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3 POLÍTICAS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES ALFABETIZADORES NO BRASIL

4.1 UNIVERSO DE PESQUISA – REGIÃO DO ABC PAULISTA

4 CARACTERIZAÇÃO DOS ELEMENTOS DE PESQUISA

Nesta seção, apresentamos algumas singularidades sobre o universo de pesquisa – a sua construção sócia histórica, a construção do Consórcio Intermunicipal que elaborou o Plano Regional de Educação, no qual todos os municípios se comprometeram a investir e melhorar a educação pública da região. Destacamos como a formação do PNAIC ocorreu na região.

Apresentamos os dados referentes aos participantes da pesquisa, retirados do questionário e da entrevista. E, apresentamos a categorização do conteúdo, descrito por Bardin (2011).

A região do ABC Paulista, de acordo com estimativas do IBGE, tem aproximadamente 2.825.048 de habitantes. Das cidades, São Bernardo do Campo continua a mais populosa da região, com 849.874 moradores, seguida de Santo André (723.889), Mauá (481.725), Diadema (429.550), São Caetano do Sul (162.763), Ribeirão Pires (125.238) e Rio Grande da Serra (52.009) (IBGE, 2021).

A região do ABC Paulista é conhecida no país devido a sua economia sólida e forte industrialização nas décadas de 1960, 1970 e 1980. Em São Bernardo do Campo, estão as primeiras indústrias automobilísticas do Brasil: Volkswagen, Ford, Mercedes-Benz, Scania, Karmann-Ghia e Toyota, além disso, a cidade é importante também nos setores metalúrgico, mecânico e de materiais elétricos, que se complementam ao setor automotivo. Santo André e Mauá concentram o setor petroquímico, as refinarias e plantas industriais de duas das empresas mais importantes do mundo, Petrobrás e a Rhodia Industrial. Diadema têm indústrias complementares ao setor automotivo, especializadas em autopeças e componentes automobilísticos, além do setor químico, de plásticos e produtos farmacêuticos expressivos (URIOS, 2020, s/p.). Todavia, de 2000 para cá, houve uma redução na presença de indústrias, migrantes para outras regiões ou outros Estados (SÃO PAULO, 2010).

O percurso histórico da região mostra-nos que, principalmente, São Bernardo e Santo André foram palcos de lutas trabalhistas que reverberaram na criação dos movimentos sindicalistas que se expandiram pelo país. “As cidades desenvolveram sindicalismos organizados de grande pode reivindicatório, sendo palco dos mais incisivos movimentos grevistas já ocorridos na história do país” (SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2010, s/p.).

No Grande ABC, para 2022, há a previsão de investimentos na ordem de R$2,7 bilhões, principalmente nas áreas de Infraestrutura e Logística. Com estimativas para até 2025, são esperados mais de R$ 10 bilhões em investimentos, principalmente da indústria. Em relação à recuperação econômica por causa da pandemia, a região registrou saldo positivo na geração de empregos formais, com 146 vagas abertas em janeiro (OBSERVATÓRIO DO GRANDE ABC, 2022, s/p.).

Apesar de compor a mesma região, os índices socioeconômicos variam de acordo com o município e o mesmo ocorre em relação às desigualdades sociais. Todos os municípios possuem áreas periféricas e de vulnerabilidade social. A cidade que possui a menor taxa em relação à vulnerabilidade social é São Caetano do Sul, os seus dados, em relação à violência também são os menores, é o município com o melhor IDH da região, seguido por Santo André (que ocupa a 8º posição no país), e São Bernardo do Campo (que ocupa a 16º posição no país) (PREARO; GARCIA, 2019).

O abastecimento de água e o recolhimento de esgoto foram os itens mais bem avaliados, acima de 6,0, pelas pessoas que residem no grande ABC. Aqueles itens piores avaliados, abaixo de 5,0, estavam relacionados à oferta de eventos culturais, ao meio ambiente, moradia, programas de geração de renda, participação popular, saúde, segurança pública e controle de enchentes. O tema que foi pior avaliado por todos foi à questão do trânsito (PREARO; GARCIA, 2019, p. 131).

São Bernardo, Santo André, Ribeirão Pires possuem áreas de mananciais que, ao longo das décadas, foram invadidas com construções irregulares (embora haja um esforço com programas de moradia para minorar o problema, ele ainda persiste). Além do Auxílio Brasil todos os municípios possuem programas próprios de ajuda na complementação de renda dos seus munícipes. Em relação à educação, todos os municípios possuem regimes próprios de educação, somente São Caetano conseguiu expandir o Ensino Fundamental para os anos finais (6º ao 9º ano), os demais já possuem os projetos, porém ainda não estão em via de expansão.

Em 2016, o Consórcio Intermunicipal elaborou o Plano Regional de Educação, no qual em seu primeiro artigo, institui-se “[...] a articulação de políticas de educação regional, visando viabilizar em cada município a aplicação da Lei Federal n. 13.005, de 25 de junho de 2014, como garantia da qualidade social da educação no ABCDMRR [...] respeitando o Art. 214 da Constituição Federal e o Plano Plurianual Regional Participativo” (ABCDMR, 2016).

Em relação aos participantes desta pesquisa, a maioria das professoras que respondeu ao questionário trabalham nos municípios de São Bernardo do Campo (SBC), Santo André (SA) e São Caetano do Sul (SCS). Suas construções históricas se misturam, sendo que São Caetano do Sul já fez parte do município de SBC e a Delegacia de Ensino Estadual que fica em SBC é responsável por SCS, ainda hoje. Por serem vizinhas, é comum seus munícipes trabalharem em outra cidade. À época, da implantação do PNAIC todos os municípios que fazem parte da região, aderiram ao programa, a UNESP foi a IES responsável pela formação dos docentes.

No período de implantação do PNAIC, nas três cidades, a população estava situada nas classes B e C. SCS era a cidade com maior quantidade de pessoas nas classes A (8,3%) e B (60,8%). A renda familiar em SCS era quase o dobro das outras cidades, individualmente.

Seguida por SBC e SA. “[...] os dados revelaram que a cidade de São Caetano do Sul e a de São Bernardo do Campo são aquelas que possuíam as maiores desigualdades sociais” (PREARO;

GARCIA, 2019, p. 131).

Em 2014, quase 82% da população de SBC tinha acesso à internet, seguida de SCS com quase 74% e SA com quase 72%. A média de escolaridade era de dez anos. Em relação ao ensino superior mais de 20% dos munícipes tinham graduação; SCS lidera a porcentagem dos adultos com graduação. A maioria dos indivíduos possuía ensino médio completo. Apesar de

vizinhos e de compartilhar via consórcio projetos conjuntos, há particularidades que são específicas de cada cidade.

O gráfico 1 traz as notas do IDEB dos municípios de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá e do Estado de São Paulo de 2015 até 2019 (data da última medição).

Gráfico 1 – IDEB – Anos iniciais.

Fonte: Adaptado. (Qedu, 2021).

Conforme o Gráfico 1, todas as cidades desde 2013, conseguiram atingir as metas propostas pelo IDEB, a meta para 2022, de acordo com o PNE (2014/2024) já foi atingida pelos cinco municípios (média 6,0), índice obtido pelos países da OCDE (2020), estes estão entre os vinte primeiros, em relação ao maior desenvolvimento educacional do mundo. SA e Diadema estão com a menores notas (6,5 na última edição); SBC (6,8; 6,9 nas últimas edições); SCS possui as maiores notas, porém teve uma retração na última edição (7,2; 7,5; 7,3), seguida por Mauá (6,7 na última edição).

Ao comparar os índices das cidades com o Estado de São Paulo, SCS destoa – suas notas continuam acima do esperado; SA e SCS estão similares ao Estado que apresenta 6,4; 6,5 e 6,6 respectivamente. Tanto Estado quanto os municípios estão além quando comparados com o IDEB do país – respectivamente obteve as notas 5,3; 5,5; 5,7 – as cidades com maiores problemas de aprendizagem, localizam-se no Norte, Centro-Oeste e Nordeste (BRASIL, 2021).

O gráfico 2 demonstra os índices em relação à proficiência de Língua Portuguesa nas três cidades e no Estado de São Paulo.

Gráfico 2 – Proficiência em Língua Portuguesa e Matemática – anos iniciais.

Fonte: Adaptado. (Qedu, 2021).

O gráfico 2 demonstra a média de resultados em proficiência. Os cinco municípios, Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, concentram a maioria das crianças no nível adequado. Os níveis no IDEB são agrupados da seguinte maneira:

insuficiente, (nível 1) 0-149 pontos, as crianças apresentam pouco aprendizado, estão muito aquém do esperado, geralmente, não conseguem ler e escrever com autonomia e não conseguem utilizar modos de contagem em matemática; básico, (níveis 2 e 3) 150-199 pontos, apontam para a necessidade de reforço escolar, as crianças apesar de estar aquém do esperado, conseguem ler e escrever, mas com dificuldades conforme o gênero textual e as implicações decorrentes da compreensão e interpretação textual; adequado ou proficiente, (níveis 4 e 5) 200-249 pontos, as crianças estão preparadas para continuar os estudos e recomendam-se atividades de aprofundamento; avançado (níveis 6, 7, 8, 9 e 10) 250 acima de 350 pontos, as crianças estão além da expectativa. Recomendam-se atividades desafiadoras e com maior grau de complexidade.

Ao observar as cidades, o número maior de crianças concentra-se nos níveis proficiente e avançado, em Matemática os pontos das avaliações são maiores do que em Língua Portuguesa – isso decorre porque nos anos iniciais as habilidades de leitura e escrita são intrinsecamente

relacionadas aos conhecimentos da língua (gramática, ortografia, pontuação, paragrafação etc.);

e para o nível proficiente e avançado é necessário:

[...] perceber as relações entre as palavras utilizadas em um texto; usar o vocabulário para construir (produção de escrita) ou perceber (leitura) as estruturas textuais, as atitudes e as intenções que querem demonstrar ou que o autor construiu. Na leitura, é preciso utilizar outras habilidades linguísticas para apreender o tema e a estrutura global do texto, perceber as relações lógicas e temporais, inferir informações para saber a intenção do autor (KLEIMAN, 2007, p. 32).

Um processo de alfabetização exitoso contribui para que a criança se preocupe com habilidades da escrita e leitura maiores do que o reconhecimento das palavras e de suas estruturas. Para a autora, a escola “[...] é um mobilizador dos sistemas de conhecimento pertinentes, [...]” (KLEIMAN, 2007, p. 82-83), que devem visar à formação de um sujeito inserido na cultura da escrita e competente para as diversas leituras de mundo. O letramento, na escola, por vezes está associado às práticas etnocentradas e de caráter monocultural, provocando um distanciamento da língua materna usada no dia a dia. Desta forma, a leitura e escrita não apresentam sentido, por isso é comum encontrarmos na sala de aula “[...] um leitor/escritor desinteressado e desestimulado, alunos que concebem o ato de ler e escrever como atividades [...] áridas e tortuosas [...] que não tem nada a ver com atividade prazerosa [...]

ninguém gosta de fazer aquilo que é difícil demais ou de que não consegue extrair sentido”

(KLEIMAN, 2007, p. 16).