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5 ERGUENDO OS OLHOS E OLHANDO O ENTORNO

5.1 UNIVERSO DA PESQUISA

O universo desta pesquisa é composto por dois sujeitos que residem na cidade de São Paulo. Rubens Matuck, arquiteto, artista plástico e professor. Trabalha em seu ateliê, situado no Bairro de Perdizes. Marisa Szpigel, professora de artes visuais, leciona na Escola da Vila, situada no Bairro Butantã. Atua como formadora de professores de artes visuais da rede pública e privada no Instituto Tomie Ohtake e na Organização Não Governamental - Cedac19.

Os dois sujeitos foram entrevistados de maneira informal. Para isso, foram convidados a participarem de forma voluntária, narrando suas experiências de registro em Diários, deixando clara a opção de não identificação, se assim quisessem. A pesquisa foi desenvolvida no ateliê do artista e na residência da professora.

5.2 CONTATOS

Inicialmente, por intermédio da direção de uma escola particular, situada na cidade de São Paulo, no dia 19/02/08, houve um convite para que os professores de artes de nível I e II elaborassem um Diário de registro, sendo acompanhados por um período de dois meses com encontros semanais na escola. Entretanto, não foi possível realizar esta pesquisa, devido à falta de retorno da direção da escola, por isso a pesquisadora optou por explorar outros espaços de ensino.

O contato com a segunda escola ocorreu no dia 14/03/08 e foi realizada através de e-mail com a direção da escola que foi mais receptiva. Feito o convite aos professores de artes da escola, uma professora interessou-se pela pesquisa pelo fato de fazer Diários, se tornado um dos sujeitos desta investigação.

O interesse por investigar o Diário de um artista plástico surgiu devido à dificuldade de o pesquisador conseguir penetrar na Instituição Educacional, enfrentando diversos obstáculos burocráticos e também pela falta de interesse dos professores pela pesquisa. Como o artista plástico foi muito receptivo e concordou em ser um colaborador para esta investigação, se tornou o outro sujeito desta investigação.

5.3 VISITAS

O contato com o artista foi feito através de telefone e e-mails. Em seguida, foi realizada uma visita ao atelier do artista, no dia 26/03/08, no período noturno. Já, o contato com a professora foi feito através de telefone e foram realizados dois encontros, no período das férias de Julho, sendo o primeiro realizado no Instituto Tomie Ohtake e o segundo na residência da professora.

5.4 MATERIAIS (ENTREVISTAS)

É confirmado pela comunidade científica o uso de documentos pessoais na metodologia de investigação qualitativa. Com o nome de documentos pessoais incluem-se várias criações pessoais escritas, orais ou gráficas, como: autobiografias, cartas, Diários, questionários, entrevistas, portfólios, composições e arte, entre outras.

Os documentos pessoais constituem uma classe de materiais de estudo de caso, especificamente de documentos de caso escritos em primeira pessoa. É essa pessoalidade, originária do sujeito, que torna rica e também multifacetada a utilização de tais documentos. Por isso, pode-se afirmar que as potencialidades de um documento pessoal são praticamente inesgotáveis. Tudo dependerá dos pontos de vista ou perspectivas em que o mesmo se (re) interprete.

Neste percurso reflexivo, houve um olhar crítico sobre dois tipos de documentos pessoais, que se julgou ser de reconhecido valor e aceitação atual no domínio da Educação e da arte, o Diário e as entrevistas, ou seja, as falas dos sujeitos sobre a produção de seus Diários ao longo de suas vidas.

Para a realização desta pesquisa, foi elaborada uma única pergunta:

Em que medida o registro, no Diário, altera a práxis do professor no decorrer da vida?

A fala dos dois sujeitos foi gravada, o discurso de ambos levou aproximadamente uma hora de gravação.

Segundo Ludke e André (1986), a grande vantagem da entrevista sobre outras técnicas é que ela permite a captação imediata e corrente da informação desejada. A entrevista permite correções, esclarecimentos e adaptações que a tornam mais eficaz na obtenção das informações desejadas. A entrevista ganha vida

ao se iniciar o diálogo entre o entrevistador e o entrevistado. A utilização da entrevista representa um dos instrumentos básicos para a coleta de dados, na perspectiva da pesquisa qualitativa, possibilita a captação imediata das informações desejadas e interpretações atentas nas representações que aparecem.

É um instrumento que permite a classificação, tabulação, propiciando comparações com outros dados da pesquisa, além de ser algo concreto, que possibilita recorrer quantas vezes quiser, fazendo outras possíveis leituras.

Em entrevistas semi-estruturadas, em que não há uma ordem rígida de questões, o entrevistador discorre sobre o tema com base nas informações que ele detém e que no fundo é a verdadeira razão da entrevista. Na medida em que houver um clima de confiança, estímulo e aceitação mútua, as informações fluirão de maneira notável e autêntica.

Para Ludke e André (1986), deve-se ter um respeito muito grande pelo entrevistado, sendo que esse respeito envolve desde pontualidade nos horários e locais marcados até a perfeita garantia do sigilo e anonimato em relação ao informante, se for o caso.

Alguns cuidados devem ser tomados para se conduzir uma boa entrevista. Segundo Thiollent (1980) apud Ludke e André (1986), um desses cuidados é que alguns autores chamam de “atenção flutuante”.

Há toda uma gama de gestos, expressões, entonações, sinais não verbais, hesitações, alterações de ritmo, enfim, toda uma comunicação não verbal cuja captação é muito importante para a compreensão e a validação do que foi efetivamente dito (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 36).

É necessário estabelecer critérios de como registrar os dados obtidos na entrevista. A gravação direta e a anotação durante a entrevista serão usadas concomitantemente. Além disso, foi pedido aos dois entrevistados que seus Diários estivessem presentes no momento da entrevista, para assim obter mais elementos que enriquecessem a investigação.

O gravador esteve presente nos encontros, considerando que não houve timidez do professor e do artista, pois nem todos se sentem inteiramente à vontade e

natural ao ter sua fala gravada. As gravações foram transcritas posteriormente para assim, fazer comparações entre as notas e as falas transcritas dos dois entrevistados, tentando distinguir as menos importantes e aquelas realmente centrais.

Em relação ao registro feito através de notas no momento da entrevista, Ludke e André (1986)salientam que o entrevistador deixará de anotar muitas coisas ditas, pois conduzir uma entrevista exige atenção e o esforço do entrevistador, mas, em compensação, as notas já representam um trabalho inicial de seleção e interpretação das informações emitidas.

Ao optar pela realização da entrevista, assume-se uma das técnicas de coleta de dados mais dispendiosas, especialmente pela questão do tempo e qualificação exigidos do entrevistador. Por isso é importante haver o preparo do pesquisador em relação ao seu objeto de estudo e de quem irá abordar, para ter uma coleta e análise de dados mais significativa.

Algumas precauções metodológicas foram necessárias para validar as entrevistas feitas com os dois sujeitos desta pesquisa. Suas falas gravadas foram ouvidas incansavelmente, para assim conseguir perceber os núcleos de pensamento dos dois sujeitos, bem como as imagens dos Diários que foram selecionadas de acordo com as falas dos dois sujeitos, com o objetivo de apontar mais elementos que colaboraram para a investigação.

Sobre a dialética privacidade-publicidade dos conteúdos revelados sobre os Diários, tratou-se de conceituar o Diário não como documento privado, mas como um documento pessoal com a autorização de seus escritores para a divulgação dos dados.

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