4. POTENCIAL DE PREVENÇÃO DENTRO DO SECTOR
4.1 Tecnologias e Medidas de Prevenção Identificadas para o Sector
4.1.5 Uso de equipamentos adequados e sua correcta operação e manutenção
O uso de equipamentos adequados, nomeadamente fulões com eficiente rotação e agitação,
devidamente operados, em perfeitas condições de funcionamento e equipados tanto quanto
possível com sistemas de monitorização e controlo, conduz a uma melhor gestão no consumo
de água e a uma utilização mais eficiente dos reagentes.
Nas fases do processo de natureza mecânica é extremamente importante a optimização dos
sistemas de corte (manual ou mecanizado) de forma a reduzir a quantidade de resíduos
sólidos e consequentemente maximizar a quantidade de produto final.
A aplicação de sistemas de filtração aos fulões utilizados em determinadas operações, como
no caleiro e no recurtume / tingimento, para a remoção contínua dos sólidos suspensos, é uma
medida que contribui para a melhoria da qualidade das águas residuais descarregadas e
subsequentemente para a diminuição dos encargos com o seu tratamento. Acrescem ainda as
vantagens de natureza processual, pois a ausência de sólidos suspensos evita o aparecimento
de defeitos na pele e melhora a eficiência reaccional dos produtos químicos.
Nas operações de acabamento, a utilização de equipamentos com elevado rendimento de
aplicação dos químicos contribui para a redução do consumo dos mesmos e para a
minimização da geração de resíduos (os reagentes perdidos) ou da contaminação das águas.
Neste âmbito devem-se utilizar pistolas de baixa pressão (sistema HVLP) e máquinas de
rolos. Existem também disponíveis no mercado sistemas de filtração das águas das cortinas
das cabines de pintura, que impedem a descarga dos desperdícios e permitem a recirculação
da água.
Para além da instalação dos equipamentos mais adequados no processo de fabrico, é
absolutamente essencial que estes sejam correctamente operados por pessoal devidamente
formado, pois de contrário as vantagens inerentes à sua utilização podem-se desvanecer.
Assim, uma formação profissional cuidada e periódica do pessoal ao serviço, tanto ao nível
dos aspectos técnicos como ao nível da sua responsabilização em todas as questões de
natureza ambiental na empresa, é imprescindível e contribuirá decisivamente para a melhoria
do processo produtivo e da qualidade.
Quadro 6 – Tecnologias e medidas de prevenção identificadas para o sector dos curtumes, sua
correlação com a operação onde se aplica e o resídue que previne.
Tecnologia ou Medida Operação em
que se aplica
Resíduo que previne Benefícios Expectáveis(*)
Processos alternativos à salinização para a conservação
das peles:
(1) Conservação pelo frio (arrefecimento, refrigeração,
congelação)
(2) Aditivos auxiliares de perservação (antisépticos
alternativos: biocidas, sulfito/ácido acético), desde que
não tóxicos.
(3) Preservação das peles por irradiação
Conservação
das peles e
Molho
Efluentes salinos e sua
contribuição para a
salinidade das lamas.
Redução da salinidade do
efluente e das lamas:
(1) e (3): 90%
(2): 50%
Eventual redução do volume
das águas do molho.
Remoção mecânica do sal antes do Molho e sua possível
reutilização (após purificação) na conservação ou na
piquelagem
Molho Efluentes salinos e sua
contribuição para a
salinidade das lamas.
Redução da salinidade do
do efluente e das lamas
(10%) e do volume do
efluente.
Utilização e gestão eficiente da água:
(1) Utilização de equipamentos tipo fulão com eficientes
mistura e distribuição da água Molho e Caleiro
(2) Utilização de sistemas em descontínuo para os
processos de lavagem Operações daRibeira
(3) Reutilização da água na mesma ou em outras
operações, após remoção dos sólidos suspensos e
reposição dos químicos
Operações da
Ribeira
Contaminação das
lamas com agentes
químicos residuais
utilizados nas
operações.
Redução do volume dos
efluentes da fase da Ribeira
e dos contaminantes das
lamas.
Caleiro com imunização do pêlo, baixo teor de sulfuretos e
recuperação do pêlo:
(1) Processo Sirolime – sistema multibanhos com
controlo do uso de sulfuretos e recuperação do pêlo.
(2) Processo Blair-Hair – Baixo teor de sulfuretos e amina
auxiliar de depilação.
(3) Processo Darmstadt – uso de meios auxiliares
mecânicos de descabela, baixo teor de sulfuretos e
auxiliares enzimáticos.
Calagem ou
Caleiro Carga orgânica nosefluentes e nas lamas.
Teor residual de
sulfuretos nos efluentes.
Redução da carga orgânica
(35% CQO e CBO5, 23%
NKjel) e dos sulfuretos
(56%) nas águas residuais.
Redução do volume dos
sólidos, incluindo lamas de
ETAR (10%)
Caleiro com substituição parcial de sulfuretos e
recuperação do pêlo:
(1) Uso de enzimas proteolíticas para a depilação,
utilizando meios mecânicos auxiliares (se necessário)
(2) Uso de agentes comerciais orgânicos sulfurados
baseados no tioglicolato, no tioetilenoglicol ou em sais
do ácido formamidinosulfínico.
(3) Uso de auxiliares enzimáticos com ou sem aminas
auxiliares.
(4) Uso de Polisacarídeos modificados.
Calagem ou
Caleiro Carga orgânica nosefluentes e nas lamas.
Teor residual de
sulfuretos nos efluentes.
Redução da carga orgânica
(25% CQO e CBO5, 26%
NKjel) e dos sulfuretos
(70%) nas águas residuais.
Redução do volume dos
sólidos, incluindo lamas de
ETAR (14%)
Nota: valores apresentados
para o caso (2)
Quadro 6 (cont.) – Tecnologias e medidas de prevenção identificadas para o sector dos curtumes, sua
correlação com a operação onde se aplica e o resíduo que previne.
Tecnologia ou Medida Operação em
que se aplica
Resíduo que previne Benefícios Expectáveis
Sistemas de Recirculação dos licores alcalinos de sulfureto.
(1) Banhos separados de descabela e alcalinização, com
recirculação destes após reposição de químicos.
(2) Filtração dos banhos do Caleiro, com recuperação do
pêlo, e reutilização das águas
(3) Ultrafiltração dos banhos esgotados do Caleiro e
reciclagem do permeado para a mesma operação.
(4) Utilização dos banhos esgotados em outras operaçõs
após dessulfurização catalítica
(5) Acidificação dos banhos esgotados e recolha do H2S
libertado em soda para posterior aplicação
Calagem ou
Caleiro
Carga orgânica nos
efluentes e nas lamas.
Teor residual de
sulfuretos nos efluentes.
Redução da carga orgânica
e dos sulfuretos nas águas
residuais e redução do
volume, carga orgânica e
contaminação das lamas.
Remoção do pêlo no matadouro por têmpera com água
quente.
Calagem ou
Caleiro
Carga orgânica nos
efluentes e nas lamas.
Teor residual de
sulfuretos nos efluentes.
Redução da carga orgânica
e dos sulfuretos nas águas
residuais e redução do
volume, carga orgânica e
contaminação das lamas.
Realização da operação de descarnagem antes do caleiro Descarnagem Contaminação dos
resíduos de descarna
com sulfureto
Maior probabilidade na
utilização dos resíduos de
descarna.
Realização da operações de divisão na pele não curtida
(divisão em tripa)
Divisão Raspas da divisão com
crómio.
Redução (45%) da
quantidade de resíduos com
crómio.
Possível utilização das
ras-pas não curtidas no fabrico
de gelatinas, colas, etc.
Desencalagem alternativa aos sais de amónio:
(1) Desencalagem com dióxido de carbono
(2) Desencalagem com ácidos orgânicos (láctico, acético)
(3) Desencalagem com sais de magnésio
(4) Desencalagem com ácido clorídrico e bicarbonato de
sódio
Desencalagem Contaminação dos
efluentes e das lamas
com azoto amoniacal.
Redução da contaminação
com azoto amoniacal das
águas residuais e das lamas:
(1) 65%
(2) 75%
Desengorduramento aquoso ou enzimático, em alternativa
aos solventes Desengordura-mento Resíduos líquidoscontendo solventes
orgânicos.
Redução (100%) dos
resíduos com solventes
orgânicos.
Centrifugação das peles antes do curtume para estimativa
precisa do peso da pele
Preparação
para o curtume
Licores de curtimenta
com crómio.
Lamas com crómio.
Redução na sobredosagem
de reagentes (crómio) e
subsequente redução do seu
teor nas águas e nas lamas
(*) Relativamente aos processos convencionais. Percentagens de redução referentes aos efluentes e sólidos globais.
Quadro 6 (cont.) – Tecnologias e medidas de prevenção identificadas para o sector dos curtumes, sua
correlação com a operação onde se aplica e o resíduo que previne.
Tecnologia ou Medida Operação em
que se aplica Resíduo que previne Benefícios Expectáveis
Processos de exaustão do crómio:
(1) Curtume “a seco” (utilização de banhos curtos):
técnicas low-float
(2) Controlo rigoroso da temperatura, dos tempos de
basificação e de reacção, e do pH
(3) Utilização de compostos de crómio autobasificantes
(4) Uso de auxiliares de curtume para fixação do crómio
(essencialmente di ou policarboxilatos e poliacrilatos,
mas também aminas, polifosfatos e silicatos)
Curtume ao
crómio Licores de curtimentacom crómio.
Lamas com crómio.
Redução do crómio
descarregado nas águas
residuais:
(2) 50%
(4) 70%
Redução (10%) do volume
das lamas e redução (65%)
do seu teor em crómio.
Recirculação dos banhos de curtimenta, recuperação e
reciclagem do crómio
(1) Recirculação directa: recirculação de parte do banho
esgotado após passagem por crivo, filtro ou
hidrociclone, e reposição dos químicos
(2) Recirculação para a Piquelagem: recirculação de parte
dos banhos esgotados de crómio para a piquelagem,
após crivagem e arrefecimento.
(3) Recuperação do sulfato de crómio: precipitação do
Cr(OH)3, sua redissolução em ácido e reciclagem do
licor para o curtume.
Curtume ao
crómio Licores de curtimentacom crómio.
Lamas com crómio.
Redução do crómio
descar-regado nas águas residuais:
(1)+(2): 45% (3): 78%
Redução do volume das
lamas:
(1)+(2): 7% (3): 12%
Redução do teor em crómio
nas lamas:
(1)+(2): 65% (3): 85%
Utilização de agentes de curtimenta alternativos ao crómio
(1) Curtimenta mineral alternativa: utilização de outros
agentes como alumínio, titânio ou zircónio (wet-white).
(2) Processo TAL (ICI) – utilização de substâncias
curtientes alternativas como Ti, Al e Mg
(3) Curtume com agentes taninos orgânicos alternativos
como o glutaraldeído (wet-white)
(4) Redução no uso do crómio por introdução de um
pré-curtume de alumínio ou de glutaraldeído
(5) Utilização de agentes de curtimenta auxiliares do
crómio: minerais, orgânicos, vegetais e syntans
Curtume Licores de curtimenta
com crómio.
Lamas com crómio.
Redução ou eliminação do
crómio descarregado nas
águas residuais.
Redução do volume das
lamas e do seu teor em
crómio.
Exaustão dos agentes de tingimento e engorduramento, por
utilização de polímeros anfotéricos e controlo rigoroso das
condições operacionais (pH, temperatura, volume do banho)
Tingimento e
Engordura-mento
Contaminação das
águas residuais e das
lamas
Redução da quantidade de
corantes e/ou gorduras nas
águas residuais e nas lamas
(redução de 60% do CQO)
Filtração dos banhos de tingimento e sua reciclagem parcial
(50%, p.ex.) após reposição dos agentes Tingimento Contaminação daságuas residuais e das
lamas
Redução da quantidade de
corantes e/ou gorduras nas
águas residuais e nas lamas
Fulões equipados com sistemas contínuos de filtração dos
banhos CaleiroCurtume
Tingimento
Contaminação das
águas residuais e das
lamas
Redução da quantidade de
matéria orgânica, pêlo,
corantes e gorduras nas
águas residuais e nas lamas
Equipamentos de pintura e de outros revestimentos com
elevada eficiência:
(1) Máquinas de rolos rotativos
(2) Sistemas de spray HVLP (high-volume-low-pressure)
(3) Sistemas de filtração e reciclagem das águas nas
cortinas das cabines de acabamentos
Acabamentos Contaminação das
águas e das lamas com
resíduos de acabamento
(lacas, tintas, graxas,
etc).
Redução dos desperdícios
de produtos de acabamento:
30% em (1) e 10% em (2)
Redução do seu teor nas
águas e nas lamas.
(*) Relativamente aos processos convencionais. Percentagens de redução referentes aos efluentes e sólidos globais.
No documento
GUIA TÉCNICO SECTOR DOS CURTUMES
(páginas 57-61)