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USINAS HIDRELÉTRICAS INSTALADAS NO TRECHO DO RIO IGUAÇU QUE ATRAVESSA O TERRITÓRIO E O DESLOCAMENTO DOS RIBEIRINHOS

No documento MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO (páginas 110-115)

2 REFERENCIAL TEÓRICO-EMPÍRICO

4 HISTÓRIA DO TERRITÓRIO CANTUQUIRIGUAÇU E DAS SUAS USINAS HIDRELÉTRICAS

4.2 USINAS HIDRELÉTRICAS INSTALADAS NO TRECHO DO RIO IGUAÇU QUE ATRAVESSA O TERRITÓRIO E O DESLOCAMENTO DOS RIBEIRINHOS

4.2 USINAS HIDRELÉTRICAS INSTALADAS NO TRECHO DO RIO IGUAÇU QUE ATRAVESSA O TERRITÓRIO E O DESLOCAMENTO DOS RIBEIRINHOS

Devido aos rios da região serem propícios à geração de energia hidrelétrica, Cantuquiriguaçu conta com sete usinas. Das cinco usinas instaladas no rio Iguaçu, principal gerador de energia do Sul do Brasil, quatro estão no Território de Cantuquiriguaçu: UHE Governador Ney Aminthas de Barros Braga (Salto Segredo), Salto Santiago, Salto Osório e UHE Governador Bento Munhoz da Rocha Neto (Foz do Areia), conforme descritas no Quadro 4.

Usina Município Início das Operações

Capacidade Instalada

Empresa Proprietária

Salto Osório Quedas do

Iguaçu

1975 1078 MW Tractebel

Salto Santiago Saudade do

Iguaçu

1980 1420 MW Tractebel

UHE Gov. Bento Munhoz da Rocha Netto (Foz do Areia)

Pinhão 1980 1676 MW COPEL

UHE Gov. Ney Aminthas de Barros Braga (Segredo)

Mangueirinha 1992 1260 MW COPEL

Quadro 4 – Usinas hidrelétricas em operação no trecho do Rio Iguaçu que faz parte do Território

Estas hidrelétricas, junto com a UHE de Salto Caxias ocupam quase metade da extensão total do rio Iguaçu (FAVRETO, 2008). Extensão que deverá aumentar ainda mais em 2013, quando a Usina Hidrelétrica do Baixo Iguaçu, no Sudoeste do Paraná, começar a operar66.

A ELETROSUL (Centrais Elétricas do Sul do Brasil) foi até a década de 1990 a companhia responsável pelo planejamento, construção e operação de usinas hidrelétricas no Sul do Brasil a partir de 1969, quando foi constituída como um braço da ELETROBRÁS no sul (SANTOS, 2002). Com as atividades transferidas para a ELETROSUL, ela assumiu a construção das usinas hidrelétricas Salto Osório e Salto Santiago na década de 1970 (ELETROBRÁS, 2007).

A UHE Salto Osório está instalada em Quedas do Iguaçu e possui hoje capacidade instalada de 1.078 MW, segundo dados publicados pela Tractebel Energia (2009b). O seu reservatório ocupa 51 Km2. Segundo Gallo (2002, p.1), a construção de Salto Osório se deu em duas etapas: a primeira concluída em 1976, com a execução de todas as obras civis e instalação de quatro unidades geradoras; e a segunda, concluída em 1981, com a instalação de mais duas unidades geradoras. Entre uma e outra houve, segundo Gallo (2002, p.1) “o desvio do leito original do rio [...], em julho de 1970, e o fechamento das comportas para enchimento do reservatório [...], em julho de 1975”.

Logo que os trabalhos de construção da usina Salto Osório foram terminados, a ELETROSUL deu início às obras de outra usina de grande porte na região. Assim, a UHE Salto Santiago começou a ser construída em 1975, em Saudade do Iguaçu (SANTOS, 2002). Possui atualmente potência instalada de 1.420 MW e seu reservatório ocupa 208 Km2 (TRACTEBEL ENERGIA, 2009a). Salto Santiago começou a operar em 1980, cinco anos após Salto Osório.

Outra companhia que soube aproveitar os recursos hidrelétricos do rio Iguaçu foi a Companhia Paranaense de Energia (COPEL), que construiu no território duas usinas de grande porte: UHE Governador Bento Munhoz de Rocha Netto (Foz do Areia) e UHE Governador Ney Aminthas de Barros Braga (Segredo).

66 Em setembro de 2008 a ANEEL concedeu o direito à Neoenergia (grupo privado do Rio de Janeiro) para “construir e operar a hidrelétrica de Baixo Iguaçu. Para isto, irá inundar “13,59 Km2 dos municípios de Capanema, Capitão Leônidas Marques, Nova Prata do Iguaçu, Planalto e Realeza. A estimativa é de que 359 famílias sejam atingidas”. Apesar de a COPEL ter participado do leilão, e perdido, o governador Roberto Requião “afirmou que a licença prévia concedida pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP), órgão do governo estadual, é irregular e prometeu cassá-la” (FAVRETO, 2008, s/p).

A construção da usina Governador Bento Munhoz da Rocha Netto, conhecida como Salto Segredo, começou em 1975, na cidade de Pinhão, após a aprovação pelo Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE). Em abril de 1980, houve o fechamento das comportas da usina e, com isso, o enchimento do reservatório que ocupa uma área de 167 Km2, segundo dados da Companhia Paranaense de Energia (COPEL, 1995). Em seis meses, a usina, a maior do território, com capacidade de 1.676 MW, começou a gerar energia. “Com sua operação, a geração própria da COPEL atingiu 2,9 bilhões de kWh, contra 1,9 bilhões do ano anterior” (COPEL, 2009, s/p.).

Na década de 1990, houve crescimento da demanda de energia elétrica no país, o que serviu de incentivo para que a COPEL começasse um novo empreendimento hidrelétrico no rio Iguaçu, a construção da UHE Governador Ney Aminthas de Barros Braga (Segredo). Conforme informações da Companhia Paranaense de Energia, esta foi a primeira usina hidrelétrica do Brasil que teve sua construção precedida por um Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Quando inaugurada, em 1992, com uma capacidade de 1.260 MW, “reduziu a dependência paranaense de energia comprada de outros estados” (COPEL, 2009, s/p.).

Como em outras regiões do país, a construção das usinas em Cantuquiriguaçu, deslocou uma grande quantidade de ribeirinhos. Segundo números do Conselho de Desenvolvimento do Território Cantuquiriguaçu, a construção de usinas no território atingiu aproximadamente quatrocentas famílias de pequenos agricultores, cujas propriedades, parcial ou totalmente, foram inundadas pelas águas após o represamento do rio (CONDETEC, 2004).

Para a instalação do reservatório da UHE Governador Bento Munhoz da Rocha Netto (Foz do Areia), por exemplo, foi necessário desapropriar67 lotes de terras em cinco municípios da região: Pinhão, Cruz Machado, Bituruna, Porto Vitória, União da Vitória e Porto União. Desta forma, 1.172 propriedades rurais, num total de 13.036 hectares, foram atingidas pelo reservatório, segundo levantamento realizado pela Companhia Paranaense de Energia (COPEL, 1995).

Entre estas propriedades, todo um povoamento, Concórdia, desapareceu após a construção da usina. Neste caso, foi construída na mesma região uma “agrovila dotada de energia elétrica, sistema viário revestido com saibro, rede de água, telefone, campo de esportes, clube, colégio, igreja e cemitério. [...] Além da vila residencial, foi destinada uma área para agricultura, constituída de pequenas glebas rurais” (COPEL,1995, p.178).

“Foi desenvolvido pela COPEL um trabalho visando realocar a maioria dos expropriados nas áreas remanescentes” (COPEL, 1995, p. 259), pois muitas das propriedades não foram totalmente inundadas. Assim, muitos dos ribeirinhos ficaram na mesma propriedade. Aqueles que não perderam toda sua terra, foram reassentados num local perto do antigo território (COPEL, 1995).

Este deslocamento compulsório dos pequenos agricultores que viviam nas margens do rio, na maioria das vezes, não ocorreu de forma tranqüila. Antes e durante a construção da usina, o conflito, em geral, separa os atingidos: de um lado ficam os ribeirinhos, contrários ao empreendimento, e de outro, os comerciantes, os prefeitos e grande parte da população urbana, esperançosos de que a usina irá trazer desenvolvimento econômico e social para a região (KARPINSKI, 2007). Durante o período das obras, o acúmulo de novos moradores na região alimentam os negócios locais, de mercados a casas de prostituição (SEVÁ, 2008). Anos após o final do processo de transferência dos ribeirinhos, os conflitos ressurgem, desta vez tendo também a participação daqueles que viram os trabalhadores da usina irem embora e as promessas de desenvolvimento não serem cumpridas.

A região também recebeu muitos agricultores que tiveram suas terras inundadas pelo reservatório de Itaipu. A empresa contratada pela Companhia Paranaense de Energia para fazer o Relatório de Impacto Ambiental para a construção da UHE Segredo constata que numa “grande área situada no município de Mangueirinha [...] existem muitos ‘ilhéus de Itaipu’ lá instalados em propriedades médias (30 a 50 ha68) [...]” (COPEL, 1987, p. 80). O mesmo relatório denuncia que as condições de vida nestes assentamentos são em geral muito precárias, em virtude da baixa qualidade dos solos e clima bem diferente dos que estavam acostumados na sua região de origem:

Em Palmas, no assentamento Passo Fundo, a condição das 40 famílias, na maioria vindas de Itaipu, não é diferente. Mesmo em lotes médios de 15 ha, não têm conseguido produzir sequer para sua sobrevivência, pelos problemas de qualidade dos solos e clima extremamente rigoroso, com geadas freqüentes (COPEL, 1987, p. 81).

Ainda há de se destacar que muitos dos ribeirinhos não receberam nenhum tipo de indenização quando da construção das usinas no território, pelo simples fato de não terem sido reconhecidos como atingidos. São eles os meeiros, os posseiros e os empregados das propriedades que, como os proprietários das terras, perderam sua fonte de sustento. A própria Companhia Paranaense de Energia assume que quando do levantamento dos atingidos para a construção da Usina Segredo foi verificado que numa mesma propriedade viviam várias famílias. Neste caso, somente o proprietário recebeu indenização, as outras famílias que ali viviam, quando necessária a sua saída, tiveram que procurar outras fontes de sustento (COPEL, 1987).

No próximo capítulo, iremos ver com mais detalhes, como se deu a construção da Usina Hidrelétrica Salto Santiago na região e como os deslocamentos compulsórios devidos a ela forçaram a uma ressignificação do território pelos ribeirinhos afetados por ela.

No documento MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO (páginas 110-115)