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Universalização do Fenômeno

No documento O dano moral no contrato de emprego (páginas 96-101)

Como se pode ver, o dano moral indenizável há muito já era previsto na legislação ou na jurisprudência estrangeira, que de modo geral trata do dano moral,

considerando o fato ocorrido em razão do ilícito ou ato involuntário como ele costuma acontecer. Como por exemplo, aquele dano moral surgido em face do acidente de trabalho, na qual a maioria das legislações se preocupa com a existência da culpa subjetiva do empregador. Ou seja, que de algum modo ele tenha contribuído para o evento, uma vez que a culpa objetiva refere-se apenas ao dano material e de natureza previdenciária. O fenômeno se torna universal, levado pelo trabalho da imprensa que se encarrega de divulgar os resultados julgados. Deve ser considerado que o nível educacional e a consciência de cidadania muito têm contribuído para a expansão pela busca de amparo judicial.

O infortúnio trabalhista, desde o direito estrangeiro, só é indenizável civilmente quando decorrente da culpa subjetiva do empregador, somente nesse caso caberá a reparação pelo dano moral. Significa que em não havendo a contribuição do empregador de algum modo, ou havendo culpa do trabalhador, esse ficará em situação de perda, recebendo apenas pelos danos sofridos por força do seguro previdenciário. Ora, nenhum trabalhador, em sã consciência, colocaria em risco a sua vida, ou a perda de um membro com o objetivo de receber a indenização paga pela previdência, qualquer que fosse a quantia.

Com isso é afirmado que, em qualquer das hipóteses, o trabalhador deveria receber o pagamento da reparação previdenciária e civil, sendo que esta última englobaria os danos materiais e morais, para isto seria necessária a criação de um seguro obrigatório que pudesse responder por esse encargo. A proteção da vida do trabalhador, da sua saúde e das garantias de condições de sobrevivência digna no caso de tornar-se vítima do infortúnio trabalhista significa o amparo mínimo esperado de uma sociedade democrática, preocupada com os seus trabalhadores. A preocupação não deve ser com pequenos acidentes, tratáveis e

até esquecidos, mas, ressalte-se, que o ocorre nos acidentes de maiores proporções, nos quais os danos materiais são seguidos de profundos danos morais. Estes às vezes mais significativos do que aqueles, reservando marcas irreparáveis e cuja indenização pode ser considerada uma minoração do sofrimento que pode marcar para sempre a existência da vítima.

CAPÍTULO VII

DA PRESCRIÇÃO DO DANO MORAL NA RELAÇÃO TRABALHISTA

Prescrição: entendimento e origem. Prescrição na relação empregatícia. Da prescrição nas obrigações pessoais.

7.1 Prescrição: Compreensão e Origem

A prescrição é um instituto jurídico vinculado ao transcurso do tempo. O fenômeno tempo, aliado a inação do titular do direito, determina a impossibilidade da obtenção do direito, em face da perda do direito da ação correspondente, por isso distingui-se da decadência, por essa razão. No novo Código Civil brasileiro a viger a partir de janeiro de 2003, o entendimento está de acordo com o direito moderno: a prescrição se dá em relação ao direito e não em relação a ação, como se pode compreender no art. 189 daquele código, rompendo um entendimento milenar do direito romano. Em harmonia com o teor do artigo do novo Código Civil pode ser afirmado que: prescrição é a perda da possibilidade do titular do direito obter a sua satisfação porque não agiu em tempo certo, segundo os prazos determinados por lei. O tempo é enfim, o determinante do atendimento da pretensão ou da sua negação.

O homem elegeu o tempo como meio e fenômeno para distanciar os fatos da sua existência e, entendendo a sua finitude, compreendendo que a vida tem limite próprio, não poderia permitir que interesses de ordem pessoal tivessem duração infinita, quando os titulares não são eternos. A prescrição põe

limite às possibilidades e interesses, servindo de elemento pacificador. Evita assim, que o direito se transforme em valor a serviço das paixões pessoais, garantindo a certeza das relações jurídicas.

Viver em um mundo em que a prescrição não fosse aplicada, seria um tormento. O tempo perderia o seu glamour e as lembranças seriam um martírio perene. A paz social não existiria. Cabe ao ordenamento jurídico estabelecer regras e possibilidades, razoáveis, de modo que as pessoas saibam como se portar diante da realidade jurídica que se lhe apresente.

Para o Direito Romano as ações eram eternas. A qualquer tempo o credor poderia exigir o seu crédito, ressalvado um pequeno número de ações, que eram consideradas temporárias às quais eram impostos limites para a iniciativa do titular do direito. Em nossos dias a permanência de tal situação só é aceitável na área do Direito Penal, e em casos muito específicos. Só em 424, com Teodósio II é que a Constituição imperial veio por fim à perpetuidade das ações. Com Justiniano, no século VI, o instituto da prescrição adquiriu direcionamento próprio, passando a ter importância mais significativa no âmbito dos negócios de ordem pessoal e patrimonial, quando chegou a ser confundido com o usucapião.

O direito se moderniza ao entender que a permanência da prescrição na relação jurídica reveste cada situação específica em um prazo que é transitório. Embora tardia no Direito Romano, a prescrição é uma conquista social, jurídica e democrática decorre das diversas correntes ideológicas e sociais, além da doutrina da igreja, as quais vicejaram a partir do século XVIII. Fruto da criatividade humana, a prescrição revela o direito como técnica de acomodação, à medida que não autoriza o titular do direito a obter a sua pretensão, atribuindo-lhe a perda por sua inatividade. Não se trata da aplicação imperiosa do perdão jubileu dos

judeus e cristãos, nem de premiar o devedor, mas, sim, de não socorrer ao intempestivo.

O tempo, essa ilusão humana, marcando cada etapa da vida, funciona como regulador dos acontecimentos e das oportunidades. Pode tornar quitada a dívida não paga, ou extinguir outras obrigações em razão da sua passagem. Com a sua presença invisível, o seu ingresso no universo jurídico pode ser devastador, provocando novas realidades, mas assegurando a estabilidade dos negócios jurídicos. Do ponto de vista histórico e social o instituto da prescrição constitui-se uma conquista social e jurídica e que legitima a defesa do devedor. Não o obrigando a cumprir a sua parte de sacrifício no negócio jurídico, ato jurídico ou fato jurídico. O cumprimento da sua obrigação, qualquer que seja a sua origem, torna-se inexigível e a matéria de defesa daquele que deveria cumprir a obrigação, não será outra senão a que está dispensado do cumprimento do encargo a que se obrigara.

No documento O dano moral no contrato de emprego (páginas 96-101)