• Nenhum resultado encontrado

94 Introdução

Os Diptera são muito diversos e seus representantes ocorrem na maioria dos habitats. As larvas de muitas espécies alimentam-se de matéria vegetal ou animal em decomposição (Borror & DeLong, 1969).

Os Stratiomyidae ocorrem em todas as regiões quentes temperadas e tropicais, especialmente em climas tropicais úmidos. Os adultos dessa família são freqüentemente encontrados pousados na vegetação, visitando flores ou próximos a frutos maduros ou materiais vegetais em decomposição. As larvas se alimentam de materiais em decomposição ou ingerem tecidos de plantas vivas (James, 1973).

Os Sarginae compreendem oito gêneros neotropicais, quatro destes, Ptecticus Loew,

Sargus Fabricius, Acrochaeta Wiedemann e Merosargus Loew, ocorrem no Parque

Estadual do Rio Doce (PERD) (Capítulo 2).

Sarginae adultos em região temperada são encontrados na vegetação e ocasionalmente em flores. Sargus decorus Say forma grandes revoadas onde ocorrem as cópulas (Woodley, 2001). Larvas de espécies européias de Sarginae têm sido coletadas em uma ampla variedade de matéria orgânica em decomposição e algumas espécies preferem fezes animais (Rozkošný, 1982).

Nas regiões tropicais os adultos dessa subfamília são usualmente encontrados próximo aos tipos de substratos onde suas larvas vivem e se alimentam (James, 1973). Nos trópicos, vários tipos de frutas podres, bainhas carnudas de folhas de palmeiras, e árvores cortados recentemente atraem adultos, fêmeas depositam seus ovos e o desenvolvimento da larva ocorre nesses substratos (Woodley, 2001).

A defesa de locais de oviposição é um comportamento bastante comum que ocorre em machos de Diptera na fase de acasalamento. Defender plantas recém-danificadas parece ser vantajoso, para machos de algumas espécies, pois estes locais atraem grande número de fêmeas por meio da emissão de substâncias voláteis. Esse comportamento é típico de insetos que utilizam recursos efêmeros e cujas fêmeas têm múltiplos acasalamentos. Nestes casos, ocorre freqüentemente precedência espermática do último macho que conseguir acasalar (Thornhill & Alcock, 1983; Birkhead, 1999).

95 Como muitos locais de procriação são unidades pequenas, esparsas e efêmeras, que sofrem rápidas e sucessivas mudanças, a maioria dos insetos que os exploram permanecem neles apenas por uma única geração (Zuben et al., 2001).

Tanto Ptecticus quanto Merosargus podem ser encontrados agregados em torno de frutos caídos de árvores em ambiente florestal. Machos patrulham pequenos territórios, e se lançam em direção a qualquer inseto de tamanho similar que esteja voando próximo, e se esse inseto for uma fêmea da sua espécie ocorre a cópula. Fêmeas são observadas desovando próximo a essas mesmas frutas (Woodley, 2001).

Os machos de Ptecticus nigrifrons Enderlein são encontrados próximos a frutos de

Gustavia superba Berg (Lecythidaceae) protegendo-os da aproximação de outros

machos e, possivelmente, de potenciais predadores de suas larvas (Chatzimanolis, 2000). Pteticus testaceus Fabr. ocorre frequentemente em meio urbano e suas larvas utilizam frutos de espécies cultivadas pelo homem. Em Belo Horizonte foram observadas larvas dessa espécie se desenvolvendo em abacates em apodrecimento, dos quais emergiram adultos (J.C.R. Fontenelle observação pessoal). Adultos de P.

testaceus podem ser obtidos com freqüência emergindo de mangas podres, e em alguns

casos a partir de mangas verdes. Essa emergência coincide com a disponibilidade de frutos que ocorre na estação chuvosa. Os adultos também se alimentam em mangas podres e em flores de girassol (Helianthus annus L.) (Cordero-Jenkins et al., 1990). Várias espécies de Merosargus são observadas no entorno de diferentes tipos de frutas e outras vegetações em decomposição, e supõe-se que em alguns casos tais fontes de alimento larval sejam bastante específicas (Woodley, 2001).

No PERD machos de algumas espécies de Merosargus são comumente atraídos a fragmentos de Heliconia nos quais as fêmeas ovipõem. Nestes locais eles defendem território, perseguem e expulsam machos rivais, e outros insetos, e copulam com as fêmeas antes que oviponham (J.C.R. Fontenelle observação pessoal).

Merosargus é exclusivamente americano e principalmente neotropical. (James &

McFadden, 1971). Embora seja o gênero mais diverso de Sarginae, conhece-se pouco sobre a biologia de suas espécies. Sabe-se, no entanto, que larvas de espécies desse gênero podem ser encontradas em brácteas de inflorescências de Heliconia (Seifert & Seifert, 1976; Seifert & Seifert, 1979).

96 Grande quantidade de larvas de Merosargus pode ser encontrada em brácteas de

Heliconia imbricata (Kuntze) Baker, alimentando-se de partes florais em decomposição

e de detritos (Seifert & Seifert, 1976). James (1973) aponta vários registros de espécies que foram coletadas em helicônias: no México, uma larva de Merosargus par Curran foi coletada em Heliconia bihai L.; na Zona do Canal (América Central), M. gowdeyi Curran em H. mariae Hook. f., M. cingulatus Schiner em H. pendula Wawra e M. elatus Curran em H. mariae.

James (1973) também cita a obtenção de adultos de Merosargus cujas larvas estavam em outros recursos vegetais: M. telfordi Lindner foi criado de caules caídos de Euterpe

globosa Gaertn. em uma floresta de Porto Rico; e no México, larva de M. convexifrons

McFadden foi coletado em flores de Bidens sp..

No Parque Estadual do Rio Doce (PERD) há cerca de 18 espécies de Merosargus (Capítulo 2), das quais sete aparentam utilizar Heliconia para oviposição e desenvolvimento: M. azureus Enderlein, M. bivittatus James, M. gowdeyi, M. gracilis Williston, M. varicrus James, M. cingulatus e M. pallifrons Curran. No PERD ocorrem cinco espécies nativas de Heliconia: H. espiscopalis Vell., H. spathocircinata Aristeg.,

H. aemygidiana Burle-Marx, H. angusta Vell. e H. x matenensis Silva et al.. Heliconia spathocircinata é uma das que se distribui mais amplamente no PERD e H. episcopalis

a que ocorre em grandes números porém de forma mais agregada. Há também duas espécies introduzidas no PERD, H. rostrata Ruiz & Pavón e H. psittacorum L.f., que ocorrem nas áreas do PERD abertas à visitação de turistas (J.C.R. Fontenelle observação pessoal).

A distribuição e abundância de muitos insetos fitófagos são determinadas mais pela qualidade do que pela quantidade dos recursos. Portanto, insetos adultos, larvas ou ambos têm que reconhecer e escolher os melhores substratos disponíveis para a oviposição e ou forrageamento (Hódar et al., 2002).

A escolha correta do substrato adequado pela fêmea para realizar oviposição é vital para o desenvolvimento das larvas e para a sobrevivência e vigor dos adultos resultantes. Espera-se que em geral as fêmeas de uma espécie prefiram ovipor em um certo tipo de substrato onde as chances de sobrevivência de sua prole são maximizadas. Qualidade nutricional, predação e competição são fatores chave que interferem no desenvolvimento das larvas, que podem atuar direta ou indiretamente na escolha pela fêmea de um local para oviposição (Timms, 1998).

97 Estudos sobre algumas espécies de besouros (Dynastinae) mostram que os tamanhos do chifre e do corpo dos machos são determinados pelas condições nutricionais das larvas (Karino et al., 2004). Tanto o tamanho do chifre quanto o do corpo de machos de

Allomyrina dichotoma foram primariamente determinadas pelo ambiente nutricional

durante o período larval. Além de afetar o tamanho corporal, a qualidade nutricional pode também afetar a relação alométrica entre o tamanho corporal e características sexuais secundárias como, por exemplo, o comprimento dos pedúnculos dos olhos de

Diasemopis aethiopica Rondani (Diptera: Diopsidae). Neste caso, o comprimento dos

pedúnculos é maior com relação ao tamanho do corpo naqueles machos que tiveram uma dieta de melhor qualidade (Kenell et al., 1999).

Substratos com baixa qualidade nutricional podem reduzir o tempo de desenvolvimento das larvas e, conseqüentemente, o tamanho do corpo. Entretanto, uma forma de compensar a baixa qualidade nutricional de um substrato é a de prolongar o tempo de desenvolvimento para emergir com tamanho de corpo maior: quanto maior for o tempo de desenvolvimento, maior será o tamanho do adulto (Timms, 1998). Para as larvas, porém, um maior tempo de desenvolvimento pode acarretar maiores riscos, pois demora em atingir o estágio adulto implica em maior vulnerabilidade à predação. Em

Merosargus a quantidade de substrato interfere no desenvolvimento e na sobrevivência

98 Esse trabalho teve como objetivos:

Determinar que tipos de substratos são utilizados como recursos por larvas de Sarginae, e em qual período do ano que esses substratos são utilizados. Verificar qual o tempo de desenvolvimento e o tamanho corporal de cada espécie.

Verificar se o tempo de desenvolvimento e o tamanho corporal são correlacionados entre si. Considerando a hipótese de que espécies maiores devem gastar um tempo maior no desenvolvimento que espécies menores foi testada a previsão de que tamanho corporal e tempo de desenvolvimento estão positivamente correlacionados.

Verificar se o tempo de desenvolvimento e o tamanho corporal de indivíduos da mesma espécie dependem do sexo. Considerando a hipótese de que nesse grupo de insetos existe forte seleção sexual, devido a ocorrência da defesa de território, sobre o tamanho corporal de machos, foi testada a previsão de que existe um dimorfismo sexual no tamanho corporal, com os machos sendo maiores que as fêmeas e consequentemente despendendo um maior tempo para o desenvolvimento larval.

Verificar se o tempo de desenvolvimento e o tamanho corporal de indivíduos da mesma espécie dependem do tipo de substrato utilizado pela larva. Substratos diferentes devem ter qualidades nutricionais diferentes. Considerando a hipótese de que diferentes substratos não devem ser igualmente nutritivos para as larvas foi testada a previsão de que existe diferença no tamanho corporal dos adultos e o tempo gasto para o desenvolvimento em larvas de indivíduos da mesma espécie que se alimentem de diferentes substratos.

Além disso, verificar se o número de tipos de recursos e número de meses em que as larvas são encontradas correlacionam com a sazonalidade de seus adultos. Considerando a hipótese de que espécies mais generalistas podem ser menos sazonais, foi testada a seguinte previsão: Espécies que utilizam um maior número de recursos e/ou cujos recursos tem um tempo de ocorrência mais amplo ao longo do ano devem ter uma menor variação na abundância entre as estações seca e chuvosa.

99 Metodologia

Área de estudo e amostragem

Esse estudo foi realizado de outubro de 2001 a outubro de 2004, de forma não sistemática, aproveitando outras expedições, ao longo desses anos, ao Parque Estadual do Rio Doce (PERD) e a um fragmento florestal no seu entorno. O PERD, situado entre 19º48‟18”–19º29‟24” S; 42º38‟30”–42º28‟18” W, é um importante remanescente de Mata Atlântica no Estado de Minas Gerais (IEF, 1994). A estação chuvosa na região ocorre de outubro a março e a seca de abril a setembro (Gilhuis, 1986). Os dados metereológicos da região do PERD, para os últimos cinco anos foram apresentados do capítulo 2.

Com aproximadamente 36.000 ha., o PERD apresenta um complexo padrão de tipos vegetacionais (Gilhuis, 1986). Existem 535 espécies vegetais registradas para o PERD e quando são adicionadas as espécies registradas em outra área de preservação próxima, a Reserva Biológica de Caratinga, esse número aumenta para 1048, um número mais elevado do que o encontrado para outras regiões de Mata Atlântica e mesmo para regiões de Floresta Amazônica (Lombardi & Gonçalves, 2000). Estima-se entretanto que exista um número ainda maior de espécies vegetais, cerca de 1129, apenas no PERD (TEAM, 2003).

As áreas do PERD percorridas foram Campolina (CA), Porto Capim (PC), Macuco (MA), Viveiro (VV), Beira do Córrego Turvo (BT) e Vinhático (VI) e o fragmento no entorno do PERD foi a Fazenda Sacramento (FS), que fica a leste no parque, no distrito de Pingo D‟água.

Qualquer substrato que supostamente poderia ser utilizado por larvas de Sarginae foi coletado. A evidência mais forte da ocorrência de larvas foi a observação de Sarginae adultos (fêmeas ovipondo ou machos defendendo território) sobre esses substratos ou em suas proximidades. Após uma primeira observação do uso por adultos de determinado tipo de substrato, ele era coletado, em outras ocasiões, mesmo naquelas em que adultos não fossem avistados. Esses substratos foram levados para o Laboratório de Ecologia e Comportamento de Insetos, ICB/UFMG, Belo Horizonte (MG) e mantidos em câmaras fechadas (garrafas PET) à temperatura ambiente até que os adultos emergissem. Todos os adultos tiveram o tempo de desenvolvimento calculado a partir

100 do dia de coleta até sua eclosão e o tamanho de corpo medido com paquímetro Mitutoyo com precisão de 0,05 mm.

Adultos da subfamília Sarginae foram identificados até gênero e espécie quando possível e em caso contrário, morfotipados. A identificação dos Sarginae só foi possível graças à literatura cedida e as confirmações feitas por José Roberto Pujol-Luz. Para a identificação de espécies de Merosargus, utilizou-se a chave de James & McFadden (1971).

A identificação das plantas utilizadas como recursos foi feita pelos botânicos: Glauco Santos França, Júlio Antônio Lombardi, João Renato Stehmann e Tereza Cristina Souza Sposito.

Análise dos dados

Para testar se recursos, que foram encontrados com larvas em um número maior de meses ao longo do ano, possuíam também um maior número de espécies foi utilizada uma regressão simples (Zar, 1996).

Existe na bibliografia uma grande quantidade de índices de sazonalidade, mas que se utilizam de seqüências de amostras anuais completas e que são baseados na variância em torno da média (e.g. Wolda 1979 e Samways 1990). Entretanto, no presente estudo havia a disponibilidade de dados de abundância apenas para duas estações do ano, seca e chuvosa (Capítulo 2, além de outros dados não publicados de coletas em outras áreas no PERD). Foi criado então um índice de sazonalidade (Is) calculado simplesmente contrastando a abundância de adultos de Sarginae coletados por Malaise nos meses de seca com a abundância dos mesmos coletados nos meses de chuva. O índice foi calculado para cada espécie separadamente utilizando a seguinte fórmula:

Is =

׀

C – S

( C+S )

onde, C é abundância da espécie durante a estação chuvosa; S é abundância da espécie durante estação seca. O índice varia de 0 a 1; quanto mais próximo de zero forem os valores obtidos, menos sazonal é a ocorrência de adultos daquela espécie de Sarginae. Uma regressão múltipla (Zar, 1996) foi utilizada para verificar se a sazonalidade de adultos das espécies de Sarginae correlacionava-se ao número de tipos diferentes de recursos utilizados, ao número de meses em que esses recursos foram utilizados pelas larvas e à abundância total de adultos coletados por Malaise.

101 O teste de Kruskal-Wallis (Siegel, 1975) foi realizado para verificar se houve diferença estatisticamente significativa no tempo de desenvolvimento entre as espécies.

Para comparar o tempo de desenvolvimento e o tamanho dos adultos entre os sexos de cada espécie estudada, foram utilizados os testes “t de Student” (Zar, 1996) e “U de Mann-Whitney” (Siegel, 1975), ambos indicados para comparação entre médias. O teste “t” foi aplicado apenas quando os dados tinham distribuição normal. Nos casos em que a distribuição não foi normal foi aplicado o teste “U”.

A análise de variância (Zar 1996) foi aplicada para aquelas espécies que utilizaram mais de um tipo de substrato para testar se as diferenças de tamanho encontradas dentro de cada espécie poderiam ser explicadas pelo tipo de substrato escolhido para o desenvolvimento. Apenas quatro espécies tiveram um tamanho amostral suficiente para testar o efeito de sexo e de substrato em conjunto sobre o tamanho corporal podendo-se aplicar uma análise de variância de dois fatores (Zar 1996) foram elas: M. azureos, M.

pallifrons, M. varicrus e Sargus sp.4. Não houve um tamanho amostral suficiente para

incluir no teste o efeito da época do ano (estação).

Uma regressão linear simples (Zar, 1996) foi aplicada para verificar se houve efeito do tempo de desenvolvimento desde a coleta até a emergência do adulto no tamanho corporal dos adultos considerando as diferentes espécies obtidas em laboratório. Para isso cada espécie entrou no modelo com a média do tempo de seu desenvolvimento e com a média do seu tamanho corporal.

102 Resultados

Entre os diversos recursos utilizados por Sarginae foram encontrados inflorescências e pseudocaules de Heliconia episcopalis, de H. spathocircinata, de Heliconia x

matenensis B.R.Silva e de Musa sp.; pseudocaules de H. aemygdiana Burle Marx

(Heliconiaceae). Além de helicônias foram também detectados caules pisoteados de

Panicum maximum Jacq. (Gramineae); caules de Thoracocarpus bissectus Vell.

(Cyclanthaceae), de Euterpe edulis Mart. (Palmae) e de Urera sp. (Urticaceae); folhas de Amarantaceae sp.1, Amarantaceae sp.2 e Curcubitaceae sp.1; folhas e caules quebrados de Astrocaryum aculeatissimum (Schott) Burret (Palmae); flores de Lecythis

lurida (Miers) S.A.Mori (Lecithidaceae); frutos de Guarea sp. (Meliaceae), de Joannesia princeps Vell. (Euphorbiaceae), de Spondias sp. (Anacardiaceae) e um fruto

de uma espécie não identificada (Tabela 3.1).

O recurso mais freqüentemente utilizado pelas larvas ao longo do ano (6 meses) foi T.

bissectus. Panicum maximum, H. aemygdiana, as duas espécies de Amarantaceae, Urera sp., Spondias sp., E. edulis, Musa sp. e o fruto não identificado foram utilizados

pelas larvas em apenas um mês (Tabela 3.1). Urera sp., Spondias sp., fruto n.i., Amarantaceae sp.1, E. edulis e Musa sp. foram utilizados apenas nos meses de seca. Os meses de abril e agosto foram os que tiveram maior número de tipos diferentes de recursos sendo utilizados pelas larvas de Sarginae (Tabela 3.1).

Em laboratório emergiram 361 indivíduos adultos em 15 espécies. Destas, 12 foram de

Merosargus. As mais abundantes foram M. azureus (121) e M. pallifrons (57) e Sargus

sp.4 (52) indivíduos. Essas espécies foram também as que ocorreram em um maior número de meses, locais e substratos, exceto nesse último item Sargus sp.4 que utilizou apenas frutos de Guarea sp. (Tabela 3.2).

O substrato que foi utilizado como recurso para o maior número de espécies foi pseudocaule de Heliconia episcopalis (Vell.) (Heliconiaceae) (N=6), onde foram encontrados Merosagus azureus (Enderlein), M. cingulatus (Schiner), M. gowdeyi (Curran), M. gracilis (Williston), M. pallifrons (Curran) e M. varicrus (James). Outro substrato muito utilizado foi Thoracocarpus bissectus (Vell.) (Cyclanthaceae) (N=5) (Tabela 3.1).

103 Tabela 3.1. Espécies de plantas e suas partes utilizadas como substrato por Sarginae e os meses em que foram coletados na região do Parque Estadual do Rio Doce, de outubro de 2001 a outubro de 2004.

Mês de ocorrência

Espécie:

Nome vulgar e científico (órgão da planta)

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Nº de meses de ocorrência Nº de Espécies que utilizam

Panicum maximum (pseudocaule) X 1 1

Caeté - H. spathocircinata (pseudocaule/inflorescência) X X X 3 4

Chapéu de frade - H. episcopalis (inflorescência) X X X 3 2

Chapéu de frade - H. episcopalis (pseudocaule) X X X X X 5 6

Chapéu de frade - H. episcopalis (pseudocaule brocado) X 1 2

Chapéu de frade - H. episcopalis (total) X X X X X X X 7 6

Caeté - H. aemygdiana (pseudocaule) X 1 1

Cotieira - Joannesia princeps (fruto) X X 2 1

Ataúba - Guarea sp. (fruto) X X X X 4 2

Cipó-timbó - Thoracocarpus bissectus (caule) X X X X X X 6 5

Amarantaceae sp.2 (folha) X 1 1

Sapucaiu - Lecythis lurida (flor) X X 2 1

Caeté - Heliconia x matenensis (pseudocaule/inflorescência) X X 2 2

Urtiga - Urera sp. (caule) X 1 2

Cajá-mirim - Spondias sp. (fruto) X 1 1

fruto não identificado X 1 1

Curcubitaceae sp.1 (folha) X X 2 1

Amarantaceae sp.1 (folha) X 1 2

Brejaúba - Astrocaryum aculeatissimum (folha e caule) X X X 3 3

Palmito-doce - Euterpe edulis (caule) X 1 1

Bananeira - Musa sp. (pseudocaule/inflorescência) X 1 2

104 Tabela 3.2. Meses de ocorrência, número de indivíduos, locais e tipo de substrato onde ocorreu cada espécie de Stratyomidae. CA-Campolina, PC-Porto Capim, MA- Macuco, VV-Viveiro, BT-Beira do Turvo, VI-Vinhático e FS-Fazenda Sacramento. *Número de adultos que emergiram no laboratório (N=361).

Espécie Meses Nº * Locais Substratos

Tipo Espécie

Acrochaeta sp.1 Jul 10 CA caule T. bissectus

M. arcuatus Jul e nov 36 PC e CA caule T. bissectus

M. azureus Jan-abr, jul-ago

e nov 121 PC, CA, BT, VI

caule caule pseudocaule pecíolo de folha

P. maximum, T.bissectus,Urera sp., E.edulis, Curcubitaceae sp.1 H. aemygdiana, H. x matenensis, H. spathocircinata,

H. episcopalis.

Amarantaceae sp.1, Amarantaceae sp.2

M. bivittatus Jan 2 PC inflorescência H. spathocircinata

M. cingulatus Fev, ago e dez 15 CA, MA, VI

caule pseudocaule pecíolo de folha inflorescência A. aculeatissimum, T.bissectus H. episcopalis A. aculeatissimum Musa sp.

M. coxalis Mar e dez 17 VV flores L.lurida

M. gowdeyi Mai e out 4 PC pecíolo de folha pseudocaule Amarantaceae sp.1 H. episcopalis

M. gracilis Abr e ago 9 CA, VI

caule Urera sp.

H. episcopalis A. aculeatissimum

pseudocaule pecíolo da folha

M. opaliger Jul 4 CA caule T.bissectus

M. pallifrons Jan-abr, ago-set 57 PC,CA,BT,

MA,FS

inflorescência pseudocaule pseudocaule brocado

Musa sp., H.episcopalis, H. x matenensis Musa sp., H. spathocircinata, H.episcopalis

H.episcopalis

M. pictipes Jun e dez 6 VI pecíolo da folha A. aculeatissimum

M. transversus Fev e out 3 CA, VI frutos Guarea sp.

M. varicrus Jan, abr, ago,

out-nov 18 PC inflorescência pseudocaule pseudocaule brocado H.spathocircinata, H.episcopalis H.episcopalis H.episcopalis

Ptecticus sp.1 Fev e abr 7 FS frutos Spondias sp. e J. princeps

Sargus sp.4 Abr-mai, ago e

out 52 CA,PC,VI,FS

Houve um efeito positivo e significativo do número de meses de ocorrência de um recurso no número de espécies que o utilizaram (β=0,81 p<0,001 R2

=0,66) (Fig. 3.1). As espécies mais generalistas, que utilizaram um maior número de tipos diferentes de recursos (espécies ou partes diferentes da mesma espécie), foram em ordem decrescente:

M. azureus (N=11), M. pallifrons (N=7), M. cingulatus (N=5). E dessas, apenas M. cingulatus foi sazonal (Is=0,92) (Tabela 3.3).

Cinco espécies (Merosargus bivittatus, M. coxalis, M. transversus, Ptecticus sp.1 e

Sargus sp.4) desenvolveram-se exclusivamente em substratos de ocorrência mais sazonal.

Para sete espécies apenas um tipo de recurso foi identificado (Acrochaeta sp.1,

Merosargus arcuatus, M. bivittatus, M. coxalis, M. opaliger, M. pictipes e M. transversus). As espécies Merosargus transversus e M. coxalis foram as mais sazonais

(Is=1,0) (Tabela 3.3).

Tabela 3.3. Índice de sazonalidade, abundância, especificidade de Sarginae e sazonalidade dos recursos utilizados.

Espécie Is Abundância Número de tipos de

recursos Número de meses de ocorrência Chuvosa Seca Acrochaeta sp.1 0,00 4,00 1 0 1 M. arcuatus 0,80 100,00 1 1 1 M. azureus 0,22 147,00 11 4 3 M. bivittatus - 0,00 1 1 0 M. cingulatus 0,92 791,00 5 2 1 M. coxalis 1,00 36,00 1 2 0 M. gowdeyi 0,10 51,00 2 1 1 M. gracilis 0,00 10,00 3 0 2 M. opaliger 0,87 388,00 1 0 1 M. pallifrons 0,28 78,00 7 3 3 M. pictipes 0,49 70,00 1 1 1 M. transversus 1,00 86,00 1 2 0 M. varicrus 0,57 14,00 4 3 2 Ptecticus sp.1 0,43 67,00 2 1 1 Sargus sp.4 0,62 78,00 2 3 1

O melhor modelo de regressão múltipla (R2 = 0,52; F=3,6; p<0,054) para explicar a variação no Is foi o que utilizou a abundância de adultos coletados nas Malaises (β=0,51 p=0,044) (Fig. 3.2) juntamente com o número de tipos de recursos utilizados pelas larvas (β=-1,27 p=0,034) (Fig. 3.3), assim como o número de meses em que esses recursos foram encontrados(β=0,98 p=0,087) (Fig. 3.4). O número de meses em que as larvas

106 foram encontradas também está correlacionado com o número de tipos de recursos que foram utilizados (Fig. 3.5), mas todos os modelos testados, que excluíam uma dessas variáveis, tiveram um menor poder explicativo.

Existe uma diferença significativa no tempo de desenvolvimento entre as diferentes

Documentos relacionados