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O nível universal, onde estão situadas todas as atividades da linguagem que utilizam estratégias comunicativas concernentes à referenciação, predição,

REVISITANDO ALGUNS CONCEITOS TEÓRICOS

1. O nível universal, onde estão situadas todas as atividades da linguagem que utilizam estratégias comunicativas concernentes à referenciação, predição,

contextualização, argumentação, narração e orientação espaço-tempo, entre outros, como ensina Coseriu (1979).

2. O nível histórico, composto por dois domínios:

2.1. o das Tradições Discursivas que incorporam, fundamentalmente, os tipos de textos, os estilos e os gêneros literários e não literários;

2.2. o das Línguas Históricas, nas quais se incluem todas as tipologias orais e escritas com suas respectivas regras (fonéticas, fonológicas, morfossintáticas e lexicais).

Para Oesterreicher (1979), as tradições discursivas se tornam manifestas a partir das condições de comunicação determinadas pelo fator histórico, uma vez que o discurso individual é realizado a partir dos modelos discursivos provenientes dos gêneros ou das tradições, e se convertem em conjuntos comunicativos, engendrados com traços específicos para cada modo de discurso e presumíveis formas de produção e recepção.

3. O nível individual que caracteriza-se pela inserção das atualizações dos discursos falados e/ou escritos produzidos pelo falante ou por um segmento do complexo hierárquico, existente no complexo social.

Seguindo a trilha elaborada por Kabatek (2006), a atividade concreta da fala perpassa por um par de filtros antes de se estabelecer como ato comunicativo. O primeiro filtro representado pela própria língua e o segundo representado pelas Tradições Discursivas, em qualquer de suas formas: oral ou escrita. Nesse sentido dá-se uma ampliação conceitual da tradição discursiva, levando-a a uma performance em dois graus:

1. Ampliação e incorporação de todos os tipos de textos tradicionais;

2. A formatação do discurso político, onde os diferentes coletivos se identificam em ideias comuns de procedências diversas.

Numa ilustração simples, é possível apreciar um “Tudo bem” ou um “E aí?” num mesmo contexto social aplicado de acordo com o grau definido por coletivos diferentes, tornado real sem prefixação de nenhum acordo tácito, mas como mera aceitação informal.

Logo, é possível qualificar, que o falante se baseia em modelos já existentes na sociedade, isto é, não cria aleatoriamente seu texto cada vez que vai produzir algum texto falado ou escrito. Kabatek (2003, p. 3-4), a esse respeito, comenta que

Na hora de falar ou de escrever um texto, os que falam ou escrevem não só têm que fazer passar a sua finalidade comunicativa através do filtro da gramática e o léxico de uma língua determinada na que querem concretizar este fim: como é sabido, o realizam também segundo uma norma que se refere ao já dito na sociedade; e o modelam de acordo com tradições textuais contidas no acervo da memória cultural de sua comunidade, maneiras tradicionais de dizer ou de escrever. [...] Chamamos, de acordo com os autores a estes modelos, tradições discursivas. (grifo do autor)

É evidente que há de se aperceber que mesmo ficando no nível do oral, algumas dessas situações, a depender do grau da hierarquia dos seus produtores, podem invadir o campo da escrita, quando “negociadas” culturalmente, já que as Tradições Discursivas, na forma socialmente contextualizada, adquirem valores de significação próprios. Uma vez adaptado e adequado enquanto código, ao se manter por repetição estabelece uma relação entre o atualizado e a tradição.

Essa constante fortalece a afirmação de Gomes (2006), de que as Tradições Discursivas são como atos comunicativos portadores de todas as propriedades genéricas e historicamente transmitidas pela via da história social da língua e das tecnologias. Entretanto, o que fundamenta de forma indubitável a tradição discursiva é:

1. o traço linguístico e não somente a repetição; 2. a repetição de elementos linguísticos por si só;

3. a tradição discursiva quando se realiza em condição de concomitância, evidenciada pela repetição e pela evocação, ou seja, a alteração se dá apenas pela variação da condição ou situação.

De acordo com Oesterrreicher (1999) uma tradição discursiva dispõe-se à finalidade da comunicação desejada onde, através de textos e/ou escrita, gera-se um tensor de aproximação ou distanciamento quando de sua produção, alguns se estabelecendo no âmbito do privado, enquanto outros são agendados no âmbito do público.

Isso ocorre porque a Tradição Discursiva, sob algumas condições, pode tornar-se um mobile resultante da variabilidade e da dinâmica dos processos, que venham a se desenvolver no espaço privado ou público da territorialidade e fora dela.

Essa é a razão principal pela qual o conceito aqui usado para classificar os anúncios dos jornais paraibanos do século XIX é o de tradição discursiva (TD). Como é sabido, o conceito de tradição discursiva (TD) se alimenta de um dado aspecto histórico contido nos textos. A referência à tradição discursiva, nesse caso, se assemelha à condição histórica das línguas, balizadas por uma hierarquia estabelecida entre o campo universal e o campo individual, como se pode deduzir da emblemática compreensão tripartida. Tal concepção, segundo o linguista romeno Coseriu (1979, p.79), poderia ser apresentada graficamente pelo esquema a seguir:

De posse desse sistema (a´- b´- c´- d´), da norma (a– b–c–d) e da capacidade de falar (A-B-C-D), o falante usa tais aspectos para expressar o falar efetivamente comprovado, ou seja, os seus atos linguísticos registrados ou recriados no exato momento da sua produção. É nesse meio ou ambiente que estão as Tradições Discursivas.

O sistema para Coseriu representa uma unidade abstrata ou formalização, isto é, “uma rede de funções”, que se realiza em formas sociais determinadas e mais ou menos constantes. A norma é a realização `coletiva´ ou condizente com as tradições desse sistema, obedecendo as imposições sociais e culturais segundo a comunidade linguística. Portanto, norma e sistema seriam a criação e repetição (re-criação), dentro do padrão e segundo as coordenadas do sistema individual. Por sua vez, a fala é a realização individual – concreta do sistema respeitando à norma e a expressividade do indivíduo falante. Assim sendo, Coseriu define norma como algo situado entre o abstrato do sistema e a concretude da fala, funcionando como uma das possibilidades fornecidas pelo sistema e resultante da repetição de modelos anteriores. (COSERIU, 1979, p.73-79).

Segundo Koch (1997), com base em Wilhelm (1996), submetidas às contingências históricas das línguas, as Tradições Discursivas passam por alterações e, considerando que essas tradições não nascem do nada, é possível identificar três formas de inovação:

a) inovação por diferenciação de tradições culturais – onde se tem a possibilidade de uma tradição discursiva se diferenciar ao longo do tempo;

b) inovação por mistura de tradições culturais – quando duas tradições que permanecem ao longo do tempo diferenciadas, durante seu percurso histórico, permitem que alguns de seus traços se combinem numa nova formação de tradição;

c) inovação por convergência de tradições culturais – caso, em que duas tradições diferenciadas, que desaparecendo, se transformam numa terceira tradição.

Buscou-se, em princípio, levando-se em conta essas referências, definir língua, gênero, anúncio, léxico e tradição discursiva, o que tornou-se essencial na pesquisa para uma compreensão dessa tradição discursiva nos periódicos, que refletisse a realidade da época.

CAPÍTULO III