• Nenhum resultado encontrado

UNIVERSIDADE, SOCIEDADE E ESTADO: PROJETOS DE EDUCAÇÃO E DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM DISPUTA

Este capítulo discute a relação da universidade com a sociedade, com destaque para as transformações societárias das últimas décadas, evidenciando os desafios colocados às instituições universitárias no contexto atual. Como pano de fundo, busca-se demonstrar os reflexos das mudanças na universidade como parte de um processo global que tem pressionado e ocasionado “crises” nessa instituição ante a demanda de novas concepções e finalidades sociais para a mesma. Nesse contexto, projetos de educação em disputa têm gerado diferentes projetos de universidade e, em consequência, diferentes sentidos têm sido atribuídos à extensão universitária.

A partir das relações que emergem dessa totalidade e suas contradições, buscou-se inicialmente expor os referenciais teórico-metodológicos que fundamentam o estudo ora realizado, com destaque nas categorias Estado, sociedade, universidade, políticas públicas e políticas educacionais. Tendo em vista essas concepções mais abrangentes, as categorias centrais de análise deste estudo – a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão e interação dialógica – foram fundamentadas respectivamente na discussão a cerca dos projetos de educação em disputa e da democracia.

Como será demonstrado, apesar do dissenso sobre a indissociabilidade e sobre a extensão, parte-se do pressuposto que extensão universitária integra um modelo de universidade fundamentado em projeto de educação socialmente referenciado. Esse modelo foi expresso no princípio constitucional da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, elaborado no contexto da luta pela construção de um projeto democrático da sociedade brasileira.

No que concerne à interação dialógica, problematizam-se as possíveis aproximações e distanciamentos dos princípios que fundamentam a ideia de democracia radical e da democracia liberal. À luz desse referencial, buscou-se compreender a relação da universidade com a educação básica por meio da extensão universitária.

39

1.1 – Relações entre a Universidade, a Sociedade e o Estado

A extensão universitária, como parte da política de educação superior, pode ser compreendida como um dos possíveis campos de relação entre a universidade, a sociedade e o Estado. Essas relações são demarcadas por questões sociais, econômicas, políticas e culturais de cada contexto e época. Tanto a universidade sofre determinações da sociedade e do Estado, como também os influencia.

A extensão universitária como dimensão integrante de uma instituição educativa deve ser analisada a partir das múltiplas relações entre a universidade, a sociedade e o Estado, estabelecidas historicamente. Tal como observou Chauí (2003), parte-se do pressuposto que a universidade é uma instituição social vinculada à estrutura e o modo de funcionamento da sociedade.

A universidade é uma instituição social e como tal exprime de maneira determinada a estrutura e o modo de funcionamento da sociedade como um todo. Tanto é assim que vemos no interior da instituição universitária a presença de opiniões, atitudes e projetos conflitantes que exprimem divisões e contradições da sociedade. (CHAUI, 2003, p.5).

Historicamente, sempre existiram diferentes expectativas quanto às finalidades sociais (científicas, culturais, sociais, etc.) das instituições universitárias. Em geral, elas sempre se relacionaram com as classes dominantes nas sociedades em que estavam inseridas. Não há uma concepção singular de universidade e suas características foram construídas em consonância com cada período histórico, resultando em diferentes modelos de universidade.

A universidade medieval formava os quadros necessários à manutenção do poder da Igreja. Já a universidade francesa, caracterizada pelo ensino profissional fortemente controlado pelo poder instituído, voltou-se para a formação dos quadros essenciais para a consolidação do Estado Nacional. Na Alemanha, seu modelo universitário, caracterizado pela busca da autonomia com a responsabilidade do Estado na sua manutenção, surgiu da necessidade de salvaguardar a cultura alemã, constituindo-se como um centro da alta cultura, e de assegurar o desenvolvimento do país, por meio da pesquisa e do ensino com vistas a superar o atraso em relação aos outros países.

A universidade inglesa focou a formação da elite e, com as pressões populares advindas da revolução industrial, passou a oferecer formação técnica e atividades para além de sua clientela tradicional, denominadas atividades de extensão universitária. No contexto

40 norte-americano, inspirado na pesquisa alemã e na extensão universitária inglesa, as universidades desde a sua constituição sempre mantiveram relações com diferentes setores da sociedade. Na América Latina, como herança do colonialismo, as universidades primeiramente serviam de suporte da elite dominante e, com a Reforma de Córdoba, ampliou suas preocupações para os grupos excluídos socialmente.

No Brasil, as universidades se constituíram no século passado, exercendo inicialmente a função de formar os quadros profissionais necessários ao Estado, sob a influência francesa. Posteriormente, com base no modelo alemão e norte-americano, a pesquisa também foi incorporada como uma das atividades universitárias. A extensão universitária, desenvolvida desde o surgimento das primeiras instituições, também se voltou para o interesse das classes dominantes do Estado e da sociedade, redefinindo seu foco para a maioria da população recentemente.

Verifica-se que as instituições universitárias foram constituídas mediante as necessidades de seu tempo. Evidentemente, sempre estiveram voltadas a atenderem, em geral, os interesses de alguns grupos da sociedade e do próprio Estado. A ampliação da relação da universidade com a sociedade se deu pela pressão das camadas da população socialmente excluídas.

Esses modelos, adotados pela Inglaterra, pela França e pela Alemanha, respectivamente, resultaram de movimentos ocorridos na Europa no século XVII, que redefiniram o papel social e as funções da universidade, adequando-as às demandas emergentes naquelas sociedades em decorrência das novas formas de produção, de organização social e de estrutura de poder que se estabeleceram com a revolução industrial, a ascensão do capitalismo e a difusão de ideias liberais (MAZILLI, 2011, p. 207).

Diante disso, seria um equívoco imaginar a universidade como uma torre de marfim, “alheia aos negócios do mundo”, pois, “em qualquer tempo, a universidade esteve sempre comprometida com alguém, seja esse alguém um papa, um rei, um Estado, ou grupo ou uma classe social” (FAGUNDES, 1986, p.22-23). Portanto, percebe-se que as universidades até aqui abordadas sempre mantiveram relações com determinados grupos sociais, por meio do ensino, da pesquisa e da extensão. Essas relações foram modificadas pelo processo histórico de transformações culturais, econômicas, científicas e sociais ocorridas ao longo do tempo.

A Universidade sempre esteve comprometida socialmente com alguém. Na medida em que entendemos que a Universidade é uma instituição social, torna-se ilógico tentar tratá-la de forma dicotômica, como se Universidade e Sociedade fossem entidades autônomas. O contexto socioeconômico, político e cultural que

41

circunscreve a academia também a perpassa, portanto, a Universidade e a Sociedade evoluem, conjuntamente, em relações recíprocas e de maneira dialética (SOUZA, 2000, p.119).

Tomada essa perspectiva a respeito das relações recíprocas e contraditórias entre a universidade, a sociedade e o Estado, torna-se necessário explicitar qual a concepção de Estado e sociedade que orientou as análises realizadas neste estudo. O conceito de Estado e sua relação com a sociedade fundamentam-se na teoria do Estado Capitalista formulada a partir de Karl Marx e ampliada por Gramsci. A premissa que o Estado representa o bem comum e os interesses gerais da sociedade é criticada por Marx ao analisar as obras de Hegel. No Prefácio a “Para a crítica da economia política”, Marx afirma que “as relações jurídicas, bem como as formas de Estado, não podem ser explicadas por si mesmas, nem pela chamada evolução geral do espírito humano; essas relações têm, ao contrário, suas raízes nas condições materiais de existência” (MARX, 1978, p.129). O seu ponto de partida é a vida material (materialismo dialético) e não o pensamento (idealismo dialético). Considera que as relações de produção burguesas definidas no modo de produção capitalista se baseiam fundamentalmente na divisão da sociedade em classes antagônicas – os burgueses (proprietários dos meios de produção) e os proletários (trabalhadores que vendem sua força de trabalho) – e na exploração da segunda pela primeira.

É dessa divisão de classes que se origina o Estado como expressão dos interesses particulares de uma determinada classe – a burguesa – na garantia da propriedade privada e, portanto, da reprodução da sociedade capitalista. Em o “Manifesto do Partido Comunista”, publicado por Marx e Engels, é enunciada uma frase que resume sua compreensão de Estado: “O governo moderno não é senão um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa” (MARX e ENGELS, 1983, p.367), o que aponta para o caráter classista do Estado e, portanto, capitalista, o qual nasceu da necessidade de garantir as relações de produção capitalista (esfera econômica) por meio do domínio da esfera política. Esse domínio é exercido pelo controle de certos recursos coercitivos e ideológicos.

A sociedade civil para Marx se constitui no espaço em que as relações econômicas se concretizam, compostas pelas relações que caracterizam a estrutura de cada sociedade, a partir da qual se eleva a superestrutura jurídica e política – o Estado. Para ele, os ideais burgueses de liberdade, democracia e direitos humanos tinham conteúdo universal, porém formal, na medida em que as leis não se concretizavam no plano material e econômico (BOBBIO et al, 2010; SELL, 2013). Essa visão restrita de Estado era coerente com o contexto vivido por

42 Marx, pois, como ele mesmo afirmou, sua crítica expressava a visão “de uma determinada época histórica, da produção moderna” (MARX, 1978, p.104).

Contudo, em Gramsci, encontra-se um conceito ampliado de Estado, em virtude das lutas que surgiram na sociedade civil. Apesar de manter, em sua análise, o caráter classista do Estado e seu poder repressivo, conforme a perspectiva de Marx, Gramsci considerava que a reprodução da dominação de classe não se exerceria somente pela função coercitiva do Estado, mas também pelo consenso junto às classes dominadas.

Para o teórico, o Estado é composto pela sociedade política e sociedade civil. A primeira é responsável pelo exercício da coerção ou manutenção da ordem estabelecida correspondente à dominação direta ou de comando expresso no Estado, no governo jurídico e no domínio das forças militares. A segunda corresponde ao aparelho privado da hegemonia composto pelo sistema privado de produção e os aparelhos ideológicos e culturais (sistema escolar, igrejas, partidos políticos, organizações profissionais, sindicatos, meios de comunicação, instituições de caráter científico e artístico, etc.) que configuram o caráter educador do Estado. Para Gramsci, “na noção geral de Estado entram elementos que também são comuns à noção de sociedade civil (nesse sentido, poder-se-ia dizer que Estado = sociedade política + sociedade civil, isto é, hegemonia, revestida de coerção)” (GRAMSCI, 1984, p. 149).

A partir da concepção de Estado restrito formulada por Marx, ou da crítica ao conceito liberal que identifica Estado e governo ou sociedade política e oculta o caráter classista do Estado, Gramsci amplia o conceito de Estado ao incorporar a concepção de hegemonia. É a partir da luta de classes que a hegemonia é incorporada ao conceito de Estado, ao ser entendida como formação da vontade coletiva por meio da capacidade de direção intelectual e ideológica, apropriada por uma determinada classe sobre o conjunto da sociedade civil. Nesse sentido, a constituição e organização de classe mediante a relação orgânica entre o modo de produção e a superestrutura se dão pela unificação de diferentes camadas sociais em um bloco histórico.

Essa unidade de forças sociais e políticas, por meio da difusão da concepção de mundo da classe dominante, assegura a manutenção da estrutura de poder – Estado – como representação universal e acima das classes sociais. Dessa maneira, a função hegemônica se realiza plenamente quando a classe dominada incorpora ou interioriza a ideologia dominante, indispensável para estabilizar as relações de dominação e produção. A hegemonia, nessa

43 acepção, constitui-se necessariamente numa relação pedagógica ou educativa em que o Estado conquista e educa o consenso, e articula/media a contradição entre o capital e o trabalho.

Cada Estado é ético quando uma das suas funções mais importantes é a de elevar a grande massa da população a um determinado nível cultural e moral, nível (ou tipo), que corresponde às necessidades de desenvolvimento das forças produtivas, e, portanto, aos interesses das classes dominantes. (GRAMSCI, 1984, p.145)

Nessa direção, a escola e os tribunais constituem-se em funções educativas mais importantes do Estado, sendo a primeira positiva e a segunda repressiva e negativa, apesar da existência de uma multiplicidade de outras iniciativas e atividades privadas que compõem “o aparelho de hegemonia política e cultural das classes dominantes”. Dessa maneira, Gramsci incorpora essas instituições que também promovem a reprodução das relações sociais definidas no sistema capitalista como parte do Estado e, portanto, difusoras das ideologias dominantes. Contudo, a função de hegemonia e dominação, isto é, consenso e coerção dependem da correlação de forças entre as classes sociais na disputa pelo poder que pode levar ao enfraquecimento do poder de direção política e garantia do consenso pela classe dominante, gerando uma crise de hegemonia.

Essa crise pode ocasionar o uso da coerção para reorganização da classe dominante com vistas à recomposição da hegemonia, ainda que atendendo minimamente aos interesses das classes dominadas. Por outro, as classes dominadas podem se organizar de tal maneira que ampliem o espaço público do Estado em favor de seus interesses. O conceito de Estado Ampliado em Gramsci revela o caráter contraditório e dialético entre a hegemonia e a coerção determinadas historicamente pela luta de classes.

Para Azevedo (1997), em determinados momentos históricos, o Estado pode ter sua estrutura ampliada, tal como o Estado de Bem-Estar Social, e, em outros, essa mesma estrutura pode ser restrita, tal como o Estado Neoliberal. No primeiro caso, o Estado é apresentado como responsável pela promoção do bem comum e, assim, ao propor políticas relativas à reprodução social, deve assegurar o bem-estar para o maior número possível de pessoas. Já no segundo caso, a defesa do Estado mínimo pressupõe o mercado como regulador e distribuidor da riqueza e da renda.

Em outro sentido, Bruno (2002), ao discutir a relação entre o público e o estatal e criticar a compreensão de espaço público como a esfera de ação do Estado, afirma que as políticas públicas que emanam desse aparelho de poder, em geral, nunca implicaram a gestão

44 democrática das mesmas. Ao contrário, sempre serviram aos interesses do Estado e da classe que o controla, que, em alguns momentos, incorporará determinadas exigências da classe trabalhadora a fim de evitar rupturas sociais, embora sem a promoção da participação da última na formulação e implementação das políticas. Apreende-se dessa maneira que as políticas estatais não devem ser compreendidas como sinônimas de políticas públicas.

Para Draibe (1993), a articulação entre Estado e sociedade se processa fundamentalmente por meio de “políticas públicas”, consideradas como “um elemento estrutural importante das economias capitalistas contemporâneas”. Estas configuram “uma determinada forma de relação entre o Estado e o mercado, o Estado e a Sociedade”, e “um modo particular de regulação social” que se manifestou em determinado momento do desenvolvimento capitalista (DRAIBE, 1993, p.2). Compreende-se assim que as políticas públicas são fruto do próprio dinamismo do processo de acumulação capitalista que provoca contínuas transformações nas estruturas do Estado.

A política educacional como componente dessa totalidade maior deve ser pensada de maneira articulada ao projeto de sociedade que se deseja implantar em cada momento histórico, “construído pelas forças sociais que têm poder de voz e decisão e que, por isso, fazem chegar seus interesses até ao Estado e à máquina governamental, influenciando na formulação e implementação das políticas ou dos programas de ação” (AZEVEDO, 1997, p.60). Nesse sentido, a política educacional deve ser concebida como resultante da correlação de forças entre distintos projetos (OLIVEIRA, 2010b, p.2), implicando em contradições no seu interior como fruto das contraditórias relações estabelecidas entre a sociedade e o Estado na reprodução do sistema capitalista.

A partir da perspectiva até aqui apresentada, parte-se do pressuposto que a “educação e sua análise, então, devem ter como ponto de partida sua presença imanente numa totalidade histórica e social” (CURY, 1986, p.14). De acordo com esse autor, referenciando-se em Marx, pela análise da totalidade, busca-se ter “uma visão capaz de conectar dialeticamente um processo particular com outros processos e, enfim, coordená-lo com uma síntese explicativa cada vez mais ampla” (CURY, 1986, p.27), porém provisória. Dentro dessa totalidade contraditória, a educação pode servir ao aumento do capital e de sua reprodução por meio da formação da força de trabalho, mas nesse mesmo processo ela pode se constituir como um poderoso meio de transformação da sociedade.

45 A partir da década de 1960 do século passado, transformações significativas em diversos âmbitos da sociedade têm ocorrido em escala mundial. O processo complexo de globalização tem gerado mudanças econômicas, políticas, culturais e sociais. Essas mudanças também têm implicado diretamente nas políticas educacionais e, entre estas, nas relações entre a universidade, a sociedade e o Estado.

O âmbito político-econômico caracteriza-se, sobretudo, pela reestruturação do modo de produção e acumulação capitalista, que tem provocado a reconfiguração da soberania do Estado Nacional e seu papel no desenvolvimento de políticas públicas, na condução de sua economia diante do poder das grandes corporações multinacionais e do mercado financeiro global. Segundo Bruno (1999), o modo de produção anterior, denominado sistema fordista de acumulação, caracterizava-se por um sistema baseado na relação entre os centros de poder das grandes empresas (sobretudo as multinacionais), os organismos cooptados do Estado Nacional e os sindicados burocratizados. Às empresas cabia garantir o aumento da produtividade; ao Estado, os serviços públicos gratuitos, como as políticas de bem-estar social (Welfare State)8, coincidindo diretamente no aumento do poder de compra dos assalariados e expansão dos mercados e do consumo. Aos sindicatos cabia a canalização das reivindicações dos trabalhadores de maneira a impedir a ruptura das relações sociais de produção.

Esse modo de acumulação só foi reestruturado a partir da crise de 1973/74, que sofreu forte impacto dos conflitos e lutas proletárias ocorridas entre os anos de 1960/70, sobretudo nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A reestruturação capitalista, a partir de então, deu-se pela internacionalização e financeirização da economia, por meio do processo de transnacionalização e integração econômica em nível mundial. Essa integração não se vinculou às nações ou sistemas econômicos mundiais e sim à ação conjunta de grandes grupos econômicos. Nessa reestruturação, a intermediação do Estado nas atividades de regulação macroeconômica foi dispensada, dada a grande concentração de capital em polos reduzidos de integração econômica e tecnológica. Essas instituições operam e coordenam um processo econômico que se mundializou, sobrepondo-se aos Estados Nacionais, tornando-os supérfluos para os capitalistas (BRUNO, 1999).

Nessa conjuntura, os organismos internacionais, tais como a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), têm

8

Conforme BRUNO (1999), embora esse Estado seja adjetivado como o de Bem-Estar, as ações repressivas desenvolvidas nos países onde existiu foram avassaladoras.

46 ocupado a função de controlar e dominar as relações econômicas definindo os rumos das políticas implementadas pelos Estados Nacionais. As políticas de bem-estar social têm sido cada vez mais reduzidas e substituídas pelas políticas de ajustamento estrutural e condicionamento econômico impostas por esses organismos, cuja única referência é o mercado, conforme a ideologia neoliberalista. Ao localizar as raízes da crise no Estado intervencionista e de bem-estar, verifica-se que as ideias neoliberais passaram a defender o Estado mínimo. Desse diagnóstico resultou aos Estados a disciplina orçamentária, reformas fiscais, cortes brutais dos gastos sociais e desmontagem dos serviços públicos, enfrentamento com os sindicados, abandono do pleno emprego, privatização de empresas públicas, etc., promovendo a desigualdade e o empobrecimento da maior parte da população mundial (ANDERSON, 1998).

O novo modelo de acumulação, denominado de “acumulação flexível” por David Harvey, vem flexibilizando os processos e mercados de trabalho, por meio do desemprego estrutural, terceirização, por exemplo, bem como os produtos e padrões de consumo (OLIVEIRA, 2010a). Em síntese, esses processos atingem também aspectos da vida cultural e social, quanto aos processos de trabalho e hábitos de consumo, e têm resultado no aprofundamento das assimetrias entre pobres e ricos.

Do ponto de vista cultural e social, a globalização tem impactado a relevância das culturas nacionais e locais diante dos efeitos de unificação e homogeneização conforme os padrões ocidentais, principalmente norte-americanos (BALL, 2001). Já para Oliveira (2010a),