• Nenhum resultado encontrado

A teoria unitária ou monística da cessão da posição contratual A concepção unitária do negócio de cessão da posição contratual considera

No documento Revista Brasileira de Direito Civil (páginas 53-56)

CESSÃO DA POSIÇÃO CONTRATUAL: ESTRUTURA E FUNÇÃO

2. Aspectos estruturais do negócio de cessão da posição contratual A cessão da posição contratual é dotada de duas acepções: ora o negócio

2.4. O objeto mediato da sucessão negocial na posição contratual

2.4.2. A teoria unitária ou monística da cessão da posição contratual A concepção unitária do negócio de cessão da posição contratual considera

haver cessão da titularidade de todo o centro de interesses contratual, compreendidos os créditos, os débitos, situações potestativas, sujeições, deveres anexos, exceções, expectativas e ônus.112

A unidade orgânica da situação jurídica contratual é, assim, transferida por meio de negócio único, formado pelo consentimento de todos os interessados, destinado à transferência global de todos os elementos que compõem a posição jurídica transferida.113

Inocêncio Galvão Teles, em objeção à teoria unitária, aduz que a posição de contratante não pode ser considerada corpo único, coisa incorpórea. Quanto às situações potestativas, advoga que, considerando a perda do interesse do cedente após o despojamento do crédito, automaticamente, somente o cessionário poderá fazer uso ou não das situações potestativas.

112 PINTO, Carlos Alberto da. Cessão da posição contratual, cit.; CORDEIRO, António Menezes.

Tratado de direito civil português, v. 2, t. 4, cit.; GARCIA-AMIGO, Manuel. La cesion de contratos en el derecho español. Madrid: Editorial Revista de Derecho Privado, 1964; GOMES, Orlando. Contratos, cit.

113 A posição contratual é encarada em bloco sob o fundamento de que os respectivos direitos e

obrigações constituem unidade orgânica. Basta, por conseguinte, uma só declaração de vontade para que a substituição da parte se opere, deslocando-se para o terceiro o centro de interesses. O contrato é cedido, em síntese, em negócio único, no qual o consentimento dos interessados se dirige para a transmissão de todos os elementos ativos e passivos, de todos os créditos e débitos. Não se verifica, com efeito, a transferência conjunta de elementos isolados, mas, sim, a transmissão global de todos os que definem uma posição contratual. [...] O negócio de cessão é, assim, ato único e simples. (GOMES, Orlando. Contratos, cit., p. 176). No mesmo sentido, Darcy Bessone compreende que, na cessão da posição contratual, opera-se a substituição de todo o complexo obrigacional, um todo unitário (BESSONE, Darcy. Contratos, cit., p. 14).

Antunes Varela chega a afirmar que o objeto da cessão da posição contratual caracteriza o negócio de cessão, por ser composto de, ao menos, um direito a uma prestação e uma obrigação de também realizar uma contraprestação, concepção pautada na teoria unitária. O autor esclarece que, caso cedida somente a obrigação de prestar ou apenas situações ativas a transmitir, estar-se-ia diante de uma assunção de dívidas ou cessão de créditos.

A sua feita, Carlos Alberto da Mota Pinto, embora não adote a concepção de causa do negócio jurídico como requisito do negócio jurídico, identifica no fim contratual fator relevante e determinante da concepção unitária da relação contratual:

O caráter unitário, final e dinâmico da complexa relação contratual é expresso em formulações diversas pela mais moderna doutrina do direito de obrigações, onde o lugar progressivamente mais relevante tem sido dado a esta noção, ao lado do tradicional conceito da obrigação como vínculo singular. Acentua-se que o fim contratual provoca uma síntese das várias partes componentes da relação obrigacional complexa numa unidade mais elevada, constituindo a relação contratual um todo unitário.114

No Brasil, as formulações doutrinárias concebem, em sua maioria, que a unidade orgânica da situação jurídica contratual é transferida por meio de negócio

único, formado pelo consentimento de todos os interessados, destinado à

transferência global de todos os elementos que compõem a posição jurídica transferida,115 neles incluídas situações potestativas.116

114 PINTO, Carlos Alberto da Mota. Cessão da posição contratual, cit., p.379.

115 Nesse sentido, sintetiza Orlando Gomes: “A posição contratual é encarada em bloco sob o

fundamento de que os respectivos direitos e obrigações constituem unidade orgânica. Basta, por conseguinte, uma só declaração de vontade para que a substituição da parte se opere, deslocando- se para o terceiro o centro de interesses. O contrato é cedido, em síntese, em negócio único, no qual o consentimento dos interessados se dirige para a transmissão de todos os elementos ativos e passivos, de todos os créditos e débitos. Não se verifica, com efeito, a transferência conjunta de elementos isolados, mas, sim, a transmissão global de todos os que definem uma posição contratual. [...] O negócio de cessão é, assim, ato único e simples”. (GOMES, Orlando. Contratos, cit., p. 176). Darcy Bessone, no mesmo sentido, compreende que, na cessão da posição contratual, opera-se a substituição de todo o complexo obrigacional, um todo unitário (BESSONE, Darcy.

Contratos, cit., p. 14).

116 Na mesma esteira, Fabio Konder Comparato anota: “A melhor doutrina qualifica-a como um

negócio jurídico unitário e não como cessão atomística de créditos e débitos, individualmente considerados. Como foi fartamente observado na doutrina germânica, uma transmissão individual de créditos e débitos contratuais não equivaleria, nunca, à cessão da inteira posição contratual. Alguns poderes ou direitos potestativos, como o de denunciar o contrato ou de dá-lo por resolvido em razão de inadimplemento, não seriam transmitidos, se se optasse por uma interpretação atomística do negócio” (COMPARATO, Fabio Konder. Sucessões empresariais. In Revista dos

O entendimento jurisprudencial reconhece a formulação unitária da posição jurídica contratual objeto de cessão. Com efeito, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, conferindo interpretação analógica ao artigo 1.066 ainda do Código Civil de 1916,117 proferiu entendimento de que a cessão da posição

contratual importa a transferência de todo o complexo unitário e funcional que compõe a relação jurídica contratual.118

Tal concepção também foi adotada pelo Superior Tribunal de Justiça sob a vigência da codificação anterior, ocasião em que já se concebia que a posição contratual implica a transferência de um complexo de direitos:

Cessão de contrato de arrendamento mercantil. Direitos e obrigações que lhe são anteriores. Cessionário que pleiteia a revisão do contrato. Abrangência das prestações anteriores adimplidas pelo cedente. Legitimidade do cessionário reconhecida. Recurso provido. - A cessão de direitos e obrigações oriundos de contrato, bem como os referentes a fundo de resgate de valor residual, e seus respectivos aditamentos, implica a transferência de um complexo de direitos, de deveres, débitos e créditos, motivo pelo qual se confere legitimidade ao cessionário de contrato (cessão de posição contratual) para discutir a validade de cláusulas contratuais com reflexo, inclusive, em prestações pretéritas já extintas.119

117 CC de 1916, artigo 1.066: “Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito se abrangem

todos os seus acessórios”.

118Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Sexta Câmara Cível, Apelação Cível nº 70005240916,

Relator: Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, Julgado em 28/05/2003.

RECURSO. CONHECIMENTO. Apelação que não deixa de atender reclamos do art. 514, II, CPC. CESSÃO DA POSIÇÃO CONTRATUAL. ILEGITIMIDADE ATIVA. Tendo o autor alienado, anteriormente, direitos contratuais, sem ressalvas, não é possível que pretenda obter, à base de tais direitos, diferença acionária. Art. 1.066, Código Civil. (Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Vigésima Câmara Cível, Apelação Cível nº 70002198661, Relator Armínio José Abreu Lima da Rosa, Julgado em 07/03/2001)

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO DE COBRANÇA. CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE AÇÕES, CESSÃO DE CONTRATO DE PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA E AÇÕES. Em tendo o alvará de levantamento da importância reclamada na ação de cobrança sido também expedido em nome do de cujus, sua sucessão é parte legítima passiva ad causam. O fato de ter ou não recebido o valor reclamado é questão de mérito e terá relevância na improcedência ou não da ação. Preliminar acolhida. No mérito, sem razão o autor. Prescrição não operada. Ação julgada improcedente. Em tendo a cessão do contrato de participação financeira incluído em seu objeto todos os direitos e ações decorrentes do contrato cedido, vencidos e vincendos, cedeu, também, eventual postulação de complementação acionária. O fato da ação postulando o pagamento de complementação acionária ter sido aforada em nome do cedente implica erro técnico, sem força de retira a eficácia da cláusula inserida no contrato que estabelece a abrangência da cessão. APELO PROVIDO EM PARTE TÃOSOMENTE PARA REINTEGRAR A SUCESSÃO RÉ NO POLO PASSIVO PROCESSUAL. UNÂNIME. (Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Décima Sétima Câmara Cível, Apelação Cível Nº 70047741574, Relator: Bernadete Coutinho Friedrich, Julgado em 25/10/2012).

119 STJ, Terceira Turma, REsp 356.383/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, julgado em

A regra prevista no artigo 1.066 do Código revogado foi integralmente reproduzida no artigo 287 do Código Civil,120 de modo que se pode afirmar que, no

Brasil, ainda que ausente previsão normativa sistematizada sobre a cessão da

No documento Revista Brasileira de Direito Civil (páginas 53-56)

Documentos relacionados