territorial do Brasil ocorreu no sentido geral da Zona Costeira para o interior, fato responsável por significativo adensamento populacional no litoral. De acordo com os dados divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente atualmente, cerca de 1/5 da população brasileira vive à beira-mar, representando contingente de mais de 30 milhões de habitantes, com a zona costeira apresentando densidade demográfica de 87 habitantes por Km2, cinco vezes maior que a média nacional de 17

habitantes por Km2 (MAURY, 2002, p.323).

Do exposto infere-se que o processo de ocupação do litoral vem se dando cada vez mais rápido colocando em risco importantes fontes de recursos de alta riqueza e relevância ecológica. Na zona costeira da região Nordeste do Brasil, o crescimento urbano se intensificou nas últimas décadas, particularmente devido a intensificação do fluxo migratório de trabalhadores do campo para as cidades em busca de trabalho e de melhores condições de vida.

O aumento constante da apropriação deste espaço causando a destruição de manguezais, erosão costeira, urbanização, poluição, entre outros problemas de degradação ambiental, aliados a exploração dos recursos naturais de forma predatória fizeram com que as regiões costeiras se tornassem as mais ameaçadas do Planeta, surgindo a preocupação com sua integridade e equilíbrio ambiental, pois “do ponto de vista da biodiversidade a zona costeira acolhe quadros naturais particulares de alta riqueza e relevância ecológica, o que os qualifica como importantes fontes de recurso” (MORAES, 1999, p.30).

A preocupação do governo brasileiro com a manutenção das funções ecológicas da zona costeira e com a utilização dos recursos marítimos surge na década de 70. Em 1974 após a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente é composta a Comissão Interministerial dos Recursos do Mar- CIRM, o resultado do trabalhos destes dois órgãos aparecem na Política

Nacional de Recursos do Mar, instituída em 1980 e na Política Nacional do Meio Ambiente (1981). Com a finalidade de administrar toda essa diversidade ecológica e econômica foi instituído, em 1987, o Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro – GERCO – coordenado pela CIRM. Posteriormente, em 1988, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida da população e proteger os ecossistemas litorâneos ameaçados pela ocupação desordenada do território foi criado o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro – PNGC – pela lei 7.661/88 (FONSECA, 1998; MORAES, 1999).

Como mencionado anteriormente a colonização brasileira foi realizada pela ocupação de sua zona costeira, cujo objetivo principal era explorar os recursos naturais. Para a construção das primeiras cidades muitos ecossistemas foram devastados, aterrados e modificados pela interferência humana. Com o objetivo de preservar a grande diversidade biológica dos ecossistemas costeiros foram criadas UC’s na zona costeira e marinha.

As Unidades de Conservação localizadas na zona costeira brasileira totalizam aproximadamente 290 unidades de uso direto e indireto de diferentes categorias de manejo (TAB. 02) objetivando proteger estuários, manguezais, apicuns e marismas, costões rochosos, restingas, dunas e praias, recifes coralíneos, lagoas costeiras, banhados e áreas úmidas, que representa aproximadamente 210.283,32 hectares sob proteção da legislação (TAB. 03), além de 34 reservas indígenas com 588.199 hectares (PEREIRA, 1999). No entanto, a distribuição dessas unidades de conservação na zona costeira não é uniforme e existem poucas eminentemente marinhas. Nos últimos anos, um número crescente de unidades estão sendo decretadas nos ambientes costeiros, mas não existe uma estratégia nacional de conservação, pois elas são estabelecidas segundo as necessidades regionais ou em áreas de maior relevância biológica (PEREIRA, 1999). É interessante observar que alguns Estados como Alagoas e Sergipe (TAB. 03) possuem área territorial inferior ao Estado da Paraíba, no entanto possuem uma maior extensão do seu território ocupado por áreas protegidas na zona costeira e marinha.

TABELA 02 - UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE ACORDO COM SEU USO E OS AMBIENTES PROTEGIDOS.

AMBIENTES UNIDADES DE USO INDIRETO UNIDADES DE USO DIRETO

Manguezal 37 32

Restinga, Dunas e Praias 78 72

Recifes Coralíneos 6 3 Banhados 8 3 Lagoas Costeiras 9 7 Marismas 3 2 Costão Rochoso 21 9 FONTE: Pereira (1999)

TABELA 03 - DISTRIBUIÇÃO ESTADUAL DAS UC’s DAS ZONAS COSTEIRAS E MARINHAS DO BRASIL DE ACORDO COM A ÁREA PRESERVADA

ESTADO Nº DE UNIDADES ÁREA PROTEGIDA (Km2) ÁREA DO ESTADO (Km2) % DE ÁREA PROTEGIDA Amapá 7 19.703,50 143.453,7 13,74% Pará 7 55.488,31 1.253.164,5 4,43% Maranhão 8 88.820,97 333.365,6 26,64% Piauí 1 3.138,00 252.378,6* 1,24% Ceará 17 268,66 146.348,6* 0,18% Rio Grande do 4 393,02 53.306,8 0,74% Paraíba 4 296,92 56.584,6 0,52% Pernambuco 24 883,59 98.937,8 0,89% Alagoas 9 4.556,77 27.933,1 16,31% Sergipe 4 569,66 22.050,4 2,58% Bahia 32 8.828,75 567.295,3 1,56% Espírito Santo 24 754,55 46.194,5 1,63% Rio de Janeiro 50 3.790,53 43.909,7 8,63% São Paulo 35 12.936,43 248.808,8 5,20% Paraná 11 5.592,48 199.709,1 2,80% Santa Catarina 38 2.625,20 95.442,9 2,75%

Rio Grande do Sul 15 1.635,98 282.062,0 0,58% * Litígio PI/CE 252.378,6