• Nenhum resultado encontrado

O município de Franca está localizado na região Norte do estado de São Paulo e sua formação data do século XIX. Nos primeiros anos de sua existência, foi chamada de Belo Sertão da Estrada de Goi- ás, Terra do Capim Mimoso, Vila Franca do Imperador, Terra das Três Colinas e Capital Nacional dos Calçados Masculinos. Seus pri- meiros moradores foram paulistas e mineiros, e a estes se juntaram imigrantes italianos, portugueses e árabes. Em seus primórdios, a cidade destacou-se pelo cultivo do café, garimpo, criação de gado e comércio de sal, mas fi cou conhecida pelo crescimento industrial.

Em 1900, a população de Franca era de 18.636 pessoas e, em 1950, passou para 53.385, representando um aumento de 187%. Em 50 anos, Franca experimentou ora um crescimento, ora um decréscimo de sua população em função do exercício de suas atividades econômicas. (Ca- dernos de Estudos, 2000, p.38)

4 Assis (1992) considera microempresas aquelas com um a quatro funcionários e pe- quenas, com cinco a 99.

Tais atividades incluíam café nas primeiras décadas e fabricação de calçados posteriormente. Sobre a cafeicultura na região, Barbosa (2006) destaca que, entre 1886 e 1920, Franca e região vivenciaram o auge do café. O crescimento populacional no período foi de 341,32%.

A economia cafeeira propiciou ainda o incremento da vida urbana e o aparelhamento infraestrutural, a exemplo da instalação da rede elétrica e de abastecimento de água e esgoto, necessários ao surgimento e evolu- ção das fábricas [...]. (Barbosa, 2006, p.43)

O Almanaque Histórico de Franca, publicado em 1943, registra a chegada da iluminação pública em 1904:

A velha Franca andava às escuras. Em 1894, três lampeões à querozene foram colocados por particulares, em frente às suas respectivas casas co- merciais. Em 1895, o Intendente Fábio Barreto mandou construir mais 200 dos referidos lampeões, para iluminação da cidade. Em 1897, San- tos Pereira encomendou mais 250 para ampliar a iluminação pública. Em 1901, tiveram início os primeiros estudos, seguindo-se-lhes reite- radas tentativas para a instalação da luz elétrica. Vencidas várias difi cul- dades de ordem moral e fi nanceira, felizmente inaugura-se a luz elétrica em Franca a 9 de abril de 1904. Atualmente, a rendosa indústria é de propriedade da Companhia Francana de Eletricidade (Emprezas Elé- tricas Brasileiras). Com excepção do distrito de Jeriquara, todos os de- mais pertencentes ao município de Franca são servidos por luz elétrica. Número de consumidores em 1939: 3.100 particulares, e 35 indústrias. (Almanaque Histórico de Franca, 1943, p.30)

A rede elétrica é evidentemente um marco para a posteridade de um início que não foi nada fácil, como registra a citação anterior do Almanaque Histórico de Franca, de 1943. É interessante salientar que a “Sociedade Anonyma Companhia Francana de Eletricidade” foi fundada por comerciantes, fazendeiros e políticos da época áurea do café na região: Francisco da Silveira Gusmão, prefeito em 1906, e vereador por dois mandatos; Hygino de Oliveira Caleiro, dono dos Armazéns Caleiro e da Casa Bancária Hygino Caleiro; Jerônimo B. Sandoval, fazendeiro, vereador por dois mandatos; os coronéis An-

dré Martins de Andrade (prefeito em 1905) e Martiniano Francisco de Andrade (prefeito em 1908 e 1911), proprietários, entre outros bens, de fazendas de café e de casas comerciais. Homens ilustres do município com uma coisa em comum: sócios da fábrica francana de fósforos, que também tinha em seu quadro Carlos Pacheco, funda- dor da primeira indústria de calçados do município, a Jaguar.

[...] outro exemplo é a remodelação da cidade pelo poder público a partir da última década do século XIX; questões como a racionalização do es- paço, higienização e embelezamento materializavam-se na preocupação com o planejamento e funcionalidade do traçado urbano, na imposição legislativa da assepsia nos hábitos da população e a multiplicação de praças e jardins, imprimindo a marca de uma sociedade que se moder- nizava a passos largos no outrora denominado Belo Arraial do Sertão do Capim Mimoso. (Barbosa, 2006, p.43)

Outros exemplos dessa época são o Teatro Santa Maria, cons- truído em 1913; o Hotel Francano, inaugurado em 1929; a Praça Nossa Senhora da Conceição. Ainda existem vestígios do primeiro no centro da cidade, abrigando uma casa de shows; o hotel foi demo- lido no início da década de 1980 e cedeu lugar a um banco; a Praça passou por diversas reformas e modifi cações.

A cidade se moderniza a cada nova década do século XX, com o crescimento da população urbana em busca de novas oportunidades de emprego, principalmente no setor industrial. A tabela 2 mostra o crescimento da população francana no século XX e no início do século XXI.

Tabela 2. Evolução da população de Franca

Ano Número de habitantes

1900 18.636

1910 29.000

1920 35.214

1930 23.750

19505 53.485 1960 68.027 1970 95.018 1980 148.997 1990 233.098 2000 287.737 2010 318.785

Fontes: Ipes/Facef, 2000; IBGE, 2009; IBGE, 2010.

Na década de 1970, o aumento da população foi de 39,68%, saltando de 68.027 em 1960, para 95.018 em 1970, observando-se uma situação inversa à década anterior, ou seja, é precisamente na década de 1970 que a população economicamente ativa passa a se concentrar nas atividades industriais, ao mesmo tempo em que o predomínio demográfi co na ci- dade passa a se distanciar do campo. (Cadernos de Estudos, 2000, p.40)

Essa é uma tendência que perdura até os dias atuais, com desta- que para os setores de serviço e comércio que agregam mão de obra signifi cativa.

Franca recebe os trilhos da estrada de ferro em 1887, o que vai colocá-la na rota do desenvolvimento e do crescimento econômico, apesar de, nesse caso, não estar atrelado a nenhum fato social. O trem naquele período servia para o transporte de passageiros e do café a ser exportado.

Um ano antes, em 1886, começava a funcionar o Curtume Cubatão, o primeiro da cidade. Foi montado pelo padre Alonso Ferreira de Carvalho que, em 1906, também fundaria o Curtume Progresso.5

Vinte anos após a fundação de seu primeiro curtume, vendido em 1890, padre Alonso fundou em 1906 o Curtume Progresso. Como se verá mais adiante, vendido pelo padre a Carlos Pacheco em 1917, o Curtu- me Progresso, totalmente remodelado e modernizado após sua venda, traduziu-se em um marco para a indústria do couro e do calçado local. Além da facilidade na obtenção regular de couros, outros dois motivos

podem ter contribuído para a instalação dos curtumes em Franca: a existência de água em abundância em virtude dos diversos rios e córre- gos que circundam a região e a forte presença de madeiras ricas em tani- no, substância utilizada no curtimento do couro. (Barbosa, 2006, p. 40)

Sobre as indústrias de calçados, Canoas (2007) afi rma que a consolidação ocorre a partir da década de 1950 e, citando Vilhena (1968), mostra que, entre 1950 e 1967, foram criadas 150 empresas, sendo 65 em 1967.

Coutinho (2008) e Barbosa (2006) também contam essa história que envolve a descoberta da vocação francana para o calçado que se dará justamente na primeira metade do século XX. Entre 1920 e 1950, o município acompanhou a abertura e o encerramento de dezenas de indústrias de calçados e selarias as quais contribuíram para o ciclo formativo de capitalistas e sapateiros que permanece na atualidade.