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4 OS CONSUMIDORES DAS FEIRAS ECOLÓGICAS DE PORTO ALEGRE

4.1 Universo familiar, ocupação e origem dos entrevistados

Para composição amostral procuramos entrevistar o mesmo número de consumidores nos dois locais de feira observadas. Todavia, alguns consumidores entrevistados possuíam experiência de compra nos dois locais de feira desta pesquisa, o que tornou mais denso e rico os relatos.

O que pudemos observar nas feiras, de uma maneira geral, foi a diversidade de públicos que por ali transitam. Apesar de maior presença de consumidores de mais idade, convivem neste espaço diversas gerações. Desta forma, usando do bom senso e da coerência, tivemos o cuidado de contemplar as diversas faixas etárias economicamente ativas que semanalmente comparecem nas feiras. Através dos dados da Figura 20 é possível perceber a distribuição dos entrevistados que fizeram parte da amostra, sendo que 25% estão na faixa de idade compreendida entre 30 a 35 anos; 15% entre 36 e 44 anos; 30% entre 45 e 54 anos e 30% na faixa entre 55 e 65 anos. Este aspecto é importante diante da necessidade de assegurar uma visão mais diversificada e plural a respeito dos elementos de interesse da pesquisa.

Figura 20: Distribuição dos entrevistados por faixa Etária. Fonte: Pesquisa de campo (2015).

Outra característica interessante a destacar no ambiente de feira é a diversidade de gênero. Como resultado das mudanças na sociedade, a tarefa de adquirir os produtos na feira decididamente não é mais uma atribuição predominantemente ou exclusivamente feminina. Mas essa mudança de costumes é ainda mais pronunciada no caso das feiras ecológicas de Porto Alegre. Buscamos fazer com que esse aspecto estivesse presente na composição da amostra, razão pela qual 40% da mesma foi formada de homens e 60% de mulheres (ver Figura 21). Vale dizer que em três situações as entrevistas foram realizadas com casais que, na maioria das vezes, realizam juntos as compras. Nestes casos os

25% 15% 30% 30% 30-35 36-44 45-54 55-65 IDADE

entrevistados relatam que nas vezes em que não estão juntos, esta tarefa é realizada tanto por um como pelo outro.

Figura 21: Distribuição dos entrevistados por gênero. Fonte: Pesquisa de campo (2015).

Em algumas entrevistas, os homens relataram que não abrem mão da tarefa de fazer as compras na feira, deixando para a esposa/companheira as compras complementares em outros locais, incluindo supermercados. Parte desse comportamento, se deve ao fato de que estes homens têm uma relação de proximidade com os produtores e uma identificação clara com a proposta da feira e com os princípios que regem o seu funcionamento (sustentabilidade, ecologia, apoio à agricultura familiar, etc). A feira é também um espaço de sociabilidade e de consolidação de relações.

O perfil dos entrevistados mostrou-se bastante heterogêneo quanto à profissão, situação laboral e composição familiar. Compuseram a amostra: trabalhadores informais, funcionários públicos, trabalhadores da inciativa privada, profissionais, liberais, aposentados, estudantes e donas de casa. A Figura 22 apresenta as características da amostra do ponto de vista da ocupação principal dos entrevistados. Observa-se que a maior proporção (29%) corresponde a pessoas aposentadas, em segundo lugar de trabalhadores autônomos (17%), donas de casa (12%), profissionais liberais (12%), professores (6%), funcionários públicos (6%), funcionários de empresas (6%).

40%

60% H

M GÊNERO

Figura 22: Distribuição dos Entrevistados por ocupação ou atividade profissional. Fonte: Pesquisa de campo (2015).

Em relação à composição familiar, 75% são formadas por pessoas casadas ou que vivem junto com seus parceiros ou parceiras. Entre os casados ou conviventes em união estável, tem-se os que não possuem filhos (25%), os que possuem os filhos residindo junto (55%) e os demais (20%), que possuem filhos que já não residem mais no domicílio.

Os 25% restantes se dividem entre pessoas solteiras ou separadas que vivem com um ou mais filhos. Esta diversidade na composição familiar mostrou-se importante no relato dos entrevistados, como, por exemplo, no caso dos que têm filhos, os quais relataram que mesmo não morando mais com estes, manifestam a preocupação com uma alimentação diferenciada para garantir a sua saúde. Já entre os que não têm filhos as motivações se dividem entre a saudabilidade do alimento, do engajamento cívico e do consumo político de apoiar a causa da agroecologia49.

No quesito escolaridade cabe ressaltar que 70% dos entrevistados possuem formação universitária completa ou inclusive pós-graduação. O restante se distribui entre os que têm nível superior incompleto (15%) e os que possuem o segundo grau ou ensino médio (15%).Esse dado se aproxima ao que foi apurado no estudo realizado por Sacco dos Anjos, Godoy e Caldas (2005) ao analisar o perfil50 do

49

Essa questão será aprofundada posteriormente. 50

No aludido estudo, Sacco dos Anjos, Godoy e Caldas (2005, p. 160) informam que a maior proporção das pessoas entrevistadas nas feiras ecológicas de Pelotas, equivalente a 46,9%, possuíam nível superior, seguidas de segundo grau completo (37,5%) e segundo grau incompleto (15,6%), 29% 12% 12% 6% 12% 6% 6% 17% Aposentado D. casa Prof. Liberal Func. Público estudante Professor Func. Emp

consumidor das feiras ecológicas de Pelotas. As pessoas que buscam este tipo de mercado consumidor tendem a possuir maior nível de instrução e de informação, tanto no que toca ao produto em si, como em relação aos processos produtivos subjacentes.

Com relação à renda familiar, a maior parte (60%) das pessoas declarou que ela está situada entre cinco e dez salários mínimos, sendo o restante dividido entre os que recebem até cinco salários mínimos (20%) e os que possuem rendas superiores a dez salários-mínimos (20%). No estudo realizado sobre as Feiras-livres de Pelotas (SACCO DOS ANJOS, GODOY e CALDAS, 2005) a renda domiciliar dos entrevistados se distribui da seguinte forma: 6,5% das pessoas tinham uma renda familiar entre 1 a 2 salários-mínimos (SM), 19,4% entre 3 a 4 SM, 6,5% entre 5 a 6 SM, 38,7% entre 7 a 10 SM, 12,9% entre 11 e 15 SM e 16,5% mais de 15 SM. Se cruzamos nossas informações com as colhidas em Pelotas constatamos que a faixa mais importante (5 a 10 SM) equivale, no nosso caso a 60%, enquanto em Pelotas, equivalia, há pouco mais de dez anos, a 45,2%. Através desses dados fica claramente evidenciado que o consumidor que adquire os alimentos nas feiras ecológicas possui maior escolaridade e renda familiar mais elevada que a média da população brasileira.

O tempo em que os consumidores frequentam as feiras é uma informação de grande relevância para os objetivos da pesquisa. O contato com a realidade mostrou que 40% dos entrevistados participam das feiras ecológicas de Porto Alegre desde o seu surgimento, descrito anteriormente, enquanto que 40% o fazem há mais de três anos. Os 20% restantes participam das feiras há menos de três anos. Esses dados oferecem indícios do grau de fidelidade dos consumidores à proposta. Vale dizer que a frequência de compra nas feiras é semanal, envolvendo um gasto médio compreendido entre R$ 80,00 e R$ 120,00 reais.